3 A CATALEPSIA NA ESQUIZOFRENIA SOB O OLHAR DA GESTALT-TERAPIA Ana Paula Coelho Ramos 1 Franciele Farias Costa 2 Lilian Vanessa Nicácio Gusmão 3 RESUMO: No presente trabalho apresenta-se uma pesquisa sobre catalepsia, um estado agudo da catatonia. A catalepsia é uma condição transitória, às vezes duradoura, onde o paciente sofre uma paralisia geral ou parcial de todos os seus músculos, ficando impossibilitado de se mover ou mesmo falar. A catalepsia está presente nos quadros de psicose na esquizofrenia e tem como sintomas a catatonia aguda e alterações na psicomotricidade. Pretende-se aqui trazer o olhar da Gestalt-terapia para a catalepsia dentro da esquizofrenia, seus sintomas e transtornos, enfatizando o potencial humano por meio do olhar humanista da abordagem Gestaltica. Utilizou-se neste trabalho pesquisa bibliográfica com discussões técnicas do tema. PALAVRAS-CHAVE: Catalepsia. Gestalt-terapia. Catatonia. Esquizofrenia. Psicomotricidade. 1 INTRODUÇÃO A catalepsia é uma condição transitória, mas às vezes duradoura e muito rara. O paciente nesse estado sofre uma paralisia geral de todos os seus músculos, ficando impossibilitado de se mover ou mesmo falar, embora continue consciente e com os seus sentidos ativos e as funções vitais funcionando normalmente, porém um pouco desaceleradas. O que mais aflige as pessoas com catalepsia é o fato de perceberem tudo que ocorre à sua volta e não conseguirem esboçar qualquer reação. Normalmente, os músculos da pessoa cataléptica ficam rígidos e se alguém levá-la a uma determinada postura como levantar seu braço, por exemplo, ela permanece desse jeito, incapaz de se mover apresentando a flexibilidade cérea. A psicologia exerce nesse meio uma grande responsabilidade, e aprender a lidar com a esquizofrenia é um assunto que a Gestalt-terapia vem trabalhando incessantemente proporcionando bem-estar psicológico tanto a pacientes como familiares. 1 Acadêmica do curso de psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná UNIJIPA, e-mail: paulacoelhojipa@live.com 2 Acadêmica do curso de psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná UNIJIPA, e-mail: francifs@hotmail.com 3 Psicóloga, especialista em Gestalterapia, Metodologia e Didática do Ensino Superior; docente da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná UNIJIPA e orientadora do trabalho interdisciplinar, e-mail: lilian.gusmao@unijipa.edu.br
4 Pretende-se aqui discorrer sobre o olhar da Gestalt-terapia para a catalepsia, enfatizando o potencial humano. 2 METODOLOGIA Como metodologia, optou-se pela pesquisa de revisão bibliográfica no período de março a junho de 2017, tendo como referência, os livros: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, DSM-5 Manual diagnóstico de transtornos mentais, Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde CID-10 e artigos científicos, obras estas repletas de detalhes e informações acerca do tema, as obras embasaram, enriqueceram e nortearam este trabalho por reunirem informações pertinentes ao assunto e mantendo o foco do esclarecimento a respeito do tema. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA As causas da catalepsia ainda permanecem desconhecidas em sua plenitude, apesar de ter-se sobre elas algumas hipóteses e especulações. O problema tanto pode ter sua origem em um traumatismo craniano como em uma má formação congênita de alguma região cerebral ou, ainda, ser psicogenética. Ademais, ocorre mais em pacientes com distúrbios do sono e em epilépticos, podendo ser um tipo de manifestação de epilepsia em que a pessoa fica imóvel ao invés de apresentar convulsões. Certas práticas yogues de faquires indianos permitem a eles reduzir a níveis impressionantemente baixos suas funções vitais, produzindo estados assemelhados à catalepsia manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10, 2011, p. 90). O ataque cataléptico costuma também ser chamado de morte aparente porque o paciente fica inerte, como que mumificado, sem movimentos e com as funções vitais significativamente reduzidas, mas de uma maneira geral, a pessoa se recupera espontaneamente em poucos minutos, mas pode haver ataques raros que duram dias. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM-5 pontua que: [...]A catatonia associada a outro transtorno mental pode ser diagnosticada desde que atendidos critérios durante o curso de um transtorno de neurodesenvolvimento, ou caracterizado por
