Melhor Suporte Nutricional «Melhor» Composição Corporal? Uma Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso



Documentos relacionados
TÍTULO: AVALIAÇÃO DE UM PROGRAMA ESPECÍFICO DE ATENÇÃO À SAÚDE DO ADOLESCENTE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA MG.

Médicos da idoneidade e da capacidade formativa para ministrar o Ciclo de Estudos Especiais de Neonatologia.

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

BANCO DE LEITE HUMANO DO CHLC - MAC PERGUNTAS FREQUENTES

CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DOS NEONATOS PREMATUROS NASCIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ H.U.O.P.

Grau A de evidência: a escolha completa da fórmula

RELAÇÃO ENTRE OS DESVIOS DE CRESCIMENTO FETAL/NEONATAL E ALTERAÇÕES MACROSCÓPICAS PLACENTÁRIAS NA GESTAÇÃO DE ALTO RISCO

Lisina, Farelo de Soja e Milho

Desenvolvimento de indicadores em saúde estado da arte

Reflexões sobre Amamentação e Ganho de Peso de Crianças Pequenas

Alimentos de Soja - Uma Fonte de Proteína de Alta Qualidade

Capítulo III Aspectos metodológicos da investigação

VI CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIABETES DIETOTERAPIA ACADÊMICA LIGA DE DIABETES ÂNGELA MENDONÇA

RESUMOS SIMPLES...156

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS COMBINADAS

CAPÍTULO 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE CAVALCANTE SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE PROJETO ALEITAMENTO MATERNO

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ESTRUTURA EMPRESARIAL NACIONAL 1995/98

FEUP RELATÓRIO DE CONTAS BALANÇO

Palavras-chave: Prioritização de Investimentos; Gestão de Activos; Matriz Multicritério; Rede de Distribuição; Sistema de Informação Geográfica.

Os profissionais de enfermagem que participam e atuam na Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional, serão os previstos na Lei 7.498/86.

Revisões e ensaiosreview and essays

NTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS

Aplicações de Escritório Electrónico

Dos 1004 alunos que frequentavam as aulas de Educação Física, um em cada cinco, tinham excesso de peso ou obesidade.

Survey de Satisfação de Clientes 2009

Exemplos: Análise de Valor Agregado (Ex_vagregado.SPRJ)

Notas sobre a população a propósito da evolução recente do número de nascimentos

Módulo 4: NUTRIÇÃO. Por que a boa nutrição é importante para o bebê? Qual o melhor leite para eles? Como monitorar o crescimento dos recém-nascidos?

EVOLUÇÃO DO SEGURO DE SAÚDE EM PORTUGAL

Artigo Março 2005 AC05102LIS/ENG Engenharia Preventiva Inspecção Periódica de Edifícios Luís Viegas Mendonça João de Sousa Rodolfo 2005 SpyBuilding

Programas Referenciais do 1º ciclo do Ensino Recorrente. Programa Referencial de MATEMÁTICA INTRODUÇÃO

INICIAÇÃO À INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA I E II

Prescrição Dietética

TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR PEDIÁTRICO DA REGIÃO NORTE NORMAS DE ACTIVAÇÃO E CRITÉRIOS DE TRANSPORTE

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

PERFIL NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS HOSPITALIZADOS

INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO

Estimulação da sucção não-nutritiva na mama vazia em bebês prematuros

RECURSOS HUMANOS Avaliação do desempenho

APROG - Civil. Excel. Técnicas de pesquisa de informação em tabelas. Instituto Superior de Engenharia do Porto

1. Tabela de peso e estatura (percentil 50) utilizando como referencial o NCHS 77/8 - gênero masculino

REDE TEMÁTICA DE ACTIVIDADE FÍSICA ADAPTADA

INTERATIVIDADE FINAL EDUCAÇÃO FÍSICA CONTEÚDO E HABILIDADES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA AULA. Conteúdo: Treinamento e nutrição.

