O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO: apontamentos e reflexões ABSTRACT



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Transcrição:

O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO: apontamentos e reflexões Olga Maria de Oliveira 1 RESUMO O presente trabalho visa analisar a atuação do assistente social na Política de Educação, suas atribuições, competências, desafios e possibilidades. Sendo a Educação uma das áreas de atuação do/a assistente social, contudo os direcionamentos e subsídios para a realização do trabalho profissional nessa área ainda estão em processo de construção, desse modo o acervo teórico e prático sobre o tema é incipiente, porém este é um espaço sócio-ocupacional que tende a se abrir, posto que a Lei 3688/2000 que torna obrigatório a inserção de assistentes sociais nos espaços educacionais foi aprovada recentemente. Palavras-chave: Educação. Assistente Social. Lei 3688/2000. ABSTRACT This study aims to analyze the performance of the social worker in Education Politics, its assignments, skills, challenges and possibilities. One of the social worker s performance areas is the Education Policy, however the directions and subsidies for this professional job are still under construction, thus, the theoretical and practical collection about this subject is incipient, but this is a socio-occupational space that tends to open, has recently been approved, since the Law 3688/2000, the inclusion of social workers at the educational spaces Keywords: Education Politics. Social Worker. Law 3688/2000. 1 Estudante de Pós-Graduação. Universidade Federal de Goiás (UFG). E-mail: maveira_olga@hotmail.com

I INTRODUÇÃO Este texto se propõe a analisar a atuação do assistente social na Política de Educação, a relação Estado e sociedade, as competências e atribuições e os desafios e potencialidades na atualidade. Percebe-se ser de vital importância a realização de pesquisas e estudos, no espaço universitário, acerca da atuação do assistente social na Política de Educação, objetivando consolidar e ampliar a compreensão da inserção do profissional nessa área, principalmente porque o aporte teórico e prático sobre o Serviço Social na Educação ainda é incipiente. Desse modo, o estudante do Serviço Social poderá se apropriar de mais informações e conhecimentos que o subsidiarão no desenvolvimento de ações, que visem uma atuação pautada na consolidação da Educação como direito social e como prática emancipatória, uma vez que novas perspectivas sócio-ocupacionais se abrem hoje para o Serviço Social nessa área. O Projeto de Lei 3688/2000, que dispõe sobre a introdução do assistente social no quadro de profissionais da Educação foi aprovado em julho/2013, depois de um amplo processo de lutas da categoria profissional empreendido através do Conselho Federal de Serviço Social e do Conselho Regional de Serviço Social (CFESS/CRESS). Desse modo, tende-se a aumentar o número de profissionais requeridos para essa área e consequentemente a busca por subsídios para a atuação do profissional também. Para realização dessa pesquisa, que aconteceu em sua totalidade em âmbito bibliográfico, recorremos aos documentos produzidos pelo CFESS/CRESS através do Grupo de Trabalho em Educação que são Serviço Social na Educação e Subsídios para Atuação dos/as Assistentes Sociais na Política de Educação, aos textos de Ney Luiz Teixeira de Almeida, autor de maior produção literária da área, à Iamamoto como uma das mais profícuas escritoras de nossa época na área do Serviço Social e outros mais. II DESENVOLVIMENTO O sistema capitalista tem na Política de Educação um importante instrumento de reprodução de sua ideologia e ao mesmo tempo a Política de Educação, a partir das lutas da classe trabalhadora pelo reconhecimento de seus direitos sociais, tornou-se condição

