COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS URBANOS: a imagem dos bairros de São José dos Campos - SP 1



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Transcrição:

COMUNICAÇÃO E ESPAÇOS URBANOS: a imagem dos bairros de São José dos Campos - SP 1 Monica Franchi Carniello 2 GT 3 Comunicação Regional: teoria e pesquisa Introdução A comunicação é elemento fundamental da vida em sociedade, pois viabiliza a construção simbólica e a troca de experiências, pressuposto de qualquer agrupamento humano. As áreas urbanas, em especial, são concentradoras de processos comunicacionais complexos devido à multiplicidade das formas de mediação disponíveis e relacionadas com a própria configuração sócio-espacial das cidades. Entende-se que as cidades são espaços de trocas simbólicas, nos quais os processos de comunicação exercem importante papel na construção do espaço, em uma relação bilateral. A cidade é um espaço de troca intercultural, um espaço de trocas simbólicas entre as diferentes culturas que a compõem (GHORRA-GOBIN, 2008) [tradução do autor]. A configuração de um espaço se dá pela somatória dos aspectos materiais com os perceptuais ou mentais. Nesta pesquisa pretende-se transpor o conceito de imagem, largamente utilizado no campo da comunicação organizacional, para lugares, partindo da idéia de que os discursos são vetores de territorialização. Partindo dos pressupostos de que, após o fenômeno da industrialização da habitação, o mercado imobiliário passou a ser uma das forças de interferência na configuração dos espaços urbanos; de que o espaço possui relação bilateral com os processos sociais, que por sua vez são variáveis do processo de formação da imagem de um lugar, traçou-se como objetivo verificar a imagem percebida pelos moradores dos bairros concentradores de lançamentos imobiliários no município de São José dos Campos SP. Relações entre comunicação e configuração do espaço urbano A comunicação aparece como elemento fundamental para viabilização dos agrupamentos humanos e, portanto, para a caracterização do lugar. O espaço deve ser tratado em função de sua relação com os indivíduos (SILVA, 2004, p.83). É por meio dos fluxos comunicativos que se estabelecem essas relações entre indivíduos e entre estes e o meio, resultando em trocas simbólicas. Toda a ação sobre o espaço é motivada também por valores simbólicos que nós atribuímos ao espaço. (ROSEMBERG, 2004, p.3). 1 Artigo desenvolvido como atividade parcial no estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Metodista, sob supervisão do Professor Doutor Wilson da Costa Bueno. 2 Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), Professora-pesquisadora da Universidade de Taubaté/ Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, SP, monicafcarniello@gmail.com

Ao mesmo tempo em que os agrupamentos sociais definem características do espaço, o design do ambiente construído também interfere nas relações sociais e, portanto, nas formas de estabelecer os fluxos comunicacionais, influenciando a determinação do senso de comunidade e a percepção da imagem de um lugar. O papel instrumental do ambiente construído se refere à capacidade das características físicas do ambiente de habilitar ou promover a ocorrência do comportamento (MOUSTAFA, 2009, p.81) [tradução do autor]. Segundo Moustafa (2009, p.81-82) há duas correntes delineadas que tratam do papel instrumental do ambiente construído. A primeira abordagem enfatiza a capacidade das características físicas do ambiente proporcionarem oportunidades para o comportamento humano, uma oportunidade funcional. A segunda abordagem compreende o ambiente como capaz de comunicar sentidos, sendo que é o sentido que faz a ligação das pessoas com o ambiente construído. As duas correntes não são excludentes e evidenciam o papel simbólico do ambiente construído, simbologia esta que é mediada pela comunicação. Imagem de lugares A cidade é um espaço submetido à comunicação em vários aspectos. A comunicação, conforme já abordado, é pressuposto das interações do homem com o homem e do homem com o meio. À medida que os processos de comunicação foram se tornando mais complexos, fato que se dá com o desenvolvimento das formas de mediação mídias -, também se multiplicam as formas de representação dos espaços. A imagem de uma cidade ou lugar é fabricada tanto para o público interno quanto para o externo. É produzida pelos atores urbanos, pela comunicação publicitária e pela imprensa oficial do município (ROSEMBERG, 2000, p.3), somada à própria configuração espacial do lugar, que por si só já comunica. As formas de representação são, ao mesmo tempo, maneiras de expressar a percepção que se tem de algo e também são discursos construídos que alteram a percepção do mesmo objeto. Esse processo passa pela formação da imagem de um lugar, fato que se dá na esfera da recepção do processo de comunicação. Para compreender o processo de formação de imagem de um lugar, que inclui a questão perceptual do espaço, torna-se relevante conceituar imagem. O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais. Ambos os domínios da imagem não existem separados, pois estão inextricavelmente ligados já na sua gênese (SANTAELLA; NÖTH, 1999, p.15). Outro olhar é encontrado no campo da comunicação organizacional. Ressalta-se que as abordagens apresentadas não são excludentes. Compreende-se a imagem organizacional como resultante do desenvolvimento do conceito de comunicação. É aquilo que a empresa deseja projetar para seus diversos públicos. A imagem é a extensão da identidade, que compreende a manifestação visual da personalidade da organização (ARGENTI, 2005). Nesta reflexão pretende-se adequar o conceito de imagem de organizações para lugares, partindo da idéia de que os discursos são vetores de territorialização.

