ACÓRDÃO Registro: 2011.0000299990 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9000322-04.2010.8.26.0037, da Comarca de Araraquara, em que é apelante/apelado DORIVAL CAVICHIONI JUNIOR (JUSTIÇA GRATUITA) sendo apelado/apelante COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO. ACORDAM, em 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento aos recursos. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e JOSÉ CARLOS FERREIRA ALVES. São Paulo, 29 de novembro de 2011. Flavio Abramovici RELATOR Assinatura Eletrônica
Comarca: Araraquara 3ª Vara Cível Apelantes: Dorival Cavichioni Júnior, e Companhia Brasileira de Distribuição Apelados: Companhia Brasileira de Distribuição, e Dorival Cavichioni Júnior MM. Juiz da causa: Paulo Luís Aparecido Treviso DANOS MORAIS PROMOÇÃO COMERCIAL BASEADA EM SORTEIO PARA CUSTEAR VIAGEM AO WALT DISNEY WORLD RESORT FLÓRIDA VENCEDOR QUE NÃO OBTEVE VISTO PARA A ENTRADA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA ATITUDE NEGLIGENTE DA REQUERIDA QUE PREJUDICOU SUBSTANCIALMENTE AS CHANCES DE OBTENÇÃO DO VISTO SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA, COM A CONDENAÇÃO DA REQUERIDA AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS (NO VALOR DE R$ 5.450,00, ACRESCIDO DE CORREÇÃO MONETÁRIA DESDE A DATA DA SENTENÇA E DOS JUROS MORATÓRIOS DE 1% AO MÊS DESDE A CITAÇÃO) RECURSOS DO AUTOR (PARA MAJORAR O VALOR DA INDENIZAÇÃO) E DA REQUERIDA IMPROVIDOS Voto nº 716 Apelações interpostas contra a sentença de fls. 167/170, prolatada pelo I. Magistrado Paulo Luís Aparecido Treviso, que julgou parcialmente procedente a pretensão inicial e condenou a Requerida a pagar ao Autor indenização por danos morais, fixados em R$ 5.450,00, corrigidos monetariamente desde a sentença e com juros moratórios de 1% ao mês desde a citação. O Autor sustenta que deve ser aumentado o valor da indenização (fls. 173/184). A Requerida, por sua vez, sustenta que inexistem os pressupostos da responsabilidade civil (conduta, dano e nexo causal); que não responde pela negativa de concessão do visto, ato pelo qual responde Apelação nº 9000322-04.2010.8.26.0037 2
exclusivamente o consulado americano; que o Autor tinha meios para provar que fora contemplado na promoção, independentemente de documento oficial da empresa promotora, e que o regulamento da promoção autorizava a substituição da viagem ao exterior por qualquer destino nacional com preço compatível (fls. 186/203). É a síntese. Aprecio em primeiro lugar o recurso da Requerida, que contém alegações prejudiciais ao recurso do Autor. Destaco, ao início, que, com exceção das hipóteses em que há responsabilidade objetiva, a responsabilidade civil, tal como prevista em nosso ordenamento, não prescinde da perquirição do elemento subjetivo (culpa, dolo ou abuso de direito). São requisitos da responsabilidade civil subjetiva: conduta ou ato humano (ação ou omissão); a culpa do autor do dano, a relação de causalidade e o dano experimentado pela vítima 1. A Requerida não enviou ao Autor documento que lhe permitisse comprovar, junto ao consulado americano, o motivo da viagem (fls. 37), o que era necessário, dada a desfavorável situação econômico-social do Autor e de sua família para fins de obtenção do visto, que, ao fim, foi negado em razão da ausência de comprovação de vínculos fortes com o Brasil (fls. 33). É certo que a Requerida não responde objetivamente pela concessão do visto. O ato é discricionário dos servidores do consulado americano. Nada obstante, a conduta da Requerida revelou-se negligente, porque deixou de enviar documento que permitiria ao Autor provar que pleiteava a obtenção do visto porque fora contemplado em atividade promocional (e-mails que revelam a tentativa, por parte do Autor, de obter o documento: fls. 34/38). Em suma, agindo de forma negligente, a Requerida concorreu para o resultado negativo recusa ao pedido de visto para a viagem. O dano é resultante da abrupta quebra de expectativa do 1 REsp 884.009/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 10/05/2011, DJe 24/05/2011 Apelação nº 9000322-04.2010.8.26.0037 3
Autor e de sua família, que sonharam com a viagem, mas não puderam realizá-la. Convém destacar que, dificilmente, eles terão oportunidade tão favorável para a realização da viagem que desejaram, nos moldes em que lhes fora proposto pela Requerida. A substituição da viagem ao Walt Disney World Resort Flórida por viagem a destino nacional não é suficiente para desfazer os danos. O elevado apelo sentimental que o parque desperta especialmente entre os mais novos não é equiparável com outro destino turístico, nacional ou no exterior. Houve dano. O nexo causal é evidente. Há o dever de indenizar. O valor fixado em sentença é adequado à reparação dos danos suportados pelo Autor, máxime porque ele demanda apenas em relação aos danos próprios, não sendo possível conceder-lhe, também, reparação aos danos suportados pelas pessoas que lhe acompanhariam na viagem. Ante o exposto, nego provimento aos recursos. FLAVIO ABRAMOVICI Relator Apelação nº 9000322-04.2010.8.26.0037 4