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Transcrição:

COLEÇÃO A NATUREZA EM FORMAS ORGÂNICAS Gabriela Braudes 1 Ana Paula Vilela 2 RESUMO Descreve-se processos de conceituação, projeção de coleção de moda e construção de peça de vestuário voltada para a comunicação de ideias e formas do movimento artístico Art Nouveau, especificamente de elementos da natureza. O principal objetivo foca-se na representação da natureza e na criação de textos não verbais, inserindo a moda como instrumento e divulgação de um período histórico-cultural. Foi usada uma metodologia de suporte voltada para o desenvolvimento de produtos no âmbito do design, abrangendo estudo da problemática, experimentação, avaliação e geração de alternativas por meio da construção de protótipo e execução da peça. Após a definição dos conceitos temáticos a serem transmitidos, foram realizados estudos de elementos como cores, tecidos, aviamentos, efeitos de superfície e posterior concepção de peças organizados em blocos. Deste modo, os produtos concebidos foram agrupados em blocos: O primeiro bloco folhas apresenta as diferentes texturas das folhas e o uso de tecidos como crepe, seda, além de bordados. O segundo bloco "flores" representa feminilidade e delicadeza por meio do uso de tecidos como seda e cetim, que transmitem a sensação de leveza que as flores emitem. Já o terceiro bloco "libélula" tem grande representação no Art Nouveau. A libélula aparece em diferentes detalhes ao longo do bloco. A coleção resultou de um projeto de design cuja relação entre consumidor e produto se deu por meio de suas funções prática, estética e simbólica. Palavras-chave: Design; Art Nouveau; Moda; Natureza. INTRODUÇÃO Podemos representar, a partir da moda, ideias e conceitos de uma determinada temática, transmitindo sensações e sentimentos de acordo com os signos visuais representados (MIRANDA, 2005). Sob essa perspectiva, buscou-se por este trabalho mostrar produtos de moda do vestuário feminino, que buscam transmitir a ideia do Art Nouveau e suas características. O Art Nouveau foi um movimento artístico que representou certo exagero e 1 Gabriela Braudes <gabibraudes@hotmail.com> - Discente do curso de Design de Moda da Universidade Salgado de Oliveira Campus Goiânia. 2 Ana Paula Vilela <apvil@hotmail.com> Docente do curso de Design de Moda da Universidade Salgado de Oliveira Campus Goiânia.

originalidade. Por isso, suas características são tão perceptíveis. Dentre elas, percebemos as linhas orgânicas, naturalidade, fluidez, representação da natureza e valorização da mulher, que são as mais utilizadas para representar essa arte (SCHMUTZLER, 1978). Com a expansão da moda, os trajes passaram a ganhar cada vez mais importância, seja para expressar uma ideia ou para fazer uma crítica à sociedade, principalmente com o aparecimento dos movimentos artísticos, resultantes de revoltas contra as regras artísticas. De acordo com Costa (2009), o Art Nouveau que sugeria a quebra das tradições que ainda ocorriam na arte e na arquitetura, promovendo a assimetria e as formas da natureza - surgiu no final do século XIX e propunha algumas reformas nos trajes femininos. A moda sempre andou em paralelo com a história e, desde seu aparecimento, traz em si um conceito estratificado. Deste modo, foi por meio da busca em acontecimentos passados, que surgiu a ideia inicial desse trabalho. Trazer do passado inspirações que possam nos fazer ter criatividade para criar algo novo. Além disso, o vestuário é considerado uma forma de expressão, já que ambos, arte e moda, o utilizam como suporte. Dessa maneira, pode-se analisar algumas das vezes em que o vestir foi peça importante nas expressões artísticas (SOUZA,1996). Podemos nos utilizar da moda para fazer representações de inspirações, conceitos e temas que desejamos abordar em determinada cultura e público. E foi utilizando dos recursos que a moda nos dá, que transmitimos as ideias para o trabalho, que foi criar uma coleção inspirada no Art Nouveau (MIRANDA, 2005). 1 METODOLOGIA Usamos de referências artísticas para transmitir nas peças de moda festa feminina o conceito do tema. Foram feitas pesquisas abordando a metodologia de criação de coleção para começarmos a dar forma ao projeto. Assim, analisamos pesquisas para melhor compreensão e abordagem do tema específico, junto de uma narrativa. Gardner (1999, p.171) enfatiza que recorremos aos criadores e intérpretes artísticos para adquirir consciência do que é belo e por implicação do que não é. E por meio da estética buscaram-se as luzes para tentar entender o que está

