(...) 3 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram;

Transcrição

1 Anotação de aula LUSÍADAS Canto I - PROPOSIÇÃO 1. As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana,* Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; *Limite conhecido pelos navegantes (...) 3 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram;

2 Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram: Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. Importante OBSERVE A VALORIZAÇÃO DA CULTURA CLÁSSICA : NAVEGAÇÕES ANTIGAS, CITAÇÃO A DEUSES MITOLÓGICOS : Netuno e Marte. OBSERVE A SUPERAÇÃO DOS PORTUGUESES EM RELAÇÃO AOS GREGOS: Por mares nunca dantes navegados, Cesse tudo o que a musa antiga canta/ que um poder mais alto se alevanta

3 ANOTAR: O POEMA É MELHOR DO QUE OS ÉPICOS GREGOS E A VIAGEM É MAIS IMPORTANTE. SEGUNDO CAMÕES, A FORMA E O CONTEÚDO EM OS LUSÍADAS SUPERAM OS FEITOS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA. A RETOMADA DOS CLÁSSICOS O poema faz menção às viagens dos antigos navegantes : Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram O HERÓI COLETIVO

4 Barões assinalados : O povo português,os heróis das grandes navegações: Que eu canto o peito ilustre Lusitano OS LUSOS : Camões tenta elevar Portugal à condição de grande nação, para isso retoma o período áureo português : as conquistas ultramarinas. Com isso, Camões volta ao passado glorioso a fim de resgatá-lo para que essas conquistas sejam cantadas e sirvam de inspiração para que Portugal volte a ser grande e, sobretudo, volte a ser o país que conquistou o mundo no século XV colonizando os quatro cantos do mundo. E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;

5 Homens que se tornaram deuses devido ao feito épico: Mais do que prometia a força humana : As grandes navegações fizeram dos portugueses deuses,seus feitos são sobrehumanos. Isso faz dos portugueses mais gloriosos do que os gregos. Os gregos navegaram no mar mediterrâneo, já os portugueses deram uma volta por toda a África e chegaram às Índias: Por mares nunca de antes navegados. A SUPERAÇÃO PORTUGUESA A viagem e o feito épico dos portugueses, segundo Camões, são os maiores feitos épicos da humanidade. Por isso,o poeta luso considera que os portugueses ultrapassaram as glórias gregas.

6 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; (...) Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta IMPORTANTE: Temos na epopéia, poema épico, duas narrativas: uma mitológica e outra histórica. Na mitológica, temos a luta Baco x Vênus. Baco teme que os portugueses superem os gregos que eram protegidos por ele. Vênus, apaixonada pela história dos navegantes portugueses, decide ajudá-los. A luta dos deuses é representada por meio de intempéries, movimentos da natureza: Tormentas,tempestades e calmarias.

7 Na narração histórica, temos a narração da viagem dos portugueses rumo às índias e a ultrapassagem do CABO DAS TORMENTAS que passa a ser denominado CABO DA BOA ESPERANÇA. Vale lembrar que na narração mitológica, os portugueses vencem o temeroso Gigante Adamastor, a personificação dos obstáculos marítimos no Cabo das Tormentas. A NARRAÇÃO É COMPOSTA POR QUATRO EPISÓDIOS IMPORTANTES: Primeiro Episódio O VELHO DO RESTELO : CRITICA A COBIÇA E A BUSCA DE FAMA E DE GLÓRIA EM DETRIMENTO AOS VALORES HUMANOS.CAMÕES, NA PERSONAGEM DO VELHO DO RESTELO, OPÕE-SE À GANÂNCIA

8 POR GLÓRIA MUNDANA. A PROPOSTA DE CAMÕES É QUE A VIAGEM PROPORCIONASSE AOS PORTUGUESES A CONDIÇÃO DE SEMI- DEUSES, HOMENS SOBRE-HUMANOS. Mais do que prometia a força humana, Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram O VELHO, NA PRAIA DO RESTELO, É A VOZ DE CAMÕES CONTRA A GANÂNCIA MATERIAL. O VELHO DO RESTELO PODE SER TAMBÉM O REPRESENTANTE DA VOZ DO POVO CONTRA A COBIÇA DOS NOBRES, UMA VEZ QUE REPRESENTANTES DO POVO MORRERIAM NA VIAGEM EM NOME DA RIQUEZA DE PARTE DA NOBREZA PORTUGUESA.

