AVALIAÇÃO DA COLONIZAÇÃO POR Staphylococcus aureus EM PACIENTES DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ANDRADE, D. F. R. 1 ; SOUSA, D. M. 2 ; MOURA, M. E. B. 2 ; FREITAS, D. R. J. 1 ; GOMES, H. M. S. 2 ; NASCIMENTO, G. C. 2 ; SILVA, T. M. 1 ; CARDOSO, A. O. S. 1 ; NOLÊTO, I. R. S. G. 1 ; ARAÚJO, G. B. F. 1 NÚCLEO DE ESTUDOS EM MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA (NUEMP) - UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU͹; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ 2 RESUMO Introdução: A internação hospitalar favorece exposição a uma ampla variedade de patógenos, principalmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTI s), onde são realizados procedimentos invasivos de rotina e a administração de antimicrobianos de amplo espectro é comum. Objetivou-se avaliar a colonização de S. aureus na orofaringe e inserção de cateter venoso central em pacientes de UTI. Metodologia: Estudo transversal, realizado com 110 participantes internados de uma unidade de terapia intensiva em Teresina- PI. Foram coletadas amostras da cavidade orofaríngea e inserção de cateter venoso central dos pacientes, as que apresentaram crescimento para S. aureus tiveram seus perfis de sensibilidade determinados para diversos antimicrobianos. Resultados e Discussão: Os participantes do estudo eram em sua maioria do sexo feminino e com idade maior que 60 anos. O tempo de internação médio foi de 15,5 dias. A prevalência de S. aureus na orofaringe foi de 30,1% e no CVC foi de 12,8%. Conclusões: A orofaringe e o cateter venoso central são importantes reservatórios dessa bactéria que nas condições críticas dos pacientes podem tornar-se patogênicas. A multirresistência encontrada torna difícil o controle desse microorganismo. Palavras-chave Microbiologia; Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde; Bactérias. _ ABSTRACT Introduction: Hospital admission favors exposure of a wide variety of pathogens, especially in Intensive Care Units (ICUs), where they are performed with routine invaders and a broad spectrum antimicrobial administration is common. The objective of this study was to evaluate a colonization of S. aureus in the oropharynx and insertion of a central venous catheter in ICU patients.
Methodology: A cross-sectional study was carried out with 110 participants hospitalized at an intensive care unit in Teresina-PI. Samples were collected from the oropharyngeal cavity and central venous catheter insertion of the patients, as they presented growth for S. aureus had their sensitivity profiles for several antimicrobials. Results and Discussion: The study participants are mostly female and older than 60 years. The mean hospitalization time was 15.5 days. The prevalence of S. aureus in the oropharynx was 30.1% and CVC was 12.8%. Conclusions: An oropharynx and the central venous catheter are important reservoirs of the bacterium that in the critical issues of patients can become pathogenic. A multidrug resistance found makes it difficult to control this microorganism. Keywords - Microbiology; Health Care Related Infections; Bacteria. INTRODUÇÃO A internação hospitalar favorece exposição a uma ampla variedade de patógenos, principalmente em Unidades de Terapia Intensiva (UTI s), onde são realizados procedimentos invasivos de rotina e a administração de antimicrobianos de amplo espectro é comum (MOURA et al., 2007). O aparato tecnológico aplicado à assistência hospitalar em UTI proporciona o prolongamento da sobrevida do paciente em situações muito difíceis. Este fenômeno altamente positivo por um lado, por outro, é um dos fatores determinantes do aumento do risco de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) em pacientes críticos (OLIVEIRA et al., 2012; REYES et al., 2017). O Staphylococcusaureus é um colonizador inofensivo da pele e da orofaringe em 25-35% de indivíduos saudáveis. Entretanto, em situações de imunodepressão, como ocorre na UTI, ele é conhecido por causar infecções graves. Uma das preocupações é a extensão atual da prevalência de S. aureus resistente à meticilina (MRSA), tornando-se um importante problema de saúde global devido ao seu potencial patogênico para causar infecções sanguíneas, pneumonia e cirurgia e infecções nos locais (KOUKOS et al., 2015; STEFANI et al., 2012). Diante da complexidade do controle de infecção hospitalar em UTIs, com destaque para o S. aureus, torna-se importante o estudo da identificação de carreadores desse micro-organismo. Objetivou-se avaliar a colonização de S. aureus em cateteres venosos centrais e orofaringe de pacientes de UTI. Assim como, possíveis fatores de risco e o perfil de susceptibilidade à antimicrobianos. