II Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional

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Transcrição:

II Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional Nos rodeios, nas roças e em tudo o mais: trabalhadores escravos na Campanha Rio-grandense, (1831-1870) * Luís Augusto Ebling Farinatti ** Palavras-chave: Escravidão. Pecuária. Rio Grande do Sul. Século XIX. Estâncias. Resumo A investigação sobre a escravidão nas zonas onde preponderou a pecuária extensiva não participou vivamente do grande avanço da produção historiográfica sobre escravidão no Brasil, ocorrido nas últimas décadas. Esse fato pode ter se devido a razões diversas. De um lado, a influência de uma tradição historiográfica que acreditava que essas regiões, pouco capitalizadas, não teriam condições de prover um incremento contínuo de cativos. De outro, esse pouco interesse pelo estudo da escravidão na pecuária pode ter se devido à verificação de uma presença relativamente baixa de população cativa nas regiões de criação de gado, se tomadas em relação a muitas das regiões agrícolas brasileiras. Por fim, a pecuária também foi vista, tradicionalmente, como palco por excelência de diversas formas de trabalho livre, tanto no período colonial como no século XIX. Contudo, novas pesquisas têm demonstrado a presença constante de cativos nas unidades produtivas de predominância pecuária e, mais do que isso, sua importância central para o funcionamento dessas unidades. Esta comunicação busca unir-se a esses esforços, analisando a presença dos cativos na Campanha Rio-grandense, localizada na fronteira com as repúblicas paltinas, principal zona de criação de gado da província do Rio Grande do Sul. Aqui, investigamos algumas das características demográficas da população cativa da região, além de aspectos relacionados às atividades desempenhadas por aqueles trabalhadores. Nesse último quesito, malgrado a conhecida visão que desacredita a importância do emprego de cativos na pecuária, o envolvimento direto no costeio do gado foi a principal atividade desenvolvida por aqueles trabalhadores. Nessas e em outras atividades, os escravos eram empregados, em geral, em associação com o trabalho livre nas maiores estâncias, e com o trabalho familiar nas unidades produtivas de menor vulto. As principais fontes empregadas aqui são os inventários post mortem e um censo agrário realizado em 1858. Introdução A imagem clássica da pecuária tradicional sulina descreve-a como uma atividade levada a cabo apenas por trabalhadores livres, em geral mestiços de índios e brancos, sem vínculos familiares importantes. Essa visão insere-se em uma tradição historiográfica que percebe a pecuária, por seu caráter de atividade voltada para o mercado interno, como incapaz de gerar uma acumulação que pudesse sustentar a incorporação contínua de cativos. Nas últimas décadas, porém, surgiram estudos assentados sobre larga base empírica, que têm demonstrado a importância do trabalho * Comunicação submetida ao II Encontro Nacional: Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Porto Alegre, 26 a 28 de outubro de 2005. ** Doutorando em História Social na UFRJ. Bolsista CAPES. 1

escravo em diversas regiões de criação de gado no Brasil colonial e oitocentista. 1 No caso do Rio Grande do Sul, as obras mais recentes começam a reconhecer que o trabalho escravo nas estâncias era importante no próprio costeio do gado (nesse caso, ao lado de peões livres) e não apenas em atividades acessórias, como os trabalhos de construções, serviços domésticos e da agricultura interna a essas unidades produtivas. 2 Todavia, são ainda raros os trabalhos monográficos que permitam conhecer com mais profundidade as características da população escrava presente nas zonas sulinas de pecuária extensiva, os níveis de concentração desses trabalhadores entre os senhores locais, as atividades nas quais de fato eram empregados e as transformações sofridas por esses aspectos ao longo do tempo. Neste comunicação, pretendemos contribuir para esse debate, realizando uma abordagem introdutória ao tema da escravidão nas zonas de predominância pecuária do sul do Brasil, na primeira metade do século XIX. Para tanto, retomamos os dados de dois trabalhos recentes, onde trabalhamos com os inventários post mortem referentes a Alegrete - o maior município da principal área de criação de gado do Rio Grande do Sul, a região da Campanha, na fronteira com a República do Uruguai - no período que vai de 1831 a 1870. 3 Esperamos que as análises aqui realizadas, considerando seu caráter preliminar, permitam ao menos apresentar o tema e lançar algumas hipóteses gerais de pesquisa, sobretudo no que diz respeito ao papel do trabalho escravo na pecuária sulina que, como veremos, parece haver sido bem mais expressivo do que se costumava pensar. Dilatadas Campanhas Ao longo do século XIX, Alegrete era o maior município pecuário da principal zona de criação de gado da província, a Campanha, na região de fronteira com a República do Uruguai. 4 Tratava-se de uma planície levemente ondulada, coberta predominantemente por campos. Ainda que esses campos não fossem de qualidade homogênea, ali estavam as melhores pastagens da província, sendo apenas inferiores 1 Entre outros: PETRONE, 1976. LENHARO, 1979. MOTT, 1979. SILVA, 1996. FARIA, 1998. GORENDER (1992, 1ª. Ed. 1978). GUTIERRES, 1999. 2 ZARTH, 1997 e 2003. BELL, 1998. OSÓRIO, 1999. FARINATTI, 2003 e 2004a. 3 Uma fundamentação empírica mais detalhada dos temas debatidos aqui, consta nestes dois trabalhos: FARINATTI, 2004 e 2005b. 4 FARINATTI, 2005a. 2

