ENSINO-APRENDIZAGEM NA GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO Resumo ESCOBAR, Stephane Janaina de Moura 1 - PUCPR Grupo de Trabalho Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento O ensino deve ser adequado às necessidades de aprendizagens do aluno, e a falta de conhecimento didático de profissionais da área da saúde dificulta esse contexto. O conhecimento das estratégias de ensino e sua aplicação deveria ser um requisito básico na formação de docentes, já que em muitos casos não existe uma prática de preparação para a socialização no exercício de ensinar. Por esse motivo, foi realizado o seguinte questionamento: quais estratégias de ensino-aprendizagem os professores da Graduação em Nutrição estão utilizando e qual a percepção dos graduandos a esse respeito? Para respondê-lo o presente estudo teve como objetivo avaliar as estratégias de ensino aprendizagem utilizadas pelos professores na Graduação em Nutrição, destacando as metodologias utilizadas no decorrer do curso e os principais aspectos do processo ensino-aprendizagem na percepção dos graduandos. Para fundamentação teórica utilizou-se Gassner (2010), Costa (2009), Isaia et al. (2004), Moura et al. (2010) e Moreira (2010). Possui como referencial metodológico a pesquisa qualitativa de cunho descritivo. A pesquisa contou com a participação de sete sujeitos de uma instituição de ensino superior pública do Paraná. Os dados foram coletados por meio de uma entrevista semi estruturada, na qual se enfatizou os modelos didáticos utilizados durante a graduação e a percepção dos participantes a respeito deste aspecto. Os achados desta pesquisa sugerem que a falta de estímulo por parte dos professores à participação dos alunos durante as aulas, como a falta de diálogo, em discussões e debates, e o excesso de aulas expositivas prejudicam a aprendizagem dos graduandos em Nutrição. Palavras-chave: Estratégias de ensino. Educação. Aprendizagem. Introdução O professor que tenha como meta construir o aprendizado do seu aluno deve além de questionar o que ensinar, questionar como ensinar. A falta de preparo didático pedagógico de professores das diversas áreas, inclusive da Nutrição, preocupam, visto que, há exigência de 1 Graduada em Nutrição pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestranda em Ciências- Bioquímica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em Nutrição, atuando principalmente nos seguintes temas: flavonóides, mitocôndrias e células tumorais.
13264 domínio técnico, porém habilidades pedagógicas que também são imprescindíveis não são exigidas. Gassner (2010, p. 22) afirma que a escassez de pesquisas que contemplem, de maneira mais consistentemente embasada, estudos sobre metodologias, didática e pedagogia e, também, falta de treinamento ou aperfeiçoamento adequado dos docentes, desfavorecem ainda mais esse contexto. Levando-se em consideração os aspectos supracitados, justifica-se este estudo pela necessidade e relevância de se conhecer as estratégias de ensino utilizadas pelos professores do curso de Graduação em Nutrição e como os estudantes as percebem. A abordagem utilizada pelos professores é um meio facilitador da aprendizagem dos alunos e, em um cenário de rápidas transformações, estas estratégias de ensino necessitam ser remodeladas para que seu principal objetivo, formar bons profissionais, seja alcançado. Além disso, segundo Gassner (2010, p. 20) o papel da universidade na formação do indivíduo se mostra fundamental, formando pessoas responsáveis por si mesmas, por seu caminhar, sua evolução e suas ações. Observando esse contexto educacional do ensino superior propõe-se investigar o seguinte questionamento: quais estratégias de ensino-aprendizagem os professores da Graduação em Nutrição estão utilizando e qual a percepção dos graduandos a esse respeito? Neste cenário o objetivo geral buscou avaliar as estratégias de ensino aprendizagem utilizadas pelos professores na Graduação em Nutrição. Os objetivos específicos buscaram destacar as metodologias utilizadas no decorrer do curso e os principais aspectos do processo ensino-aprendizagem na percepção dos graduandos. Metodologias de ensino aprendizagem adotadas nos cursos de nutrição Neste momento, para fundamentar esta pesquisa, faz-se necessário apresentar um breve relato a respeito da formação de professores inicial e continuada, a formação deste profissional na área da Nutrição e as metodologias utilizadas no processo ensinoaprendizagem.
