Óleos da Amazônia. os cheiros da floresta em vidrinhos



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Transcrição:

Óleos da Amazônia os cheiros da floresta em vidrinhos Manejo comunitário de produtos florestais não-madeireiros e fortalecimento local no município de Silves - AM. Bárbara Schmal Erbertes Almeida Campos Márcio João Neves Batista Valda Roso da Silva Manaus-AM 2006

Esta cartilha é produto do trabalho realizado pelos técnicos e colaboradores da Avive no município de Silves, no Amazonas, apoiado pelo componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama. Responsável pelos inventários e mateiro Erbertes Almeida Campos Auxiliar de campo Márcio João Neves Batista Professora e colaboradora da Avive Valda Roso da Silva Coordenadora do subprojeto da Avive Bárbara Schmal Edição de texto, ProVárzea/Ibama Andréa Martini Email: dauakaro@yahoo.com.br. Projeto gráfico Alexandre Almeida Email: alexandre_cine@yahoo.com.br Capa e ilustrações Cirilo Quartim & Plinio Quartim Email: artecirilo@terra.com.br Cesar Baldeon Email: loquitotresestrelas@yahoo.com.br Para mais informações: Associação Vida Verde da Amazônia - Avive Rua Cizenando Grana, 622, CEP 69.110-000 Silves-AM, Tel + Fax: (92) 3528 2161 www.avive.org.br

Sumário Apresentação 5 Prá começo de conversa 6 Onde fica esse lugar chamado Silves? 7 A Associação Vida Verde da Amazônia 8 Por onde começar? 9 Associação ou Cooperativa? 10 Passo-a-passo 13 Primeiro passo: organização e confiança... Entra na roda! 11 Segundo passo: como escolher os futuros produtos/óleos? 12 Terceiro passo: organizar o calendário da floresta de sua comunidade 13 Quarto passo: como escolher os parceiros comunitários? 14 Quinto passo: um passo do tamanho das pernas 15 Sexto passo: manejo... Usar sem espatifar 16 Sétimo passo: regularização das terras 17 Oitavo passo: a produção artesanal de óleos vegetais aromáticos 19 Nono passo: como avaliar se um óleo é bom ou não? 21 Décimo passo: certificados de origem e de qualidade 22 Plantas usadas 24 Óleo de Andiroba 24 Óleo-resina de Copaíba 25 Óleo de Cumaru 26 Óleo Essencial de Breu 27 Óleo Essencial de Puxuri 27 Associação Vida Verde da Amazônia - Avive Cooperativa de Produtos Naturais da Amazônia - Copronat Referências bibliográficas 28 28

Apresentação Esta cartilha é fruto do trabalho da equipe do Projeto Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais da Região de Várzea em Silves, apoiado pelo componente Iniciativas Promissoras do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea ProVárzea/Ibama. O ProVárzea/Ibama faz parte do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil e seu objetivo é contribuir para que a várzea da calha do rio Solimões-Amazonas seja conservada mediante o uso sustentável dos seus recursos naturais. Para isso, trabalha em parceria com instituições governamentais e não-governamentais, organizações pesqueiras e comunitárias. Entre as ações do ProVárzea/Ibama está o apoio a projetos de manejo dos recursos naturais da várzea por meio do componente Iniciativas Promissoras. Com o apoio deste componente, novas formas de aproveitamento dos recursos naturais da várzea, que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e ambiental, vêm sendo desenvolvidas e testadas, promovendo assim a melhoria da qualidade de vida da população ribeirinha. Atualmente, o componente Iniciativas Promissoras apóia 19 subprojetos que desenvolvem o manejo do recurso pesqueiro, o manejo dos recursos florestais, a agropecuária e o fortalecimento institucional em 32 municípios dos estados do Pará e do Amazonas. O Projeto Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais da Região de Várzea em Silves, executado pela Associação Vida Verde da Amazônia (Avive), desenvolve junto com as mulheres associadas na Avive e os pequenos produtores agrícolas de 12 comunidades silvenses o uso sustentável da rica biodiversidade da região. Esse processo envolve o aproveitamento de galhos, folhas, sementes e resinas de plantas aromáticas e medicinais como a andiroba, a copaíba, o breu, o pau-rosa, o cumaru e o puxuri para a extração de óleos essenciais que serão a base para a produção de sabonetes, velas, incensos, cremes e sachês aromáticos que, com o apoio da Cooperativa de Produtos Naturais da Amazônia (Copronat), estão sendo comercializados para outros estados e países. Os resultados do projeto foram divulgados no país e no exterior, recebendo diversos prêmios como incentivo às ações de manejo dos recursos naturais. A presente cartilha pretende dar continuidade à divulgação deste trabalho, que tem se mostrado importante para os ribeirinhos da Amazônia. É uma demonstração de que a conservação dos recursos da Amazônia está também em tecnologias simples e eficientes. 5 Marcelo Derzi Vidal Gerente do Componente II - Iniciativas Promissoras

