UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA EFEITO DO TREINAMENTO DE FUTEBOL NO CONDICIONAMENTO AERÓBIO EM ATLETAS UNIVERSITÁRIOS PEDRO HENRIQUE SOUZA Dezembro de 2016. Natal, RN

PEDRO SOUZA EFEITO DO TREINAMENTO DE FUTEBOL NO CONDICIONAMENTO AERÓBIO EM ATLETAS UNIVERSITÁRIOS Pesquisa apresentada ao Curso Superior de Bacharel em Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus Natal como requisito de avaliação da disciplina de Trabalho de conclusão de curso II. ORIENTADOR (A): Profª. Msc. Kalina Verusca Masset. CO-ORIENTADOR: Prof. Msc. Daniel G. da S. Machado. NATAL/RN 2016

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Souza, Pedro Henrique Silva de. Efeito do treinamento do futebol no condicionamento aeróbico em atletas universitários / Pedro Henrique Silva de Souza. - Natal, 2016. 13f.: il. Orientador: Kalina Verusca Masset. Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) - Departamento de Educação Física. Centro de Ciênicas da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Futebol - TCC. 2. Esporte universitário - TCC. 3. Condicionamento aeróbio - TCC. 4. Treinamento - TCC. I. Masset, Kalina Verusca. II. Título. RN/UF/BS-CCS CDU 796.332 3

RESUMO Objetivo: O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do treinamento de futebol no condicionamento aeróbio em atletas universitários. Métodos: Foram avaliados 11 atletas do sexo masculino (24,27 ± 3,80 anos; 73,44 ± 8,31kg; 1,82 ± 0,12m; 22,31 ± 3,14 kg/m²) da seleção de futebol da UFRN. Tais atletas, foram submetidos a duas sessões de avaliação da aptidão aeróbia por meio do Yo-Yo Intermittent Recovery Test 1, a partir do qual o consumo máximo de oxigênio (VO 2max ) foi estimado, e também foram registradas a velocidade máxima atingida e distância percorrida. Os testes foram realizados em períodos de treinamento distintos com 5 meses de intervalo. Foi utilizado o teste t para amostra pareadas para comparação das variáveis pré e pos treinamento, considerando P<0,05. Resultados: Não houve diferença no VO 2max (47,36 ± 3,14 Vs. 47,28 ± 2,64 ml.kg -1.min -1 ), distância percorrida (1,31 ± 0,37 Vs. 1,29 ± 0,31 km), tampouco na velocidade máxima atingida (16,56 ± 1,17 Vs. 16,36 ± 0,93 km.h -1 ), para pré e pós treinamento, respectivamente (P > 0,38). Conclusão: Os resultados indicaram que o treinamento de futebol em atletas universitários não aumentou a aptidão aeróbia, avaliados pelo VO 2máx, tempo até exaustão e velocidade máxima atingida. Palavras-chave: Esporte universitário. Condicionamento aeróbio. Treinamento de futebol. ABSTRACT Purpose: the aim of this study was to assess the effect of soccer training on aerobic fitness in college athletes. Methods: eleven male athletes (24.27 ± 3.80 years; 73.44 ± 8.31kg; 1.82 ± 0.12m; 22.31 ± 3.14 kg/m²) from the UFRN s college team were assessed. These athletes underwent two assessment sessions in which the aerobic fitness was evaluated using the Yo-Yo Intermittent Recovery Test 1, from which the maximal oxygen consumption (VO 2max ) was predicted, as well as the maximal speed and covered distance was recorded. The test was applied at different periods of the training program, with a 5-month interval. The paired t-test was used to compare measures at 4