A distinção entre imagem de uma organização e de um lugar é que, no caso dos lugares, nem sempre existe uma ação planejada de comunicação que objetiva construir um discurso por parte de uma instituição. É possível que isto ocorra, por exemplo, devido a iniciativas do poder público municipal, estadual ou federal, ao veicular uma campanha para fomentar a atratividade turística ou de investidores ou alguma outra ação de marketing de lugares. No caso de um bairro, outra dimensão territorial, objeto deste estudo, este tipo de iniciativa torna-se mais rara, por ser uma subdivisão territorial inserida na esfera do governo municipal. Em geral, no caso da comunicação organizacional, as empresas possuem um planejamento de identidade que colabora para a formação do discurso, que por sua vez resultará na imagem percebida pelos diversos públicos. Se pensarmos no caso da imagem de lugares, a identidade pode até existir, na forma de uma logomarca que representa uma cidade, por exemplo, um brasão ou uma bandeira. Mas, por mais que estas manifestações visuais sejam difundidas, as referências visuais do próprio espaço as construções, relevo, tipos de habitações, recursos naturais são mais marcantes, pelo fato de estarem constantemente presentes e visíveis para diversos públicos. O espaço real produz um espaço mental que guia a ação sobre o espaço real; o espaço mental dá sentido à ação sobre o real (ROSEMBERG, 2000, p.3) [tradução do autor]. A imagem de uma cidade é construída para o público interno e externo, porém nem sempre de forma planejada. É produzida pelos atores urbanos, pela comunicação publicitária e pela imprensa oficial do município (ROSEMBERG, 2000, p.3), além do próprio espaço. Relevante destacar que a imagem, seja de um lugar ou de uma organização, nunca é única. Geralmente varia segundo a percepção de segmentos sociais distintos, como turistas, moradores, poder público, incorporadoras imobiliárias, entre outros. No entanto, quando ações coordenadas são executadas, é possível estabelecer uma imagem referencial que pode vir a ser um diferencial para o lugar. Sem uma imagem original e diferenciada, um lugar potencialmente atraente pode passar despercebido em meio ao vasto mercado de lugares disponíveis (KOTLER ET AL, 2006, p. 71). No caso de bairros, por estarem dentro de uma unidade maior, o município, há menos probabilidade de haver uma ação coordenada na mídia para formação da imagem. O mercado imobiliário, a infra-estrutura, os aspectos culturais e históricos do lugar são variáveis que contribuem com maior peso na formação do discurso que formará a imagem percebida, neste caso, porém, sem uma diretriz de comunicação única, uma vez que são instâncias com pesos e objetivos distintos. O quadro 1 identifica os atores sociais cujos discursos e atuação contribuem para a formação da imagem de um lugar, podendo as ações ser coordenadas por meio de um planejamento estratégico, ou isoladas. Quadro 1 Atores sociais Participantes do setor público - prefeito e/ou administrador da cidade - departamento de desenvolvimento empresarial da comunidade - departamento de planejamento urbano da comunidade - departamento de turismo - departamento de convenções - departamento de informações públicas Participantes do setor privado - cidadãos

- empresas líderes - imobiliárias e incorporadoras - instituições financeiras - empresas de eletricidade, gás e telecomunicações - câmaras de comércio e outras organizações empresariais - setor de receptivo e varejista - agências de viagem - organizações do mercado de trabalho - arquitetos - empresas de transporte - mídia Participantes regionais - agências de desenvolvimento econômico - governos municipal e estadual - conselhos regionais de turismo Fonte: adaptado de Kotler et al. (2006, p. 84) Outros elementos interferem no processo de formação da percepção da imagem de um lugar que, apesar de direta ou indiretamente serem resultado de ações dos atores sociais, merecem seu devido destaque. Entre eles estão os elementos arquitetônicos e urbanísticos, que analogamente podem