importante nos processos de produção de uma consciência própria, autônoma, por parte dessa classe e de suas frações (ALMEIDA, 2011). Compreender a trajetória da Política de Educação, nas últimas décadas, vai além do resgate histórico marcado por legislações e mudanças institucionais, requer um esforço no sentido de compreender suas relações com a dinâmica e a crise da sociedade do capital, a partir de sua inscrição nos processos de estabelecimento de consensos e de reprodução das forças de trabalho na realidade brasileira. A educação brasileira tem sido direcionada e marcada pelos organismos multilaterais na formulação de diagnósticos da realidade social e educacional e das diretrizes para as políticas públicas dos países periféricos. Desde os anos de 1950, o Banco Mundial determina ações de financiamento ao desenvolvimento de projetos de educação no Brasil, contudo nas duas últimas décadas do século passado, sua atuação tem sido mais contundente em função do avanço do ideário neoliberal (ALMEIDA, 2011, p. 13), As diretrizes apontadas pelo Banco Mundial condensam um conjunto de interesses oriundos de diferentes frações da burguesia internacional que, sob a hegemonia do capital financeiro, atuam na ampliação de seus negócios e que, por esta razão, necessitam de aparatos institucionais que situam sob novos patamares o papel dos estados nacionais. Concorrem para o novo papel assumido pelo Banco a combinação de um conjunto bem amplo de processos e necessidades econômicas, cada vez mais globais, dentre as quais destacamos: a forte expansão do setor privado de serviços, a demanda por mão de obra qualificada, a consolidação de novos paradigmas de gestão da qualidade dos produtos e serviços, a flexibilização das relações e processos de trabalho, uma nova dinâmica de (des)territorialização das unidades produtivas e a disseminação de uma cultura de valorização do consumo. O Banco Mundial incorpora esses muitos interesses em suas diretrizes e condiciona os países considerados em desenvolvimento ou periféricos a adotarem tais medidas, as quais visam uma ampla reforma educacional objetivando atingir os patamares de seu interesse, dentre elas podemos citar: prioridade para o ensino fundamental; desenvolvimento de processos de gestão voltados para a qualidade e para a eficiência da educação; condução de reformas dos sistemas educacionais com forte ênfase nas dimensões financeiras e administrativas; promoção da descentralização e incentivo à organização de instituições escolares autônomas e responsáveis por seus resultados; convocação de pais e comunidade para exercerem maior responsabilidade sobre os assuntos escolares; incentivos à expansão do setor privado e dos organismos nãogovernamentais (ONG s) como co-participantes dos processos educativos e das decisões que lhes afetam; mobilização e alocação de recursos adicionais para a educação básica; definição de políticas e de prioridades baseadas em análises econômicas; e, ainda, ênfase no tratamento da educação numa perspectiva eminentemente setorial (ALMEIDA, 2011).

No Brasil, essas diretrizes foram incorporadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 2002) e reafirmadas e ampliadas no governo do Partido dos Trabalhadores (PT) 2, reforçando assim processos de exclusão já consolidados na trajetória política e educacional brasileira, revelando que o processo de subordinação do país à nova ordem internacional, alicerçada na expansão neoliberal e no plano econômico da flexibilização dos padrões de produção, agudiza as desigualdades sociais brasileiras já existentes. Assim, quando pensamos a inserção do/a assistente social na Política de Educação compreendemos que temos um importante desafio que é a compreensão da complexidade das instituições e dos processos políticos que a particulariza. Almeida (2011, p. 25) diz que deste modo, Pensar a inserção dos assistentes sociais na área de educação nos coloca do desafio de compreender e acompanhar teórica e politicamente como que as requisições postas a este profissional estão articuladas à tendências contraditórias da política de educação de ampliação das formas de acesso de permanência na educação escolarizada diante de um cenário de mundialização do capital. Almeida (2011) destaca alguns fenômenos que considera importantes e que parecem incidir sobre as requisições de atuação do assistente social na educação, a saber: os discursos e as práticas de valorização de uma educação inclusiva e as consequentes demandas de articulação com as instituições e serviços assistenciais; o processo de descentralização da educação básica e a maior autonomia da esfera municipal no desenvolvimento de programas de ampliação do acesso e garantia de permanência na educação escolarizada; a ampliação e a interiorização da rede de Institutos de Educação Profissional, Ciência e Tecnologia e as demandas por programas e ações de assistência estudantil; a expansão do setor privado de educação e a demanda por ações de assistência estudantil e de trabalho comunitário como forma de justificar a isenção de impostos; a aprovação da Política Nacional de Assistência Estudantil e a ampliação das formas de acesso à educação superior pública; a afirmação do direito à educação de largos contingentes populacionais que se encontravam fora da escola e o acionamento de diferentes instituições do Poder Judiciário e do Executivo para assegurar e acompanhar as condições de acesso a esse direito; a organização de programas de qualificação e de conclusão da educação escolarizada de jovens com forte caráter compensatório; a expansão dual da rede de educação infantil (pública e comunitária) com recursos públicos e as requisições de gerenciamento da desproporcionalidade entre oferta e demanda de vagas; 2 O partido dos Trabalhadores (PT) assumiu a presidência da República brasileira em 2003 no governo de Luís Inácio Lula da Silva que ser reelegeu em 2006 e ficando na presidência até 2010. Em sua sucessão, a presidente Dilma Vana Roussef, também do PT, assumiu em 2011 e em 2014 se reelegeu para outro mandato.