acontecendo na linguagem do design. De acordo com Serafim (2013), a análise dos elementos estruturais da organização artística da coleção foi realizada tendo como referência os elementos visuais, formas, linhas e volumes, texturas, cores e estruturas, dando coerência formal e identidade visual à imagem escolhida. Com essa análise, construíram-se argumentos para criar um texto não verbal, a roupa, capaz de representar a visão das obras da artista por meio de desenhos de moda simplificados que determinam as coerências formais de um conjunto de elementos que compõem os signos das obras. A análise dos conceitos disponíveis sobre o pensamento projetual do design de produtos foi transposto para o âmbito da moda e aplicado às práticas acadêmicas, no desenvolvimento da coleção apresentada. Segundo Serafim (2013), durante a fase de leitura do não verbal, é desenvolvido não só o sentido de análise do aspecto visual, mas, principalmente, o saber ver além daquilo que se está enxergando, isto é, além dos limites da percepção visual. Essa é a condição básica para todo e qualquer tipo de desenvolvimento do conhecimento científico. Após a definição dos conceitos temáticos a serem transmitidos, foram realizados estudos de cores, aviamentos, tecidos, superfícies e a concepção de peças organizadas em blocos. Também foi levado em conta o estudo de desenvolvimento de coleção, pensando-se em ocasião de uso e mix de produto, chegando, dessa forma, ao resultado final. 2 ART NOUVEAU O Art Noveau ou Arte Nova surgiu na Bélgica, fora do contexto em que normalmente surgem as vanguardas artísticas. Vigorou entre 1880 e 1920, aproximadamente. Existia na sociedade em geral o desejo de buscar um estilo que refletisse e acompanhasse as inovações da sociedade industrial. A segunda metade do século XIX marcou uma mudança estética nas artes, a inspiração na antiguidade vigorava desde o século XV, e as fórmulas baseadas no Renascimento começam a dissipar-se dando lugar a Arte Nova, que se opunha ao historicismo e tinha como tônica de seu discurso a originalidade, a qualidade e a volta ao artesanato. A sociedade aceitou novos objetos, móveis, anúncios, tecidos, roupas, joias e

acessórios (SCHMUTZLER,1978). Segundo Pevsner (1981, p.78) Art Nouveau foi um movimento muito importante no processo de industrialização. Tinha também como objetivo libertar-se dos estilos do passado, como o clássico greco-romano, artistas e arquitetos como Mackmurdo, Emile Gallé e Gustave Serrurier, propuseram criar um novo estilo que não tivesse ligações com o academicismo até então praticado. E tinha como grande característica os elementos naturais adaptados à sinuosidade que encantavam os artesões. Figura 01 - Redhead Among Flowers Fonte: Alphonse Mucha (1960) "O Art Nouveau se formou em uma atmosfera espiritual fortemente influenciada pelas descobertas advindas das ciências naturais, e especialmente por meio da biologia, da botânica e da filosofia." (HESKETT, 2002, p. 68). O movimento ainda propunha em face do processo de aglomeração nas grandes cidades como Paris, ser um estilo mais industrializável, por meio da opção por materiais como o vidro, ferro, o bronze e outros metais de fácil fundição e reprodução. "A verdadeira intenção do Art Nouveau era aquela de unir a originalidade à utilidade, em uma relação mútua e produtiva." (WITTLICH 1990, p. 114). De acordo com Wittlich (1990), o estilo que havia tomado como referência a natureza, mantinha a expectativa de proporcionar pelos já excelentes meios de reprodução gráfica, como a litografia, o acesso e a absorção da arte pela maioria da população, como aconteceu com os cartazes ilustrados por diversos artistas.