àquelas localizadas mais ao sul, próximas à linha de fronteira com terras uruguaias. 5 A conquista e a ocupação estável daquela área pelos luso-brasileiros ocorreu nas duas primeiras décadas do século XIX, em um processo rápido de apropriação dos territórios dantes disputados com o Império Espanhol. A ocupação daquelas terras gerou, em Alegrete, uma estrutura agrária onde se formaram grandes estâncias, abrigando cada uma mais de 2.000 e, por vezes, mais de 10.000 reses. Ao lado desses enormes estabelecimentos havia um número expressivo de medianos e pequenos produtores, muitos deles sem a propriedade da terra onde criavam seus gados e plantavam suas pequenas lavouras. Alegrete foi elevado a município em 1831, três anos depois da derrota final do Império Brasileiro nas Guerras Cisplatinas. Alegrete e toda a Campanha passavam, então, a constituir a estremadura dos domínios brasileiros junto aos lindes que o separavam da república uruguaia. Do outro lado da linha de fronteira, em toda a metade norte do Uruguai, muitos estancieiros brasileiros possuíam terras, gado, relações comerciais, políticas e familiares, tornando aquele um espaço fronteiriço bastante integrado e pleno de intercâmbios sociais e econômicos. 6 Ao contrário de outras regiões brasileiras, não contamos, para a Campanha, com documentos preciosos como listas nominativas e maços de população. Assim, as principais fontes empregadas aqui foram os inventários post mortem. Foram levantados 232 processos, sendo que 204 tiveram prosseguimento, permitindo sua utilização para a pesquisa e 181 deles possuíam bens rurais. Para a composição dessa amostragem, foram ficahdos todos os inventários do período que se estende de 1831 até 1850 e todos os processos de um a cada dois anos, entre 1851 e 1870. 7 Homens, mulheres, africanos e crioulos Em dois estudos anteriores, analisamos as características da população escrava em Alegrete. No primeiro deles, nos detivemos nos dados do período localizado 5 FARINATTI, 2005c. 6 BARRAN e NAHÚM, 1967. BLEIL e PRADO, 2004. BORUCKI, CHAGAS e STALLA, 2004. 7 Inventários post mortem. Cartório de Órfãos e Ausentes. Cartório do Cível. Cartório da Provedoria. Alegrete. APRS. Esse procedimento foi adotado em razão de que os anos que se estendem entre 1831 e 1850 abrigam o menor número processos. Não há dúvidas que a guerra e a necessidade de reordenação da vida que ela deve ter imposto a muitos teve aí uma parcela de responsabilidade. Contudo, essa desproporção também se deve ao fato de que ocupação estável daquelas terras data apenas das primeiras décadas do século XIX e a população do jovem município, na primeira metade do século, era certamente menor do que nas décadas seguintes. 3

entre 1831 e 1850. Já no segundo, tomamos esses dados e os comparamos com os referentes às duas décadas seguintes, após o final do tráfico atlântico de cativos. No que se refere ao primeiro período (1831-1850), percebemos que a relação entre os sexos apresentava-se bastante desequilibrada, com uma média de mais de 177 homens para cada 100 mulheres escravas (razão de masculinidade de 177,6; com uma proporção de apenas 36% de cativas mulheres no universo total analisado). Quanto à origem, os africanos representavam 42,4% daquela população. Esses dados costumam estar intimamente relacionados entre si, 8 e não foi diferente em Alegrete. A predominância masculina era maior entre os africanos, sendo que a população crioula tendia a apresentar uma proporção mais harmônica entre os sexos, ainda que os homens permanecessem como dominantes. 9 Como notamos então, esses números são bastante inferiores aos encontrados em regiões de expansão das lavouras de café do Vale do Paraíba fluminense, nas décadas de 1840 e 1850. 10 Porém, o percentual de africanos não ficava tão distante dos 50% encontrados por Bert Barickman para as lavouras de cana e os engenhos de açúcar do Recôncavo Baiano, entre 1790 e 1860. Sobretudo, a taxa de masculinidade de 177,6 em Alegrete era superior aos 143 encontrados por Barickman na produção açucareira. E mais, no mesmo trabalho sobre o Recôncavo Baiano, os sítios produtores de fumo apresentavam uma relação equilibrada entre homens e mulheres ( 108 ) e uma presença de apenas 23% de africanos entre os cativos ali presentes. 11 Assim, apesar da predominância dos crioulos na população escrava em Alegrete, entre 1831 e 1850, a presença de cerca de 42% de africanos é significativa. Ao lado da alta taxa de masculinidade, ela indica que parte importante da reposição dos cativos da região era feita a partir da compra, muitas vezes de africanos. Assim, apesar de seu caráter de produção voltada para o mercado interno, a pecuária extensiva tinha por característica a incorporação contínua de trabalhadores escravos. Por outro lado, a alta taxa de masculinidade está intimamente relacionada com as atividades para as quais se demandavam cativos na região. Ainda que os escravos fossem empregados em diversas ocupações dentro dos estabelecimentos pastoris, a requisição de parte 8 FARIA, 1998. 9 FARINATTI, 2004a. 10 FRAGOSO, 1983. 11 BARICKMAN, 2003. 4