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal realizado em um Hospital Público de grande porte em Teresina, Piauí (PI). A coleta ocorreu entre os meses de outubro a dezembro de 2015. Os critérios de inclusão foram: pacientes adultos, conscientes ou não e estarem internados na Unidade de Terapia Intensiva, há mais de cinco dias. Pacientes que ficaram internados por menos de cinco dias ou menores de 18 anos foram excluídos da amostra. Os prontuários médicos
foram consultados para coleta de informações sobre o paciente sobre as variáveis independentes do estudo. As amostras foram coletadas utilizando-se swabs estéreis de madeira. Após a coleta, o material foi transportado em uma caixa de isopor à temperatura ambiente, com tempo máximo de uma hora até o laboratório de Microbiologia do Departamento de Parasitologia e Microbiologia da Universidade Federal do Piauí, em tubos (5 ml - 10.50x90 mm) contendo meio de cultura Luria Bertani Miller (LB Miller). Em seguida, as amostras foram incubadas a 36ºC por 24 horas. Após esse período, as amostras foram cultivadas em placas de Petri lisas (placa de poliestireno descartável 90x15 mm) contendo ágar manitol salgado. Passado o período de incubação (36ºC durante 24h na estufa) as amostras foram analisadas. As que apresentaram crescimento para S. aureus foram passadas suas colônias para o meio de cultivo Brain Heart Infusion (BHI). As colônias que apresentaram positividade no ágar manitol e foram cultivadas em BHI foram submetidas a testes confirmatórios de catalase (peróxido de hidrogênio), coloração de Gram e prova de coagulase (Staphclin kit ). As populações de S. aureus isoladas tiveram seus perfis de sensibilidade determinados por meio da técnica de Kirby-Bauer de disco-difusão de papel em ágar, de acordo com os critérios do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). A coleta de dados ocorreu com autorização da Instituição escolhida como local do estudo e do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) com CAAE: 39536414.40000.5214. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram do estudo 110 pacientes e foram coletadas 188 amostras biológicas: 110 da orofaringe e 78 de cateteres venosos centrais. A média de idade dos pacientes de terapia intensiva foi de 57,9 (±20,2) anos, com mínima de 15,0 e máxima de 95,4 anos, sendo que 59 (53,6%) apresentavam 60 anos ou mais. A maioria era do sexo feminino 58 (52,7%), parda 53 (48,2%), que residia no interior do Piauí 60 (54,5%). Verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre o tempo de internação na unidade de terapia intensiva e a colonização de S. aureus nas amostras de inserção de cateter venoso central (p=0,02). Pacientes que se encontravam internados por sete dias ou mais apresentaram 4,82 vezes mais chances de serem colonizados que os pacientes internados a menos de sete dias (IC95%=1,16-28,51), em comparação aos com menos de sete dias de internação. Outras associações entre as variáveis independentes do estudo e a colonização não foram encontradas. O maior perfil de resistência na amostra de orofaringe foi na ampicilina com 76,47% (26/34), seguido por oxacilina 73,52% (25/34) e vancomicina 58,82% (20/34); e a menor foi ao cloranfenicol 23,52% (8/34) seguido por ciprofloxacina 29,41% (10/34) e tetraciclina 41,17% (14/34). Enquanto que os antimicrobianos que apresentaram maior sensibilidade às cepas foram: cloronfenicol 64,70% (22/34), tetraciclina 47,05% (16/34) e ciprofloxacina 38,23% (13/34); e os que apresentaram menor sensibilidade: clindamicina 5,8% (2/34) e oxacilina 8,82% (3/34). Não houveram amostras sensíveis à vancomicina. A resistência encontrada nos S. aureus de CVC foi mais alta para a ampicilina com 100% (10/10) e para oxacilina e clindamicina com 90% (9/10), ambas.