O Art Nouveau recebeu diferentes denominações, mas todos apresentavam as mesmas propostas estéticas, teóricas e culturais do Art Nouveau. Tinha como características principais a exuberância decorativa, formas ondulantes e elegantes; formatos de folhagens e contornos sinuosos, uso de arabescos; temas ligados a natureza (SCHMUTZLER,1978). Uma das principais características do Movimento Art Nouveau é a temática naturalista, por ser um movimento que se recusava a ter ligações com o passado, ele se inclina para formas que representem o crescimento, algo que dá continuidade, não ligado ao homem, mas as formas orgânicas, leves, soltas e sensuais. (BORGES, 2009) Destaca-se, no art nouveau, a natureza sendo representada por flores, animais, folhas e arabescos, representando a leveza, sinuosidade, organicidade. E foi assim que partiu a inspiração para a coleção. Sendo a natureza uma grande característica do movimento artístico, percebe-se muito a natureza em joias, pinturas, cartazes e como parte de decoração em mobiliários e arquitetura. 3 A COLEÇÃO INSPIRADA NA NATUREZA A coleção de vestuário volta-se para a associação visual, simbólica e icônica ao conceito do Art Nouveau, pois A comunicação visual efetiva deve evitar a ambiguidade das pistas visuais e tentar expressar as ideias do modo mais simples e direto" segundo (DONDIS,1999, p. 186). As peças resultaram de um processo projetual cuja relação entre consumidor e produto se deu por meio de suas funções prática, estética e simbólica. Buscou-se, inserir nas roupas, manifestações pós-modernas no campo da cultura, convidando o espectador a entrar no ritmo e sentir as visões efêmeras. Desse modo, nas vestimentas criadas por meio de: cor, profusão, repetição, leveza, identifica-se elementos estilísticos que se apresentam como signos de referência dos aspectos estéticos, perceptivos e culturais do Art Nouveau. Toda a coleção é marcada pelo uso de linhas orgânicas, sinuosas, silhueta natural, transmitindo, assim, a ideia de unidade. Com base na teoria da percepção e psicologia da forma, a Gestalt, os elementos visuais serão analisados, como formas, texturas, materiais, cores, volumes e em relação aos elementos intelectuais, como organização das imagens e

sensações que as roupas provocam. Através do uso de aplicações e muitas cores foram criados dezoito looks divididos em três blocos, contendo seis looks em cada, sendo um conceitual. O primeiro bloco folhas traz as diferentes texturas das folhas, com sua grande diversidade. Ao mesmo tempo rígida e seca ela tem leveza e brilho. O bloco traz a clareza de uma organização formal fácil de ser assimilada, se configura pela presença de linhas orgânicas, curvas e onduladas, silhueta natural, assimetria e contraste de cores, usados no movimento. Foram definidos tecidos naturais, tricoline acetinada, sarja acetinada, seda pura e crepe. Assim, as cores são fortes, tons pastel, sendo que cada bloco possui uma combinação de cores. Essa mistura de cores é marcada pela presença de arabescos, linhas e referências do movimento (vide Figura 02). Figura 02 Peças representantes do bloco Folhas Fonte: Looks e estampas (Da autora, 2017), folha (Art nouveau leaves, 2012) As formas surgem em estampas, seguindo deslocamentos ora concêntricos, ora expansivos, usando de sobreposições, contrastes e afinidades entre as cores para equilibrar os vários elementos presentes que lembram as folhas. Criou-se uma

profusão de detalhes em babados, arabescos e sobreposições, estampas. O segundo bloco "flores", nos traz a sensualidade que as flores têm. Com sua feminilidade e delicadeza foram usados tecidos como a seda, cetim, que nos transmitem tamanha harmonia e delicadeza nos dando uma sensação de leveza. Em todo o bloco é perceptível assimetria, harmonia, repetição e desproporção, de acordo com o modelo de cada peça. As cores, com tons apastelados, dão destaque e unidade aos looks do bloco, trazendo contraste de cores em detalhes. Misturas de materiais também é um dos destaques do bloco e também referência ao período. Silhueta natural e fendas vêm representando a sensualidade que as flores do movimento nos transmitem(vide Figura 03). Figura 03 Looks representantes do bloco Flores Fonte: Looks (Da autora, 2017). O terceiro bloco é "libélula", muito representada no art nouveau. Com suas misturas de cores e contraste de texturas, a libélula aparece de diferentes maneiras ao longo do bloco. Em estampas, bordados e detalhes. O bloco também conta com uma mistura de todos os blocos, com destaque à libélula e à borboleta (vide Figura 04).

