Diário da Justiça de 06/11/2006 10/10/2006 SEGUNDA TURMA RELATOR : MIN. EROS GRAU AGRAVANTE(S) : TRANSPORTES FÁTIMA LTDA ADVOGADO(A/S) : CELSO BOTELHO DE MORAES E OUTRO(A/S) AGRAVADO(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOGADO(A/S) : ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO - MG - NILBER ANDRADE EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CORREÇÃO MONETÁRIA. CRÉDITOS ESCRITURAIS. ICMS. O fato de a legislação estadual não autorizar a correção monetária dos créditos escriturais do ICMS não ofende os princípios da não-cumulatividade e da isonomia. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do, sob a Presidência do Senhor Ministro Celso de Mello, na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Brasília, 10 de outubro de 2006. EROS GRAU - RELATOR
10/10/2006 SEGUNDA TURMA RELATOR : MIN. EROS GRAU AGRAVANTE(S) : TRANSPORTES FÁTIMA LTDA ADVOGADO(A/S) : CELSO BOTELHO DE MORAES E OUTRO(A/S) AGRAVADO(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOGADO(A/S) : ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO - MG - NILBER ANDRADE R E L A T Ó R I O O SENHOR MINISTRO Eros Grau: A decisão agravada tem o seguinte teor: DECISÃO: O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais entendeu que o aproveitamento de crédito extemporâneo de ICMS não deve ocorrer apenas pelo valor nominal deste, sob pena de ofensa à proibição do enriquecimento ilícito do Estado, em detrimento do contribuinte. 2. O recorrente alega violação do disposto no artigo 155, 2º, I, da Constituição do Brasil. 3. A controvérsia posta nos autos limita-se à incidência de correção monetária sobre o montante do crédito fiscal, em decorrência dos princípios da isonomia e da não-cumulatividade do ICMS. 4. O Poder Judiciário não pode deferir a atualização dos créditos fiscais não previstos em lei, sob pena de substituir-se o legislador estadual em matéria de sua estrita competência. Nesse sentido, o acórdão cuja ementa transcrevo: EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ICMS. CORREÇÃO MONETÁRIA DOS DÉBITOS FISCAIS E INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA A ATUALIZAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA E DA NÃO-CUMULATIVIDADE. IMPROCEDÊNCIA. 1. Crédito de ICMS. Natureza meramente contábil. Operação escritural, razão por que não se pode pretender a aplicação do instituto da atualização monetária. 2. A correção monetária do crédito do ICMS, por não estar prevista na legislação estadual, não pode ser deferida pelo Judiciário sob pena de substituir-
RE 471.419-AgR / MG se o legislador estadual em matéria de sua estrita competência. 3. Alegação de ofensa ao princípio da isonomia e da não-cumulatividade. Improcedência. Se a legislação estadual só previa a correção monetária dos débitos tributários e vedava a atualização dos créditos, não há como falar-se em tratamento desigual a situações equivalentes. 3.1 - A correção monetária incide sobre o débito tributário devidamente constituído, ou quando recolhido em atraso. Diferencia-se do crédito escritural - técnica de contabilização para a equação entre débitos e créditos, a fim de fazer valer o princípio da não-cumulatividade. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE n. 205.453, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 27.2.98) 5. No mesmo sentido, o RE n. 195.902, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 20.11.98, in verbis: EMENTA: TRIBUTÁRIO. ICMS. ESTADO DE SÃO PAULO. CORREÇÃO DOS CRÉDITOS ACUMULADOS. PRINCÍPIOS DA NÃO- CUMULATIVIDADE E DA ISONOMIA. O sistema de créditos e débitos, por meio do qual se apura o ICMS devido, tem por base valores certos, correspondentes ao tributo incidente sobre as diversas operações mercantis, ativas e passivas, realizadas no período considerado, razão pela qual tais valores, justamente com vista à observância do princípio da não-cumulatividade, são insuscetíveis de alteração em face de quaisquer fatores econômicos ou financeiros. De ter-se em conta, ainda, que não há falar, no caso, em aplicação do princípio da isonomia, posto não configurar obrigação do Estado, muito menos sujeita a efeitos moratórios, eventual saldo escritural favorável ao contribuinte, situação reveladora, tão-somente, de ausência de débito fiscal, este sim, sujeito a juros e correção monetária, em caso de não-recolhimento no prazo estabelecido. Recurso conhecido e provido. Dou provimento ao recurso extraordinário com fundamento no art. 557, 1º-A, do Código de Processo Civil.
