RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO DE PESQUISA TÍTULO: TRABALHO DOCENTE NO ESTADO DE SÃO PAULO: ANÁLISE DA JORNADA DE TRABALHO E SALÁRIOS DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA PAULISTA RESUMO O cenário atual do trabalho docente no Brasil é bastante complexo e heterogêneo. Observamos grandes diferenças em relação aos docentes que atuam diferentes níveis de ensino e em diferentes esferas administrativas. Nesse sentido, é difícil obter informações precisas a respeito de aspectos relacionados ao trabalho docente como a jornada de trabalho e a renumeração recebida pelos professores. Para compreender melhor essas questões, essa pesquisa se propõe a investigar como é constituída a jornada de trabalho dos professores da rede pública estadual paulista, tentando identificar com maior precisão quantas horas são efetivamente trabalhadas por esses professores na rede pública, fora dela e quantas horas são destinadas ao trabalho extraclasse, tentando ainda estabelecer relações entre carga horária de trabalho e salários. Para tanto, será realizado um survey por meio da aplicação de um questionário disponibilizado por meio de formulário eletrônico junto aos professores da rede pública estadual paulista que atuam nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Acredita-se que os resultados dessa pesquisa poderão auxiliar nas discussões a respeito do plano de carreira dos professores do estado de São Paulo e contribuir com a produção de conhecimento na área, possibilitando informações mais detalhadas a respeito da jornada e salário dos professores paulistas. PALAVRAS-CHAVE: trabalho docente; políticas educacionais; carga horária de trabalho; remuneração docente; estado de São Paulo. INTRODUÇÃO / JUSTIFICATIVA O trabalho docente se apresenta como uma tarefa importante, porém complexa, que vai muito além do ensino em sala de aula e, mais que isso, é diferente dos outros tipos de trabalho (FERREIRA; HYPOLITO, 2010). A própria organização da jornada diária de trabalho do professor, principalmente daqueles que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, pressupõe uma estrutura na qual, segundo Pinto (2009), cada hora de trabalho implica recomeçar tudo de novo, o que levaria a um desgaste maior do professor. Gatti e Barretto (2009), em pesquisa que traçou o perfil dos professores brasileiros, afirmam que, apesar da jornada de trabalho informada pelos
professores brasileiros ser de 30 horas em média, [...] deve-se considerar que, no caso dos docentes, o número de horas semanais efetivamente trabalhadas costuma ultrapassar o número de horas-aula informadas. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 30). Essas autoras ainda comentam, ao citar Souza (2008), que isso se deve ao diferencial entre tempo de ensino e tempo de trabalho. É muito difícil se ter a dimensão real do tempo de trabalho do professor, pois as horas destinadas ao trabalho extraclasse costumam variar muito e se misturam com o tempo privado. Em pesquisa realizada em 1994 sobre as características dos professores do então Primeiro Grau brasileiro, já era mostrado que os professores pesquisados despendiam, em média, quatro horas de trabalho por semana no preparo de aulas e três horas na correção de exercícios e provas dos alunos (GATTI; ESPOSITO; SILVA, 1994). Mais recentemente, buscando analisar o uso do tempo destinado ao preparo de aulas, a pesquisa de Aquino (2009), realizada junto a professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental da rede pública estadual de São Paulo, mostrou que as professoras que fizeram parte da pesquisa destinavam até 32 horas de trabalho semanal não remunerado no preparo das aulas, correção de atividades elaboradas pelos alunos, etc. Na Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação (CNE) e da Câmara de Educação Básica (CEB), de 28 de maio de 2009, que fixa as diretrizes para os planos de carreira, há a recomendação de se aumentar o tempo destinado às atividades extraclasse realizadas pelo professor dentro da jornada de trabalho (CNE/CEB, 2009). Outro fator relevante no que diz respeito ao trabalho docente é a remuneração recebida pelos professores. De acordo com a pesquisa desenvolvida por Barbosa (2011) esses salários podem ser considerados baixos, sobretudo se considerarmos as demais ocupações das quais também se exige formação em nível superior. Dados retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008 evidenciam os baixos salários dos professores brasileiros em comparação com outras ocupações. Além disso, fornece uma dimensão melhor da