Workshop de Economia da Saúde

DISTRIBUIÇÃO DE WEIBULL CONCEITOS BÁSICOS APLICAÇÕES

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão do Meio Ambiente, da Saúde Pública e da Política do Consumidor

Manual AGENDA DE BACKUP

Avaliação da Qualidade das Unidades de Internamento da Rede Nacional de Cuidados Continuados

Gean Carlo da Rocha. Declaração de conflito de interesse

Uso de Scanalyzer com embriões de Danio rerio

Relatório detalhado do seminário: Qualidade e Certificação

Alisamento Exponencial (EWMA) e Holt-Winters

A interpretação gráfica e o ensino de funções

Diretrizes Assistenciais PREVENÇÃO DA DOENÇA ESTREPTOCÓCICA NEONATAL

Em 2007, por cada indivíduo nascido em Portugal, foram criadas 1,6 empresas

INFLUÊNCIA DOS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO RESULTADO DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL

Diagrama de transição de Estados (DTE)

Efeitos da Ampla Modificação no Estilo de Vida como Dieta, Peso, Atividade Física e Controle da Pressão Arterial: Resultado de 18 Meses de Estudo

Capítulo 8 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

A INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA E A SUA EVOLUÇÃO

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA APOIO TÉCNICO EM MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

PROJECTO DE CARTA-CIRCULAR SOBRE POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

PORTARIA CRN-3 nº 0112/2000

3.2 Descrição e aplicação do instrumento de avaliação

Guia de Estudo Folha de Cálculo Microsoft Excel

O resultado de uma boa causa. Apresentação de resultados da campanha pela Obesidade do programa Saúde mais Próxima

Incorporação da curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde de 2006 e 2007 no SISVAN

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA RDC Nº 45, DE 19 DE SETEMBRO DE (Alterada pela Resolução RDC n 48, de 25 de setembro de 2014.

M V O I V M I E M N E T N O T O D E D E C A C R A G R A G A E E D E D E N A N V A I V O I S O

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Coisas que deve saber sobre a pré-eclâmpsia

A Direcção Geral da Saúde recomenda que a segurança no automóvel comece antes do nascimento.

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DA TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL EM MATERNIDADE NA CIDADE DE BARBALHA-CE

Avaliação nutricional de crianças portadoras de necessidades especiais

PERFIL NUTRICIONAL DE PACIENTES INTERNADOS EM UM HOSPITAL DE LONDRINA-PARANÁ

GRANDES OPÇÕES DO PLANO 2008 PRINCIPAIS ASPECTOS

Curso Nutrição do Recém-Nascido Pré-Termo. Elsa Paulino Hospital dos Lusíadas

HUMANIZANDO OS INDICADORES DE SÃO PAULO

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA TEMÁTICA 1-INTRODUÇÃO (1) (1).

Práticas de Marketing relacionadas com o sucesso no lançamento de novos produtos

UM MÓDULO DE ATIVIDADES PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DAS FÓRMULAS DE ÁREA DOS PRINCIPAIS POLÍGONOS CONVEXOS

FORMULAÇÃO DE RAÇÕES UTILIZANDO CALCULADORAS

PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES SOBRE VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)

CAPITULO III METODOLOGIA

ANÁLISE DAS PREFERÊNCIAS ALIMENTARES DOS ALUNOS NA CANTINA DA UNIVERSIDADE DO MINHO

EXERCÍCIO E DIABETES

NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO Convenção (n.º 102) relativa à segurança social (norma mínima), 1952

Modelos, em escala reduzida, de pontes e barragens. Simuladores de voo (ou de condução), com os quais se treinam pilotos (ou condutores).