ser comparados à identidade de uma organização, dou seja, a parte visível, materializada. A percepção do ambiente (urbano) é muito mais do que verbal. Em uma comunidade existem marcas, objetos, locais específicos que se particularizam por manter um processo relacional circular interativo onde se caracterizam os indivíduos e grupos e ao mesmo tempo são por ele caracterizados (SILVA, 2004, p.85). Quadro 2 Aspectos arquitetônicos e urbanísticos Infra-estrutura (transporte, sinalização, iluminação, paisagismo, rede de esgoto, telefonia) Empreendimentos imobiliários Espaços públicos (praças, prédios públicos, espaços de convivência) Localização Meios de acesso Tipos de habitação Construções Fonte: Elaborado pelo autor, 2009 Também devem ser considerados como variáveis que interferem na percepção da imagem de um lugar os aspectos sociais e culturais. Quadro 3 Aspectos sociais e culturais Manifestações culturais História do lugar Formas de agrupamentos e convívio social Perfil social dos moradores Status Fonte: Elaborado pelo autor, 2009 Conforme diferenças nas dimensões territoriais e administrativas, infere-se que algumas variáveis ganham mais destaque do que outras, em função do próprio papel político-

administrativo assumido pela administração de cada espaço. Abaixo as variáveis que compõem a imagem de um bairro. Quadro 4 Variáveis que interferem na imagem de um bairro Bairros - história - tipos de construções e habitações - mercado imobiliário e suas manifestações mercadológicas na mídia - propaganda dos empreendimentos públicos - recursos naturais - perfil socioeconômico dos moradores - manifestações culturais do bairro - mídia local - infra-estrutura - configuração espacial Fonte: elaboração do autor, 2009 A imagem do bairro não depende de um planejamento único de um órgão público responsável. É uma somatória de fatores, conforme demonstram os resultados da pesquisa. Método A pesquisa caracteriza-se com exploratória e descritiva, com coleta de dados bibliográfica por entrevista. Foram conduzidas vinte entrevistas estruturadas de caráter qualitativo em março de 2009, com moradores de São José dos Campos dos bairros Parque Industrial e Aquarius. Estes foram selecionados pelo fato de serem concentradores de lançamentos imobiliários recentes e, portanto, vivem uma fase de reconfiguração espacial. Para elaboração do roteiro de questões, foram consideradas as variáveis que compõem a formação da imagem de um lugar. Resultados e discussão Bairro Parque Industrial Perfil Dos dez entrevistados, cinco são originários de outros municípios. Apesar da não representatividade amostral, por se tratar de uma pesquisa qualitativa, é um indício que corresponde ao processo histórico da cidade, que gerou grande atratividade de pessoas a partir da década de 1950 em função do processo de industrialização. A atração de mão-de-obra especializada foi um dos marcos do período, que impulsionou outras atividades como o comércio e o setor imobiliário, que passou a contar com uma demanda distinta da existente até então. A população de São José dos Campos saltou de 148.332 habitantes, em 1970, para 539.313, em 2000 (IBGE, 2009). Para contemplar a demanda habitacional, foram lançados vários conjuntos habitacionais a partir da década de 1970, fato que deu origem ao bairro Parque Industrial. A população atraída passou a compor a massa urbana, o que reforçou o processo de urbanização, intensificado no século XX em todo o país. Os entrevistados moram em sua maioria em casa, que caracterizam os imóveis mais antigos do bairro Parque Industrial. Apenas dois entrevistados moram em apartamentos, tipo de unidades habitacionais que são disponibilizadas pelos incorporadores imobiliários privados que têm investido no bairro, o que permite inferir que os investimentos do mercado imobiliário são relativamente recentes, pois imóveis antigos coexistem com mais recentes, com características bem distintas e que têm alterado a ocupação espacial do bairro. Nove dos dez entrevistados moram com familiares, em imóveis de dois ou três dormitórios.