Pra começo de conversa Na Amazônia, como em outras partes do mundo, as pessoas querem viver bem e cada vez melhor. Na floresta, elas trabalham pesado para garantir seu alimento. Pescam, caçam, plantam, criam animais e fazem produtos para vender. O recurso financeiro chega com o comércio de camarão, açaí, farinha, banana, peixe e artes. É importante ter uma renda financeira para comprar roupa, tecido, remédio e as mercadorias básicas. Mas, serviço que gere renda (dinheiro) sempre foi difícil. Faltam oportunidades e uma primeira chance pois criatividade e vontade são características de caboclos e caboclas. Essa cartilha apresenta a experiência de um grupo de mulheres do município de Silves, no estado do Amazonas, que pensou diferente e serve de exemplo para todos. Elas produzem e comercializam os óleos vegetais aromáticos da floresta. E assim, fortalecem sua comunidade, conservam a natureza e ainda aumentam a renda familiar. Mas, para começo de conversa... Onde se localiza Silves? 6

Onde fica esse lugar chamado Silves? Para quem desce o rio Amazonas, o município de Silves se localiza na margem esquerda, distante cerca de 330 quilômetros de Manaus. Sua sede municipal fica na Ilha Saracá, banhada pelas águas dos lagos Saracá e Canaçari. Ali se reúnem as águas dos rios Urubu, Sanabani, Itapani e inúmeros igarapés. O nome Saracá se deve às formigas-de-fogo que moram nesta ilha. A vida no rio Amazonas é regida pelas cheias e vazantes, que variam até oito metros em Silves. No periodo de cheia, a água avança terra adentro e forma a várzea; região alagada de grande fertilidade. Onde não alaga é a terra firme. Lagos, várzea, ilhas e rios formam um delicado ambiente, rico em vida animal, vegetal e humana. A maioria dos moradores prefere viver próximo das águas, ou seja, na várzea, tamanha a riqueza de recursos disponíveis neste ambiente e a facilidade no transporte. Silves tem um passado aromático já foi importante produtor do óleo essencial de pau-rosa, hoje escasso no município. Mapa do Município de Silves 7 LEGENDA Sede Municipal Limite Municipal Hidrografia Manaus, maio 2006 Fonte: IBGE 2002 Elaboração SIG/ProVárzea Localização

A Associação Vida Verde da Amazônia Em Silves, a Associação Vida Verde da Amazônia (Avive) reúne mulheres de várias idades e conhecimentos. Essa união partiu de mulheres interessadas em relembrar seus conhecimentos sobre plantas medicinais regionais. Para trazer a memória de volta organizaram um curso. Durante o curso, notaram que o conhecimento da medicina da floresta estava sendo desprezado e perdido. Restava a sabedoria de poucos: parteiras, rezadores, benzedeiros e curandeiros. Para fortalecer esse conhecimento, elas resolveram se unir mais. E formaram a Avive. Em 2000, a Avive firma uma parceria com o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (WWF) que deu suporte para realização de cursos, treinamentos e a primeira produção de sabonetes, velas e óleos. Entre 2002 e 2005, nova parceria técnico-financeira foi firmada, agora com o ProVárzea/Ibama, por meio do Projeto Comunitário de Produção Sustentável de Óleos Essenciais da Região de Várzea em Silves AM. A experiência destas guerreiras tem recebido atenção mundial. Elas demonstram que é possível viver bem usando a natureza com sabedoria. 8 Óleo essencial: o valor da floresta em pé e não derrubada A floresta é riquíssima. Nela tem alimento, remédio, sabonete, combustível. Mas, a pessoa precisa conhecer e saber retirar. Quando um mateiro quer saber mais sobre uma árvore, cipó ou matinho, ele pega um pedaço de sua casca, folha ou semente, esmaga e... cheira! Ele pode até colocar na boca para sentir o gosto, mas primeiro cheira. E aquele cheiro que ele sente é o óleo essencial desta planta. As plantas fabricam estes óleos para garantir sua sobrevivência na floresta. Por um lado elas querem atrair insetos. Uma flor cheirosa não atrai abelhas e outros insetos? Pois é. Mas, tem planta que ninguém chega perto porque fede. Com aquele pitiu ou pixé ninguém se aproxima para levar um pedaço dela; nem bicho nem gente. Esta é a proteção da planta. O cheiro das plantas, seu óleo essencial, é retirado e usado no mundo inteiro pelos fabricantes de cosméticos e perfumes. Para os compradores é importante que a produção tenha sua origem, local e forma de produção organizada e controlada. Para todos os demais, é importante que a floresta continue em pé trazendo recursos para suas comunidades e bem-estar para a humanidade.