ESPECÍFICO DE ENFERMAGEM PROF. CARLOS ALBERTO

M E D I D A D O P E S O. _ Identificar as gestantes com déficit nutricional ou sobrepeso, no início da gestação;

PROJETO DE LEI Nº, DE 2015

Transcrição:

Acta Pediatr. Port., 1997; N. 4; Vol. 28: 337-41 Melhor Suporte Nutricional «Melhor» Composição Corporal? Uma Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso LUÍS PEREIRA DA SILVA, NANCY GUERREIRO, FREDERICO LEAL, JOÃO M. VIDEIRA AMARAL Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Serviço 1, Hospital de Dona Estefânia. Lisboa. Resumo Objectivo: Avaliar o impacto de diferentes estratégias de suporte nutricional na composição corporal de recém-nascidos de baixo peso (RNBP), por intermédio não só do peso, mas também das áreas muscular braquial (AMB) e adiposa braquial (AAB). Indivíduos e métodos: Comparou-se a média do dia de recuperação do peso, da AMB e da AAB entre dois grupos de RNBP assistidos em períodos distintos, com suportes nutricionais diferentes grupo I (n=10): 1991 versus grupo II (n=24): 1995/96. Os recém-nascidos foram incluidos de modo consecutivo e avaliados prospectivamente sob o ponto de vista antropométrico. Resultados: Não houve diferenças significativas da média das idades gestacionais e dos pesos de nascimento entre os dois grupos. Os recém-nascidos do grupo II, comparativamente com os do grupo I, receberam provisões mais precoces de energia, lípidos e proteínas através da alimentação parentérica. Não se observaram diferenças significativas no dia de recuperação do peso e da AMB entre os grupos. No entanto, os RN do grupo II recuperaram mais precocemente a AAB (dia 6,9 ± 2,5 vs dia 12,6 ± 5,1) (p<0,01), após um período inicial de declínio dos respectivos valores. Conclusões: O atraso na adequada provisão de energia e proteínas pode ter um impacto negativo na reserva lipídica, não detectada pela observação isolada da evolução ponderai. A medição das áreas braquiais representa um método simples e não invasivo de avaliação indirecta da composição corporal dos RNBP. Palavras-chave: Antropometria; Alimentação parentérica; Áreas braquiais; Composição corporal; Nutrição. Abstract Objective: To determine the impact of different nutritional support strategies on the body composition of low birth weight (LBW) infants through body weight, arm muscle area (AMA) and arm fat area (AFA) assessment. Individuais and methods: The average day of recovery for weight, AMA and AFA was compared between two groups of LBW infants managed with different nutritional strategies. Group I (n=10) cared during 1991 and group II (n=24) cared during 1995/96 were assigned consecutively and evaluated prospectively by anthropometric point of view. Results: The average gestational age and birth weight was similar in both groups. Group II babies has received an earlier energy, fat and protein provision through parenteral nutrition compared to group I babies. No significant differences were found concerning the day of recovery for weight and AMA. However, babies of group II recovered AFA earlier (day ± 2,5 vs day 12,6 ± 5,1) (p<0,01) following an initial period of decline. Conclusion: A delay in providing appropriate energy and protein support may have deleterious impact on fat reserve not noticed alone by weight evolution. Assessment of arm areas is a simple non-invasive method for evaluating indirectly body composition of LBW infants. Key-words: Anthropometry, Arm areas; Body composition; Nutrition; Parenteral nutrition. Introdução Um adequado suporte nutricional constitui uma das pedras basilares da assistência a recém-nascidos (RNs) pré-termo 0). Não há, no entanto, unanimidade em relação ao modo de os alimentar, nomeadamente na prescrição de certos macronutrientes: o momento mais apropriado para iniciar a sua administração, a via e as doses Entregue para publicação em 12/12/96. Aceite para publicação em 15/04/97. mais indicadas (2). Pressupõe-se, assim, que diversos esquemas nutricionais se repercutam de modo diferente no crescimento e na composição corporal (3). Por outro lado, é reconhecido que a evolução ponderal, como dado exclusivo, não permite avaliar essa repercussão no estado de nutrição, dado que o aumento de peso nem sempre reflecte o aumento dos depósitos de tecido adiposo ou muscular (4. 5). Para determinar clinicamente as modificações relativas da composição corporal torna-se necessário recorrer a outros parâmetros, como sejam a prega cutânea tricipital (PCT), o perímetro braquial (PB) (3' 6)