9 Ó glória de mandar, ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C uma aura popular que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas! Atente à crítica forte do Velho à cobiça, à vaidade e à fama. A quem veja no questionamento do Velho reflexos de vozes conservadoras portuguesas contra a atitude empreendedora renascentista e a quem veja nas falas do velho críticas severas às injustiças sociais e às mortes desnecessárias. Fernando Pessoa, poeta moderno, quinhentos anos depois, retoma os ideais renascentistas de Camões e também busca valorizar a atitude antropocêntrica renascentista de

10 valorização das vitórias humanas diante das incertezas do mundo: MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa, poeta português moderno, século XX. Note que no poema de Fernando Pessoa, ao contrário da fala do Velho do Restelo, as mortes e o sofrimento valeram a pena, porque foram resultantes de atitudes grandiosas e valorosas do homem.

11 Anotar A cobiça, a fama, a glória material e a vaidade são questionadas. Camões, homem renascentista, quer que a viagem valorize a glória e os feitos humanos. O homem desbravando o mar e dominando a natureza. Essa atitude renascentista e antropocêntrica presente no episódio é a voz do Renascimento artístico contra os valores burgueses e mercantilistas. Segundo Episódio O GIGANTE ADAMASTOR: MONSTRO GUARDIÃO DO CABO DAS TORMENTAS. BACO, DEUS CONTRÁRIO ÀS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS, POIS ERA O DEUS QUE PROTEGIA OS GREGOS,TEMIA QUE A VIAGEM DOS PORTUGUESES FOSSE SUPERIOR. ESSE EPISÓDIO É BASTANTE IMPORTANTE PARA CARATERIZAR O FEITO ÉPICO POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS. A DERROTA DO GIGANTE E A ULTRAPASSAGEM

12 DO CABO DAS TORMENTAS DÃO AOS PORTUGUESES O STATUS DE SEMIDEUSES. PODEMOS CONSIDERAR O EPISÓDIO O RESPONSÁVEL PELO CARÁTER ÉPICO DE TODO O POEMA Tão temerosa vinha e carregada, Que pôs nos corações um grande medo; Bramindo, o negro mar de longe brada, Como se desse em vão nalgum rochedo. "Ó Potestade (disse) sublimada: Que ameaço divino ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta, Que mor cousa parece que tormenta?"

13 TERCEIRO EPISÓDIO INÊS DE CASTRO: PERSONAGEM LÍRICA INJUSTIÇADA. ENTRA NA NARRATIVA PARA QUE CAMÕES POSSA CONTAR AO REI DE MELINDE A LINDA HISTÓRIA DE AMOR E DE RESISTÊNCIA PRESENTE NA HISTÓRIA DE PORTUGAL. Conta a lenda que Inês, assassinada a mando dos conselheiros do rei, depois de morta tornou-se rainha de Portugal. APÓS PASSAR PELO CABO DAS TORMENTAS E DERROTAR, NO PLANO MITOLÓGICO O GIGANTE ADAMASTOR, QUE NO PLANO HISTÓRICO ERAM AS PEDRAS NO MEIO DO MAR, OS PORTUGUESES RUMAM ÀS ÍNDIAS. OS DEUSES BACO, NETUNO E MARTE TEMENDO A GLORIFICAÇÃO DOS PORTUGUESES E A VITÓRIA DELES EM RELAÇÃO AOS GREGOS, MANDAM UM TORMENTA QUE QUASE LEVA O NAVIO DOS