o aumento das ações e programas sociais dirigidos às famílias e das demandas de sua operacionalização no âmbito das organizações não governamentais que atuam no campo educacional; a disseminação de programas e projetos sociais que articulam educação, esporte e cultura como forma de exercício da cidadania e ampliam as ações de cunho educativo em articulação como o tempo e espaço escolar. Deve se salientar que a inserção dos assistentes sociais nos estabelecimentos de ensino não é apenas uma requisição da categoria profissional, mas representa uma necessidade institucional cada vez mais reconhecida em muitos estados e municípios. Pois o assistente social tem sido visto como o profissional que tem formação para fazer uma análise social e por isso tem condições de contribuir com a ampliação do processo educacional, para que crianças e jovens além de terem acesso a educação, possam permanecer no ambiente educacional até completar sua trajetória educacional básica e média, para se ingressar em uma universidade. Embora o trabalho desse profissional tenha uma dimensão socioeducativa, não se confunde com o trabalho desenvolvido pelos demais profissionais da Educação, pois sua atuação tem sido efetivada no sentido de fortalecimento das redes de sociabilidade e de acesso aos serviços sociais e dos processos sócio institucionais buscando a ampliação e o reconhecimento dos direitos dos sujeitos sociais, A presença dos assistentes sociais nas escolas expressa uma tendência de compreensão da própria educação em uma dimensão mais integral, envolvendo os processos sócio-institucionais e as relações sociais, familiares e comunitárias que fundam uma educação cidadã, articuladora de diferentes dimensões da vida social como constitutivas de novas formas de sociabilidade humana, nas quais o acesso aos direitos sociais é crucial (ALMEIDA, 2005, p. 6). Um fator importante a destacar é que de acordo com Almeida (2007), a inserção dos assistentes sociais na Educação não é um fenômeno recente, mas já nos anos iniciais da profissão em que a atuação profissional era voltada para um controle social sobre a família proletária, buscando a socialização e educação da classe trabalhadora no decorrer do ciclo expansionista do capital. Contudo, a inserção do Serviço Social na Política de Educação tem se dado de forma tímida, assim, hoje não temos um grande número de profissionais atuando nessa área, como acontece na política de assistência social e saúde, por exemplo, tanto que só a partir de 2000 é que o conjunto CFESS-CRESS passa a se mobilizar formalmente no sentido de construir direcionamentos para atuação do profissional nesse âmbito. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) tem se articulado e se mobilizado através de debates, reflexões, seminários, grupos de trabalhos, ou seja, tem empreendido um processo de lutas e embates