Por onde começar? Como foi dito, para estabelecer suas atividades na produção de óleos e produtos afins, a Avive contou com um apoio inicial do WWF/Brasil. Em 2002, já em parceria com o ProVárzea/Ibama, foram elaborados um Plano de Negócios e um Estudo de Viabilidade para a cooperativa de produtos naturais recém-criada, a Copronat. O Plano de Negócios demonstra como tudo deve funcionar, desde o início do empreendimento até seu pleno andamento. Isso envolve a organização, a administração, os processos de produção, comercialização e distribuição de renda. O Estudo de Viabilidade observa se haverá renda para cada membro da cooperativa e lucro na produção e comercialização. Ou seja, se o negócio tem chance de vingar. É sempre útil apresentar junto com seu projeto, um Plano de Negócios e um Estudo de Viabilidade. Assim, um futuro investidor avalia o risco de apoiar financeiramente o seu empreendimento. Para montar e apresentar um projeto para o possível doador/ investidor, seja este uma empresa privada, uma instituição pública ou organização não governamental (ONG), qualquer pessoa jurídica pode solicitar ajuda. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do seu estado, as Universidades e outras instituições oferecem consultores especializados gratuitamente. Também existem livros que ensinam o passo-a-passo da elaboração de projetos. Depois de pronto é só enviar para os possíveis parceiros e esperar a resposta. Nem sempre um projeto é aprovado rapidamente. É preciso ter paciência e ser positivo para não desistir pois não é fácil. São dezenas, centenas de organizações e só algumas são escolhidas. As mulheres da Avive já ouviram muitos não. Mas nunca desistiram. Até que deu certo. 9

10 Associação ou Cooperativa? As Associações no Brasil podem produzir, mas, não podem remunerar as sócias e os sócios. Para remunerá-los, a Avive optou pelo sistema cooperativo. No ano 2003, fundaram a Copronat onde mulheres e homens produzem e comercializam os produtos naturais da marca Avive. Noventa por cento das cooperadas são também sócias da Avive, mas com atribuições distintas: na Avive trabalham de forma voluntária na Copronat recebem pelo que produzem. É bom contar, de início, com uma pessoa ou consultoria especializada no assunto para garantir o futuro do empreendimento. Para começar, o pessoal de Silves fez vários estudos sobre os produtores, as famílias e os recursos da floresta. Hoje, elas administram o próprio empreendimento, extraem óleos vegetais aromáticos de forma artesanal e ainda vendem sua própria produção. Mas, para chegar até esse ponto vários cursos e treinamentos foram necessários, como os cursos de Associativismo/ Cooperativismo, Produção de Óleos Vegetais, Identificação Botânica, Inventários, Coleta de Sementes, Boas Práticas de Fabricação, dentre outros. Ao longo de seis anos, todos estes cursos elevaram a confiança das mulheres tornando-as capazes e determinadas na produção e no comércio.

Passo-a-passo Nesse passo-a-passo, vamos tentar resumir num roteiro todas as atividades necessárias para firmar um trabalho como esse da Avive. Primeiro passo: organização e confiança... Entra na roda! Desde sempre os povos sentaram em volta de uma fogueira para conversar e tomar decisões de alta importância. As mulheres da Avive também trabalham e decidem tudo em conjunto. A pessoa, conforme seu talento, executa o serviço que lhe agrada ou convém. No caso da Avive, as funções e o número de pessoas envolvidas nas atividades mudam a cada ano e atendem às necessidades da associação, da cooperativa e das sóciascooperadas. Todo o serviço deve ser organizado. Organizar é um jeito de dividir o serviço, de modo que todos trabalhem em conjunto e com capricho. Confiança, bom entendimento e responsabilidade entre todos os envolvidos são necessários. Além disso, precisa de comunicação, que é a capacidade de saber falar e ouvir; de trocar idéias e repassar conhecimentos. 11