338 Melhor Suporte Nutricional «Melhor. Composição Corporal? Uma Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso ou, de preferência, a indicadores mais exactos, como as áreas correspondentes à secção transversal do braço (7' 8' 9). O objectivo do presente estudo foi avaliar o impacto de diferentes estratégias de suporte nutricional na composição corporal de recém-nascidos de baixo peso (RNBP), por intermédio não só do peso, mas também das áreas muscular braquial (AMB) e adiposa braquial (AAB). Para o efeito, foram seleccionados e comparados 2 grupos de RNBP assistidos em períodos distintos com cerca de 4 anos de intervalo submetidos a esquemas de nutrição diferentes. Indivíduos e Métodos Os 2 grupos de RNBP (<2500g) estudados foram assistidos respectivamente em 1991 (grupo I) e em 1995/ /96 (grupo II). Em ambos, foram seleccionados RN consecutivos com peso de nascimento entre 1000 e 2000 g, excluindo-se os casos com malformações do aparelho digestivo e sindromes polimalformativas. O grupo I incluiu parte dos RN de um estudo anterior (19). As variáveis estudadas foram as seguintes: 1. Em relação às características dos indivíduos, avaliação retrospectiva de: o peso ao nascer, a idade gestacional e a relação peso/idade gestacional, na qual se baseou a classificação dos RN em apropriados (AIG), leves (LIG) e grandes (GIG) para a idade gestacional, segundo o critério de Lubchenco ("). Também foram registadas as patologias dos RN analisados. 2. Em relação ao suporte nutricional, avaliação retrospectiva de: o número de casos submetidos a alimentação entérica e o número de casos submetidos a alimentação parentérica solução de glucose e aminoácidos ou solução de glucose e aminoácidos e emulsão de lípidos, respectivamente; o dia do início de cada tipo de alimentação, no caso desta ter sido prescrita; e o cálculo retrospectivo das provisões energética, proteica e lipídica nos dias que antecederam às avaliações antropométricas. 3. Em relação aos dados antropométricos, avaliação prospectiva de: o registo diário do peso; a medição da PCT e do PB nas primeiras 24 horas e, depois, com uma periodicidade de 2 a 4 dias, desconhecendo, o observador, o tipo de suporte nutricional no momento das medições. A pesagem, as medições e o cálculo das AMB e AAB efectuaram-se de acordo com metodologia descrita em trabalho anterior ( m). Nas duas amostras anotou-se a média dos valores do peso, da AMB e da AAB, respectivamente, no 1. dia de vida, no dia em que se registou o seu valor mínimo e no dia em que ocorreu a recuperação. Foram comparadas as médias dos dias de vida relativos à recuperação de cada parâmetro antropométrico. Tal como no estudo anterior, considerou-se «recuperação» do peso, da AMB e da AAB o primeiro incremento assinalado após uma sequência decrescente dos respectivos valores, independentemente de o valor inicial ter sido ou não atingido (w). Os dados foram coligidos em folha de cálculo Microsoft Excel 5.0, na qual foram introduzidas fórmulas para a determinação das provisões energética e de nutrientes e equações para o cálculo das áreas braquiais. Os gráficos foram elaborados no programa Harvard Graphics 3.0, de modo a representar a média e 1 desvio padrão dos valores em cada grupo. Todos os cálculos foram realizados com o auxílio do package estatístico SPSS for Windows versão 5.0.1.. Para comparar os dois grupos de RN relativamente às variáveis em estudo, utilizou-se o teste t para a igualdade de valores médios, sempre que a natureza das mesmas o permitiram; a aplicação do teste t pressupõe que as populações subjacentes às amostras têm distribuição normal. Quando a normalidade não pôde ser considerada pela reduzida dimensão das amostras, assim como nas circunstâncias em que as variáveis em estudo constituiam dados categorizados, utilizaram-se testes não paramétricos teste de Wilcoxon-Mann-Whitney e teste do qui-quadrado ou teste exacto de Fisher para tabelas de contingência. Para verificar a normalidade dos dados realizaram-se testes de Kolmogorov-Smirnov. Resultados Foram estudados 10 RNs do grupo I e 24 do grupo II com idênticas características em relação ao peso de nascimento (X 1517,6 ± 327,6 vs 1556,8 ± 308,0, respectivamente) e à idade gestacional (X 31,4 ± 2,8 vs 30,8 ± 2,3, respectivamente). O número de RNs AIG (7 vs 19, respectivamente) e LIG (3 vs 5, respectivamente) não diferiu significativamente nas duas amostras. De entre as patologias dominantes destacaram-se, nos dois grupos, a doença da membrana hialina, a sépsis e a asfixia. Todos os RNs receberam alimentação entérica e não houve diferença significativa relativamente ao dia em que esta foi introduzida (3,6 vs 3,7, respectivamente). No entanto, os RNs do grupo II foram submetidos mais frequentemente (79% vs 40%, respectivamente, p<0,05) e com maior precocidade (3,7 dias vs 5,5 dias, respectivamente, p<0,05) à alimentação parentérica, nomeada-