políticos para que seja possível a inserção dos assistentes sociais na Política de Educação, por entender que este é um espaço em que o assistente social possa dar sua contribuição identificando os fatores sociais, culturais e econômicos que determinam os processos que mais afligem o campo educacional no atual contexto. E assim, para que diante da ofensiva capitalista possa contribuir para que a luta por uma Educação como direito social e prática emancipatória se intensifique e ainda para que o Serviço Social na Educação seja consolidado. O conjunto CFESS/CRESS desde o ano de 2000, luta para que o Projeto de Lei (PL) nº 3.688 de 2000 que dispõe sobre a inserção do Assistente Social no quadro de profissionais da Política de Educação seja aprovada no Congresso Nacional. Isso só ocorreu em julho de 2013, depois de muitos embates contra o sistema vigente. Entretanto, sabemos que a aprovação desse Projeto de Lei não implica no seu cumprimento imediato. Para que isso ocorra é preciso estabelecer com as várias instâncias organizativas da profissão uma agenda de reivindicações junto aos poderes públicos, ou seja, é preciso continuar o processo de lutas para que a lei se cumpra. Para melhor compreendermos a atuação do assistente social na Educação, não podemos perder de vista que a Educação também é um instrumento de manutenção do sistema capitalista, pois tem papel fundamental nas formas de reprodução do ser social, assegura a reprodução dos contextos sociais, mantendo a contradição básica entre aqueles que detêm os meios de produção e os que vendem a força de trabalho, ampliando as desigualdades entre as classes fundamentais. O CFESS/CRESS na brochura Subsídios para a Atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação (2011, p. 18) salienta que essa política, sob o prisma do capital, se converte em um conjunto de práticas sociais que contribuem para a internalização dos consensos necessários à reprodução ampliada deste sistema metabólico. Na Política de Educação, as competências e atribuições do assistente social, assim como nas demais áreas, são direcionadas e orientadas pela Lei de Regulamentação da Profissão (8.662/93) pelo Código de Ética Profissional de 1993 e ainda pelas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996), pois são esses instrumentos que estabelecem direitos, deveres e princípios norteadores da ação profissional e, portanto devem ser observados e respeitados pela categoria profissional e pelos seus empregadores. Esclarecemos que, competências expressam a capacidade para apreciar ou dar resolutividade a determinado assunto, não sendo exclusivas de uma única especialidade profissional, mas a ela concernentes em função da capacitação dos sujeitos profissionais e atribuições se referem às funções privativas do/a assistente social, isto é, suas prerrogativas exclusivas (IAMAMOTO, 2002, p. 16 apud CFESS-CRESS 2011-2014, p. 25 e 26).

Existem algumas dimensões que particularizam a inserção dos assistentes sociais na Política de Educação, partimos então do caráter contraditório que a inserção desses profissionais na Política de Educação apresenta. Em outros termos, ao mesmo tempo, que é resultado das lutas empreendidas pela categoria profissional em defesa da universalização e da educação pública, é também uma exigência do capital que necessita de mão-de-obra qualificada no mercado de trabalho. A principal marca da inserção de assistentes sociais nessa Política tem sido a atuação profissional no sentido de garantir o acesso à educação escolarizada. Contudo, a educação pública está longe de se afirmar como um direito social, pois as estratégias de ampliação do acesso à escolarização, nos diversos níveis dessa política, não se configuram ainda como um efetivo processo de universalização do acesso a essa Política de Educação, ao contrário, percebe-se uma ampliação desigual em sua escala. Embora a Constituição de 1988 afirme que a Educação Básica é responsabilidade do Estado, ele tem procurado dividir as responsabilidades quanto às estratégias de ampliação do acesso à educação escolarizada com alguns setores da sociedade civil e do empresariado apoiando-se no pressuposto neoliberal de que a responsabilidade não lhe é exclusiva e visando legitimação desse consenso junto à sociabilidade burguesa. Assim, tem oferecido vários incentivos aos setores privados para abarcar tal responsabilidade, ou seja, os investimentos que poderiam ser feitos na Política de Educação possibilitando ampliação do acesso à educação é revertido em prol dos capitalistas de forma mascarada. Diante desse contexto, é notório a ampliação da requisição da inserção de assistentes sociais nas instituições que implementam a Política de Educação para operarem as políticas sociais e demais mecanismos existentes dentro dessa política, como programas, projetos de assistência estudantil e de concessão de bolsas. É certo que há tensões e equívocos quanto à inserção de assistente sociais no desenvolvimento de tais políticas, projetos e programas nessa área e a sua atividade profissional, os quais também existem nas demais áreas e requerem um posicionamento da categoria quanto à distinção entre os mesmos. A Política de Educação requer um profissional com competência teórica e política que seja capaz de elaborar estratégias de ação em diferentes níveis que visem clarificar as reais contradições que impregnam a Política de Educação. Desse modo, esse profissional terá condições de ultrapassar os vários programas que afirmam compromisso social, mas que não oferecem as condições objetivas para sua realização, assim a ação profissional transporá os limites requeridos pelas instituições da mecânica realização de estudos