Mulheres e homens - Lição de Companheirismo De primeiro, muitos homens não gostavam de ver as mulheres trabalhando sozinhas ou com as amigas na Avive, enquanto eles ficavam em casa cuidando das crianças e da comida. Eles se sentiam excluídos e achavam que lugar de mulher é em casa, junto ao marido e aos filhos. Algumas até apanharam de marido bêbado e com raiva. Mas com a união e o tempo, as mulheres se fortaleceram; dentro e fora de casa. Sete anos se passaram após o primeiro curso sobre plantas. Hoje, maridos, filhos e netos também são envolvidos nas atividades da Avive e Copronat. Eles passaram a respeitar a persistência e a serenidade com que elas desenvolvem seu trabalho, dando conta da casa, da família e dos negócios. É tanta admiração que hoje os maridos as acompanham, tornando-se verdadeiros companheiros. Segundo passo: como escolher os futuros produtos/óleos? 12 O segundo passo começa com a identificação das plantas aromáticas e/ou medicinais na região. Como? Através de entrevistas e conversas com os proprietários de terras e agricultores. Depois, devem ser feitos Inventários Florestais reunindo os interessados. Durante o inventário, um grupo de moradores e mateiros experientes conta e anota o número e os tipos (espécies) de árvores e plantas que servem para produzir o óleo vegetal. Com ajuda do sistema de posicionamento global (GPS), um tipo de bússola orientada pelos satélites, essa equipe desenha as árvores num mapa. Descrevem a posição, o tamanho, a grossura e o uso de cada árvore, madeira ou planta, seja velha, jovem ou adulta. As pessoas idosas são muito importantes neste processo, pois, sabem o nome, a forma e o segredo de preparação de cada recurso florestal. IMPORTANTE: Para garantir a sustentabilidade da proposta, ou seja, garantir que a proposta vingue e traga melhorias sem estragar a floresta, é necessário observar três pontos: 1. Se há recursos disponíveis na floresta (inventário); 2. Se há pessoas interessadas; 3. Se há condições mínimas de trabalho, como algum conhecimento anterior, interesse em aprender e ganhar uma renda extra, vontade própria e coletiva. Um Levantamento Socioeconômico serve para avaliar estes três pontos, começando com as conversas e o inventário florestal como foi dito. Esse levantamento é feito com os moradores e comunidades que desejam participar.

13 Terceiro passo: organizar o calendário da floresta de sua comunidade Os produtos da floresta têm um calendário próprio. O comércio dos produtos amazônicos deve respeitar o tempo de cada recurso, o tipo de trabalho e de trabalhador (a). Como diz a moda: - Tudo tem seu tempo. A Avive elaborou um calendário de produção onde os produtores anotam, mês a mês, quais plantas serão utilizadas na produção de óleos, quais plantas estão florindo ou têm frutos e sementes, para saber ao certo quando é a época de floração, coleta e produção. Não é bom trabalhar com uma só planta: o ganho é pouco, já que há somente uma safra por ano. Trabalhar com várias plantas significa renda extra em vários meses do ano o que é bem melhor. Cada família escolhe, com base nos estudos anteriores, com quais recursos vai querer trabalhar, de acordo com o próprio interesse e capacidade local.

Quarto passo: como escolher os parceiros comunitários? É importante manter um cadastro das famílias, coletores e produtores desde o início. Este acompanhamento é útil para comparar a produção e a renda. Permite observar se houve crescimento mensal e anual ou não. A Avive/Copronat trabalha atualmente com famílias de 12 comunidades à beira dos rios Urubu, Amazonas e Sanabani. Estas famílias vivem na várzea e na terra firme. De início, não havia muito interesse. Foram visitadas 15 comunidades e apenas três engrenaram. Mais tarde, outras viram que o negócio dava certo e foram se chegando. Como disse uma sócia: esse nosso trabalho é exemplo pra muita gente que destrói a natureza. No início é lento e difícil. Cada pessoa tem seu ritmo para se juntar ao grupo e acreditar que vai dar certo, tirar suas dúvidas e inseguranças. Por isso é preciso paciência e nenhuma pressa. Com o tempo, através de conversas e cursos, as pessoas se põem à vontade para participar. Os cursos despertam os interesses. Demonstram que sementes, folhas e resinas têm seu valor medicinal e comercial. Até a floresta agradece, pois, param de derrubála. Em Silves, as sementes de cumaru e de andiroba apodreciam embaixo das árvores. Hoje a maioria sabe dar valor. 14 Coopronat ProVárzea Ibama Avive

Quinto passo: um passo do tamanho das pernas Para ter vitória é preciso avaliar o tamanho de cada passo. O tamanho da produção, por exemplo, só pode ser avaliado em conjunto: diretoria, produtores parceiros, sócios, cooperados e compradores (consumidores). Assim, os compradores podem confiar na boa qualidade do produto. A produção pequena afina o negócio, ainda mais quando envolve várias famílias e parceiros. No início, o ganho é pouco e não dá para pagar todos os serviços necessários. Para evitar isso, é importante manter um capital de giro; um dinheiro reservado em cada venda para pagar os gastos da produção e os produtores. Sem capital de giro, as cooperativas e empresas não conseguem se sustentar. Quem pretende começar um serviço parecido deve resguardar um capital de giro. Os custos são altos e mensais. Até começar a receber um salário pode levar mais de dois anos. Se não temos recursos para começar ou garantir o serviço há necessidade de contar com apoio financeiro de parceiros ou linhas de crédito. Para não dar questão, em Silves, as produtoras e produtores parceiros preferem receber na hora em que entregam o produto, seja semente, óleo, galho, casca ou resina. Já as cooperadas e cooperados recebem sua parte nas vendas após o cliente pagar. Quando o capital de giro (dinheiro em caixa) é escasso, o pagamento antecipado é necessário. Por isso a cooperativa exige dos compradores que paguem a mercadoria antes de recebê-la. 15