importante deles para o trabalho direto do costeio do gado parece ter sido um dos fatores responsáveis pela preferência na compra de cativos homens por parte dos senhores da Campanha. Por outro lado, se tomarmos a evolução desses fatores por décadas, e incluirmos aí o período que se estende de 1851 a 1870, o que aparece é um movimento que parte de uma população com grande índice de masculinidade, percentual de africanos quase equivalente ao de crioulos, e percentual de crianças um pouco inferior a 20%; e vai na direção do estabelecimento do equilíbrio entre os sexos, da diminuição do número de africanos (que, como era de se esperar, chega a menos de 5% na década de 1860) e da ampliação do percentual de crianças, atingindo quase 40% no final do período. 12 Já seria de se esperar tal rumo na progressão desses fatores ao longo das décadas pesquisadas, sobretudo após o final do tráfico atlântico de cativos, em 1850. Como é sabido, o Rio Grande do Sul foi uma região vendedora de escravos na dinâmica do tráfico inter-provincial. 13 Além disso, também é de se supor que as regiões mais capitalizadas e necessitadas de escravos da própria província, como as áreas de charqueadas no leste, drenassem cativos das regiões mais especializadas na pecuária. Contudo, essa evolução já dava seus primeiros passos na década de 1840, antes, portanto, do final do tráfico. O que parece sim ter estado presente foi um fator conjuntural poderoso: uma nefasta conjunção de guerras, pestes e secas que assolaram a província e, especialmente, a Campanha e Alegrete, a partir do ano de 1840, estendendo-se por mais de dez anos. Em seus Ensaios Estatísticos..., escritos no final da década de 1840, o burocrata Antônio Manoel Correia da Câmara referia-se aos imensos problemas trazidos pela combinação de fortes secas e epizootias nos anos iniciais daquele decênio, sendo especialmente mortíferas no município de Alegrete. 14 As correspondências e relatórios de presidente de província estão repletas de informações sobre a difícil situação da pecuária naqueles anos. Escrevendo em 1853 e referindo-se aos anos anteriores, João Lins Vieira Cansação de Sinimbú, então ocupando a presidência da província do Rio Grande do Sul, referia-se à espantosa diminuição dos gados então ocorrida. 15 12 FARINATTI, 2005a 13 MAESTRI, 2002. 14 CORREA DA CÂMARA, 1863. 15 FARINATTI, 2005b. 5

Além dos recorrentes surtos de epizootias e da ocorrência de secas também reiteradas, a Guerra dos Farrapos (1835-45) também infligiu pesados danos a muitos dos criadores de gado, sobretudo os da Campanha, que fora seu principal teatro de operações. 16 Além da ação de ladrões de gado (muitos deles desertores) e dos próprios exércitos buscando suprimento, a guerra diminuía o número de trabalhadores livres disponíveis para o costeio do gado que, com menos pastoreio, podia tornar-se bravio e mesmo evadir-se. Não dispomos de estudos específicos sobre o comércio de escravos no Rio Grande do Sul, que pudessem informar com mais detalhe sobre os movimentos na compra de escravos pelas regiões pecuárias. Contudo, visto a partir dos dados trazidos pelos inventários post mortem parece bastante plausível que esses fatores conjunturais tenham ajudado a diminuir o ritmo das aquisições de cativos na região na passagem da década de 1830 para a de 1840, mesmo antes do final do tráfico atlântico de cativos. Afinal, não é difícil imaginar uma dupla conseqüência da redução dos rebanhos bovinos do município. De um lado, os criadores viram-se menos capitalizados para empreenderem a compra de cativos. De outro, com rebanhos seriamente desfalcados, suas necessidades laborais também se reduziram e, em muitos casos, a aquisição de trabalhadores escravos teve que esperar pela recuperação do número de gado. Esse processo de transformação da demografia escrava em Alegrete, que já estava em curso na década de 1840, acentuou-se após o final do tráfico atlântico, em 1850. Nessa década, porém, a grande valorização ocorrida nos preços dos novilhos vendidos às charqueadas (principal produto das estâncias), superior mesmo à valorização dos escravos naquela década, possibilitou, sobretudo aos grandes criadores de gado, oferecer alguma resistência à drenagem de seus cativos para as regiões mais capitalizadas. Na década seguinte, porém, com a crise que derrubou o preço do gado, essa resistência tornou-se bem mais difícil. Por outro lado, ao longo de todo o período, os grandes criadores, aqueles que possuíam mais de 2.000 reses de gado vacum, concentraram sempre os maiores índices de homens, de africanos e de adultos e suas escravarias. Conforme nos movimentamos para baixo na escala de concentração de rebanhos, no rumo dos médios 16 Ao longo da maior parte da década de 1840, também a Guerra Grande, ocorrida na república do Uruguai trouxe dificuldades à economia pecuária da Campanha Rio-grandese, sobretudo no que se refere à movimentação de gado entre esta região e as estâncias pertencentes a brasileiros no norte do Uruguai. Ver: BARRAN e NAHÚM, 1967. BLEIL e PRADO, 2004. BORUCKI, CHAGAS e STALLA, 2004. 6