pre- and post-training, considering P<0.05. Results: There was no difference in VO 2max (47.36 ± 3.14 Vs. 47.28 ± 2.64 ml.kg -1.min -1 ), covered distance (1.31 ± 0.37 Vs. 1.29 ± 0.31 km), neither maximal speed (16.56 ± 1.17 Vs. 16.36 ± 0.93 km.h -1 ) for pre- and post-training, respectively (P > 0.38). Conclusion: the results of the present study suggest that soccer training in college athletes did not increase aerobic fitness as assessed by VO 2max, time to exhaustion and maximal speed. Keywords: College sports. Aerobic fitness. Soccer training. INTRODUÇÃO O sistema aeróbio é caracterizado pela distribuição de oxigênio e nutrientes para todas as células do corpo. Além desta função, o sistema aeróbio o também é responsável pela regulação da função imune, transporte de hormônios, termo regulação, controle do equilíbrio hídrico e da remoção do dióxido de carbono, favorecendo o equilíbrio acidobásico (Wilmore et al. 2013). Cooper (1999) destaca que dentre os componentes da aptidão física relacionados a saúde, a aptidão aeróbia é uma das principais. Nesse sentido, o treinamento aeróbio regular gera uma série de adaptações fisiológicas que favorecem a distribuição de nutrientes via corrente sanguínea resultando na diminuição da frequência cardíaca em repouso (Wilmore et al. 2013). O treinamento aeróbio promove adaptações cardiovasculares relacionadas ao transporte de oxigênio, incluindo alterações no volume e fluxo sanguíneo, no débito cardíaco, no tamanho do coração, na frequência cardíaca e na pressão arterial (Wilmore et al. 2013). Adicionalmente, de acordo com Wilmore et al. (2013), todos os atletas podem se beneficiar da melhora de sua capacidade aeróbia. Em desportistas, o nível de condicionamento aeróbio elevado implica em um melhor desempenho em diversas modalidades como atletismo, natação, ou mesmo modalidades coletivas como no futebol. 5

Particularmente no futebol, durante os 90 minutos de uma partida a aptidão aeróbia é um dos principais fatores que possibilitam a sustentação de altas taxas de trabalho, caracterizadas pela alta frequência de ações executadas durante uma partida e/ou pela distância percorrida (Reilly, T. et al., 1990). Reilly e Thomas (1976) analisaram jogadores profissionais ingleses e verificaram que eles percorriam cerca de 8.700 metros durante uma partida, destes 24% foram realizados andando, 36% trotando, 20% correndo em velocidade máxima, 7% deslocando-se para trás e 2% deslocando-se com posse de bola. Por outro lado, em estudo realizado com jogadores universitários belgas, Van Gool et al. (1988) encontraram uma distância percorrida de 10.255 metros durante uma partida, dos quais 42,9% foi realizada andando, 42,6% trotando e 7,5% correndo em velocidade máxima. É importante destacar que a distância percorrida pelos atletas varia de acordo com a posição em campo, nível de aptidão aeróbia, diferentes esquemas e sistemas de jogo, nível de fadiga e nível competitivo. Estudos apontam que jogadores meio-campistas percorrem maior distância durante uma partida do que atacantes e defensores (Arruda et al., 2013). De acordo com Arruda et al (2013), estima-se que 90% do gasto energético de uma partida advenha via metabolismo aeróbio. Chamari et al (2004), afirmam que um ganho de 11% no consumo máximo de oxigênio (VO 2máx ), padrão outro para a medida de capacidade aeróbia, corresponde a um aumento de 5% na intensidade do jogo e um acréscimo de até 1.800m à distância percorrida. Esses estudos demonstram a importância da aptidão aeróbia para o desempenho esportivo no futebol. Visando a melhora o desempenho da capacidade aeróbia para o futebol, Arruda et al (2013) sugerem a utilização de exercícios com duração de 1 a 5 minutos, com pausas ativas ou passivas, com uma intensidade de esforço variando de submáxima a máxima, 70% a 100% do VO 2máx como método de treinamento para aumento da capacidade aeróbia. A duração das sessões de treinamento pode variar entre 40 e 90 minutos, utilizando como meios as corridas, deslocamentos com bola e sem bola, circuitos com bola e sem bola, jogos com variação de intensidade, fartlek, campo reduzido, pirâmides com 6