RE 471.419-AgR / MG 2. A agravante alega que [n]ão se questiona apenas a atualização monetária como afirma a decisão agravada, tão pouco, trata-se de crédito escritural, saldos credores, ativo fixo ou material de uso e consumo como constou da decisão ora agravada [fl. 1273]. 3. Sustenta que o presente agravo merece ser acolhido por essa Suprema Corte para que a mesma examine a controvérsia nos limites da lide, ou seja, o direito da autora de creditar-se do ICMS dos insumos e materiais intermediários, e fazendo-o extemporaneamente por óbice do Fisco, tais créditos devem ser atualizados monetariamente [fl. 1273]. 4. Afirma, ainda, que este Tribunal já decidiu que se o direito ao crédito não é exercido em tempo oportuno por óbice do Fisco, é devida a atualização [fl. 1279]. 5. Requer o provimento deste agravo regimental. É o relatório.
10/10/2006 SEGUNDA TURMA V O T O O SENHOR MINISTRO Eros Grau (Relator): As alegações da agravante não infirmam a decisão impugnada. 2. A apreciação da controvérsia foi procedida nos estritos termos do recurso extraordinário. 3. Este Tribunal firmou entendimento segundo o qual a atuação em sede extraordinária faz-se na forma do que pleiteado no recurso interposto. Incabível, nessa fase, a devolutividade prevista no artigo 515 do Código de Processo Civil [AI n. 153.595-AgR, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJ de 18.2.94]. 4. A Fazenda Pública do Estado de Minas Gerais insurgiu-se contra a possibilidade da correção de créditos escriturais de ICMS, quando não haja texto normativo que o autorize [fl. 1162]. 5. A decisão agravada foi proferida de acordo com a orientação desta Corte: o fato de a legislação estadual não autorizar a correção monetária dos créditos escriturais do ICMS não ofende os princípios da não-cumulatividade e da isonomia [RE n. 283.411-AgR, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 26.4.02; RE n. 219.265-AgR, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ de 28.10.04; RE n. 308.114-AgR, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 3.5.02]. 6. No mesmo sentido, o AI n. 463.864-AgR, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 3.2.06, assim ementado:
RE 471.419-AgR / MG 1. É pacífica a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de que não há violação aos princípios da isonomia e da não-cumulatividade no fato de a legislação estadual desautorizar a correção monetária de créditos escriturais e saldos credores de ICMS. 2. Agravo regimental improvido. 7. No que respeita à atualização dos créditos não exercidos em tempo oportuno, a jurisprudência do firmou-se no sentido da inadmissibilidade da correção monetária dos créditos extemporâneos ou acumulados, em face do princípio da nãocumulatividade [RE n. 256.351, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 21.10.05; AI n. 233.257, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 15.9.00, entre outros]. Nego provimento ao agravo regimental.
SEGUNDA TURMA EXTRATO DE ATA RELATOR : MIN. EROS GRAU AGRAVANTE(S) : TRANSPORTES FÁTIMA LTDA ADVOGADO(A/S) : CELSO BOTELHO DE MORAES E OUTRO(A/S) AGRAVADO(A/S) : ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOGADO(A/S) : ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO - MG - NILBER ANDRADE Decisão: A Turma, por votação unânime, negou provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. 2ª Turma, 10.10.2006. Presidência do Senhor Ministro Celso de Mello. Presentes à sessão os Senhores Ministros Cezar Peluso, Joaquim Barbosa e Eros Grau. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves. Carlos Alberto Cantanhede Coordenador