Melhor Suporte Nutricional *Melhor» Composição Corporal? Uma Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso 339 mente à emulsão endovenosa de lípidos (79% vs 10%, respectivamente, p<0,001). Com os esquemas de nutrição realizados, verificou- -se que as provisões médias de energia, proteínas e lípidos, comparadas nos dias (D) DO-D1", D3-D4, D6-D7 e D9- -D10 foram significativamente maiores nos RNs do grupo II, no final da primeira semana de vida, i.e., entre os dias D3-D4 e D6-D7 (Figuras 1, 2 e 3, respectivamente). 95 Kcal / Kg/ d Provisão energética ' 95 l' 96 75 75 *** 55 55 *** 1350 95 Em relação à avaliação antropométrica, os RNs do grupo I, em comparação com os do grupo II, recuperaram mais tardiamente o peso (X D9,5 ± 1,4 vs D8,0 ± 1,4) (Fig. 4), a AMB (X D11,1 ± 5,9 vs D9,1 ± 4,2) (Fig. 5) e a AAB (X D12,6 ± 5,1 vs D6,9 ± 2,5) (Fig. 6), mas as diferenças apenas foram estatisticamente significativas em relação à AAB (p<0,01). Gramas Peso Recuperação 1750 1750 1550 1550 '91 ' 95 /'96 ' 9 1 NS 1350 35 35 1150 1150 o 2 4 6 8 10 o 2 4 6 8 10 15 15 950 950 FIG. 1 Comparação da provisão energética entre os grupos I (1991) e II (1995/96). média; O desvio padrão; * p<0,05; *** p<0,001 g /Kg /d Provisão proteica FIG. 4 Comparação da evolução ponderai entre os grupos I (1991) e II (1995/96), até ao momento da recuperação. média; 1=1 desvio padrão; NS - não significativo mm2 600 Área muscular braquial Recuperação 600 2,5 2,5 500 500 2 5 1.5 400 300 '95 / ' 96 ' 9 1 400 300 0,5 0,5 200 o NS 200 2 4 6 10 FIG. 2 Comparação da provisão proteica entre os grupos I (1991) e II (1995/96). média; O desvio padrão; NS - não significativo; * p<0,05 100 100 2 4 6 8 10 12 FIG. 5 Comparação da evolução da AMB entre os grupos I (1991) e II (1995/96), até ao momento da recuperação. média; O desvio padrão; NS - não significativo g/ Kg/ d Provisão lipidica * mm2 4 110 Área adiposa braquial Recuperação 110 '95 r 96 3 90 90 ** ' 9 1 2 70 70 NS ** 50 50 2 4 6 8 10 FIG. 3 Comparação da provisão lipídica entre os grupos I (1991) e II (1995/96). média; O desvio padrão; NS - não significativo; * p<0,05; ** p<0,01 30 30 O 2 4 6 8 10 12 14 FIG. 6 Comparação da evolução da AAB entre os grupos I (1991) e II (1995/96), até ao momento da recuperação. média; O desvio padrão; ** p<0,01