13265 Formação de Professores: Inicial e continuada A formação pedagógica do professor de ensino superior nem sempre é exigida e segundo Costa (2009, p.100) apenas recentemente os professores universitários estão se tornando conscientes de que a atividade docente, como a pesquisa e a prática de qualquer profissão, exige capacitação própria e específica. A profissionalidade da docência reside nas exigências intelectuais e habilidades práticas que seu exercício implica. Os professores são reconhecidos como profissionais justamente pelo domínio técnico demonstrado na solução de problemas, ou seja, devem conhecer os procedimentos adequados de ensino e sua aplicação (Costa, 2007, p. 23). Com base nessa afirmação, podemos concluir que a valorização do professor está baseada no conhecimento técnico, e não, na sua didática em sala de aula. Isaia et al (2004, p. 122) aponta os seguintes elementos como constituintes da trajetória formativa destes profissionais, a não valorização de uma preparação específica para a função; a falta de consciência da responsabilidade pela formação de futuros profissionais; a carência de um espaço institucional voltado para a construção de uma identidade coletiva de ser professor; e que a possibilidade de continuar aprendendo e melhorando a abordagem didático-pedagógica utilizada favoreceria a visão otimista que esses sujeitos têm da sua proteção. Esses elementos indicam que a formação inicial do professor é precária, e à medida que assumem o papel de docentes, a falta de preparo pedagógico torna-se evidente. No entanto, a busca por esse conhecimento não é valorizada por muitas Instituições, dificultando a busca por formação continuada, e muitas vezes inicial, na área pedagógica. Segundo Gassner (2010, p. 56) a preocupação existente era voltada para o caráter científico de seus professores, ou seja, pensava-se que quanto melhor pesquisador, melhor seria o professor. Nos cursos de bacharelado, como é o caso da Graduação em Nutrição, o [...] profissional, muitas vezes, dorme nutricionista/advogado/administrador e acorda professor, como num 'passe de mágica'. Não há um momento preparatório que lhe permita desenvolver o lado 'pedagógico' [...] (Gassner 2010, p. 68), o que torna a prática docente deficitária do ponto de vista didático.
13266 A formação do profissional da área de nutrição A formação de profissionais capazes de adaptar-se em diferentes situações e de lidar com a imensa quantidade de informações exigem que as ações pedagógicas sejam repensadas, para assim, acompanharem a evolução e não se tornarem ultrapassadas. Neste contexto, Moura et al (2010) afirma que o professor deve focalizar um ensino reflexivo, a fim de desafiar, estimular e ajudar os alunos na construção de habilidades e competências que fortaleçam o compromisso profissional. Corroborando esse pensamento, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição (2001, p. 2) descrevem que os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação. A formação de profissionais ocorre dentro do ambiente acadêmico e são as experiências vivenciadas que os tornarão críticos e inquietos a novas descobertas, o que desencadeará a real construção do conhecimento e não apenas a sua reprodução. Ideia similar é compartilhada por Moreira (2010, p. 3) ao afirmar que ainda se ensinam verdades, respostas certas, entidades isoladas, causas simples e identificáveis, diferenças somente dicotômicas. E ainda se transmite o conhecimento, desestimulando o questionamento. Para Sacristan (apud Costa 2009, p. 100), o professor passa da experiência passiva como aluno ao comportamento ativo como professor, sem que lhe seja colocado, em muitos casos, o significado educativo, social e epistemológico do conhecimento que transmite ou faz seus alunos aprenderem. Passa de aluno receptor a consumidor acrítico de materiais didáticos e a transmissor com seus alunos. Essa falta de formação dos docentes na área da saúde, e em outras áreas, torna a formação de muitos futuros profissionais deficiente. Metodologias no processo ensino aprendizagem A escolha de metodologia de ensino deve ser feita respeitando-se as características dos estudantes, os recursos oferecidos pela instituição de ensino e as habilidades necessárias para o aprendizado. Gassner (2010, p. 54) afirma que é preciso:
13267 que o professor saiba compatibilizar os conteúdos trabalhados em aula com as necessidades, aspirações e expectativas dos estudantes. Além disso, também se requer que o professor saiba harmonizar esses conteúdos com os objetivos educacionais traçados oficialmente. Para que o processo de ensino aconteça de forma suave, tanto para o discente como para o docente, e alcance seus objetivos, procede-se a escolha do melhor método a ser utilizado em sala de aula a partir da relação objetivo-conteúdo. As estratégias que podem ser utilizadas no ensino-aprendizagem são diversas, como: aula expositiva; aula expositiva dialogada; estudo de texto, portfólio; tempestade cerebral; mapa conceitual; solução de problemas; estudo dirigido; dramatização; seminário; estudo de caso; palestras e entrevistas; discussão e debates; laboratórios e oficinas; ensino com pesquisa; lista de discussão por meios informatizados; grupo de verbalização e de observação (GO/GV), técnica na qual dois grupos se alternam entre a discussão de um determinado assunto e observação dos pontos abordados; entre outros. Apesar da variedade de estratégias, muitos professores as desconhecem, não sabem como utilizá-las ou não são motivados a incluí-las durante suas aulas. A metodologia utilizada durante o ensino será uma facilitadora do aprendizado, por esse motivo, a sua escolha influenciará a formação de grande quantidade de alunos, e deve ser um importante fator a ser levado em consideração. Consequentemente, o conhecimento das estratégias de ensino e sua aplicação deveria ser um requisito básico na formação de futuros docentes. Metodologia A pesquisa utilizou o método descritivo, que segundo Silva & Menezes (2000, p.21), visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento. A sua base metodológica foi qualitativa, pois segundo Ferrari (2007, P. 87): no caso da Educação, não basta identificar a quantidade de pessoas que dizem sim ou não a uma determinada pergunta, é preciso conhecer o contexto em que os sujeitos estão inseridos, saber como as informações são consideradas, como as pessoas se relacionam, como dividem tarefas e se comunicam naquele ambiente.
13268 Para coletar os dados foi aplicado um questionário com perguntas abertas e fechadas, no qual constaram os dados pessoais do entrevistado, questões relacionadas às estratégias de ensino utilizadas pelos professores e as percepções do aluno a esse respeito. A amostra foi constituída por sete graduandos que cursavam o último período da graduação em Nutrição. Os sujeitos da pesquisa foram intitulados de S1 a S7 para facilitar a discussão e salvaguardar o anonimato. O estudo foi realizado em uma Instituição de Ensino Superior Pública do estado do Paraná, e os participantes assinaram o Termo de Livre e Esclarecido elaborado pelo pesquisador. Nesse estudo, como em Mazzioni (2006) o uso do termo estratégias de ensino referese aos meios utilizados pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo com cada atividade e os resultados esperados. A análise do conteúdo obtido nas respostas dos questionários teve como objetivo avaliar os textos e extrair as particularidades existentes nas respostas, abordando assim, os pontos de maior destaque. Resultados e Discussão O instrumento de coleta de dados dessa pesquisa foi aplicado a sete graduandos, e pode-se verificar que todos os participantes são do sexo feminino e a faixa etária predominante foi de 19 a 21 anos, demonstrando a freqüência de um público jovem na graduação. Quando questionadas sobre quais estratégias de ensino teriam sido utilizadas pelos professores, apenas a S6 apontou tempestade cerebral e mapa conceitual, e afirmou que a primeira é a mais eficaz para a sua aprendizagem pois o aluno é obrigado a pensar sobre o assunto antes de ter um conceito pré-definido. A estratégia baseada em grupo de verbalização e de observação (GO/GV) não foi indicada como utilizada por nenhuma das participantes. A estratégia de ensino mais utilizada na graduação teve resposta unânime entre as participantes, aula expositiva. Para S3 aula expositiva inibe o desenvolvimento do raciocínio lógico e rápido dos alunos e S2 afirma que predominaram aulas excessivamente teóricas e cansativas. Ao serem questionadas sobre o que gostariam que fosse diferente, S7 afirmou que poderia ter mais aulas práticas, estágios e mais aulas com discussão de casos reais e S3