Mapeamento Foi solicitado aos respondentes que identificassem os três melhores bairros do município de São Jose dos Campos. Ao elencar os bairros, todos os entrevistados citaram o próprio bairro, o Parque Industrial, como um dos melhores. Dentre as razões elencadas, aparece de forma evidente a infra-estrutura do bairro. [...] Parque industrial por dispor de serviços úteis, NE, como transportes, supermercado, farmácias, é... atendimento médico-hospitalar e segurança. (R1a) Jardim Satélite, Parque Industrial e Jardim Paulista, pelo fácil acesso e pelo número de comércio, rede bancária... facilita bastante. (R5a) O sentimento de pertencimento revelou-se nas falas dos moradores, que destacaram o vínculo afetivo com o bairro, reforçando a idéia de que a territorialidade reflete o vivido territorial em toda sua abrangência e em suas múltiplas dimensões cultural, política, econômica e social (ALBAGLI; MACIEL, 2004, p.12). Melhores, para mim é aqui, né, vou achar que o melhor é dos outros, vou elogiar meu bairro, né. (R2a) Os três melhores? Como eu vivo aqui, para mim é um dos melhores. (R3a) Parque Industrial, ah... eu gosto daqui. (R4a) O aspecto das diferenças sócio-econômicas também apareceu como um dos elementos percebidos, conforme as falas abaixo. Esplanada, pelo poder aquisitivo alto (R1a) O Parque [Industrial], o Morumbi e o Vale do Sol, porque são lugares movimentados, com pessoas simples e humildes, como nós. (R9a) Foi solicitado aos respondentes que identificassem as principais características de um bom bairro. Aspectos ligados à infra-estrutura foram os mais citados, dentre os quais segurança, transporte, proximidade de comércio e serviços supermercados, bancos, farmácias -, postos de saúde, escolas e acesso às rodovias. Verifica-se que nesta questão, que não fazia menção a um bairro específico, os vínculos sociais não foram destacados, denotando que estes são construídos com a vivência e a partir de marcas simbólicas que comunicam algo aos moradores. Infere-se que os aspectos sociais de um lugar não são racionalizados, são vividos e percebidos durante a experiência, verbalizados de forma indireta. A racionalização faz salientar os aspectos relativos à infra-estrutura. Os itens destacados coincidem com as variáveis avaliadas pela pesquisa, confirmando os aspectos destacados anteriormente. Imagem/ Reputação Quando solicitados para definir o bairro Parque Industrial com uma palavra, verificou-se, pelas respostas, que os moradores têm uma percepção muito positiva, que foi expressara em palavras como modernidade (R1a), bom (R2a, R4a, R7a, R8a), família (R3a), satisfatório (R5a), maravilhoso (R6a), simples (R9a), companheirismo (R10a). Aparece, de forma espontânea, a percepção de aspectos sociais dos moradores. O perfil dos moradores foi reforçado quando foi solicitado aos respondentes caracterizar o tipo de pessoas que moravam no bairro, demonstrando os elos sociais entre os moradores. Pessoas simples e dedicadas à família (R3a) São todos gentis, bacanas... eu acho (R6a) Alegre (R10a)

Para investigar a reputação do bairro, solicitou-se que os respondentes identificassem as mudanças do bairro, caso percebidas. Foram relatadas as melhorias na infra-estrutura, entre a qual se destacou a construção de uma praça pública, espaço de convivência muito valorizado na percepção dos moradores. Dentre as pioras, identificaram a questão da segurança, fenômeno cujo agravamento acompanha o crescimento das áreas urbanas brasileiras. Social A maioria dos entrevistados afirmou que se relaciona com a vizinhança, não destacando problemas. Quem mora em apartamento afirma ter menos relacionamento, o que revela que grandes aglomerações não significam, necessariamente, maior relacionamento. Também afirmaram saber da existência de uma associação de bairro, mas não participam e dizem conhecer pouco sobre suas atividades. Três dos entrevistados disseram que não havia associação de bairro. Quando questionados em relação à história do bairro, a maioria dos moradores (seis_ afirma não conhecê-la. Dentre os outros respondentes, poucos pontuaram fatos