TEORIA E PRÁTICA: EXERCENDO E PROMOVENDO CIDADANIA ATRAVÉS DA CARTILHA DO ELEITOR

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Transcrição:

TEORIA E PRÁTICA: EXERCENDO E PROMOVENDO CIDADANIA ATRAVÉS DA CARTILHA DO ELEITOR Patrícia Portela Martins Secretaria de Estado da Educação da Paraíba (SEE-PB), pattyportelacs@gmail.com RESUMO: Trata-se de um relato de experiência sobre uma atividade de ação pedagógica realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima durante a disciplina de Sociologia, a qual resultou na Cartilha do Cidadão, composta por propostas de candidatos aos cargos de presidente do Brasil, Senador e Governador da Paraíba. Para construção desse artigo, partimos do pressuposto de que existe uma tendência a excluir a relação que há entre política e cidadania, na qual se exclui a política e se valoriza a cidadania, como se fossem termos distintos. A ligação dessas esferas começa no significado das palavras, ambas significam a mesma coisa, ou seja, embora a etimologia da palavra seja diferente o significado é o mesmo, a cidade como foco. Na tentativa de integrar teoria e prática no que se refere ao fazer política, a Cartilha do Cidadão tem como objetivo discutir as propostas dos candidatos a cargos públicos, antes da eleição, esse foi um primeiro passo para os alunos compreenderem que a responsabilidade política é de todos, e que ser cidadão é participar do destino da sociedade. Conclui-se que a maneira pela qual o tema política foi abordado em sala de aula repercutiu de forma positiva no que se refere ao ensinoaprendizagem dos alunos, visto que os mesmos produziram, em conjunto com a professora, a Cartilha do Cidadão, apresentando-a para aqueles que estavam além dos muros da escola. Palavras-chave: política, cidadania, eleições 2014, cartilha. INTRODUÇÃO Partindo do princípio que o homem é um ser social e político torna-se pertinente a discussão sobre cidadania, desigualdade social, movimentos sociais, direitos sociais, civis e políticos na sociedade contemporânea. Como esses temas possuem destaque nas ciências humanas (Sociologia, Filosofia, História e Geografia), principalmente os debates em torno da esfera política, podemos observar, tanto no campo universitário quanto nas escolas de ensino médio, e em especial, nas escolas de ensino médio

inovador na Paraíba, a preocupação de inserir os alunos no âmbito da cidadania, apresentando quais são os direitos e deveres de um cidadão e como estes podem ser evidenciados na prática. Disse alguém que a desgraça dos que não se interessam por política é serem governados pelos que se interessam. Na intenção de colaborar de alguma forma para que essa realidade seja modificada, elaboramos um projeto que teve como objetivo desenvolver atividades de pesquisa, dentro da disciplina de Sociologia, que resultassem em uma cartilha informativa das propostas que se refere ao âmbito da educação, saúde e segurança apresentadas pelos candidatos aos cargos de presidente do Brasil, senador e governador da Paraíba das eleições do ano de 2014. Sabemos que nessas eleições houve também os cargos de deputado estadual e federal, porém o número de candidatos do Estado da Paraíba para esses cargos é bastante significativo, o que poderia resultar na falha de não apresentarmos as propostas de algum candidato. O objetivo central desse projeto foi de proporcionar aos alunos uma forma de inserção na esfera política de maneira prática e dinâmica, despertando o interesse nos alunos, eleitores e futuros eleitores, saber mais sobre os candidatos a cargos públicos, como também suas propostas, para quando exercerem o exercício da cidadania, por meio do voto, fazerem com consciência e convicção. Por tanto, nosso esforço se debruça em dar a este projeto um sentido que vai além do meramente escolar. METODOLOGIA Para a realização desse trabalho, utilizamos a descrição como procedimento metodológico, ressaltando a perspectiva qualitativa (DESLANDES, 2008). A pesquisa descritiva tem como um dos focos verificar e explicar fenômenos que ocorrem na vida real. Tal metodologia se torna apropriada para a área de ciências humanas e sociais, pois além de verificar e explicar fenômenos, possibilita, com maior precisão, analisar, observar e registrar as possíveis conexões e interfaces desses

