O DIREITO NA ERA DA MODERNIDADE LÍQUIDA PROFESSOR ANTONIO CELSO BAETA MINHOTO LEGALE /SP 2019
O Direito gestado e parido na Idade Moderna é voltado para uma sociedade que não mais existe, especialmente quando confrontada com a sociedade contemporânea, muito mais complexa, fragmentada, globalizada e desafiadora. 2
Há 200 ou 250 anos, inexistia qualquer preocupação com temas como meio-ambiente, direito das minorias, pedofilia, e mesmo temas tradicionais como direitos humanos e democracia tinham uma relevância e um impacto muito menor. 3
O Direito moderno estruturou-se numa Dogmática Jurídica Liberal, justamente por sua matriz liberal-capitalista, e também por sua rigidez (dogma) A. Estatização do direito B. Formalismo/Procedimentalismo C. Segurança jurídica D. Previsibilidade E. Legalidade Obs.: Legalidade vista como sinônimo de legitimidade 4
6 O paradigma normativo monista, ponto alto da ordem jurídica moderna, tem por fundamento o pensamento positivista kelseniano que confere ao Estado Nacional o monopólio de "dizer-o-direito" (jurisdição). Esse modelo serviu principalmente para regular as relações jurídicas interindividuais e mercantis (modelo jurídico liberal-individualista). Mas atualmente está em CRISE.
[Diante do] saturamento do modelo liberal de representação política e do esgotamento do instrumental jurídico estatal, nada mais correto do que empreender o esforço para alcançar outro paradigma de fundamentação para a cultura política e jurídica (WOLKMER, Antonio Carlos. 2001, p. 169). 7
Muito embora o modelo tradicional de Direito esteja em crise, as opções que se apresentam, tais como Pluralismo Jurídico (Boaventura), Direito Responsivo (Selznick; Nonet), Direito Reflexivo (Teubner), não lograram aplicar-se de modo concreto e em larga escala e apresentam, em verdade, suas próprias problemáticas e desafios. 9
Direito Contemporâneo: quo vadis?
Ao lado dos desafios inerentes ao Direito, ainda há os desafios da sociedade contemporânea que, dentre suas características, certamente tem nas NOVAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO um aspecto bastante marcante. E, neste contexto, a internet ocupa espaço central. Como o Direito lida com isso?
Destacaremos aqui 3 (três) aspectos próprios do ambiente cibernético e que possuem relação direta com o Direito e os novos meios de comunicação: avatar; comunicação holográfica e mídias sociais
Avatar é um cibercorpo inteiramente digital, de complexidade variada que empresta sua vida simulada para o transporte identificatório de cibernautas para dentro dos mundos paralelos do ciberespaço. Teria o avatar personalidade e, portanto, proteção jurídica? 13
O trânsito das esferas público e privada e a invasão dessas órbitas no mundo virtual implica, quase sempre, na lesão a um direito da personalidade, estando o avatar ainda à míngua de proteção no mundo real (...) E essa desproteção é amplificada porque o avatar é ou pode ser lesado em comunidade que surge através de interação estritamente comunicativa, estruturada em locus virtual Nilson Tadeu R. C. Silva HTTP://WWW.PUBLICADIREITO.COM.BR/ARTIG OS/?COD=10CC088A48F313AB 14
Já o Holograma é uma manifestação luminosa que permite a observação do objeto que lhe deu origem. O holograma registra também a fase da radiação luminosa proveniente do objeto. Nesta fase está contida a informação sobre a posição relativa de cada ponto do objeto iluminado, permitindo reconstruir uma imagem com informação tridimensional.
Em Madrid, em 2015, houve um protesto público feito com hologramas. Uma multidão virtual. Uma tendência? Que peso político-social este tipo de manifestação pode ter? Vanguardismo ou comodismo? 17
Como o holograma trabalha com a imagem da própria pessoa, e não uma imagem criada como é o caso do avatar, surgem questões jurídicas ligadas a veracidade daquela imagem, bem como eventual uso indevido, direito de imagem e descontextualização da imagem. O holograma é ou não uma extensão da personalidade humana e, portanto, comporta proteção jurídica? 18
Mídias sociais: a grande sala de estar, o grande espaço de convívio público do homem contemporâneo. As mídias sociais certamente são um palco de interesse para o Direito e as diversas problemáticas ali existentes como o uso ofensivo da linguagem e das imagens (injúria, calúnia, difamação); perfis falsos (as vezes utilizados para prática de crimes); mas também espaço de congregação de interesses sociais e individuais legítimos 19
Uma questão que se coloca é se as mídias sociais, e a internet de um modo geral, revolucionaram, trazendo novos valores e novos elementos humanos ou se simplesmente realçou características que o homem sempre exibiu, e agora estão apenas mais visíveis.
Outra questão que se coloca é se a internet, e especialmente as mídias sociais, não estariam tomando um espaço desproporcional na vida das pessoas, transformando-se num verdadeiro vício ou, no mínimo, num quadro de desequilíbrio comportamental.
23 Pesquisa, EUA, 2015 200 alunos, 14 a 16 anos: os adolescentes são dependentes das redes sociais, podendo acessá-las até 100 vezes/dia. 61% - conferir curtidas nas suas próprias mensagens 36% - ver o que os colegas estavam fazendo sem eles 21% - ver se havia comentários ruins a seu respeito HTTP://G1.GLOBO.COM/GLOBO- NEWS/NOTICIA/2015/10/PESQUISA-COMPROVA-DEPENDENCIA- DOS-ADOLESCENTES-DAS-REDES-SOCIAIS.HTML
Quando os críticos da mídia eletrônica argumentam que o novo ambiente simbólico não representa a realidade, eles referem-se a uma absurda ideia primitiva de experiência real não-codificada que nunca existiu. Todas as realidades são comunicadas por intermédio de símbolos. E na comunicação interativa humana, independente do meio, todos os símbolos são, de certa forma, deslocados em relação ao sentido semântico que lhes são atribuídos Manuel Castells. A sociedade em rede. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2000.
A conclusão é que o Direito está diante de um desafio imenso no sentido de buscar seu próprio caminho e colaborar na regulação das atividades humanas ubi societas, ibi ius reconhecendo, contudo, a insuficiência de suas ferramentas, concebidas para um mundo não mais existente e que demanda soluções não apenas criativas, flexíveis, ágeis, mas igualmente imediatas. Esse novo Direito ainda não surgiu e, por ora, apenas adapta-se, como pode, ou consegue, a essa nova realidade. 25
É preciso, ainda mais, observar que os avanços típicos de uma sociedade on line, líquida, não conseguiram resolver as grandes questões existenciais da humanidade. Quem sou? Onde estou? E outras importantes questões ligadas à alma, ao dever, ao medo, ao amor, à indiferença, ao desamor, ao afeto, à morte, à vida, à família, ao próximo, a si mesmo, seguem mais atuais do que nunca. 26
Grandes filósofos, como Sócrates, Platão e Cícero, seguem extremamente atuais em suas reflexões, o que nos coloca a urgência de uma existência mais refletida e menos automática.
Talvez a humanidade tenha chegado a um ponto de definição quanto a que existência seus integrantes querem ter e construir. Os enormes desafios para a sociedade humana existentes hoje, indo desde relevantes questões ambientais, passando por direitos das minorias e desaguando no modelo econômico adotado, demandam uma visão em que a tecnologia pode ser parte da solução, mas não toda a solução, assim como pode ser parte, apenas, do problema. 29
OBRIGADO POR SUA ATENÇÃO! ANTONIO CELSO BAETA MINHOTO antonio@baetaminhoto.com.br