recuperação ativa e corridas continuas com variação de velocidade (Arruda et al., 2013). Apesar do exposto acima, poucos são os estudos que investigaram o efeito da preparação no futebol na capacidade aeróbia de atletas universitários, assim como poucos apresentam a organização do treino do futebol nesse público. Essas informações podem ser úteis no direcionamento da prescrição de profissionais que pretendam trabalhar com a modalidade do futebol assim como pode elucidar os efeitos do treinamento com o futebol no desempenho aeróbio, o que pode fortalecer a proposição da modalidade como forma alternativa de treino para aqueles indivíduos que preferem não realizar outras modalidades como caminhada/corrida, natação, ciclismo, etc. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do treinamento de futebol na aptidão aeróbia em atletas universitários. MÉTODOS Amostra A amostra deste estudo foi composta por 11 atletas universitários que fazem parte da seleção masculina de futebol da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) na temporada de 2016. Na Tabela 1 são apresentadas as caraterísticas gerais da amostra. Os atletas eram jovens, eutróficos e bem condicionados. Tabela 1. Caracterização geral da amostra antes do início do treinamento. Atletas (n = 11) Idade (anos) 24,27 ± 3,80 Massa corporal (kg) 73,44 ± 8,31 Estatura (m) 1,82 ± 0,12 IMC (kg/m²) 22,31 ± 3,12 VO 2max (ml.kg -1.min -1 ) 47,36 ± 3,14 Nota: IMC = índice de massa corporal; VO 2max = consumo máximo de oxigênio. 7

Para ser incluído no presente estudo os participantes deveriam ser atletas pertencentes ao quadro de jogadores da seleção masculina de futebol da UFRN, com idade igual ou superior a 18 anos. Como critério de exclusão foi adotado o abandono voluntário ou o não comparecimento a uma das sessões de teste. 26 Atletas participaram da primeira avaliação, porém 15 destes não participaram da segunda. Desenho do estudo O estudo caracteriza-se com uma pesquisa de delineamento quase experimental e longitudinal. As avalições foram realizadas em dois períodos com um intervalo de aproximadamente 5 meses entre elas (11/03/2016 e 08/07/2016). No inicio da temporada, antes do inicio dos treinos foi avaliada a aptidão aeróbia dos atletas. Após o período de treinamento foi realizada uma nova avaliação para verificar as mudanças ocorridas nesse período. Avaliação da aptidão aeróbia O Yo-Yo Intermittent Recovery Test Level 1 (Yo-Yo IR) foi o protocolo utilizado no estudo para mensurar indiretamente o consumo máximo de oxigênio (VO 2max ). O Yo-Yo IR é um teste do tipo intermitente, progressivo, máximo e coletivo (Arruda et al., 2013). Consiste em correr, o máximo de tempo possível, em regime de vai-e-vem em um corredor de 20 metros de comprimento demarcado por cones, o avaliado também realiza uma pausa com trote de 10 segundos em um espaço de 5 metros a cada 40 m percorridos. A velocidade de deslocamento é imposta por sinais sonoros, provenientes de uma gravação do programa Yo-Yo IR. A chegada do sujeito a um ou outro lado do corredor em linhas demarcadas no solo tem de coincidir com o sinal sonoro. O teste deve ser finalizado quando o avaliado não conseguir percorrer as marcações de distancias preestabelecidas, dentro do sinal sonoro do controle de velocidade, por duas vezes consecutivas. O 8