fenômenos ou fatos. A descrição nos possibilita conhecer e comparar as várias situações que envolvem o comportamento humano, individual ou em grupos sociais ou organizacionais, nos seus aspectos social, econômico, cultural, etc. (MICHEL, 2009, P.45). Para Michel os propósitos da pesquisa descritiva, os fatos e os fenômenos devem ser extraídos do ambiente natural, da vida real, onde ocorrem, e analisados à luz das influencias que o ambiente exerce sobre eles. Por esse motivo, uma pesquisa de campo deve ser orientada pelos princípios da pesquisa descritiva. Entre outras formas, podem ser citadas como exemplo de pesquisa descritiva: pesquisa de opinião, estudo de caso, pesquisa documental etc 1. Sendo assim, por meio dessa metodologia, registramos e analisamos neste artigo o processo pelo qual a atividade pedagógica realizada com os alunos do 2º ano da Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima foi desenvolvida. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tema da política é extremamente amplo, podendo ser analisado através de vários ângulos, como também por meio de suas manifestações reais, ou seja, como esta se exprime no cotidiano das pessoas. Mas, como entendemos o significado da palavra política? Compartilhamos com Norberto Bobbio, quando diz: Derivado do adjetivo grego politikós (de pólis), que significa tudo o que se refere à cidade, tudo o que é, portanto, citadino, civil, público, sociável e social (...) (BOBBIO, 1984, p. 5). Portanto, política tem haver com questões sociais, de interesse coletivo. Não deve ser algo vinculado apenas a momentos específicos, mas deve ser uma ação diária. O termo política foi exposto na obra de Aristóteles intitulada A Política, esta considerada, o primeiro tratado sobre a natureza, as funções, a distribuição dos 1 MICHEL; Metodologia e pesquisa científica em Ciências Sociais; p.45

encargos estatais e também sobre as várias formas de governo, com relevo especial para o significado da arte e ciência de governar (BOBBIO, 1984, p. 5). Na modernidade o termo política foi sendo substituído, aos poucos, por outras nomenclaturas como ciência do Estado, ciência política, entre outros termos, no entanto, a idéia ainda está respaldada na pólis, um conjunto de atividades que tem como elemento chave, a pólis, ou seja, o Estado. Percebemos que muitas vezes esse assunto política é tratado de forma errônea, como algo que não se deve falar ou debater. E essa idéia é bastante difundida na cabeça das pessoas, como diz o dito popular: política, futebol e religião não se discute. Será que é assim mesmo? Isso ocorre porque as pessoas vêem a política como algo que está acima ou que envolvem apenas momentos e pessoas específicas como a época de eleição. Essa realidade é explicada historicamente. Norbert Elias mostra em seu livro A sociedade dos Indivíduos, que o Estado (responsável por cuidar dos interesses da cidade) muitas vezes foi apresentado como algo oposto à sociedade. Desde o século XVIII, o termo sociedade ou sociedade civil, foi utilizado em contraposição ao Estado. Essa idéia baseada no antagonismo entre essas duas esferas dominou, e até hoje permeia a concepção de algumas pessoas sobre a sociedade e o Estado, na qual, este é encarregado de algumas funções e constituído mediante um processo histórico. Os teóricos clássicos da Sociologia também pensaram e teorizaram sobre o Estado. Na perspectiva de Karl Marx, o Estado seria uma entidade abstrata em contradição com a sociedade, uma comunidade ilusória, na qual procuraria adequar os interesses de todos, especificamente daqueles que, economicamente, dominava a sociedade. Sendo assim, o Estado seria uma organização cujos interesses são os da classe dominante, para ele, a burguesia. Cada etapa da evolução pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação

armada e autônoma na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro estado democrático da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O executivo no Estado Moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda classe burguesa. 2 Émile Durkheim observava a questão da política e do Estado, baseando-se no que ele chamou de coesão social, onde o Estado é de fundamental importância numa sociedade em que a complexidade aumenta com o passar dos dias. Para ele o Estado não é antagônico ao indivíduo. Foi o Estado que emancipou o indivíduo do controle despótico e imediato dos grupos secundários, com a família, a Igreja e as corporações profissionais, dando-lhe um espaço mais amplo para o desenvolvimento de sua liberdade. (TOMAZI, 2010, p. 104). Na relação entre Estado e indivíduos o que se mostra relevante para esse teórico da sociologia é a comunicação entre governantes e cidadãos, para que estes acompanhem as ações do governo. Ele diz: Eis o que define o Estado. É um grupo de funcionários sui generis, no seio do qual se elaboram representações e volições que envolvem a coletividade, embora não sejam obra da coletividade. Não é correto dizer que o Estado encarna a consciência coletiva, pois esta o transborda por todos os lados. É em grande parte difusa; a cada instante há uma infinidade de sentimentos sociais, de estados sociais de todo o tipo que o Estado só percebe o eco enfraquecido. Ele só é a sede de uma consciência especial, restrita, porém, mais elevada, mais clara, que tem de si mesma um sentimento mais vivo 3. Em síntese, para Émile Durkheim, o Estado é uma organização que visa os interesses coletivos. Após alguns anos da publicação de Marx e Engels Manifesto Comunista Marx Weber também escreveu sobre questões de poder e política. Para ele o Estado é uma relação de homens dominando homens, e essa dominação são apresentados por meio de três formas (a tradicional, a legal e a carismática) reconhecidas pelas pessoas. 2 MARX; Manifesto Comunista; p. 41-42 3 TOMAZI; Sociologia para o Ensino Médio; p. 105.