5 perturbação psicomotora acentuada (DSM-5, 2014, p.120). Devem ser observados quadros de catatonia na esquizofrenia para se chegar a um diagnóstico de catalepsia 4. CATALEPSIA NA ESQUIZOFRENIA Catalepsia é um dos sintomas da esquizofrenia e trata-se de uma catatonia aguda, podendo ser considerada um quadro de psicose. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM-5 permite que a catatonia seja empregada como um especificador no Transtornos: Depressivo, Bipolar e Psicóticos, pode ocorrer também anormalidades limitadas a um domínio da psicose (IBID., P.89). De acordo com Vieira, Bassit, Wanderley, [...] A esquizofrenia pode interferir de diversas maneiras nas relações familiares, produzindo diferentes padrões emocionais em seus membros que vivem sob tensão constante (VIEIRA; BASSIT; WANDERLEY, 2016, p.2). As autoras pontuam também que: A esquizofrenia catatônica é dominada por distúrbios psicomotores que podem se manifestar pela alternância entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. Atitudes e posturas a que os pacientes foram compelidos a tomar podem ser mantidas por longos períodos. Um padrão marcante da afecção pode ser constituído por episódios de excitação violenta. O fenômeno catatônico pode estar combinado a um estado oniroide com alucinações cênicas vívidas (IBID., P. 5). O transtorno depressivo presente na esquizofrenia, do ponto de vista biomédico destacam variadas características, de acordo com Yano [...] as físicas alteram o sono, apetite, e dores crônicas, alterações cognitivas e emocionais trazem déficits na memória, na autoestima e tristeza persistente e alterações volitivas, apatia e passividade (YANO, 2015, p.2). Com a depressão pode aparecer sintomas de catatonia, onde o paciente perde a vontade de se movimentar, e de acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM-5: A catatonia é definida pela presença de três ou mais de dose características psicomotoras nos critérios diagnósticos de catatonia associada a outro transtorno mental e transtorno catatônico devido a outra condição médica. A característica essencial da catatonia é uma perturbação psicomotora acentuada que pode envolver atividade motora diminuída, participação
6 diminuída durante entrevista ou exame físico ou atividade motora excessiva e peculiar. A imobilidade motora pode ser grave (estupor) ou moderada (catalepsia e flexibilidade cérea) (Ibid., p.119). De acordo com o manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde - CID-10, fenômenos catatônicos podem estar associados com um estado similar ao sonho chamado oniróide com alucinações cênicas. Sintomas catatônicos transitórios e isolados podem ocorrer em outro subtipo de esquizofrenia, porem para um diagnóstico de catatonia deve dominar os quadros clínicos como: Estupor ou mutismo: diminuição da reatividade ao meio ambiente, movimentos e atividades espontâneos. Excitação: atividade motora sem sentido, não são influenciadas por estímulos externos. Postura inadequada: atividade voluntária e posturas inapropriadas. Negativismo: resistência imotivada, movimentos em direção oposta. Rigidez: uma postura rígida contra esforços de ser movido. Flexibilidade cérea: manutenção de membros em posições externamente imposta. Outros sintomas como: obediência automática e perseveração de palavras e frases. Para o manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde - CID-10, o diagnóstico de esquizofrenia pode ser provisório até ser notada a presença de outros sintomas. Sintomas catatônicos podem ser provocados por doenças cerebrais, perturbações metabólicas, por abuso de álcool ou drogas (Ibid., p.90). 5. SINTOMAS DA CATALEPSIA NAS ALTERAÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE De acordo com Dalgalarrondo A lentidão psicomotora chamada de bradipsiquismo trata de uma ação voluntaria muito lenta, ao passo que o estupor trata-se de uma perda da atividade motora espontânea (DALGALARRONDO, 2008, p.184). Ele cita ainda que: na catalepsia, há uma grave redução da mobilidade em todos os segmentos corporais causando hipertonia muscular global, a flexibilidade cerácea acontece no