Melhor Suporte Nutricional -,<Melhor. Composição Corporal? Unia Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso 340 Discussão Não é possível definir as necessidades energéticas e de nutrientes dos RN pré-termo, sem primeiro determinar um padrão «ideal» de crescimento para estes pacientes '3' 12). Como tem sido referido por outros autores, comprovamos neste trabalho que a evolução ponderal, como dado isolado, não constitui um indicador credível do crescimento e, muito menos, das modificações relativas da composição corporal (3, 4' 5). Em dada circunstância, o aumento do peso não corresponde ao incremento dos depósitos de tecido adiposo ou muscular, mas sim a retenção hídrica e/ou balanço positivo de sódio associados a um suprimento de nutrientes nitidamente insuficiente para sustentar o crescimento (5, 13,'4) Ao invés, algumas determinações antropométricas possibilitam uma avaliação simples e não invasiva, muito embora indirecta e com as devidas limitações, dos compartimentos corporais (15). Neste âmbito, as áreas correspondentes à secção transversal do braço - AMB e AAB - podem ser utilizadas como indicadores indirectos das massas muscular e adiposa braquiais e, por extrapolação, dos respectivos depósitos corporais (8). O cálculo das mesmas deriva de equações baseadas na PCT e no PB e, em relação a estes, são preferidas por alguns autores por proporcionarem uma melhor estimativa da comparticipação dos tecidos muscular e adiposo na área braquial total (8-10, 16). É fácil entender que, para um determinado valor da PCT, tanto maior será a AAB quanto maior fôr o PB, e vice-versa (6, 7, 8) da curva ponderal (Fig. 4). Outros autores estudaram as áreas braquiais de RNs pré-termo (19) e, não obstante tivessem, como nós, verificado um declínio inicial da AMB seguido de recuperação, não detectaram diminuição da AAB relativamente aos valores registados ao nascer. Este facto muito provavelmente deveu-se a um suprimento energético-proteico mais precoce e mais elevado. Em conclusão, o adiamento da adequada provisão energético-proteica pode ter consequências negativas importantes ao nível da composição corporal dos RNBP, nomeadamente na reserva adiposa. A alimentação parentérica constitui uma importante fonte alternativa de suprimento de macronutrientes quando a via entérica não está totalmente disponível. De acordo com a nossa experiência e resultados do presente estudo, a antropometria do membro superior, apesar das respectivas limitações, é um método rápido e não invasivo para «monitorizar» a assistência nutricional em unidades de cuidados especiais de recém-nascidos. Agradecimentos Os autores agradecem ao Dr. Sérgio Lamy, médico pediatra, a orientação e metodologia de informatização dos dados e à Dr.a Isabel Carita, assistente do núcleo de Métodos Matemáticos da Faculdade de Motricidade Humana, o tratamento estatístico dos resultados.. Numa publicação anterior (17) tivémos a oportunidade de anotar, de forma pontual, algumas modificações da assistência nutricional na nossa Unidade relacionadas com o evoluir dos anos. Realçámos a percentagem crescente de RNs submetidos a AP, designadamente a emulsão endovenosa de lípidos, com o intuito de não adiar o suprimento energético. Como consequência aparente da maior utilização de lípidos, notámos a diminuição progressiva da necessidade de cateterização central, provavelmente por ser possível administrar por via periférica maior provisão energética, em menor quantidade de fluido isotónico (18). Os resultados do actual trabalho estão em consonância com a tendência anteriormente descrita, nomeadamente o recurso mais frequente e mais precoce à AP, que incluiu a utilização sistemática da emulsão endovenosa de lípidos nos RNs do grupo II, os quais foram assistidos em período ulterior aos do grupo I. Além disso, na presente casuística assinalamos mais vantagens: o fornecimento de suprimento substancialmente maior de energia, proteínas e lípidos no final da primeira semana de vida e recuperação significativamente mais precoce da AAB (Fig. 6). Este último evento não seria detectado se a vigilância do crescimento se confinasse à observação BIBLIOGRAFIA 1. Ziegler EE. Malnutrition in the premature infant. Acta Paediatr Scand (suppl) 1991; 374: 58-66. 2. Van Aerde J. Nutrition and metabolism in the high-risk neonate. In: Fanaroff AA, Martin RJ, eds. Neonatal-Perinatal Medicine. St. Louis, Mosby Year Book 1992: 478-526. 3. Georgieff MK, Sasanow SR. Nutritional assessment of the neonate. Clin Perinatol 1986; 13: 73-89. 4. Kagan BM, Felix N, Molander CW et al. Body water changes in relation to nutrition of premature infants. Ann N Y Acad Sci 1963; 110: 830-6. 5. Twang W, Modi N, Clark P. Silution kinetics of H2'80 for estimation of total body water in preterm babies during the first week after birth. Arch Dis Child 1993; 69: 28-31. 6. Frisancho AR. Triceps skinfold and upper arm muscle size: norms for assessment of nutritional status. Am J Clin Nutr 1974; 27: 1052-8. 7. Gurney JM, Jellifee D. Arm Anthropometry in nutritional assessment: monogram for rapid calculation of muscle circumference and crosssectional muscle and fat arcas. Am J Clin Nutr 1973; 26: 912-5. 8. Frisancho AR. New norms of upper limb fat and muscle arcas for assessment of nutritional status. Am J Clin Nutr 1981; 34: 2540-5. 9. Sann L, Durand M, Picard J, Lasne Y, Bethenod M. Arm fat and muscle arcas in infancy. Arch Dis Child 1988; 63: 256-60. 10. Pereira da Silva L, Berdeja A, Ventosa L, Leal F, Clington A, Amaral JMV. As áreas adiposa e muscular braquiais na avaliação nutricional de recém-nascidos de baixo peso. Resultados preliminares. Rev Port Pediatr 1994; 25: 325-30. 11. Lubchenco LO, Hansman C, Boyd E. Intrauterine growth in lenght and head circumferences as estimated from live births at gestational ages from 26 to 42 weeks. Pediatrics 1966; 47: 403-8.