14 PORTUGUESES AO NAUFRÁGIO. OS PORTUGUESES SÃO EMPURRADOS PARA MOÇAMBA ( MOÇAMBIQUE) E LÁ SÃO AJUDADOS PELOS AFRICANOS. BACO, TRAVESTIDO DE HUMANO, CONVOCA OS AFRICANOS A ATACAREM OS PORTUGUESES, POIS ELES ESCRAVIZARIAM OS AFRICANOS. ATACADOS PELOS AFRICANOS, OS LUSOS FOGEM MACHUCADOS E FERIDOS. O BARCO FICA À DERIVA EXPOSTO À IRA DE BACO E NETUNO. POR SORTE OS PORTUGUESES SÃO ARRASTADOS AO NORTE DA ÁFRICA, MELINDE, E LÁ SÃO RECOLHIDOS PELO POVO E PELO REI DE MELINDE. O REI PEDE AOS LUSOS QUE CONTEM SUA HISTÓRIA. VASCO CONTA A LINDA HISTÓRIA DE INÊS DE CASTRO, QUE DEPOIS DE MORTA TORNOU-SE RAINHA DE PORTUGAL. EMOCIONADO O REI PROMETE AJUDAR OS PORTUGUESES CHEGAREM ÀS ÍNDIAS. ( MATERIAL NA FICHA) Tu só, tu, puro amor, com força crua Que os corações humanos tanto obriga,

15 Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano. Estavas, linda Inês, posta em sossego De teus anos colhendo doce fruito, Naquele engano da alma ledo e cego, Que a fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuito, Aos montes ensinando e às ervinhas, O nome que no peito escrito tinhas. ANOTAR

16 O EPISÓDIO DE INÊS É FUDAMENTAL PARA CARACTERIZAR A PARTE LÍRICA DA OBRA. ESSE EPISÓDIO NÃO ESTÁ RELACIONADO À NAVEGAÇÃO, UMA VEZ QUE TRATA DE UMA HISTÓRIA ANTERIOR A ELA. NO ENTANTO, REPLETO DE LIRISMO E DE BELEZA, PROPORCIONA AO POEMA TRATAR DO AMOR, DA INJUSTIÇA E DA BELEZA. INÊS DE CASTRO E O VELHO DO RESTELO CONFEREM A OS LUSÍADAS UM CARÁTER DRAMÁTICO, DEVIDO ÀS FALAS (DRAMA COMO EM TEATRO) E À CARGA TENSA DO TEXTO. QUARTO EPISÓDIO ILHA DOS AMORES: PRÊMIO PELA CONDIÇÃO DE SEMIDEUSES CONFERIDA AOS PORTUGUESES POR SUPERAREM OS MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS E OS NAVEGANTES DA ANTIGUIDADE ( GREGOS)

17 Oh, que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves! Que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo; Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo Os lusos recebem de Vênus como prêmio ninfas mitológicas para que pudessem realizar encontros amorosos. Esse episódio ocorre no plano mitológico, mas mesmo assim causou furor da Igreja Católica, devido ao forte apelo sexual.observe a alfinetada irônica nos versos: Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo; Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo Camões pretende com isso elevar os lusitanos à categoria de semideuses, por isso a relação entre mortais e ninfas ( semideusas). A Vasco

18 da Gama, comandante do navio, é reservado a deusa Tétis, emissária de Vênus. Vale lembrar que os portugueses vão à Ilha entorpecidos, e as ninfas fingem fugir da volúpia dos galgos portugueses, orientadas por Vênus, para que fossem mais desejadas. Anotar: Ilha dos Amores dialoga com o episódio O gigante Adamastor, uma vez que ambos pertencem ao plano mitológico e um é a complementação do outro, ou seja, a vitória sobre o Gigante Adamastor ( Cabo das Tormentas) dará aos bravos lusitanos a condição de heróis sobre-humanos Mais do que prometia a força humana e o privilégio de gozar amores com as ninfas em Ilha dos Amores. O EPÍLOGO

19 No final do poema épico, Camões mostra-se bastante triste e pessimista com os rumos tomados por Portugal. O epílogo, de certa forma, retoma as falas do Velho do Restelo. Não mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. Epílogo. Canto X, estrofe 145