e pequenos produtores (menos de 1.000 e menos de 500 reses), amplia-se proporcionalmente o número de crioulos, a presença de mulheres e de crianças. Nas escravarias pertencentes a grandes criadores, o percentual chegou, no período de 1831 a 1850 a 52% de africanos, 225 homens para cada 100 mulheres e 20% de crianças, enquanto que entre os cativos pertencentes àqueles que criavam até 500 reses, apenas 29% eram africanos, havia 106 homens para cada 100 mulheres (um notável equilíbrio entre os sexos) e um percentual de cerca de 32% de crianças. Assim, a composição das escravarias era outro parâmetro que estabelecia uma marcante desigualdade entre os criadores de gado em Alegrete. Ainda que todos os senhores tenham sofrido o impacto do final do tráfico atlântico de cativos, ele foi maior entre os pequenos criadroes de gado, já que os índices de 1850 mantiveram, proporcionalmente, as diferenças apresentadas anteriormente. Por fim, é necessário salientar que essa correspondência entre o vulto produtivo dos criadores de gado e a dimensão e composição de suas escravarias, deixa mais do que evidente a correspondência entre o trabalho escravo e a produção pecuária. Esse é o tema a que nos dedicamos a seguir. Mateus campeiro, Manoel roceiro e João carpinteiro As referências aos ofícios dos escravos são bem mais freqüentes nos inventários do período anterior ao final do tráfico atlântico. Assim, para o estudo dos ofícios dos escravos, nos restringimos, aqui, às conclusões chegadas em nosso trabalho anterior, dedicado ao período localizado entre 1831 e 1850. 17 Esse período abrangeu um total de 62 inventários que apresentavam, simultaneamente, bens rurais e escravos. O total de cativos envolvidos era de 633 pessoas. Em seu estudo sobre o Rio Grande do Sul rural do século XIX, Paulo Afonso Zarth levantou a hipótese de que os escravos roceiros comporiam a maioria dos escravarias de escravos das estâncias, ainda que a presença de campeiros fosse significativa. 18 Investigando o período colonial, Helen Osório demonstrou que os escravos campeiros tendiam a ser maioria e argumentou que eles provavelmente supriam as necessidades de trabalhadores estáveis nas estâncias. O complemento da mão-de-obra livre tendia a ser empregado nos momentos de pico da atividade pecuária, como as épocas de marcação e de castração. 17 FARINATTI, 2004. 18 ZARTH, 2003. 7

Os inventários pesquisados nos indicam semelhanças e diferenças com os quadros delineados acima. Nos poucos casos em que encontramos referência explícita aos ofícios das escravas, eles foram, invariavelmente, domésticos: cozinheira, costureira e rendeira. Não encontramos nenhuma referência a escravas roceiras. O pequeno percentual de mulheres acima dos 10 anos de idade cujo ofício foi declarado (17%) não nos permite, no entanto, fazer generalizações a respeito. No caso das maiores escravarias, escravas que se dedicassem ao serviço de roça poderiam estar escondidas no alto número de cativas cuja ocupação não foi declarada. É bastante provável que as escravas de pequenos senhores, por sua vez, pudessem ser utilizadas tanto no variado renque de serviços domésticos quanto nas roças de alimentos. O próprio trabalho doméstico não pode ser visto como algo de pouca importância, já que era essencial para a reprodução das unidades produtivas e a prova disso é que, mesmo os criadores com mais de 2.000 reses, que possuíam escravarias com alta proporção de homens, jamais deixaram de contar com cativas. Infelizmente, a falta de uma maior especificação das fontes a respeito das ocupações das escravas nos impede de tratar mais detidamente do tema nesta comunicação. Para os homens adultos, possuímos um total de 180 escravos com referência explícita de sua ocupação, atingindo cerca de 53% do total. O silêncio sobre a ocupação de quase metade dos cativos pode estar indicando duas coisas diferentes. Muitos dos casos referem-se simplesmente a uma forma do inventariante, ou mesmo do escrivão responsável pelo processo, designarem mais sumariamente os termos do inventário. Nesse caso, escravos campeiros, roceiros, carpinteiros e outros podem estar diluídos naquele número de cativos sem ocupação declarada. Porém, em outros casos, a omissão pode significar que aquele escravo era empregado em um variado leque de funções, como o costeio do gado, a roça de alimentos, o trabalho em construções e outros. Em favor dessa idéia, está o fato de que a proporção de escravos com ocupações especificadas expressamente é maior nos estratos mais afortunados dos estancieiros, diminuindo conforme nos aproximamos dos criadores de menor vulto. É possível pensar que mesmo os senhores procurassem fazer com que os escravos, mesmo os pertencentes aos grandes estancieiros e mesmo aqueles dentre eles que tinham uma ocupação definida, desempenhassem acessoriamente também muitas outras atividades. Essa tentativa podia encontrar resistência entre escravos especializados, mas infelizmente não contamos com fontes próprias para debater este assunto aqui. De qualquer forma, cabe apontar que a construção de uma auto-imagem dos cativos tendo por base seus ofícios, 8