7 indivíduo que perde os movimentos voluntários dos membros, parecendo um boneco de cera (Ibid., p.185). A mobilidade é comprometida e o indivíduo não consegue sair da posição em que se encontra. Alteração na vontade chamada de hipobulia também é um dos sintomas da catalepsia presente na esquizofrenia, e conforme Dalgalarrondo: Pacientes com hipobulia/abulia apresentam diminuição ou até abolição da atividade volitiva. O indivíduo refere que não tem vontade para nada, sentese muito desanimado, sem forças, sem pique. Geralmente, a hipobulia/ abulia encontra-se associada à apatia (indiferença afetiva), à fadiga fácil, à dificuldade de decisão, tão típicas dos depressivos graves (IBID., p. 177). 6 GESTALT-TERAPIA O criador da Gestalt-terapia, foi o médico Frederick Perls, nascido em Berlim, em 1893 e como citado no artigo, Tellegen, (1984) et al, apud Moreira aponta que: sua proposta psicoterapêutica sofreu várias influências da psicanálise, análise de caráter de Reich, Psicologia da Gestalt, teoria de Goldstein, filosofia existencial e também do zen-budismo (MOREIRA, 2009, p.1). Foi a partir dessas influencias que Perls teve sua base na psicodinâmica olhando o indivíduo em sua totalidade. Conforme Moreira, a abordagem gestáltica pretende captar como os dados fenômenos acontecem, buscando detectar em função da estrutura o todo, então surge aí o termo gestalt, que significa configuração, estrutura, tema, relação estrutural ou todo significativa (Ibid., p.4), ele cita ainda que: Um dos princípios da Psicologia da Gestalt afirma que existe uma tendência à organização que se atualiza na dinâmica figura-fundo, princípio que foi utilizado por Goldstein em seus estudos da relação organismo-meio com portadores de lesões cerebrais. Nesta proposta, é fundamental a concepção de campo organismo-ambiente, que, para a Gestalt-terapia, constitui a situação psicológica, derivando na noção de contato (COL. OS PENSADORES, 1980 apud, MOREIRA, 2009, p.4). As bases da Gestalt-terapia são, provenientes da abordagem fenomenológica de campo, Figueiredo (1991) citado por Moreira fala sobre que a auto atualização estaria identificada, nas matrizes humanistas, com a genuína vida comunitária, supondo que a
8 felicidade e a autenticidade se tornam compatíveis no processo de realização do indivíduo (IBID., P.4). Para Moreira, é importante observar que, [...] tanto a Gestalt-terapia quanto a Abordagem de Rogers possuem movimentos similares, pois vão de encontro ao desenvolvimento humanista-fenomenológico e existencialismo de Heidegger, Buber entre outros (MOREIRA, 2009e, IBID., P.5). No Brasil a Gestalt-terapia vem crescendo e sendo muito utilizada em consultórios e seus profissionais estão cada vez mais presentes nos cenários da psicologia. Surgiu, em 1986, organizado pelo grupo do Rio sob a coordenação de Teresinha Mello, com o I Encontro de Gestalt-terapeutas do Rio de Janeiro que, contou com a presença de gestalt-terapeutas de todo o País. Holanda e Karwowski, pontuam que: [...] o escopo teórico-filosófico da Gestalt seja suficientemente amplo para ser limitado a uma resposta técnica. Além disso, observamos que a mudança no perfil da reflexão na Gestalt-terapia pode vir a ser uma alternativa à reflexão tanto na Psicologia quanto nas demais áreas do conhecimento (HOLANDA; KARWOWSKI, 2004, p.4). Os Gestalt-terapeutas brasileiros desenvolvem também trabalhos que ampliam não somente suas bases intelectuais, e para Holanda e Karwowski servem também como interlocuções para a própria teoria e prática da Gestalt-terapia no Brasil trazendo grandes possibilidades para uma Gestalt holística e dialógica. (Ibid., p.4). Essa abordagem tem sido muito aceita nas clinicas tornando o humanismo cada vez mais em evidencia. 7 O OLHAR DA GESTALT-TERAPIA PARA A ESQUIZOFRENIA E SEUS SINTOMAS O cuidado com a saúde mental em pacientes traz um novo conceito a respeito da compreensão de pessoas que apresentam sintomas de transtornos mentais, mas traz também possibilidades de mudanças. Este cuidado tem um olhar voltado para o sofrimento do indivíduo e não somente para o diagnóstico sem deixar de lado a família e o meio em que a pessoa vive. De acordo com Vieira: A proposta de se discutir as intervenções da abordagem Gestaltica em saúde mental surge do possível diálogo entre o que preconiza a atual política de