socioeconômicos e contribuirá significativamente para que o direto social à Educação se efetive. Na Política de Educação, os profissionais de Serviço Social em muitos casos são requisitados para ações que visem tão somente a efetivação de programas e projetos que objetivam garantir o acesso à educação escolarizada. Entretanto, essas ações nem sempre são integradas ou articuladas, constituindo-se como procedimentos técnicos - instrumentais para concessão de bolsa ou de outro tipo de benefício, assim, a ação profissional passa a ser meramente executora (CFESS-CRESS, 2011-2014) Por mais que a atuação profissional pareça ampliada técnica e instrumentalmente e ainda envolva uma gama maior de recursos a serem mobilizados, nas instituições públicas e privadas nas quais se insere o assistente social essas duas dimensões não expandem de forma integrada. O GT durante no processo de levantamento de dados sobre a inserção dos assistentes sociais na Educação observou falta de unidade nas estratégias que objetivam assegurar acesso e permanência dos estudantes nas escolas, e isso não se constitui como principais pautas de luta dos movimentos sociais e nem em especial, do movimento estudantil. As conquistas nessa área levaram o Estado a fazer intervenções, ainda restritas sob a forma de políticas de assistência estudantil como forma de garantir o acesso e a permanência na educação escolarizada. Entretanto, essas ações estão longe de alcançar todos os níveis e modalidades de ensino da Política de Educação e muito mesmo se realiza sobre bases e ações institucionais de mesma natureza. Desse modo, Trata-se, portanto, de uma dimensão que particulariza a inserção e a atuação dos assistentes sociais na Política de Educação, que depende sobremaneira dos insumos institucionais e que, diante de sua diversidade e lenta forma de expansão, acentua a necessidade de que o trabalho profissional mobilize para além dos procedimentos técnico - instrumentais que já se encontram presentes em seu cotidiano, processos de articulação com as lutas sociais travadas pela ampliação das condições de permanência dos estudantes em seus diferentes momentos de formação (CFESS-CRESS, 2011-2014, p. 42). Na política educacional, as estratégias institucionais que visam garantir a permanência na educação escolarizada não são realizadas através de projetos e programas unificados a todos os níveis e modalidades. Assim, essa é uma dimensão importante para se pensar a atuação profissional, tendo a clareza de que as ações profissionais nesse contexto as ações de caráter individual, coletivo e administrativo-organizacional devem ser planejadas considerando o fato de que os programas, as rotinas de acompanhamento e as articulações Intersetoriais são diferentes em cada nível e modalidade de ensino (CFESS- CRESS, 2011-2014)

Alguns desafios se colocam aos assistentes sociais ao aturarem na Política de Educação, dentre os quais, a compreensão das estratégias forjadas no sentido de assegurar a permanência do estudante além do nível em que se encontra, pois isso acontece muito e em função das expressões das desigualdades que atravessam a política educacional e que expressam as diferenças que esta política contribui para reproduz; o reconhecimento dos diferentes sujeitos sociais coletivos e dos processos de luta para articular profissionalmente com os mesmos e por fim a atuação profissional voltada para a garantia da qualidade da educação escolarizada, levando em consideração que em uma sociedade de classes a educação assegura suas formas reprodução, ou seja, requer uma definição de que prisma classista se quer abordar o que é qualidade na Educação. A garantia da qualidade da educação que deve pautar a atuação profissional se ancora na perspectiva de uma educação que contribua para emancipação humana e que não prescinde, para tanto, da apropriação, pela classe trabalhadora, do acervo cultural, científico e tecnológico produzido pela humanidade. Assim, como do desenvolvimento das capacidades intelectuais e manuais necessárias à construção de novas formas de produção, distribuição social da riqueza e sociabilidade, distintas daquelas que caracterizam a sociedade capitalista e que determinam o amplo processo de desumanização e de aprofundamento de todos os tipos de desigualdades e injustiças que vivenciamos nesse tempo de barbárie (CFESS- CRESS, 2011-2014, p. 44). As competências específicas dos assistentes sociais na Política de Educação se expressam em ações que necessariamente devem perpassar e articular com as diversas dimensões da atuação profissional, de acordo com o CFESS, 2011-2014. Muitos são os desafios e as possibilidades que se apresentam ao profissional de assistência social quanto a sua atuação na Política de Educação. Esses desafios vão desde a inserção do/a profissional no âmbito da Educação a qual tem sido permeada por um processo de lutas até a execução de seu trabalho o qual ainda não possui um direcionamento claro e precisa ser subsidiado pelo pouco acúmulo teórico, metodológico e experiência da categoria através de reflexões, seminários, grupos de trabalho, articulados pelo conjunto CFESS-CRESS que tem criado uma agenda que procura contemplar essa área da atuação profissional. III CONCLUSÃO Diante do exposto, ao realizar uma reflexão analítica sobre a inserção do assistente social na Política de Educação percebe-se que esse profissional tem sido cada vez mais