Uma menor resistência foi encontrada para a tetraciclina 20% (2/10) e clorafenicol 40% (4/10). Somente 1 cepa (10%) foi sensível à vancomicina. Não houveram cepas sensíveis à ampicilina, oxacilina e ácido nalidíxico. Quando comparados os perfis de sensibilidades da orofaringe com as variáveis do estudo foram encontradas associações significativas. Pacientes com mais de 60 anos apresentaram resistência para oxacilina 0,11 vezes maior que pacientes com idade menor que 60 anos (p=0,04; IC95%= 0,89-88,4). Além disso, uma associação positiva foi encontrada para resistência ao cloranfenicol em pessoas com menos de sete dias de internação, tendo 28 vezes mais chances de ser resistente (p=0,01; IC95%= 1,35-580,59). As taxas de isolamento relatadas de S. aureus presente na orofaringe variam com a população estudada, apresentando taxas de transporte relatadas de 24% a 84% em cavidades bucais de adultos saudáveis (MERGHNI et al., 2015). No presente estudo 30,1% dos pacientes internados na UTI eram colonizados. Apesar desse número estar dentro da amplitude relatada na literatura, esse número é alto quando comparado aos 18% encontrados na Grécia e com os 9,8% na Austrália (KOUKOS et al., 2015; BRENNAN et al., 2013). Aproximadamente 65% das infecções relacionadas ao cateter são originárias da flora da pele, 30% da ponta do cateter contaminado e 5% através de outras vias. Quanto à colonização inserção de cateter a incidência foi de 12,8%, o mesmo resultado foi encontrado para colonização por S. aureus de CVC em um estudo de coorte realizado em Portugal e se aproxima dos 10% encontrado em um hospital do Brasil (COBRADO et al., 2010). Entretanto, o resultado foi alto quando comparado ao estudo de Hajjej et al. (2014), que obteve 5% de colonização nos cateteres e menor que os 14% de Bouza et al. (2006). O alto perfil de resistência à vancomicina e oxacilina, contribui como um achado novo e preocupante frente aos altos índices de IRAS, pois mesmo o estado de portador, poderá contribuir para surtos em UTI, contribuindo assim para o aumento das taxas de mortalidades dos pacientes hospitalizados neste setor. Para orofaringe a resistência à oxacilina em 73,85% das cepas, se aproxima do resultado encontrado no Paraná, com 69% e se distancia como valor alto quando comparado à Grécia com 41% (MOREIRA; SANTOS; BEBENDO, 2013; KOUKOS et al., 2013). No CVC a resistência foi 90%, número alto quando comparado ao divulgado pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) com uma média de 56% e em outro estudo com 67% (MUÑOZ et al., 2012; HIDRON et al., 2008). CONCLUSÕES O S. aureus demonstrou uma alta incidência no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva. A orofaringe e o cateter venoso central são importantes reservatórios dessa bactéria que nas condições críticas dos pacientes podem tornar-se patogênicas. A multirresistência encontrada torna difícil o controle desse microorganismo. Ressalta-se a importância da vigilância microbiológica da orofaringe e da inserção de cateteres venosos centrais, pois o isolamento e determinação do perfil de susceptibilidade dessas bactérias podem contribuir para prevenção de infecções futuras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOUZA, E., et al. Diagnosis of venous access port colonization requires cultures from multiple sites: should guidelines be amended? Diagnostic Microbiology and Infectious Disease. v.78, n.2, pp. 162-7, 2014. BRENNAN, L., et al. Community-associated meticillin-resistant Staphylococcusaureus carriage in hospitalized patients in tropical northern Australia. Journal of Hospital Infection. v. 83, n.3, pp. 205-11, 2013. COBRADO, L, et al. Colonization of central venous catheters in intensive care patients: A 1-year survey in a Portuguese university hospital. Am J Infect Control. v.38, n. 1, pp. 83-4, 2010. HAJJEJ, Z., et al. Incidence, risk factors and microbiology of central vascular catheter-related bloodstream infection in an intensive care unit. J Infect Chemother. V.20, n.3, pp.163-8, 2014. HIDRON, A. I. et al. NHSN annual update: antimicrobial-resistant pathogens associated with healthcare-associated infections: annual summary of data reported to the National Healthcare Safety Network at the Centers for Disease Control and Prevention, 2006 2007. Infect Contr Hosp Epidemiol. v.29, n.11, pp.996 1011, 2008. KOUKOS, G., et al. Prevalence of Staphylococcusaureus and methicillin resistant Staphylococcusaureus (MRSA) in the oral cavity. Archives of Oral Biology. v.60, n.9, pp.1410-5, 2015. MERGHNI, A., et al. Assessment of adhesion, invasion and cytotoxicity potential of oral Staphylococcusaureus strains. Microbial Pathogenesis. v.86, pp. 1-9, 2015. MOREIRA, A. C. M. G., SANTOS, R. R., BEDENDO, J. Prevalência e perfil de sensibilidade de Staphylococcusaureus isolados em pacientes e equipe de enfermagem. Cienc Cuid Saude. v.12, n.3, pp. 572-9, 2013. MOURA M. E. B. et al. Infecção hospitalar: estudo da prevalência em um hospital público de ensino. Rev Bras Enferm. v.6, n.4, pp.416-21, 2007. MUÑOZ, P. et al. Central venous catheter colonization with Staphylococcusaureus is not always an indication for antimicrobial therapy. Clin Microbiol Infect. v.18, n.9, pp.877 882, 2012. OLIVEIRA, A. C., PAULA, A. O. Descalonamento de antimicrobiano e custos do tratamento de pacientes com infecção. Acta Paulista de Enfermagem. v.25, n.2, pp.68-74, 2012. REYES, D. C. V., BLOOMER, M., MORPHET, J. Prevention of central venous line associated bloodstream infections in adult intensive care units: A systematic review. Intensive and Critical Care Nursing. 2017. STEFANI S., et al. Methicillin-resistant Staphylococcusaureus (MRSA): global epidemiology and harmonization of typing methods. International journal of antimicrobial agents. v.39, n.4, pp.273-282, 2012.