efetivamente, dando respostas sobre a percepção do bairro. [...] que já teve pessoas que moraram aqui que já fizeram história aqui [...] (R9a) A história... depende da história... se a história de vantagem... se é das benfeitorias que subiu. Por exemplo, eu acho que as vantagens aqui é que ta uma zona cada vez mais valorizada, inclusive com os prédios que ta saindo... os grandes supermercados entrando... o Cooper, etc., né. (R8a) Nota-se, nesta última fala, a imagem positiva em relação ao ingresso do mercado imobiliário industrializado no bairro. Dois fatos que fazem parte da história do bairro foram citados: a construção do loteamento pelo poder público, que iniciou o processo de ocupação, e o processo de industrialização do município. [...] antigamente era um deserto... era só mato.. depois, que, assim, que saiu essas casas, nós já mudamos para cá, sabe. (R6a) Que é um bairro, como o próprio nome já fala, basicamente surgiu devido a industrialização de São José dos Campos, tendo como base empresas como a Johnson e Johnson, Century Brasil, que ficam às margens da Dutra, que é vizinho, outras empresas vizinhas, Chácaras Reunidas, um bairro tipicamente industrial e cresceu expandindo para muitos setores de serviços com base na infra-estrutura de indústria. (R1a) Transporte Ao serem questionados sobre a situação do transporte no bairro, seis respondentes afirmaram que ele é bom. A maioria faz uso do transporte público, alguns mesmo possuindo um carro. Formas alternativas de transporte, como a bicicleta, são usados por poucas pessoas. O acesso fácil ás rodovias foi um ponto destacado por um respondente, revelando a localização estratégica da cidade e a locomoção entre outros municípios da região. Mercado Imobiliário Os moradores consideram que as casas são bem conservadas, em geral. Um deles, que discorda, associa diretamente a má conservação com a condição econômica dos moradores. Não, porque tem muita gente de classe baixa, ne (R8a). Verifica-se na fala do morador abaixo uma importância dada à possibilidade de individualização da habitação.

Ah, eu gosto porque cada um mexe do jeito que quer, né. Quando questionados sobre a compatibilidade dos imóveis em relação à necessidade dos moradores, a maioria considera os imóveis adequados, alguns enfatizando a necessidade de três dormitórios como um padrão do bairro. As casas originais do loteamento possuem dois dormitórios, mas a maioria foi reformada, fazendo-se a adequação das necessidades de espaço às famílias. Um dos respondentes destaca a diminuição da área útil das moradias alavancada pelos empreendimentos. Você vê que os apartametos hoje não dignifica uma família por ser muito pequeno. (R3a) O investimento do setor imobiliário é percebido por todos e visto com bons olhos pela maioria dos respondentes. Os novos empreendimentos, é, como eu sei... é como na Cooper mesmo, eles construíram ali uns oito prédios, tudo de vinte andar, e cada vez ta mais. Agora, aqui em baixo eles vão construir uns quinze andar, uns quinze prédios, tudo pra mais de quinze andar. Tá construindo, tá aumentando, muito bom (R8a) É, temos uma tendência de crescimento, verticalização do bairro, né, não tão acentuada como outras regiões aqui da cidade, mas o período que eu vim prá cá até agora acredito que uns vinte empreendimentos de construções residenciais de prédios foram feitos (R1a) O bairro ta crescendo muito, bom pro bairro, apesar de que aqui era só casa, agora uma mania de construir prédio, acho que... então tem um prédio isolado aqui, não sei se você já viu, bem no meio ali fica uma coisa esquisita o negócio, só casa, só plano, e tem um prédio no meio. (R3a) Verifica-se que há uma nítida mudança do tipo dos imóveis no bairro em função do investimento do mercado imobiliário. Nem todos os respondentes possuem olhar analítico sobre as causas e conseqüências desse processo. Apenas uma moradora afirmou que vai virá mais bagunçado ainda, né, vai virá muito mais movimento [...] (R9a), prevendo possíveis conseqüências do processo de verticalização que ocorre no bairro. Governo Municipal A percepção que