requisitado nessa área por ser pertinente sua atuação face às múltiplas expressões da questão social evidenciadas nos espaços sócio-ocupacionais próprios da Educação. E, também por se entender que nos espaços em que a prática educativa acontece as expressões da questão social se manifestam em suas mais variadas formas e que elas são as responsáveis pela maioria dos problemas que se manifestam nesse ambiente. Sabe-se que a Educação é usada pelo capital para internalizar seus valores hegemônicos e, assim, legitimar suas ações exploratórias visando sua manutenção no poder e domínio sobre todas as áreas, inclusive do conhecimento e da cultura. Isso porque o capital entende que uma educação emancipatória que dê ao educando a possibilidade de refletir sobre a realidade concreta em que está inserido, a qual o detém e o limita, levaria o sujeito social a questionar o sistema vigente e a buscar a construção de um novo projeto societário. Sabe-se que a atuação do assistente social nessa política ainda é limitada pela ausência de instrumentos que a legitime, mas tem-se consciência de que é necessária e imprescindível. Porém, tem-se no horizonte uma esperança de que esse processo se reverta, pois após muitos anos de mobilizações e lutas da categoria profissional através do CFESS/CRESS, o Projeto de Lei 3688/2000 que versa sobre a obrigatoriedade da inserção dos assistentes sociais na Política de Educação foi aprovado em julho de 2013. Sabemos, contudo, que ainda há um longo caminho a frente que continuará exigindo da categoria profissional mobilização para que esse Projeto de Lei se efetive. Pelo que se vê, a atuação profissional na Política de Educação é incipiente e a produção literária sobre sua atuação também o é. Isso dificulta o processo de pesquisa sobre o tema e nos coloca diante de um desafio que é o de empreender no espaço universitário ações que resultem em mais debates, pesquisas e produções sobre o assunto, sendo este um espaço de construção coletiva de conhecimentos. Portanto, esse trabalho tem o intuito, ainda que irrisório, de contribuir com esse debate e o mesmo possibilitou-me conhecer um pouco sobre os elementos teóricos que norteiam a atuação profissional nessa área e entender os processos de exclusão e de dominação que engendram a Política de Educação no capitalismo contemporâneo acirrando as desigualdades sociais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira. Parecer sobre os projetos de lei que dispõem sobre a inserção do Serviço Social na Educação. Brasília: CFESS, 2004.

. O Serviço Social na Educação: novas perspectivas sócio-ocupacionais. Belo Horizonte(MG) -Maio/2007. Disponível em: www.cressmg.org.br/textos/textos_simposio/2007.05.19_plenaria8-neyteixeria.doc, acessado em 12/11/2014.. A educação como direito social e a inserção dos assistentes sociais em estabelecimentos educacionais. O Serviço Social e a Política Pública de Educação. 2005. Disponível em http://docentes.ismt.pt/~eduardo/supervisao_estagio/documents/13_servicosocialnaeducac ao.pdf CFESS. A inserção do Serviço Social na Política de Educação na perspectiva do conjunto CFESS/CRESS. Revista Ser Social, Brasília, jan/jun. 2012.. Código de ética doa Assistente Social Lei 8662/93. 10ª Edição, CFESS, 2012. Disponível em www.cfess.org.br, acessado em 16/07/2014.. Subsídios para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação Grupo de Trabalho Serviço Social na Educação. CFESS-CRESS 2011. Disponível em www.cfess.org.br, acessado em 15/07/2014.