carga horária de trabalho dos professores, ou seja, ainda que a média das horas trabalhadas por esses profissionais seja, atualmente, 35,3 horas por semana (BARBOSA, 2011), há grandes variações de acordo com o nível de ensino em que se atua, evidenciando, ainda, uma porcentagem significativa de professores que trabalham 40 horas ou mais. No que diz respeito especificamente aos professores da rede pública estadual paulista, apesar do estado de São Paulo ser considerado o mais rico do país, os salários dos professores paulistas são apontados como baixos já há algum tempo. Souza (1999), em pesquisa que estudou as políticas educacionais para o trabalho docente no estado de São Paulo, já demonstrava o baixo poder aquisitivo que esses salários representavam tendo em vista o custo de vida no estado. De acordo com os resultados da pesquisa realizada por Barbosa (2011), para compensar os baixos salários e obter melhores rendimentos, os professores poderiam ser levados a buscar jornadas de trabalho mais intensas, assumindo mais aulas e, muitas vezes, trabalhando em mais de uma escola e em mais de um período ao dia. Assim, o número de horas trabalhadas pelos professores varia bastante de acordo com o nível de ensino em que o professor atua: quanto mais avança o nível de ensino, maior o número de horas trabalhadas pelo professor. Além disso, segundo esses dados, muitos professores teriam jornadas inferiores a 40 horas de trabalho semanal, ou seja, menos do que trabalham grande parte dos demais trabalhadores brasileiros que tem jornadas de 44 horas semanais. No entanto, é considerável a porcentagem de professores que declarou trabalhar 40 horas ou mais por semana: 51% nos anos iniciais do Ensino Fundamental e 57% nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio (BARBOSA, 2011). Há que se destacar, no entanto, que os dados coletados pela PNAD não captam se as horas de trabalho informadas pelos professores consultados se referem às horas de trabalho para as quais são contratados ou às horas que são efetivamente trabalhadas na sala de aula ou fora dela. Isso significa dizer que os dados não oferecem informações sobre as atividades extraclasse.
Para tentar compreender um pouco melhor essas questões, essa pesquisa se propõe a investigar como é constituída a jornada de trabalho dos professores da rede pública estadual paulista, tentando identificar com maior precisão quantas horas são efetivamente trabalhadas por esses professores na rede pública, fora dela e quantas horas são destinadas ao trabalho extraclasse. Com isso, acreditase poder preencher uma lacuna na produção do conhecimento nesta área, afinal, os dados nos quais a maioria dos estudos são baseados provém de pesquisas como a PNAD que não consegue captar, como apontado anteriormente, essa complexidade da composição do tempo de trabalho destinado à docência. Além disso, acredita-se ser possível estabelecer relações entre a jornada efetivamente trabalhada pelos professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio com a remuneração por eles recebida. A escolha de considerar somente os professores dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio se dá em virtude desses professores terem, necessariamente, a exigência de ter formação em nível superior e, também, de constituírem a grande maioria dos docentes da rede pública paulista. Além disso, vale ressaltar que, no estado de São Paulo, estamos vivendo um momento importante de discussão e redefinição do plano de carreira do magistério público. Nesse sentido, acredita-se que a compreensão mais precisa da composição da jornada de trabalho dos professores paulistas, bem como o tempo efetivamente dedicado à docência por esses professores e a possível atuação em outras ocupações e sua relação com os salários, pode auxiliar nas discussões do plano de carreira, sendo, portanto, um assunto de interesse da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP). OBJETIVOS Compreender como está constituído o tempo de trabalho dos professores da rede pública estadual paulista, considerando a carga horária na rede pública estadual, a carga horária de trabalho fora da rede pública e, também, o tempo destinado às atividades extraclasse;
