Página1 Curso/Disciplina: Direito Administrativo Aula: Desapropriação: desistência da desapropriação. Desapropriação indireta 118 Professor (a): Luiz O. Jungstedt Monitor (a): Luis Renato Ribeiro Pereira de Almeida Aula 118 DESAPROPRIAÇÃO 1. Desistência da desapropriação. Antes mesmo de instaurado o processo, de uma forma tácita, a Administração pode desistir da desapropriação. O prazo de caducidade do decreto expropriatório (5 anos no caso de utilidade pública, e 2 anos no caso de interesse social), de certa forma, é uma desistência. Se o Governo não promove a desapropriação nesse lapso temporal ocorre a caducidade. Após instaurado, no decorrer do processo expropriatório, a Administração pode desistir da desapropriação até o trânsito em julgado. Considera-se encerrado o processo expropriatório quando a prévia indenização é concluída. Para desistir da desapropriação, duas exigências são necessárias: a) Revogação do decreto expropriatório; b) Possibilidade de devolução do bem nas mesmas condições em que ele se encontrava na imissão prévia na posse. Roberto Matoso Câmara questiona a diferença entre desistência do processo e renúncia da desapropriação.
Página2 No caso de desistência do processo/da ação, não seria necessário revogar o decreto expropriatório. O Governo tem 5 anos para promover a desapropriação. Caso ajuíze a ação no primeiro ano e desista do processo, terá mais 4 anos para promover. Logo, o decreto continuará válido. De outro lado, a renúncia da desapropriação pressupõe que o decreto seja revogado. A doutrina do Direito Administrativo, contudo, não costumam traçar a distinção entre desistência e renúncia, e exige a revogação do decreto expropriatório. Quanto à segunda exigência, não há como desistir se não houver a possibilidade de devolução do bem nas mesmas condições em que ele se encontrava na época da imissão prévia na posse. Se o bem estiver nas mesmas condições, a devolução independe do consentimento do expropriado. A desistência, neste caso (cumpridos os requisitos), é uma decisão pautada no interesse público. Contudo, não impede que o expropriado busque indenização. Trata-se de uma decisão administrativa e unilateral de desistir da desapropriação, e a vontade do expropriado não impedirá o Governo de desistir. Caso o expropriado tenha prejuízos com a desistência, deverá ajuizar ação ordinária com pedido de indenização pela desistência da desapropriação. 2. Desapropriação indireta. O tema da desapropriação indireta também é estudado como apossamento administrativo. Para Hely Lopes Meirelles, trata-se de um esbulho possessório. Em verdade, trata-se de um ato ilegal praticado pelo Poder Público, pois não é realizado qualquer processo, administrativo ou judicial, pelo Governo. É possível que uma limitação administrativa na defesa das florestas seja de tal monta que inviabilize o uso da propriedade. Neste caso, não se trata de uma desapropriação indireta, pelo simples fato de que não há invasão do Poder Público: o Governo não se apossou do bem, apenas impôs uma limitação administrativa. A desapropriação indireta pressupõe a invasão, o esbulho.
Página3 O art. 15-A, 3.º, do DL 3.365/41, trata de ações ordinárias de indenização e distingue o apossamento administrativo (desapropriação indireta) e os atos do Poder Público que impliquem restrição do direito de propriedade, especialmente do Direito Ambiental. Art. 15-A. 3.º. O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações ordinárias de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta, bem assim às ações que visem a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à proteção ambiental, incidindo os juros sobre o valor fixado na sentença. Logo, quando a restrição ao direito de propriedade é de tal monta que inviabilize o uso econômico da propriedade, o proprietário deve ajuizar ação ordinária por restrições decorrentes de atos do Poder Público, pleiteando indenização. O art. 15-A, 3.º, trata o apossamento administrativo como sinônimo de desapropriação indireta. A única diferença que se poderia traçar entre os termos é vislumbrada no estudo da desapropriação de bem público. A União pode desapropriar bens de Estados e Municípios; e Estados podem desapropriar bens de seus Municípios. Se a União invade bens dos Estados ou Municípios, estaria configurada a desapropriação indireta. Como um Município não pode desapropriar bens da União, caso invadisse esses bens haveria apossamento (pois desapropriação, ainda que indireta, não seria possível). Contudo, é possível afirmar que as expressões são sinônimas, pois a desapropriação indireta pressupõe um apossamento administrativo. O proprietário esbulhado poderá tomar providências distintas a depender se já tiver ocorrido ou não a afetação, isto é, a destinação pública dada ao bem invadido. Obra em andamento não tem afetação. Se ainda não houve afetação, o proprietário poderá ajuizar ações possessórias para reaver a posse. Se já houve afetação (se já foi dada destinação pública), caberá somente ação ordinária de indenização, por força da desapropriação indireta que gerou a perda da propriedade, nos termos do art. 35, do DL 3.365/41. Essa ação também é conhecida como ação ordinária de desapropriação indireta. Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos. Portanto, o cidadão pode ser autor de uma ação expropriatória, pois tem legitimidade para ajuizar ação ordinária de desapropriação indireta. São requisitos para o ajuizamento dessa ação ordinária: a) A prova da propriedade (somente o proprietário é o legitimado para ajuizar a ação); b) A prova do esbulho.
Página4 Obs.: Eventuais débitos tributários poderão ser compensados quando do pagamento da indenização. Logo, a ausência de débitos tributários não é requisito para o ajuizamento da ação. O prazo prescricional a que se submete a ação ordinária de indenização (ajuizada por força de uma desapropriação indireta) é objeto de controvérsia. De acordo com a Súmula 119, do STJ, o prazo prescricional seria de 20 anos. Súmula 119. A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos. A MP 2.183 reduziu o prazo para 5 anos. O STF, contudo, considerou inconstitucional a redução (art. 10, parágrafo único, DL 3.365). Após a decisão do STF, a MP foi reeditada sem a previsão dos 5 anos para a ação da desapropriação indireta. Assim, a Súmula 119 do STJ voltou a valer até o advento do CC/02, que teria superado o enunciado por não admitir prescrição vintenária. Na doutrina, José dos Santos Carvalho Filho defende o prazo quinquenal para a ação de desapropriação indireta. Já Celso Antônio Bandeira de Melo inclina-se para o prazo de 15 anos, com base no art. 1.238, do CC/02, porém não exclui a possibilidade do prazo de 10 anos, nos moldes do art. 205, do CC/02. Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. O Direito Administrativo, em matéria de prescrição, em regra adota o prazo quinquenal. Porém, quando a questão se refere a direitos reais, a princípio busca-se o maior prazo possível. Isso é confirmado pois quando o STJ editou a Súmula 119, definindo o prazo de 20 anos, já existia o prazo quinquenal do Decreto 20.910/32. Logo, na hipótese em que há direitos reais envolvidos, o Direito Administrativo inclina-se para o maior prazo. Nelson Nery Jr. sustenta que, diante da ausência de previsão legal, o prazo prescricional da ação de desapropriação indireta seria de 10 anos, nos termos do art. 205, do CC/02. Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Em 2013, no REsp 1.300.442 (informativo 523), o STJ entendeu que deveria ser aplicado o prazo de 10 anos, com base no art. 1.238, parágrafo único, do CC/02. Art. 1.238. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo
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