especialmente o de campeiro que era sumamente importante na realidade estudada, é um tema que pede urgentemente pesquisas mais específicas. Vejamos, então, como estavam divididos os escravos homens maiores de 10 anos de idade, 19 segundo esse quesito: CRIADORES TABELA 1 Escravos com Ocupações Declaradas Alegrete (1831-1850) Escravos Campeiros Escravos Roceiros Outros Ofícios Dois Ofícios 20 S/Ref Total Inventários 10.001 a 25.000 reses 18 2 24 4 40 88 4 2.001 a 10.000 49 19 26 --- 59 153 16 1.001 a 2.000 7 3 3 --- 15 28 12 501 a 1.000 7 8 7 --- 25 47 13 101 a 500 2 --- 1 --- 11 14 14 Até 100 reses --- --- --- --- 7 7 15 TOTAL 83 32 61 4 157 337 74 Fonte: Inventários post mortem. Alegrete. Cartório de Órfãos e Ausentes, maços 01 a 07. Cartório do Cível, maço 01. Arquivo Público do Rio Grande do Sul (APERGS). Tomando-se a comparação dos escravos roceiros com os campeiros, vemos que estes aparecem como maioria em quase todos os estratos, excetuando-se os criadores que possuíam entre 501 e 1.000 reses, onde os números estão equilibrados. 21 É possível saber que, dentro do grupo de 88 cativos para o qual não consta referência de ocupação, havia ao menos uma parte de trabalhadores que eram empregados na agricultura dentro das estâncias, porque todos aqueles inventários relacionam instrumentos agrícolas tais como foices, enxadas, machados e arados. Esse fato matiza a dominância dos escravos campeiros, mas não a invalida uma vez que, como já foi dito, é provável que os cativos sem ocupação declarada também fossem empregados em tarefas especificamente pecuárias, sem uma especialização mais pronunciada. Assim, tomando-se o conjunto dos grandes criadores, que possuíam acima de 2.000 reses, é possível perceber características comuns que nos informam sobre esses estancieiros e sobre o emprego dos escravos em suas unidades produtivas. Ali, os campeiros eram a maioria, demonstrando uma continuidade em relação ao padrão 19 Para o caso dos ofícios, tomamos em conta os homens com mais de 10 e não de 14 anos de idade porque, como já referimos, encontramos escravos com ofícios discriminados com 11, 12 e 13 anos de idade. Ver nota 22. 20 Tratavam-se de dois campeiros e roceiros, um campeiro e carpinteiro e um cozinheiro e pedreiro. 21 Cabe aqui uma ressalva quanto ao primeiro grupo, aquele dos estancieiros com mais de 10.000 reses. Desses quatro inventários, apenas dois trazem a ocupação de todos os seus escravos. Em um deles, os escravos roceiros correspondem aos dois elencados na coluna pertinente e no outro havia mais dois, inseridos na tabela naqueles que tinham Dois Ofícios (eram campeiros e roceiros ). 9