Sexto passo: manejo é usar sem espatifar 16 Manejo é o jeito correto de usar os recursos da floresta. Sem que existam problemas, para os produtores ou para a natureza. Algum tempo atrás era comum que os moradores derrubassem as árvores para vender a madeira e só. Hoje, com a produção dos óleos a partir das podas, galhos, sementes, não é mais preciso vender a madeira para obter renda. A semente do puxuri, por exemplo, é ralada para fazer o sachê ou pode ser vendida inteira. As folhas amarelas que caem dos galhos são recolhidas em redes especiais estendidas embaixo da árvore. Não precisa nem se abaixar para juntar. E é das folhas que se faz o óleo de puxuri. Isso é o manejo: usar com sabedoria e respeito. Também faz parte do manejo os inventários, que identificam quantas e quais plantas existem em nossas áreas, e o Plano de Bom Uso, que identifica quais plantas serão utilizadas, de que forma e em que época. O Plano de Bom Uso é então discutido em reuniões organizadas pela Comissão do Plano de Uso, e, se aprovado é assinado por todos os envolvidos no manejo. A Comissão também fiscaliza as regras. Tem até advertência e penalidade para quem não cumpre. Em Silves, sócias, cooperados, produtores e coletores foram convidados para elaborar esse plano juntamente com a Avive.

O Plano de Manejo deve ser feito com acompanhamento técnico: mateiros e engenheiro florestal; O Plano de Bom Uso deve ser entregue ao Ibama e ao órgão estadual de meio ambiente, que no Amazonas é a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SDS, como parte do Plano de Manejo, juntamente com os inventários; Para dar entrada com o Plano de Manejo no órgão estadual de meio ambiente são necessários o cadastro dos produtores e a comprovação de posse ou propriedade da área a ser manejada de cada família e proprietário/a; É necessário que a organização de produtores(as) solicite ao Ibama a autorização para coleta e transporte de material vegetal (sementes, folhas, galhos, resinas, bálsamos e outros). Estas informações podem ser obtidas junto ao Ibama. Sétimo passo: regularização das terras Para comercializar óleos como fazem a Avive/Copronat são necessários documentos que comprovem que a terra pertence aos produtores ou associações envolvidas. O processo de regularização fundiária investiga quem são os donos de uma terra e fornece a autorização necessária para ocupar terras federais ou estaduais. Esta autorização de uso é básica para encaminhar um Plano de Manejo ao órgão responsável (Ibama). Mesmo assim, em Silves, há pessoas que são donas de terras de várzea, com autorização da Prefeitura Municipal, onde criam gado, búfalo, cuidam de roças. Confuso não é? Por serem terras da União, o responsável pela regularização fundiária da várzea é o Governo Federal através de um órgão chamado Gerência Regional de Patrimônio da União (GRPU), nas capitais dos estados. Esse órgão tem competência e obrigação em acompanhar todo o processo. Em Silves, a regularização das terras está sendo realizada através do órgão estadual responsável pela regulamentação das terras do estado que estuda a cadeia dominial da terra, ou seja, todas as pessoas que compraram e venderam as terras durante o tempo em que ela está ocupada. Isso gasta tempo e dinheiro, mas, é uma obrigação do Estado. Para facilitar, é bom que os produtores estejam com seus documentos pessoais em dia, como Batistério (Certidão de Nascimento), Cadastro Nacional de Pessoa Física (CPF) e Registro Geral (RG). Se tiver título de posse, documento de herança, recibo de compra e venda da terra também facilita para obtenção da Cessão Real de Uso. 17