desempenho no teste é expresso pela distância total medida em metros (Arruda et al., 2013). Para aplicação do teste foram utilizados um aparelho de som, com o áudio contendo os sinais sonoros do programa Yo-Yo IR, ficha de registro do número de repetições e níveis de velocidade e cones para demarcações das linhas (Arruda et al., 2013). O Yo-Yo IR foi aplicado duas vezes em ciclos de treinamento distintos, nos dias 11/03/2016 e 08/07/2016. O Vo2Máx foi expresso a partir da equação: Vo2Máx (ml/min/kg) = IR1 distância (m) x 0,0084 + 36,4. Caracterização do treinamento O período entre coletas foi composto por sessões de treinamento, amistosos e jogos oficiais. As sessões eram realizadas 4 vezes/semana (segunda, terça, quinta e sexta), com exceção do período em que ocorreram jogos oficiais. Os jogos oficiais foram realizados em 30/04/16, 20/05/16, 28/05/16, e 11/06/16 pelo CMFU, Campeonato metropolitano de futebol união. Os amistosos eram realizados nos fins de semana. As sessões realizadas semanalmente aconteciam das 9h às 11h da manha no campo de futebol da UFRN. A primeira hora de atividades era destinada a parte física, já a segunda hora destinada a ao desenvolvimento técnico-tático. As sessões de treinamento foram compostas por atividades que visavam o desenvolvimento tático, velocidade e agilidade, resistência de velocidade, capacidade aeróbia, coordenação e flexibilidade. De acordo com ciclo de treinamento o foco das atividades mudava. Os treinamentos de velocidade e agilidade trouxeram características especificas das atividades praticadas durante uma partida. Atividades realizadas com ritmo de execução máximo, de 1 a 6 repetições, 3 a 5 séries, 3 a 5 minutos de intervalo, corridas com predominância de distancias de 10 a 20 metros. 9

As sessões em que se predominava o desenvolvimento da resistência de velocidade apresentavam exercícios de aceleração máxima com tração por distancias de 5 a 20 metros, assim como a execução de circuitos de agilidade (mudanças de direção, skipping com aceleração, além de saltos seguidos de arranque). Treinamentos voltados para o desenvolvimento da capacidade aeróbia, além da potência aeróbia, realizados em intensidade de esforço de submáxima a máxima, apresentavam atividades como: jogos com variação de intensidade, circuitos com ou sem bola, campo reduzido e corridas, com pausas passivas ou ativas. Nas atividades com o objetivo de desenvolver a coordenação a velocidade de execução variava de acordo com a complexidade dos movimentos, em intensidade gradativa, de baixa a alta. No alongamento, a predominância de exercícios balísticos, porém técnicas de alongamento ativo, passivo e estático também foram realizadas. Análise estatística A normalidade quanto à distribuição dos dados foi confirmada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Os dados foram expostos como média e desvio padrão. Utilizou-se O teste t para amostras pareadas foi utilizado para comparação VO 2máx predito dos atletas antes e após o ciclo de treinamento. Foi adotado um P < 0,05 como significância estatística. Os dados foram analisados no software SPSS 20.0. RESULTADOS O %FCmax atingido nos dois testes não foi diferente (97,04 ± 2,34 Vs. 98,24 ± 2,34, Pre e Pos, respectivamente). Como pode ser visto na Figura 1, não houve diferença entre os dois momentos de avaliação para o VO 2max, distância percorrida, tampouco na velocidade máxima atingida (P > 0,05). 10

Figura 1. Comparação do consumo máximo de oxigênio (A), distância percorrida (B) e velocidade máxima atingida em teste de esforço máximo antes e após um treinamento de futebol em atletas universitários. DISCUSSÃO O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do treinamento de futebol na aptidão aeróbia em atletas universitários. O principal resultado foi que não houve modificação na aptidão aeróbia de atletas de futebol de nível universitário em nenhum dos parâmetros analisados (VO 2max, distância percorrida e velocidade máxima atingida). O nível de VO 2max apresentado pelos atletas universitários no presente estudo, 47,36 ± 3,14 ml.kg -1.min -1, foi menor comparado ao apresentado em estudos realizados com atletas profissionais (24,04 ± 5,16 anos) que apresentaram em média 62,66 ± 2,64 ml.kg -1.min -1 (Osiecki, 2007). É importante destacar que a performance dos atletas universitários foi aproximadamente 25% menor que dos atletas profissionais, denotando uma enorme diferença entre eles. Similarmente, os resultados apresentados no presente estudo também foram inferiores aos encontrados por atletas amadores (Vasques, 2009). Vasques (2009) realizou um estudo com 10 atletas amadores com idades de 16 e 17 anos e rotina de treinos ocorrendo duas vezes/semana. O grupo apresentou VO 2max médio de 51,22 ml.kg -1.min -1. No entanto, diferente do grupo universitário, a rotina de treinamento foi alterada durante a realização do trabalho, passando de duas sessões semanais de 1h15min para quatro de 3h00min. Portanto, a diferença nos resultados pode ser parcialmente explicada pelos diferentes volumes de treino, o que justificaria 11