Melhor Suporte Nutricional «Melhor» Composição Corporal? Uma Análise em Recém-Nascidos de Baixo Peso 341 12. Putet G. Energy. In: Tsang RC, Lucas A, Uauy R, Zlotkin S. eds. Nutritional Needs of the Preterm Infant. Baltimore, Williams & Wilkins 1993: 15-28. 13. Modi N. Sodium intake and preterm babies. Arch Dis Child 1993; 69: 87-91. 14. Heimler R, Doumas B, Jendrzejczak M et al. Relationship between nutrition, weight change, and fluid compartments in preterm infants during the first week of life../ Pediatr 1993; 122: 110-4. 15. Jensen MD. Research techniques for body composition assessment. J Am Diet Assoc 1992; 92: 454-60. 16. Pereira da Silva L, Pires FM, Rebelo I, et al. Evolução antropométrica do atraso de crescimento intrauterino simétrico. Resultados preliminares. Rev Port Pediatr 1990; 21: 427-34. 17. Pereira da Silva L, Serelha M, Clington A, Amaral JMV. Alimentação parentérica em neonatologia teorias e práticas (Carta ao Editor). Acta Pediatr Port 1995; 1: 127-8. 18. Phelps SJ, Cochran EC, Kamper CA. Peripheral venous line infiltration in infants receiving 10% dextrose, 10% dextrose/aminoacids, 10% dextrose/aminoacids/fat emulsion (Abstract). Pediatr Res 1987; 21: 67A. 19. Georgieff MK, Amarnath UM, Mills MM. Determinants of arm muscle and fat accretion during the first posnatal month in preterm newborn infants. J Pediatr Gastroenterol Nutr 1989; 9: 219-24. Correspondência: Luís Pereira da Silva Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais Hospital de Dona Estefânia Rua Jacinta Marto 1100 Lisboa