PANORAMA MACRO 01/07/2018 EQUIPE: Lucas Guilherme Marina Perrupato Renan Pereira Vitor Mourão
PANORAMA INTERNACIONAL Nas últimas duas semanas houve uma considerável escalada na guerra comercial. Donald Trump anunciou US$ 200 bilhões de tarifas adicionais sobre produtos chineses, enquanto a China afirmou que utilizará de meios quantitativos e qualitativos para retaliar o protecionismo estadunidense. Índia e Zona do Euro também comunicaram que estabelecerão tarifas sobre bens provenientes dos Estados Unidos. Os integrantes da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) se reuniram no dia 22/06 e decidiram que haverá uma expansão na produção de petróleo da ordem de aproximadamente 1 milhão de barris por dia. O acordo agradou a Rússia, envolvida nas negociações do grupo, e Estados Unidos, cujo alívio na pressão sobre o preço da commodity é vista com bons olhos por Trump. Dentre os resultados das economias avançadas, o destaque é para a revisão para baixo do PIB do primeiro trimestre dos Estados Unidos: 2,0% contra os 2,2% estimado anteriormente. Apesar da revisão negativa, a expectativa para o PIB no segundo trimestre de 2018 é de 3,0% em relação ao ano passado, representando forte expansão da atividade. No Reino Unido, o Banco Central decidiu pela manutenção da taxa de juros em 0,5% após reunião de política monetária enquanto dará prosseguimento ao programa de compra de títulos, mantendo o cenário financeiro acomodativo. O resultado mais importante da Zona do Euro no período foi o Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index), cujo resultado de 2% indica convergência da inflação para a meta estabelecida pelo Banco Central Europeu, que deve continuar seu processo de normalização da política monetária. A China apresentou dificuldades na última quinzena, principalmente no mercado cambial e acionário. O yuan sofreu forte depreciação frente ao dólar após a divulgação de dados de atividade abaixo da expectativa de mercado, elevando os temores de desaceleração econômica chinesa. Outro fator negativo para o país tem sido o acirramento das tensões comerciais do país com os Estados Unidos. Nos mercados emergentes, ocorreu a decisão de política monetária na Rússia, com manutenção da taxa de juros em 7,25%. Devido a uma proposta governamental de aumento 2
de impostos, o Banco Central da Rússia estima que a inflação irá convergir para a meta de 4%, de forma que a abordagem monetária neutra planejada pelo órgão, com juros entre 6% e 7%, deverá ocorrer de fato em 2019. Na Argentina, o EMEA indicador de atividade econômica usado como proxy do PIB apresentou queda de 0,9%, demonstrando o enfraquecimento da demanda interna mediante políticas macroeconômicas contracionistas e salários reais mais baixos. Instituições financeiras como Morgan Stanley, Goldman Sachs e Itaú BBA projetam um crescimento de 1,5% do PIB argentino em 2018. A Turquia teve uma eleição presidencial com resultado previsível: vitória de Erdogan. Após o pleito, a lira turca sofreu perdas e a bolsa de valores local apresentou resultado negativo diante do pessimismo de investidores com a abordagem econômica do presidente turco, o qual deve intervir na política monetária do país e promover um estímulo fiscal, apesar da deterioração das contas nacionais. No México, a decisão do banco central (Banxico) de elevar em 25 pontos-base a taxa de juros do país foi tomada em consonância com o cenário menos favorável para o país, baseado em fatores de risco como: volatilidade nos mercados emergentes, depreciação do peso, normalização da política monetária do Fed e o protecionismo de Trump. O evento mais importante para o México ocorre no dia 02/07, com a divulgação do resultado das eleições gerais do país. PANORAMA DOMÉSTICO O Índice Ibovespa, após uma semana de trégua na queda, teve uma semana de recuperação com alta de 3%. O mercado parece ter se acalmado após grandes quedas recentes, com a manutenção dos juros pelo Copom que veio de encontro com o consenso dos principais especialistas e acabou com o receio e significativa especulação de alta. Também foi bem recebida a nova pesquisa eleitoral do CNI/Ibope (28/06) que demonstrou empate técnico entre Bolsonaro (17%) e Marina (13%) na liderança. Ciro Gomes e Geraldo Alckmim possuem apenas 8% e 6%, respectivamente, enquanto o resto das intenções está muito fragmentado e com 41% de eleitores que não sabem, não responderam ou votariam em branco ou nulo. Em pesquisa espontânea Bolsonaro tem ampla vantagem com 11% contra 2% de Ciro e Marina. Outra notícia que trouxe alívio para 3