os moradores têm em relação às ações do governo municipal em relação ao bairro é positiva. Sete dos dez respondentes afirmam que há cuidado com o bairro. Dentre as melhorias mais citadas está a construção da praça de esportes e lazer. A necessidade de espaços públicos de convivência e de áreas verdes são os pontos que valorizam o bairro, sob a óptica dos moradores. Os pontos negativos destacados evidenciam, em primeiro lugar, a questão da segurança, seguido dos problemas de trânsito. Perspectivas futuras Apenas um dos entrevistados manifestou vontade de mudar de bairro, mas sem que tivesse planos efetivos para isso. Verifica-se, novamente, a satisfação e sensação de pertencimento manifestada pelos moradores. Bairro Jardim Aquarius Perfil

Verifica-se que o bairro é formado por pessoas originárias do município e de pessoas vindas de outras cidades (maioria), o que reforça o perfil de ocupação de São José dos Campos, caracterizado pelo processo de industrialização em seu mais recente ciclo econômico. Dos moradores que vieram de outros municípios, identificam-se os que já moram há mais de vinte anos no município e os que migraram recentemente, em um período inferior a três anos. Inferese que o município continua a gerar atratividade de mão-de-obra para suas indústrias. Apenas um dos moradores reside em casa, esta localizada em condomínio fechado. Os outros moram em apartamentos, tipo de habitação predominante no bairro, que sofreu um processo intenso de verticalização na última década. O bairro é constituído apenas por condomínios fechados, de casas ou apartamentos, pois foi um bairro que nasceu a partir do investimento de empreendedores do segmento imobiliário, em uma história recente. As unidades familiares são pequenas, formadas em sua maioria por três a quatro pessoas. Mapeamento Quando questionados sobre os melhores bairros, foram citados com freqüência o próprio Aquarius, demonstrando uma satisfação com o local de moradia; Esplanada, Vila Ema, Urbanova, Parque Industrial e Satélite. Todos os bairros citados compõem os locais que têm recebido a maior parte dos investimentos do mercado imobiliário. Nota-se que aspectos da infra-estrutura e paisagem são os mais destacados para justificar as escolhas, não aparecendo como motivos principais os vínculos sociais. [...] Aquarius é um lugar bom, aqui você tem essa praça, tem tudo perto, tem restaurante, tem comércio, tem banco, tem tudo, na, pela praticidade, e porque é um lugar bonito também [...] (R5b) A fala do respondente a seguir demonstra que os bairros ainda estão recebendo investimentos do mercado imobiliários. Esplanada, Aquarius e Parque Industrial. São mais residenciais, mais tranqüilos, apesar da construção atrapalhar bastante (R8b). As principais características de um bom bairro para se morar foram segurança, áreas verdes, acesso (trânsito), comércio próximo, mas não em excesso, sendo que segurança e áreas verdes foram os itens mais citados pelos moradores. Eu acho que a praça, né, área verde, lugar onde você caminha, que você tenha uma vida saudável, né [...] (R5b). Segurança, tranquilidade e conveniência (R8b) Para morar ele não pode ter muito comércio, ele tem que ter uma área verde interessante pra gente poder passear e tem que ter um fluxo pra chegar e ir embora dele interessante, pra gente não ter que pegar trânsito. Pra mim é isso. (R1b) Imagem/Reputação As principais palavras utilizadas pelos moradores para definir o bairro Aquarius foram: bom (R4b,R3b), excelente (R2b), agradável (R5b, R6b, R7b). Uma das moradoras o definiu como tudo maravilhoso, mas por enquanto caótico (R8b). Essa frase ilustra que bairro, por ser recente, ainda passa por fase de construção e adequação às necessidades dos moradores. Na definição dos respondentes, o perfil dos moradores do bairro é caracterizado marcado pelo padrão econômico, definido por médio e médio alto. A variável econômica é o fator percebido principal, não aparecendo menções significativas de vínculos sociais mais estreitos. Um dos respondentes descreveu, de forma mais detalhada, a composição dos moradores do bairro.