encontrado por Osório para o período colonial. Na verdade, esse padrão parece mesmo estar potencializado. Isso indica que as grandes estâncias da fronteira praticavam sim a agricultura, em geral para buscar garantir parte de sua reprodução e também poderiam vender seus excedentes nos mercados locais. Dos 20 inventários que se referem a elas, todos aqueles em que foram descritos bens móveis (19 casos) elencam instrumentos de trabalho agrícola. Porém, essa produção jamais alcançou a monta que teve, por exemplo, a cultura do trigo nas primeiras décadas do século XIX, nas regiões de mais antiga colonização do Rio Grande do Sul. Nem a produção de farinha de mandioca atingiu relevância similar à observada, no mesmo meado do Oitocentos, para as regiões ao norte do rio Ibicuí, como as freguesias de Itaqui e Santa Maria. 22 Isso explica que, apesar dos escravos roceiros terem existindo em quantidade não desprezível nas grandes estâncias de Alegrete, essa presença fosse muito menor que a de campeiros, com uma desvantagem ainda mais marcada do que aquela que existira algumas décadas antes nas regiões mais leste, de onde os colonos saíram para instalar-se na Fronteira. Há, porém, um elemento ainda não levantado neste debate. Os estancieiros não possuíam apenas escravos campeiros, roceiros e domésticos. A coluna Outros Ofícios, na tabela 4 dá conta de outro interessante número de ocupações. Se, nos estratos inferiores, esses cativos marcaram uma presença apenas eventual, o mesmo não se pode dizer daqueles pertencentes aos grandes estancieiros (+ 2.000 reses). Ali estavam escravos homens que poderiam ser enquadrados também como de serviço doméstico : eram 6 cozinheiros e 5 alfaiates. Mas aparecem, sobretudo, 11 pedreiros, 10 sapateiros e 9 carpinteiros. A grande maioria dos inventários com escravos cujos ofícios são declarados contemplava algum desses cativos. E veja-se que não se tratavam de especializações de pouca importância: esses trabalhadores, junto com os 3 ferreiros relacionados, costumavam valer bem mais do que os roceiros e tanto ou mais do que os escravos campeiros. O carpinteiro Mariano, o sapateiro Ângelo, o alfaiate Antônio e o pedreiro Caetano, por exemplo, valiam mais do que os campeiros de seu senhor, todos mais jovens do que eles. 23 Essa é uma regra cujos exemplos poderíamos multiplicar. Mas basta ressaltar que esses cativos apenas raramente valiam menos do que os campeiros e isso ocorria, em geral, quando a diferença de idade entre eles era muito 22 OSÓRIO, 1999. FARINATTI, 1999. FOLETTO, 2003. 23 Inventários post mortem. Raphael Pinto de Oliveira. Alegrete. Cartório de Órfãos e Ausentes, m.01, n.1, a. 1831, APERGS. 10

grande. Aqueles ofícios demandavam tempo de aprendizagem e exigiam habilidades específicas. Os oficiais de carpinteiro, pedreiro, sapateiro e ferreiro não estavam presentes todos juntos nas escravarias. O mais comum era haver um ou dois deles. Contudo, o fato de que raramente os grandes criadores deixavam de contar com algum deles, não obstante seu alto preço, indica que cumpriam um papel importante na reprodução das grandes estâncias e dá pistas sobre a racionalidade econômica de seus senhores. Da mesma forma que os roceiros, eles indicam que os seus senhores buscavam minimizar sua necessidade de recorrer ao mercado, garantindo ao menos um trabalhador em algum daqueles ofícios. As estâncias eram estabelecimentos que não contavam com construções muito complexas. Contudo, as casas de vivenda dos grandes estancieiros, descritas nos inventários trabalhados, eram sempre de pedra e cobertas de telhas, ainda que não fossem forradas nem assoalhadas. E contavam com mangueiras, currais e cercados para plantações, em geral também de pedra. Todos eles possuíam carretas, indispensáveis ao transporte de cargas nos campos da fronteira. Pedreiros e carpinteiros deviam ser empregados na construção e reparo desses bens. Além disso, os senhores poderiam usufruir dos jornais desses escravos em trabalhos para terceiros. 24 Escravos do Pastoreio Como vimos, em média, os campeiros eram maioria nas escravarias pertencentes aos grandes estancieiros e marcavam forte presença também nos estratos inferiores da hierarquia econômica dos criadores de gado. Além disso, vários dos cativos cuja ocupação não foi declarada, sobretudo os pertencentes àqueles que praticavam a pecuária em média e pequena escala, devem ter sido empregados no costeio do gado. Estes, muitas vezes, realizavam o pastoreio conjuntamente com outras atividades. Um levantamento realizado em 1858 têm sido comumente referido pelos pesquisadores que argumentam em favor da importância da escravidão nas regiões de predominância pecuária. 25 Nele, aponta-se que, em Alegrete, havia 391 estâncias onde 24 Pouco sabemos sobre os escravos sapateiros, existentes em número expressivo nas grandes estâncias. Contudo, podemos imaginar que, em um contexto onde o couro era uma matéria-prima acessível, onde o frio das geadas devia castigar os pés no inverno e onde havia tropas militares constantemente, a produção artesanal de botas e sapatos pudesse fazer bastante sentido. 25 Mapa numérico das estâncias existentes nos diferentes municípios da província, de que até agora se tem conhecimento oficial, com declaração dos animais que possuem, e criam por ano, e do número de 11