Neste bloco, busca-se na sua forma de expressão o movimento e o dinamismo dos seres da natureza, envolve as questões inerentes à vida, ao bem estar e aos processos vitais da natureza. A mulher nele, não é uma simples expectadora, mas tem um edifício em sinergia com suas sensações físicas e psicológicas. O orgânico, nele, procura a felicidade psicológica, a integração com a natureza. Figura 04 Look representante do bloco Libélula Fonte: Looks e estampas (Da autora 2017), libélula (Rene Lalique, 2011) A peça executada, mostrada na Figura 05, prima pela delicadeza e sutileza, pela essência do etéreo e do mágico, da feminilidade e da continuidade, mostra uma silhueta natural e assimétrica, provocando desvio visual para a manga longa; a cor é abstraída das cores do Art Nouveau, mais seca e mais feminina e homogênea. Notase a ideia de harmonia e unificação dada a igualdade da cor, da textura suave do tecido e a coerência das subunidades. Apesar da profusão de elementos da natureza observadas nas imagens do Art Nouveau, buscou-se atender o perfil do público-alvo atribuindo à roupa uma simplicidade e clareza visual.

Figura 05 Vestido construído Fonte: Gabriela Braudes (2017)

CONSIDERAÇÕES FINAIS A moda, cada vez mais, precisa ser renovada, reciclada, e para isso se faz necessário estudos de novas técnicas, materiais e tecnologias que permitam acessar públicos diferenciados. Através desse estudo pode-se ter melhor compreensão da linguagem visual e análise formal para a criação de peças de vestuário. Buscou-se, pela coleção, uma tradução intersemiótica na busca da identidade da inspiração representada pelas vestimentas. Essa coleção foi elaborada através do estudo das obras do Art Nouveau transpondo características do movimento para as roupas. E assim representando todas as características para que a coleção tenha clareza do tema abordado. Cada bloco foi criado de acordo com um subtema e cada bloco conversa entre si, seja pelo formato de silhueta, cartela de cores ou detalhes. A coleção busca transmitir ideias e conceitos de um tema para uma coleção, dando ênfase a um movimento que foi marco no período e que hoje serve de inspiração para roupas dos dias atuais. Percebemos, então, que o papel do designer na arte e na moda é de expressar sempre de forma atual e inovadora conceitos e características que reutilizamos do passado. É fazer a junção do tema, do público, dos conceitos e dos elementos que os representam, de forma organizada, ergonômica e esteticamente atraente. REFERÊNCIAS BOBLIOGRÁFICAS ARNHEIM, Rudolf. On the nature of photography. Critical inquiry, v. 1, n. 1, p. 149-161, 1974. DONDIS, Donis. Carácter e conteúdo do alfabetismo visual. São Paulo: Martins Fontes, 1999. GARDNER, Howard. O verdadeiro, o belo e o bom. Rio de janeiro: Objetiva, 1999. GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo: Escrituras, 2000. HESKETT, John. Toothpicks and logos: Design in everyday life. Oxford: Oxford University Press, 2002. MIRANDA, Ana Paula de. Consumo de moda: a relação pessoa-objeto. São Paulo:

Estação das letras e cores, 2008. MORAES, Dijon de. Limites do Design. São Paulo: Studio Nobel, 1997. MOURA, Benjamim. Logística: conceitos e tendências. Centro Atlántico, 2006. PEVSNER, Nikolaus; WEDGWOOD, Alexandra. Warwickshire. Yale University Press, 1981. SCHMUTZLER, Robert; RODITI, Edouard. Art Nouveau. New York: Harry N. Abrams, 1978. SERAFIM, Eliecilia F. M. ProjetandoModa.com. Goiânia: Kelps, 2013. SOUZA, Gilda de Mello. O espírito das roupas: a moda do século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. WITTLICH, Petr; WITTLICH, Petr. Art Nouveau: pintura, grabado, escultura, arquitectura, artes aplicadas. Madrid: Libsa, 1990.