oh aqui é muito diversificado, pessoal... vêm muito de pessoas de fora, pessoas que não se conhecem, no fundo do Vale, Sul de Minas, pessoas vêm do mundo todo, aqui tem índio, tem chinês, tem japonês, tem espanhol, tem tudo e pra dizer assim uma característica do bairro, ele é por enquanto ele é fechado, devido essas pessoas que vem de fora, não tem assim esses contatos ainda com os moradores os joseenses e aqueles que já moram aqui em São Jose muito tempo, mas com o tempo os filhos vão trabalhando, vão se entendendo, aí os pais vão se...por enquanto aquela diversidade... são tudo apartamento novo, o máximo que tem aqui, o prédio aqui é 15 anos, né, então é novo ainda (R2b) A fala demonstra a configuração recente o bairro e justifica o fato do poder econômico ter sido citado como principal ponto em comum entre os moradores. O bairro se formou pelo critério do padrão de habitação estabelecido pelo mercado imobiliário, e não por outros fatores históricos ou culturais. Quando questionado se o bairro sofreu mudanças, todos disseram que sim e a maioria apontou melhorias. Ele tem melhorado, não bastante mas ele tem melhorado, porque antigamente não tinha tantos prédios, não tinha tanta gente aqui e quanto mais pessoas mais seguro ele fica porque daí tem bastante gente morando, não fica tão deserto, né. (R1b) Verifica-se que o adensamento urbano é visto de forma positiva, porém outro respondente, apesar de concordar que houve muitas melhorias, aponta também algumas problemáticas em função do rápido crescimento do bairro, como falhas no abastecimento de água e esgoto. A praça foi apontada por outro respondente como o principal ponto de melhoria. Social Os moradores afirmam ter pouco contato social com a vizinhança, e quando tem restringe-se aos moradores do mesmo prédio. Essa situação é compatível com o processo de formação do bairro, que se iniciou a partir de investimentos do mercado imobiliário, atraindo pessoas de origens distintas. Apenas um dos moradores, natural de São José dos Campos, afirma ter amplo relacionamento social, por conta de sua participação na associação de bairro. Dos entrevistados, ele é o único participante. Apenas três respondentes afirmaram saber da existência da associação, apesar de não participarem e o restante não tinha conhecimento algum sobre o assunto. Ao serem solicitados a falar sobre a história do bairro, seis respondentes afirmaram não conhecer nada sobre o assunto. Os outros quatro entrevistados relataram que o bairro começou por iniciativa de empreendedores do segmento imobiliário. Relevante destacar que eles consideram que o bairro não tem história por não ter sido formado por uma família ou por ser uma história recente. [...] eu me lembro que esse bairro aqui era uma plantação de eucalipto enorme, depois foi sendo devastada, devastada, mas foi sendo urbanizada, sei lá. (R5b) [...] não tinha nada aqui, era simplesmente eucalipto e terra vermelha e formigueiro, isso há muitos anos atrás, eu to falando isso coisa de quinze anos atrás, esse bairoo ele é novo ainda, né, se analisar sete anos atrás não tinha nada. (R3b) Bom, o bairro aqui ele começou aqui, era um terreno da Ford do Brasil, ia construir aqui uma unidade, aí a Ford comprou uma fábrica em Taubaté, então ela deixou o bairro, aí os empreendedores aqui, o Carlos da Servengue, os empreendedores compraram parte da Ford, né, o seminário até perto da Tecnasa aqui, essa área aqui, compraram o meio com Penido, né, e as duas partes com os dois empreendedores que é o Kleber e Salonge,

então eles fizeram aquelas partes das laterais, né, e planejamento dele, as ruas muito boas, isso que aconteceu o bairro em 20 anos, o bairro cresceu e não tem uma história a se dizer: não uma família começou aqui ali, não tem assim, porque aqui era um terreno, só eucalipto antigamente era eucalipto desde o cemitério até a Tectran, só eucalipto, aí tiraram o eucalipto fizeram o bairro, não é um bairro que tem uma história porque é novo, né, recém criado. (R2b) Segurança Todos os moradores afirmaram sentirem-se seguros no bairro, mesmo porque o bairro é formado apenas por condomínios de apartamentos e casas, um dos argumentos de venda mais usados pelo segmento imobiliário e que reflete a gravidade dessa problemática urbana. Todos os moradores afirmaram andar a pé pelo bairro. Transporte Dos respondentes, apenas um é usuário de transporte público, sendo que todos usam veículos próprios para locomoção. Em função disso, não souberam precisar se as condições de transporte são boas de fato. Afirmaram, no entanto, que o acesso ao bairro é complicado nos horários de pico devido ao trânsito. Mercado imobiliário Os moradores afirmaram que os imóveis do bairro são muito bons e bem conservados, adequados à casais jovens com poucos filhos, o que reflete no tipo de moradores, de classe média e alta. é são bons, já chegou a contruir imóveis aqui que não agradam muito não, porque não têm sacada e os dormitórios são muito pequenininhos demais, você entra no apartamento, aí num prédio são 6 apartamentos por andar, até 4 vai, tem 6 apartamentos por andar, então são