13269 disse que a dinamização das aulas melhoraria a captação dos conhecimentos, através destas falas é possível perceber que a integração entre conhecimentos já existentes e novos, facilitaria o aprendizado. Corroborando a esta afirmação estão as respostas que envolviam o método mais eficaz para sua aprendizagem, nas quais, o item mais mencionado foi discussão e debates. Para S3 estimula os alunos a raciocinar sobre o assunto, instigando-os a relembrarem o conhecimento prévio e S2 afirma que tal forma traz um estímulo ao pensamento crítico. Embora o estímulo a discussões e debates tenha sido colocado como eficaz para a aprendizagem, a graduanda S2 alega que praticamente não houve discussão acerca dos assuntos durante todo o curso e os poucos momentos de debate foram interrompidos pelos professores. Considerações Essa pesquisa teve como objetivo avaliar as estratégias de ensino aprendizagem utilizadas pelos professores na Graduação em Nutrição, destacando as metodologias utilizadas no decorrer do curso e os principais aspectos do processo ensino-aprendizagem na percepção dos graduandos. Com bases nas entrevistas é possível perceber que a falta de diálogo entre o professor e os alunos é um fator complicador para o grupo analisado. E como citado anteriormente, Gassner afirma que é preciso que o professor saiba compatibilizar os conteúdos trabalhados em aula com as necessidades, aspirações e expectativas dos estudantes. Se o professor não leva esse fator em consideração, uma capacitação didática é necessária. As graduandas demonstraram a falta de estímulo por parte dos professores à participação dos alunos durante as aulas, o que segundo elas, estimula o raciocínio e facilita a aprendizagem. A predominância de aulas expositiva, e não, de expositiva dialogada sugere que o foco do professor não está voltado para a aprendizagem do aluno, e sim, para a transmissão do conhecimento. Assim, é possível destacar que na percepção dos graduandos avaliados as estratégias de ensino influenciam a sua aprendizagem e necessitam ser repensadas. Além disso, a interação entre aluno e professor deve ser ampliada.
13270 A partir desse estudo foi possível identificar as características de uma instituição de ensino pública, como perspectiva futura sugere-se avaliar quais são as metodologias utilizadas pelos professores e percepção dos alunos a esse respeito em instituições de ensino privadas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES nº 5, de 07/11/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição. Brasília: Câmara de Educação Superior; 2001. COSTA, N. M. da S. C. Docência no ensino médico: por que é tão difícil mudar? Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, abr. 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0100-55022007000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 12 maio 2012.b COSTA, N. M. da S. C.. Formação pedagógica de professores de nutrição: uma omissão consentida?. Rev. Nutr., Campinas, v. 22, n. 1, fev. 2009. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1415-52732009000100009&lng= pt&nrm=iso>. Acesso em 12 maio 2012. FERRARI, E. L. Interdisciplinaridade: um estudo de possibilidades e obstáculos emergentes do discurso de educadores do Ciclo II do Ensino Fundamental. São Paulo, 2007, 292 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. GASSNER, F. P. Percepções e preferências dos estudantes de ciências contábeis das Universidades Federais do Sul do Brasil em Relação ao ensino [dissertação]. Curitiba. Universidade Federal do Paraná, 2010. ISAIA, S. M. A., BOLZAN, D. P. V. Formação do professor do ensino superior: um processo que se aprende? Rev. Educação, Universidade Federal de Santa Maria, v. 29, n. 2, p.121-133, jul/dez, 2004. MAZZIONI, L. As estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem: Concepções de alunos e professores de ciências contábeis. Chapecó: Unochapecó, 2006. MOREIRA, M. A. Aprendizagem Significativa Crítica. 2 ed. Indivisa, Boletín de Estúdios e Investigación, 2010. MORIN, E. A religião dos saberes. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. MOURA, E. C. C.; MESQUITA, L. F. C. Estratégias de ensino-aprendizagem na percepção de graduandos de enfermagem. Rev. Bras. de Enfermagem. Brasília set - out; 63(5): p. 793-8, 2010.
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