Analisar a relação entre carga horária de trabalho e salário dos professores dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio da rede pública estadual paulista. METODOLOGIA Para a realização deste estudo propõe-se a realização de um survey junto aos professores da rede pública estadual paulista. A utilização do survey se justifica, pois, em pesquisas desse tipo, os dados coletados podem ser representativos da população total da qual foram retirados. Considerando que o tempo disponível para a realização da pesquisa pode inviabilizar a coleta de dados junto a todos os professores da rede pública estadual, torna-se necessário definir um procedimento de seleção em que, a partir de uma quantidade menor de professores consultados, seus resultados possam ser estendidos a toda a rede pública paulista. Para tanto, será utilizado um método de amostragem probabilística, considerando uma amostra que seja, de fato, representativa da população total dos professores paulistas. Trata-se da aplicação de um questionário com questões fechadas respondidos por meio de formulário eletrônico com vistas a identificar: a carga horária de trabalho que o professor dedica na rede pública estadual, a carga horária destinada à docência fora da rede estadual, a carga horária de trabalho destinada às atividades não docentes, a carga horária destinada às atividades extraclasse (preparação de aulas, correção de avaliações, etc.) e o salário recebido pela atuação na rede pública e fora dela. Os professores responderão ao questionário por meio de formulário eletrônico que será enviado via SEE-SP às escolas. Esse questionário irá conter questões fechadas a respeito da carga horária de trabalho e também, dos salários recebidos por esses professores na rede pública e, também, fora dela. Os dados obtidos serão tabulados e analisados estatisticamente em uma planilha eletrônica, considerando a representatividade da amostra obtida. REFERÊNCIAS
AQUINO, Luci L. A. O trabalho docente para além do ensino: o uso do tempo destinado ao preparo de aula por professoras alfabetizadoras de escola estadual de ciclo I do ensino fundamental. 2009. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2009. BARBOSA, Andreza. Os salários dos professores brasileiros: implicações para o trabalho docente. Brasília: Liber Livro, 2011. CNE/CEB. Fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, em conformidade com o artigo 6º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008, e com base nos artigos 206 e 211 da Constituição Federal, nos artigos 8º, 1º, e 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no artigo 40 da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. Resolução n. 2, de 28 de maio de 2009b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_cne_ceb002_2009.pdf>. Acesso em 20 jul. 2010. FERREIRA, Liliana S.; HYPOLITO, Álvaro M. De qual trabalho se fala? Movimentos de sentidos sobre a natureza, processos e condições de trabalho dos professores. In: SEMINÁRIO DA REDE LATINO-AMERICANA DE ESTUDOS SOBRE TRABALHO DOCENTE REDE ESTRADO, 8., 2010, Lima. Anais... Lima: REDE ESTRADO, 2010. 1 CD-ROM. GATTI, Bernardete A.; BARRETO, Elba S. S. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. GATTI, Bernardete A.; ESPOSITO, Yara; SILVA, Rose N. Características de professores (as) de 1º grau no Brasil: perfil e expectativas. Educação & Sociedade, Campinas, v. 15, n. 48, p. 248-260, ago. 1994. PINTO, José M. R. Remuneração adequada do professor desafio à educação brasileira. Retratos da escola. Brasília, v. 3, n. 4, p. 51-67. jan./jun. 2009. SOUZA, Aparecida N. Condições de trabalho na carreira docente: comparação Brasil-França. In: SEMINÁRIO DA REDE LATINO-AMERICANA DE ESTUDOS SOBRE TRABALHO DOCENTE REDE ESTRADO, 7., 2008, Buenos Aires. Anais... Buenos Aires: REDE ESTRADO, 2008. 1 CD-ROM.
. As políticas educacionais para o desenvolvimento e o trabalho docente. 1999. 203 f. Tese. (Doutorado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999.