se empregavam 124 capatazes, 159 homens livres e 527 escravos. Se tomarmos os dados do Mappa Estatístico de População da Província, do mesmo ano de 1859, perceberemos que, em Alegrete, existiam 1.102 escravos homens entre 11 e 59 anos. 26 Ou seja, a estarem corretas as estatísticas, cerca de 48% dos escravos homens adultos do município eram empregados diretamente no costeio do gado, fossem ou não designados formalmente como campeiros. Esse número mostra o quanto o emprego de escravos na pecuária continuava sendo forte na região, mesmo quase uma década após o final do tráfico atlântico, em um período de rápida elevação dos preços dos cativos. Além disso, e o que interessa mais diretamente a este estudo, esse percentual coincide com os dados que estamos trabalhando para o período de 1831 a 1850 lembremos que, em nossa amostra, os campeiros perfazem 47% do total dos escravos com ocupação declarada. Os estudos surgidos sobre o universo agrário do Rio da Prata, entre 1750 e 1850, têm apontado no sentido da existência de um núcleo de mão-de-obra escrava, que garantia uma base de trabalhadores estáveis. Ao lado dele aparecia um variável e razoavelmente elástico contingente de trabalhadores livres, em geral peões assalariados. 27 Por outro lado, a historiografia mais recente começa a reconhecer que a produção pecuária se realizava no Rio Grande do Sul também a partir de uma imprecisa combinação de trabalho escravo e livre. 28 Em um artigo recente, sobre as relações de trabalho na pecuária das regiões de São Borja e Santa Maria, ao norte do rio Ibicuí, na década de 1850, chegamos à conclusão semelhante. Ali, foi possível explorar as listas nominativas de criadores de gado locais, enviadas pelas câmaras de vereadores daqueles municípios à presidência da província em 1858 documento do qual não dispomos para Alegrete. Naquelas listas, constam do nome do criador e o número de reses que possuía. Além disso, estão discriminados os escravos, peões livres e de mão-de-obra familiar que o pecuarista empregava diretamente no costeio da criação. Analisando esses dados, foi possível confirmar a presença dos escravos campeiros formando um núcleo de mão-deobra básico naquelas regiões. Eles formavam cerca de 40% dos trabalhadores tanto para os grandes quanto para os médios e pequenos criadores, deixando de ter essa pessoas empregadas no seu costeio. Estatísticas, m. 02, 1858. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRGS). Obras que referem esse documento: ZARTH, 2003. BELL, 1998. OSÓRIO, 1999. MAESTRI, 2002. 26 Escolhemos essa idade porque foi dentro delas que encontramos, nos inventários, escravos com designação de campeiros. Mapa Estatístico da População da Província classificada por díades, sexos, estados e condições, 1859. In: F.E.E. De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul, 1981. 27 GELMAN, 1998. GARAVAGLIA, 1999. 28 Ver nota 06. 12

importância apenas para aqueles que criavam menos de 100 animais. O restante da mãode-obra, que estava conjugada com o trabalho escravo, variava conforme a envergadura econômica do pecuarista. Para os grandes produtores, o trabalho de peões livres assumia grande relevância, sendo gradualmente ultrapassado pela mão-de-obra familiar no caso dos produtores menos afortunados. 29 As razões do emprego dessa mescla de relações de produção têm sido alvo de debates na historiografia. Entre outros motivos, vêm sendo levantadas razões como o fato dos peões livres serem caros e instáveis. 30 Não se podia contar com uma oferta regular de mão-de-obra livre em um contexto crônico de guerra, onde os recrutamentos eram recorrentes. Além disso, a fronteira agrária seguia aberta nas terras florestais da Depressão Central do Rio Grande do Sul, pelo menos até a década de 1850. Muitos daqueles que não se tornaram estancieiros, instalaram-se naqueles matos e passaram a praticar uma agricultura de alimentos autônoma. 31 Por outro lado, cobrir toda a necessidade de mão-de-obra com escravos exigia um grande desembolso inicial de capital, além de trazer uma perda de flexibilidade para adaptar-se às mudanças conjunturais causadas, por exemplo, por guerras e fenômenos naturais. 32 No caso desta comunicação, no entanto, os inventários post mortem não permitem maiores considerações acerca dos peões livres e do trabalho familiar que, muito provavelmente, estavam associados a esses escravos nas estâncias. Todavia, as constatações de que todos os medianos e grandes criadores possuíam escravos e boa parte dos pequenos também; e de que os escravos campeiros formavam a maior parte dos escravos com ocupação declarada nos inventários estudados, permitem argumentar em favor da hipótese de que, também na Campanha, entre 1831 e 1850, os escravos formavam um núcleo de mão-de-obra estável para a criação de gado dentro das estâncias. Esse núcleo podia ter dimensões variadas e é possível que, no mais das vezes, não cobrisse sozinho as necessidades de trabalho regular na pecuária. Ainda assim, sempre garantia pelo menos um mínimo de mão-deobra, à qual eram associados outros trabalhadores regulares. Além disso, as épocas de marcação e castração demandavam a incorporação temporária de um maior contingente de braços. 29 FARINATTI, 2003. 30 BELL, 1998. OSÓRIO, 1999. MAESTRI, 2002. ZARTH, 2003. 31 FARINATTI, 2003. 32 GELMAN, 1999. 13