muito pequinininhos demais, então aqui acontece a rua fica muito estreita, não tem condição de parar carro dos dois lados assim mesmo parando de um lado só aperta (R2b) A fala do entrevistado demostra exageros do mercado imobiliário, que desconsidera,por vezes, as problemáticas urbanas. Quanto questionados em relação ao preço dos imóveis, unanimamente considerama muito altos, especulativos, exorbitantes, que tiveram uma evidente elevação nos últimos cinco anos. Das tendências apontadas em relação aos novos empreendimentos, todos identificam que novos empreendimentos continuarão a ser construídos, e a preços mais elevados, pois quanto mais aumentar a raridade dos terrenos disponíveis, mais valorizado será o imóvel, atraindo pessoas com poder aquisitivo mais elevado. [...] que tem saído são apartamentos maiores, quatro dormitórios, e o que eu acho legal, todos tem varanda, acho que isso é o que a gente vê mais. (R5b). a tendência aqui pra frente nessa região aqui ainda tem alguns terrenos vazios aqui sempre vai se apartamento né, então o que tá acontecendo e que eles tão mudando o estilo do apartamento, eles tão fazendo apartamento com maior sacada, ampla sala, né, e o acabamento bem melhor, né (R3b) Governo municipal Os moradores afirmam que o governo dá a devida atenção ao bairro, sendo que um fato bastante destacado foi a urbanização da praça, um importante espaço de convivência do bairro. Paradoxal, pois os respondentes afirmaram manter pouco contato social com outros moradores e o item mais valorizado foi a praça, um espaço público. As informações são insuficientes para inferência e permitem a elaboração de duas hipóteses: a de que a convivência social faz falta,

por isso a busca de espaços públicos, sendo que os elos sociais estão sendo construídos ainda e, por isso, não foram destacados; a de que os moradores usufruem a praça individualmente, com o objetivo maior de utilizar os recursos oferecidos (parque infantil, equipamento de ginástica, entre outros), sem, necessariamente, uma preocupação maior em estabelecer vínculos sociais. Ah, tem bastante, tem essas praças, as ruas muito cuidadas, tem pessoas que varrem as ruas, as ruas são limpas, a praça é limpa, a iluminação é boa. Acho que...que nesse ponto(r6b) Quando solicitados para apontar aspectos negativos da administração municipal em relação ao bairro, a maioria afirmou não ter aspectos negativos. Alguns pontuaram detalhes de pouca importância no contexto do bairro, como uma torneira mal colocada na praça. Um dos moradores afirmou que o bairro é de prédios (R3b) e por isso tudo deve ser feito em outros lugares, pois o bairro não tem posto de saúde, só tem escolas privadas. Demonstra que os moradores, por sua condição econômica, buscam na iniciativa privada aspectos que, por pressuposto, cabem ao governo oferecer, como educação e saúde. Conclusão Em uma abordagem comparativa, verifica-se que os bairros analisados, apesar de possuírem o ponto em comum de serem foco recente dos investimentos do mercado imobiliário, revelam percepções diferentes em relação ao fato. Os bairros Aquarius, mais recente, é oriundo de investimentos feitos pelo mercado imobiliário. Assim, a sua história, ainda que recente, confunde-se com a história do mercado imobiliário da cidade. Já o Parque Industrial se formou a partir de políticas públicas de habitação que visavam suprir o déficit habitacional fomentado pela atratividade de mão-de-obra industrial, e apenas nos últimos cinco anos têm sido alvo de investimentos privados de incorporadores imobiliários, fato que reconfigura o seu espaço, antes horizontal e agora em fase de verticalização. Nos dois bairros, a imagem percebida pelos moradores é positiva. Especialmente no Parque Industrial, evidencia-se, pelo discurso dos entrevistados, um maior sentimento de pertencimento. Esse fato justifica-se parcialmente pela história do bairro, que se iniciou na década de 1970, mas principalmente pelo relacionamento social da vizinhança, fator identificado como de pouca intensidade no outro bairro, Jardim Aquarius. Em relação aos aspectos de infra-estrutura, os moradores dos dois bairros revelaram-se, em geral, satisfeitos com as habitações e o transporte. A demanda por mais segurança foi um ponto em comum, ainda que eles tenham mencionado sentirem-se relativamente seguros nos bairros, o que demonstra que é uma das problemáticas urbanas mais evidentes. O estudo revela alguns aspectos que podem ser explorados sob a óptica da Comunicação Social da relação espaço-comunicação, revelando um fenômeno que é passível de outras abordagens e estudos. Referências ALBAGLI, S.; MACIEL. M. L. Informação e conhecimento na inovação e no desenvolvimento local. Ciência da Informação, v. 33, n. 3, p.9-16, Brasília, set./dez. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/a02v33n3.pdf Acesso em: 16 maio 2009. ARGENTI, P. Comunicação empresarial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. GHORRA-GOBIN, C. Villes e communication interculturelle. Geographie et Cultures. N. 26. Paris, 1998.

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