Na Amazônia, como em muitas regiões do Brasil, uma terra pode ter vários donos cada um deles acreditando que aquela propriedade lhe pertence. Aí começa a briga. Alguns têm cadastro no Incra, outros têm cadastro municipal ou cadastro no órgão estadual de meio ambiente e até mesmo documentos centenários de antigos proprietários. O cadastro do Incra, por exemplo, não tem valor legal como título de propriedade ou posse, serve apenas para documentar a ocupação da terra. Como resolver? Primeiro é necessário procurar o setor de terras de seu município e verificar se as suas terras pretendidas estão na área que pertence ao município. Se a terra é fora do município procure o setor de terras do seu estado. Solicite a regularização fundiária e uma vistoria. Isto tem custo, pois nada é de graça neste nosso mundo. Mas vale a pena investir em sua propriedade, pois sem regularizar a terra não é possível fazer o Plano de Manejo. Muitos não sabem o que diz a Lei: o que pode ou não ser feito na várzea. Mas, sempre é tempo de aprender. O jeito é conversar com os amigos, os órgãos responsáveis, estudar e pesquisar. 18

Oitavo passo: a produção artesanal de óleos vegetais aromáticos Na Avive são utilizados vários processos produtivos: Destilação para obter óleos essenciais do Puxuri e Breu; Prensagem para obter o óleo gorduroso de Cumaru; Extração com trado do bálsamo de Copaíba; Cozido das sementes de Andiroba para produzir o óleo. Como fazer? A primeira coisa é entender as diferenças entre um óleo fixo e um óleo essencial. Óleo fixo, gorduroso ou graxo é aquele retirado das sementes de vegetais, como do babaçu, andiroba, cumaru, buriti ou tucumã. Normalmente, este óleo possui um cheiro característico, parecido com óleo de soja, que também é um óleo fixo, que usamos pra fritar comida. Já os óleos essenciais possuem um aroma diferente, bem mais forte. Os óleos essenciais podem ser extraídos de várias partes das plantas: madeira, raízes, sementes, flores, folhas, galhos, resina, cascas. Têm aroma agradável, evaporam facilmente e são utilizados em perfumes e sabonetes. Para obter os óleos fixos normalmente só se precisa trabalhar nas sementes. Espremendo, fervendo e depois deixando descansar. Já para extrair o óleo essencial é preciso um equipamento, um aparelho chamado destilador, que irá fazer a destilação do óleo. De início, as mulheres da Avive não conheciam o processo de destilação nem conheciam esta palavra. Mas um professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) veio para Silves e treinou o pessoal que se interessou. Com esta capacitação todos ganharam segurança. Nos últimos tempos, a criatividade e a vontade de conhecer é tanta que o pessoal destila tudo que tem cheiro na floresta. 19

Destilação 20 Destilação é a utilização de calor para separar substâncias mais leves de outras mais pesadas. Os óleos essenciais são bem leves e facilmente separados de outros constituintes da planta através da destilação. O destilador funciona como uma panela de pressão só que tem uma saída pra recolher o vapor do outro lado. Quando esse vapor esfria e se torna líquido de novo, escorre por um tubo para dentro de uma garrafa de vidro. Como a água e o óleo não se misturam, eles podem ser facilmente separados. Dependendo da planta destilada, o óleo essencial fica no fundo ou boiando sobre uma água cheirosa. O óleo e a água cheirosa são separados com cuidado e guardados em frascos diferentes, de cor escura (âmbar) para não prejudicar a qualidade. O óleo destilado é chamado óleo essencial. Em um destilador pequeno cabem 5 kg de folhas de puxuri. Podem ser feitas até quatro destilações por dia, rendendo um total de 120 mililitros de óleo essencial. Assim, cada planta tem seu rendimento - umas rendem mais óleo, outras bem pouco. Expressão a frio A expressão a frio é um método bastante utilizado para a separação de substâncias das plantas, sendo utilizado principalmente para a separação do óleo fixo das sementes. As sementes de cumaru, por exemplo, secas e picadas são socadas no tipiti (cesta), para extrair o óleo gorduroso chamado óleo fixo ou graxo. Já o óleo de andiroba é feito pelas mulheres de forma tradicional: cozinhando as sementes e depois colocando a massa em repouso na sombra para sair o óleo.

Nono passo: como avaliar se um óleo é bom ou não? Quando o assunto é óleo medicinal, se vende muito gato por lebre. Os óleos de copaíba e de andiroba, por exemplo, muitas vezes são misturados com óleo de cozinha para aumentar o ganho. Isso faz mal para o negócio e, principalmente, para a saúde. A equipe da Avive/Copronat aprendeu a fazer testes químicos para verificar se um óleo é de boa qualidade ou não. Se o óleo tem qualidade, dados como rendimento, cor e cheiro do óleo, produtor e local da coleta são registrados. Então, uma amostra é levada para o laboratório químico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) onde sua qualidade é analisada. As mulheres da Avive também fizeram um curso chamado: Boas Práticas de Fabricação. Neste curso, elas aprenderam a trabalhar na casa de produção - onde são fabricados sabonetes, velas e embalados os óleos. Aprenderam ainda a melhorar a higiene, por meio do uso obrigatório de luvas, avental, bota e touca. Estas regras são estabelecidas e fiscalizadas pelo Ministério da Saúde por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Epidemiológica (Anvisa). Para receber este tipo de orientação, não é tão complicado. A Anvisa tem filial em todas as capitais brasileiras. Ao final do treinamento que não é somente para mulheres, homens também podem e devem fazê-lo é elaborado pelo grupo um Manual de Boas Práticas de Fabricação. 21