Considerações Finais Os dados analisados demonstram claramente o relevante papel desempenhado pelo trabalho escravo na pecuária da fronteira meridional do Brasil, entre 1831 e 1870. Longe de ser eventual, a escravidão estava presente na imensa maioria dos estabelecimentos de criação de gado. Sua conexão com a reprodução dessas unidades e com a atividade pecuária em si, fica ainda mais nítida ao percebermos a íntima correspondência entre o vulto econômico dos produtores e a estrutura de suas escravarias no tocante ao número total de cativos, ao percentual de homens adultos e à presença de africanos. Os grandes estancieiros tinham escravarias maiores, com uma proporção majoritária de homens adultos e concentravam a maior parte dos africanos. Os produtores donos de rebanhos mais acanhados possuíam menos escravos e apresentavam uma maior presença de crioulos, de mulheres e de crianças. Um padrão comum a muitas outras regiões brasileiras, o que não deixa de ser interessante, em se tratando das estâncias de criação no Rio Grande do Sul do Oitocentos. Até bem pouco tempo, a região era vista como uma área onde as questões propostas em outras partes do Império, sobre o universo da escravidão, teriam pouco interesse. Por outro lado, os grandes estancieiros tinham escravarias onde os escravos campeiros eram os mais numerosos. A maioria dos estancieiros que foram estabelecerse na fronteira, na primeira metade do século XIX, buscou contar com escravos para propiciar um núcleo básico, que lhes garantisse ao menos parte dessa mão-de-obra. Ali também estavam escravos roceiros e, em menor quantidade, esses proprietários também contavam com outros escravos especializados, como pedreiros, carpinteiros e sapateiros. Os senhores organizavam-se para assegurar uma parcela da reprodução de suas estâncias sem precisar recorrer aos mercados e, de outra parte, sob conjunturas favoráveis, poderiam ampliar seus ingressos com a venda de excedentes agrícolas e com os jornais de seus escravos oficiais. O estudo dos escravos presentes nas estâncias é importante, ainda, porque é mais um elemento a demonstrar que os criadores de gado do Rio Grande do Sul no Oitocentos não podem continuar sendo tratados de forma monolítica, como se eles formassem um grupo perfeitamente homogêneo. Em outras palavras, a concentração dos escravos, especialmente os homens e africanos, indica a existência de uma profunda desigualdade não só entre estancieiros e peões, mas mesmo entre os próprios criadores de gado na fronteira meridional do Império. 14

Assim, não se pode confundir percentuais de população escrava mais baixos na Campanha riograndense do que nas áreas de plantation, com ausência de importância do trabalho escravo nas estâncias. Os estancieiros precisavam de trabalhadores cativos e a reprodução das relações escravistas não podia passar apenas pela vigilância e pela violência, ainda que estes elementos tivessem grande importância para ela. Como têm mostrado muitos trabalhos sobre diversas áreas do Brasil escravista, aquelas relações eram permeadas por uma negociação, ainda que desigual, engendrada no encontro das demandas próprias que os cativos articulavam e da estratégias diversificadas de domínio por parte de seus senhores. 33 Naturalmente, temos consciência de que mesmo os movimentos demográficos rapidamente explorados aqui não se deveram apenas às possibilidades dos senhores e às conjunturas do comércio de escravos. As lutas dos próprios cativos e os processos de interação entre os próprios escravos, entre eles e os homens livres, entre eles e seus senhores, certamente também tiveram uma parcela importante de participação na dinâmica mais geral. Todavia, aqui nos colocamos em posição de, ao menos, abrir o debate, ainda que assumindo o caráter muito parcial de nossas conclusões. Essas constatações abrem um leque de campos de pesquisa impossíveis de abordar no espaço desta comunicação, mas que exigem, ao menos, uma referência. Em um mundo de pecuária a campo aberto, em uma zona de fronteira política, atravessada sucessivamente por guerras, como se deu esse processo de negociação e conflito entre senhores e escravos? Como isso variou entre as grandes e pequenas escravarias? Em uma área com importante superioridade de escravos homens, quais as possibilidades e características da formação de famílias entre os cativos? 34 Ou, em outro sentido, quais eram circuitos comerciais que permitiam a reprodução do trabalho escravo na fronteira? Como se construíam as relações entre a mão-de-obra escrava e livre (assunto no qual concentramos nossas pesquisas atuais)? Enfim, temas que remetem ao embate entre as necessidades dos senhores e as lutas e a 33 Diversos são os trabalhos nesse sentido. Por exemplo: MATTOSO, 1982. REIS e SILVA, 1989. Ver também nota 42. Para o Rio Grande do Sul, ver: MOREIRA, 1998. 34 A historiografia recente tem destacado que a família cativa foi uma instituição amplamente difundida no Brasil escravista. Existem muitos trabalhos a respeito. Para citar apenas alguns, remetemos ao importante debate empreendido pelas seguintes obras: FLORENTINO e GÓES, 1997. MATTOS, 1998. SLENES, 1999. Como exemplo de uma abordagem demográfica ao problema, ver o estudo de José Flávio Motta: MOTTA, 1999. 15

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