9 saúde e a teoria da Gestalt, por seus princípios e concepções de homem e de mundo, enfatizando a potencialidade do ser humano mesmo nos casos em que há um grave acometimento psíquico e existencial (VIEIRA, 2010, p.3). E como cita ainda Vieira, autora do artigo, [...] a esquizofrenia, está relacionada a um estreitamento da relação do indivíduo consigo mesmo e com o ambiente, prejudicando o contato e o seu desenvolvimento psicológico saudável (Ibid., p.3). Fica comprometida a visão que o paciente tem de si mesmo. Ainda em seu artigo, Vieira pontua que, [...] com base nos sintomas da esquizofrenia, como delírios e alucinações torna impossível a intervenção no momento da crise, mas o terapeuta deve dar suporte e quando há ausência deles (Ibid., p. 3). O ambiente externo pode tanto ajudar como prejudicar em uma crise existencial. O transtorno depressivo está muito presente na esquizofrenia com sintoma dissociativos e depressivos, e o Gestalterapeuta Jan Roubal (1971), citado no artigo de Yano pontua que: As introjeções construídas ao longo do desenvolvimento do indivíduo interferem na auto avaliação, e a depressão não é um rótulo, mas um ajustamento criativo, utilizado para lidar com situações adversas (YANO, 2015, p.4). 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A catalepsia é um estado transitório presente na esquizofrenia, estupor da catatonia aguda entende-se que se trata de um tema bastante curioso e desconhecido pelos profissionais e pela sociedade. De acordo com vários autores trata-se de uma catatonia extrema onde o sujeito não consegue se movimentar perdendo sua capacidade psicomotora apesar de não perder a sua consciência podendo ser levado ao desespero. O gestalt-terapeuta deve considerar os riscos nos experimentos a serem trabalhados com o cliente depressivo, acompanhamento as respostas a medicações, levando em conta os efeitos provocados na dinâmica emocional, cognitiva e física. Por isso a psicoterapia deve sempre trabalhar com uma equipe multiprofissional, que inclui o terapeuta, o médico psiquiatra, entre outros profissionais.
10 A psicologia exerce nesse meio uma grande responsabilidade, uma vez que se torna um desafio cuidar da saúde mental desse paciente, que pode ser levado à depressão e à síndrome de pânico e outros transtornos por desconhecer esse estado patológico. Aprender a lidar com a esquizofrenia é um assunto que a Gestalt-terapia vem trabalhando incessantemente proporcionando bem-estar psicológico tanto a pacientes como familiares e o foco do terapeuta deve ser sempre no presente. A gestalt-terapia foca no aqui e agora, portanto vai trabalhar com o paciente o momento do seu conflito e essa abordagem pode ser de grande valia, pois tanto as crises de esquizofrenia quanto o estado cataléptico são transitórios, podendo ocorrer em momentos inesperados. REFERÊNCIAS ABCMED, 2013. Catalepsia: o que é isso?. Disponível em: <http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-edoencas/345159/catalepsia+o+que+e+isso.htm>. Acesso em: 5 de jan. 2017. OMS. Organização Mundial da Saúde. CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997. vol.1. DALGALARRONDO, Paulo; Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais; 2 ed.; Porto Alegre; Artmed; 2008. DSM-5; Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais; Trad. Maria Inês Corrêa Nascimento et.al.; ver. Tec. Aristides Volpato Cordioli et. al.; 5 ed.; Porto Alegre; Artmed; 2014. HOLANDA, Adriano F., KARWOWSKI, Silvério L.,Produção acadêmica em gestalt-terapia no Brasil: análise de mestrados e doutorados. Psicol. cienc. prof. [online]. 2004, vol.24, n.2, pp. 60-71. ISSN 1414-9893. MOREIRA, Virginia. A Gestalt-terapia e a Abordagem Centrada na Pessoa são enfoques fenomenológicos?. Rev. abordagem gestalt. [online]. 2009, vol.15, n.1, pp. 3-12. ISSN 1809-6867. VIEIRA, Ludmila. Reflexões acerca da esquizofrenia na abordagem gestáltica Reflections about schizophrenia in a gestalt approach. IGT na Rede, Rio de Janeiro, RJ, 7.12, 10 06 2010. Disponível em: <http://www.igt.psc.br/ojs/viewarticle.php?id=275>. Acesso em: 20 de mar. 2017.
11 VIEIRA, Rosângela M. et al; Um olhar sobre a esquizofrenia; Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research BJSCR; Vol.17,n.1,pp.41-54 (Dez 2016 Fev 2017); Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/bjscr. Acesso em: 29 de jun. 2017. YANO, Luciane Patrícia. A clínica em gestalt-terapia: a gestalt dos atendimentos nos transtornos depressivos. Rev. NUFEN [online]. 2015, vol.7, n.1, pp. 67-85. ISSN 2175-2591. Acesso em: 29 de jun. 2017.