Décimo passo: produção legal e certificados de origem e de qualidade 22 Se sua comunidade escolhe produzir e vender óleos como insumo ou matéria-prima para alguma indústria, basta uma autorização do Ministério da Agricultura. Mas, a partir do momento que estes óleos são utilizados na fabricação de produtos como sabonete, vela ou quando são envasados - colocados em vidrinhos pequenos com etiquetas e vendidos assim - deixam de ser um produto agrícola, tornando-se um produto cosmético. E então, para uma produção legal, bem como para poder vender para fora do Brasil, precisam de autorização da Anvisa, através de um certificado fito-sanitário e do alvará de funcionamento emitido pela prefeitura de sua cidade. A maior dificuldade é atender a todas as regras. Pela lei, os óleos aromáticos e produtos derivados não podem ser produzidos, armazenados, embalados ou vendidos num mesmo lugar. Para atender a tais critérios, a Avive dispõem de uma casa de produção, escritório administrativo e loja para comercilização em locais separados. Outro documento importante é um cadastro dos produtores, com nome, idade, local de produção, número de famílias envolvidas, quantidade e qualidade de cada produto oferecido. Posteriormente, serão necessários também os certificados que podem ser trabalhados em conjunto pela Associação, Cooperativa e por uma Empresa Certificadora contratada. Para ajudar, a Avive criou um Conselho Deliberativo de Produção, formado por um grupo de produtores que entende bem do assunto. Seu papel é pesquisar, dar conselhos e acompanhar toda essa produção. A certificação vale como um selo verde que mostra ao cliente interessado a transparência de suas ações junto à floresta e seu povo. São documentos feitos por instituições certificadoras que garantem o uso responsável e a qualidade do produto da floresta. Para iniciar o processo de certificação é necessário que a comunidade produtora esteja organizada, cadastrada nos devidos órgãos públicos, que tenha seu plano de manejo aprovado, planos de bom uso... Enfim, tudo que já recomendamos antes.

A Ciência de Dona Nenê Algumas mulheres e homens têm conhecimentos preciosos sobre a floresta. São informações sobre plantas usadas como corante, condimento, proteção solar, alimento, remédio, fibras para fazer cordas e cestas, dentre outros usos. Estes conhecimentos são muitas vezes passados de pais para filhos e aprimorados com o tempo e a experiência de cada um, por isso são chamados de conhecimentos tradicionais. Nelcia Rodrigues de Brito, mais conhecida como Dona Nenê, ensinou para as mulheres da Avive, a forma correta para retirar o óleo da semente do cumaru. Isso lhe garante algum retorno financeiro. Por tratar-se de uma tecnologia, ou seja, um jeito apropriado de retirar esse óleo, a Avive e a Copronat registraram o conhecimento dela. De cada litro de óleo comercializado, Dona Nenê tem direito a um quinto do valor de venda. 25 23

Plantas usadas Atualmente, a Avive trabalha com óleo de Cumaru, de Andiroba, óleo-resina de Copaíba, óleos essenciais de Breu e Puxuri. Óleo de Andiroba 24 Carapa guianensis Família: Meliaceae Distribuição: América do Sul, América Central, Ilhas do Caribe, África Central e Oeste. O óleo de Andiroba, usado e comercializado em toda a Amazônia tem muitas utilidades. Esse óleo feito das sementes é um repelente poderoso. É reconhecido também para inchaços no corpo, reumatismo e artrite. O óleo de Andiroba é feito pelas mulheres de forma tradicional: cozinhando as sementes e depois colocando a massa em repouso na sombra para sair o óleo. A árvore pode crescer até 30 metros e tem uma madeira de alta qualidade, sua casca é medicinal. Gosta da terra firme, mas, também dá na várzea ou no igapó. As sementes são apreciadas pelo porco-domato. Tem flores muito cheirosas.