diferença de desempenho. É importante destacar que, de acordo com a classificação da Sociedade Paulista de Cardiologia (SOCESP, 1998) quanto à aptidão aeróbia de jogadores futebol profissional, o desempenho aeróbio dos atletas universitários está classificado como muito fraco. Porém, as características apresentadas pelos atletas universitários sugerem uma responsabilidade menor que a exigida aos atletas profissionais. Logo, menos sessões de treinamento, baixos índices de frequência, poucos jogos, além da necessidade de conciliar a prática esportiva com estudo e trabalho, fazem parte da rotina universitária. Por outro lado, considerando a classificação de VO 2max relacionado à saúde proposta pela American Heart Association (MARINS, 2003), um VO 2max entre 43-52, para o sexo masculino e com idade entre 20-29 anos é considerado bom. Logo, identifica-se a prática regular do futebol como forma alternativa de treinamento física de natureza aeróbia, na medida em que não houve melhora na performance aeróbia, mas também não houve declínio no desempenho dos atletas, atribui-se à atividade a manutenção do VO 2max no período de 5 meses entre coletas. Uma possível explicação para não ter havido modificações na aptidão aeróbia pode ser relacionada à baixa frequência de treino. Deve-se levar em consideração que as disponibilidades de treinamento apresentadas por cada voluntariam, a média de sessões de treinamento apresentadas pela amostra foi de 2,6 dias/semana. Logo, essa frequência é inferior ao mínimo de 3 sessões semanais recomendadas pela ACSM (1998) para melhora de VO 2max, para exercício de intensidade vigorosa. A seleção de futebol da UFRN obteve resultados expressivos nas competições que disputou em 2016. A equipe, que chegou ate as semifinais da Liga Desportiva Universitária, LDU, foi a melhor colocada dentre as universidades publicas do Brasil. Isso mostra que, apesar de não apresentar condicionamento aeróbio excepcional, o desempenho no futebol não e determinado apenas por isso, embora a condição física seja um aspecto importante. As limitações do presente estudo incluem a baixa quantidade de pessoas que compôs a amostra, o que reduz o poder do estudo; a aplicação de um método indireto para a avaliação do VO 2máx, o que pode não ter sido sensível para mensurar alterações pequenas nessa variável; além da não 12

utilização de um grupo controle, que poderia dar maior robustez ao design do estudo. Além do já citado, a atribuição da frequência de treinamento a disponibilidade sugerida pelos atletas, não se aplicando uma lista de frequência, permite que possíveis faltas as sessões de treinamentos, que modificariam o resultado das avaliações, não sejam consideradas, assim, uma limitação do estudo. Contudo, os pontos fortes do estudo incluem o fato de ter sido realizado em forma de acompanhamento, ao invés de fazer uma comparação transversal, o que nos possibilita estabelecer relação de causa e efeito. Além disso, esse é um dos primeiros estudos a investigar o efeito da preparação no futebol na capacidade aeróbia de atletas universitários. Estudos futuros devem, além de procurar amostras de maior quantidade, incorporar o acompanhamento da frequência de treinamento, para identificar a real quantidade de sessões que o grupo realizou. Sugere-se também a criação de um grupo controle para ser comparado a amostra, além da aplicação de um método direto de identificação do VO 2máx. CONCLUSÃO Concluímos que o treinamento de futebol em atletas universitários não aumentou a aptidão aeróbia, avaliados pelo VO 2máx, tempo até exaustão e velocidade máxima atingida. É importante levar em consideração a frequência de treinamento, duração e as características das sessões, assim como as características peculiares do estilo de vida dos atletas universitários que exercem influência no desenvolvimento do condicionamento aeróbio. REFERÊNCIAS American College of Sports Medicine. A quantidade e o tipo recomendados de exercícios para o desenvolvimento e a manutenção da aptidão cardiorrespiratória e muscular em adultos saudáveis. Rev Bras Med Esporte [online]. 1998, vol.4, n.3. 13

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