o mercado foi a retirada do julgamento do recurso do Lula da segunda turma do STF com adiamento para agosto depois do recesso. Uma eventual soltura de Lula, mesmo que ele permaneça inelegível, aumentaria sua influência sobre o resultado da eleição, o que seria um grande risco para a economia. A retomada do setor produtivo, depois do fim da paralisação dos caminhoneiros, está sendo prejudicada pelos debates em torno do tabelamento do preço do frete e pela diminuição da confiança dos consumidores e empresários, reflexos da greve. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) divulgado em junho indicou o nível de 49,6 pontos, apresentando um decrescimento considerável em relação ao resultado divulgado em maio (55,5 pontos). Também houve uma queda em relação a junho do ano passado (51,9): Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) Fonte: CNI De acordo com o relatório da Companhia Nacional da Indústria A confiança dos empresários foi fortemente abalada pela interrupção dos serviços de transportes rodoviários de cargas, no final de maio, e pelas consequências das medidas tomadas para solucionar a crise. Outro reflexo da greve foi o resultado de inflação IPCA-15 de junho que surpreendeu com alta de 1,11%, maior valor em mais de 20 anos. Entretanto, o comportamento da inflação permanece favorável, de acordo com a pesquisa trimestral de inflação (RTI) divulgada pelo Banco Central, devido, principalmente, à evolução benigna dos preços livres, cuja variação 4
em doze meses passou de 1,41%, em fevereiro, para 1,13%, atingindo o menor valor da série histórica, iniciada em 1989. Os impactos da crise dos combustíveis sobre o IPCA, em maio, foram concentrados sobre os preços dos combustíveis e dos alimentos. Os impactos permanecerão na inflação dos próximos meses, mas o Banco Central ressalta que os efeitos altistas devem ser temporários. Além da crise, a recente depreciação cambial reduz a chance de lentidão de convergência da inflação às metas. Os preços administrados apresentaram alta de 2,21% nos três meses encerrados em maio devido a mudanças da bandeira tarifária de energia elétrica e do repasse da depreciação cambial e da cotação internacional do petróleo para o preço da gasolina. O RTI também apresentou a revisão das expectativas para a inflação, já englobando os efeitos da greve dos caminhoneiros e a mudança da bandeira tarifária, que passará da bandeira amarela para o patamar 2 da bandeira vermelha. Diante das novas expectativas a inflação acumulada em 12 meses deve elevar de 2,86% em maio para 4,23% em agosto. Apesar dessa aceleração da inflação, o BCB pontua que a retomada lenta da atividade e a inércia de uma baixa inflação nos últimos meses devem favorecer a manutenção da inflação em baixo nível. No que tange às projeções condicionais para o fim desse ano houve aumento da estimativa de inflação em todos os cenários, sendo o maior aumento verificado no cenário com juros e câmbio constantes, em que a estimativa passou de 3,6% para 4,2%. Embora tenha tido piora para alguns cenários, para todos os próximo anos no geral é esperado que a inflação fique abaixo ou dentro da meta. O principal fator pontuado pelo BCB que levou a piora das projeções foi a depreciação do câmbio ocorrida nos últimos meses e seus consequentes efeitos sobre as expectativas futuras, que apontam um dólar mais caro. Somado a isso, está a Selic mais baixa e o preço do petróleo mais alto do que no 1º trimestre. No sentido contrário, atuam as surpresas deflacionárias do início desse ano, que implicam em uma inflação inercial baixa, e o ritmo de recuperação econômica mais lento que o anteriormente previsto. Verifica-se que a depreciação do câmbio tem mais efeito nesse ano, não só por ser mais de curto prazo, mas também pela maior intensidade, enquanto os efeitos da atividade mais lenta têm maiores efeitos em 2019. 5