Óleo-resina de Copaíba Copaifera spp. Família: Caesalpinaceae Distribuição: Vive nas florestas tropicais do Brasil, Colômbia, Venezuela e Peru. Serve para doenças dos pulmões e inflamações. A árvore pode alcançar 30 metros ou mais. Muitos animais da mata, como as araras, os tucanos, os macacos, os porcos-do-mato, os queixadas e os veados, alimentam-se de seus frutos. Era comum, para retirar o óleo, derrubar a árvore ou abrir o tronco com machado, o que estraga a árvore e a machuca. Às vezes, nem produz mais óleo. Hoje, os comunitários furam o tronco com o trado, ferramenta que parece com um grande parafuso e não estraga tanto. Uma vez feito o buraco, o óleo sai pronto da árvore; de quatro a cinco litros numa árvore adulta ou madura. Depois se tampa bem o buraco e deixa a árvore descansar por no mínimo três anos e até mais. Os pesquisadores ainda estão estudando quanto tempo realmente a copaibeira precisa para se recuperar da furada 25

Óleo de Cumaru Dipteryx odorata Subfamília: Papilionoideae Distribuição: Vive na América Central e norte da América do Sul O óleo de Cumaru pode ser usado como perfume em dose bem pequena (uma gota!) sobre a pele. Misturado em óleos neutros retira manchas escuras da pele e mãos. No uso externo, aplicado sobre a pele, ajuda na circulação do sangue, previne as varizes, aquelas veias que estouram nas pernas. Serve também para dor de ouvido. A árvore chamada cumaruzeiro alcança 30 metros e sua madeira é apreciada pela marcenaria e na feitura de navios e barcos. Das suas favas, de cor preta retira-se a substância cumarina que serve na indústria de produtos de beleza, para fazer creme, perfume e xampu, por exemplo. O pessoal da Avive só apanha as sementes que já estão no chão. As sementes secas são socadas no tipiti, uma espécie de cesta, para extrair o óleo fixo. E ainda produzem mudas das sementes que recolhem. 26 Óleo Essencial de Puxuri Licaria puchury major Família: Lauraceae Distribuição: Região do médio e baixo Amazonas O puxurizeiro é uma árvore de tamanho médio, que prefere a várzea dos rios Solimões-Amazonas e Madeira. Suas sementes cheirosas são vendidas ou exportadas para fora do Brasil desde 1600. O chá das folhas e sementes é bom para comida que faz mal e problemas no estômago. O óleo de Puxuri tem uma substância tóxica chamada safrol. Não pode ser usado puro sobre a pele, apenas misturado; uma gota para 50 mililitros de óleo neutro. Não deve ser utilizado em crianças, mulheres grávidas e pessoas idosas. Pode ser chamado também de pixurim e puchury.

Óleo Essencial de Breu Protium spp. Família: Burseraceae Distribuição: Vive em toda a Amazônia e em todo o Brasil O óleo de Breu é indicado para doenças e infecções no pulmão, nariz e garganta, as chamadas infecções das vias respiratórias. Na Amazônia, a resina é usada para calafetar os barcos (fechar as emendas entre as tábuas) e produzir verniz. A madeira da árvore serve para marcenaria e construção civil, de pontes e prédios, por ser resistente. A árvore chamada breieiro produz essa resina para se defender dos insetos que botam ovos em sua casca. A família dos breus possui mais de 800 espécies ou qualidades. A espécie utilizada pela Avive é conhecida como breu branco, almecegueira, elemi ou mesmo, breuzinho. 27

28 Associação Vida Verde da Amazônia - Avive A Associação Vida Verde da Amazônia - Avive, fundada em 1999 na cidade de Silves- AM, é uma entidade não governamental, sem fins lucrativos. Tem como missão a defesa, preservação e recuperação do meio ambiente, dos bens e valores culturais, em busca da melhoria da qualidade de vida humana, com especial atenção para as mulheres, no âmbito do bioma Floresta Amazônica. O projeto que as mulheres da Avive estão realizando pesquisa e aprimora técnicas e métodos de exploração sustentável de espécies nativas aromáticas e medicinais, bem como desenvolve atividades de educação ambiental e capacitação técnica. Cooperativa de Produtos Naturais da Amazônia - Copronat Através da - Copronat, fundada em 2003, as mulheres produzem e comercializam produtos naturais, tais como sabonetes, velas, aromáticas e repelentes, incensos, águas aromáticas, e artesanatos para aumentar sua renda e melhorar sua vida e a de seus familiares. Referências bibliográficas Associação Vida Verde da Amazônia (Avive). 2005. Óleos Vegetais da Amazônia. Silves/ Manaus: Avive (folheto). KLEIN, Estanislau Paulo. As Plantas na Saúde: saúde na floresta. Rio Branco: Centro de Trabalhadores da Amazônia/CTA, 68 p. SMITH, Mayra & VIDALENC, Daniela. 1996. Etnobotânica dos Seringueiros da Reserva Extrativista do Alto Juruá. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo (USP), pp. 1-54, mimeo.