Outro Índice deteriorado foi o de Incerteza da Economia (FGV/Ibre) que registrou um resultado equivalente a 125,1 pontos no mês de junho. Esse trata-se do maior patamar desde janeiro de 2017. Houve um aumento de 10,1 pontos no último mês analisado. Após a decisão do Copom no dia 20/06 de manutenção da meta Selic, os juros mais curtos da estrutura a termo voltaram a cair muito. O comitê ressaltou a maior incerteza provocada pela greve dos caminhoneiros tanto na atividade quanto na inflação, e por isso seu comportamento para as próximas reuniões ficou em aberto, sem indicações claras, para um melhor acompanhamento do cenário. Assim como já vinha sendo feito em outras reuniões o Copom destacou sua política expansionista ancorada no arrefecimento da atividade, na ociosidade e na baixa inflação e a não dependência direta e automática de choques momentâneos provocados pelo câmbio e pela crise dos combustíveis na política monetária. Os juros longos e médios continuam muito altos refletindo cenário de grandes riscos políticos, fiscais e externos, entretanto caíram um pouco na última semana com um melhor otimismo do mercado, indicado pela pequena recuperação do Ibovespa, e com a redução na meta de inflação para 2021, de 4,00% para 3,75% em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Estrutura a Termo dos Juros Prefixados ( taxa % a.a.) Fonte: Anbima Também no Relatório de inflação, o BACEN assinalou a alteração da estimativa para o crescimento da economia brasileira em 2018. A projeção do PIB foi ajustada para 1,6%, em contrapartida aos 2,6% anteriores. Em nota oficial, o BACEN comunicou que a alteração foi realizada devido ao arrefecimento da atividade no início do ano, a acomodação dos 6
indicadores de confiança de empresas e consumidores e a perspectiva de impactos diretos e indiretos da paralisação no setor de transporte de cargas. O relatório FOCUS também apontou para a oitava queda consecutiva das expectativas do mercado acerca do crescimento do PIB brasileiro em 2018. A mediana das expectativas foi equivalente a 1,55%, contra dos 1,76% da semana anterior. Há pouco mais de um mês (18/05/2018) a projeção era de 2,50% de crescimento. O RTI também fez uma análise do mercado de crédito indicando que ele está evoluindo de forma consistente de acordo com a atual flexibilização monetária e com a recuperação da atividade econômica. O saldo das operações de crédito voltou a crescer aumentando 1,5% no trimestre finalizado em maio em relação ao trimestre anterior. Essa alta se deve à manutenção do crescimento da carteira para pessoas físicas que foi de 1,7% com destaque para financiamentos de veículos e crédito pessoal (aumento de consumo das famílias) e inversão da tendência de queda para uma alta de 1,2% para pessoas jurídicas. Saldo das operações de crédito Fonte: BCB O menor financiamento das empresas pelo SFN é compensado pelas captações junto aos mercados de capitais e externo: 7
Financiamento amplo das empresas Fonte: Cetip/ Elaboração: BCB Para 2018, a inadimplência (operações com atrasos superiores a 90 dias) também mantem tendência de queda, desde meados de 2017 recuando 0,1 p.p. em maio chegando a 3,3% com 3,6% para famílias e 3,0% para empresas. Para 2018, segundo o RTI, estima-se expansão de 3,0% do saldo de crédito do SFN com alta de 7,5% para famílias com menor comprometimento atual da renda com dívida e recuo de 2,0% para pessoas jurídicas, com desalavancagem das empresas e maior dinamismo nos mercados de capitais e externo. Estima-se crescimento de 7% para recursos livres e recuo de 1,0% para recursos direcionados. 8