Para Weber política está intimamente ligada à participação no poder ou a luta para difundir a distribuição de poder, seja entre Estados ou entre grupos que emergem dentro do Estado. Para além desses teóricos há uma vasta produção, no decorrer da história, que permeia a tríplice: Estado, política e cidadania, no entanto, percebemos que existe uma tendência a excluir a relação que há entre política e cidadania, na qual se exclui a política e se valoriza a cidadania, como se fossem termos distintos. A ligação dessas esferas começa no significado das palavras, a origem da palavra cidadania advém do latim civitas, que significa cidade. A cidade para os gregos antigos era compreendida como um espaço em que se exercia uma organização social identificada por pólis, ou seja, cidade. Compreende-se que sendo o termo cidadania (no latim) ou política (mo grego), ambas pressupõe o mesmo objetivo o habitante da cidade Na tentativa de integrar teoria e prática no que se refere ao fazer política, ao cuidar da pólis, elaboramos e confeccionamos a Cartilha do Cidadão com o objetivo de discutir as propostas dos candidatos a cargos públicos, antes da eleição, esse foi um primeiro passo para os alunos compreenderem que a responsabilidade política é de todos, e que ser cidadão é participar do destino da sociedade. A discussão em sala de aula sobre as propostas se tornou um momento de questionamento e reflexão a respeito daquilo que era proposto pelos candidatos, com o passar das aulas, os argumentos dos alunos foram ganhando consistência e maturidade, no que se referiu à viabilidade e cumprimento daquilo que estava sendo proposto. Acompanhamos, por meio de encontros semanais, redes sociais e e-mails as pesquisas realizadas pelos discentes para a construção da cartilha. Assim, este trabalho consiste em um relato de experiência que ocorreu na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Nenzinha Cunha Lima. Para a realização dessa atividade, formamos grupos de pesquisa com os alunos do 2º ano da referida escola, os quais, por meio de pesquisa (internet, panfletos, horários

eleitorais), fizeram o levantamento das propostas dos candidatos para as áreas escolhidas (educação, saúde, segurança). Esse projeto foi realizado com os alunos do 2º ano, devido ao fato de termos trabalhado desde o primeiro bimestre a temática da política por meio de suas ramificações (direitos, deveres, cidadania, movimentos sociais), fazendo uma ponte de ligação entre o passado e o presente, da teoria à prática. A metodologia, enquanto organização dos grupos de pesquisa foi realizada da seguinte forma: fizemos o sorteio entre os alunos da sala para a formação dos grupos de pesquisa, em seguida o sorteio dos candidatos os quais os alunos desenvolveram suas pesquisas. Feito esse processo, iniciou-se então a pesquisa das propostas desses candidatos, no laboratório de informática da escola e em sala de aula, através de materiais recolhidos pelos os alunos. Com esse material em mão começamos então, o processo de construção da cartilha informativa que foi distribuída com a comunidade escolar e com as famílias dos alunos envolvidos. Foto 1: Apresentação e debate das propostas dos candidatos Fonte: Arquivo pessoal 2014 Foto 2: Entrega das cartilhas para os alunos

Fonte: Arquivo pessoal 2014 CONCLUSÃO Argumentação, reflexão, análises críticas e questionamentos foram elementos concretos que resultaram dessa atividade. Proporcionar aos alunos meios de pesquisas sobre as propostas dos candidatos a cargos públicos em meio a época eleitoral despertou o interesse nos alunos de conhecer e confrontar as propostas dos candidatos, ressaltando principalmente quais propostas pareciam ser mais coerentes com a realidade social a qual estamos inseridos. Observamos no final da produção da cartilha alunos questionadores e desconfiados no que diz respeito ao que os candidatos prometiam, tal postura denota, uma atitude reflexiva, na qual os alunos conseguiram questionar e argumentar uns com os outros as propostas que eram apresentadas. A ligação das esferas, cidadania e política, propõe que se pense na ação da vida em sociedade. Isso significa que não é possível apartar ou separar política e cidadania. Entendemos que falar sobre política, visando cuidar da cidade e da vida coletiva, é um dos papeis da escola a qual não pode ausentar-se, porque isso implicaria diretamente na negligencia da cidadania, fator importante para a vida social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOBBIO, Noberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

DESLANDE, Suely Ferreira. Pesquisa social: teoria, método e criatividade / Suely Ferreira Deslande, Romeu Gomes; Maria Cecília de Sousa Minayo (organizadora). 27. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. MARX, Karl; ENGELS, Frederick. Manifesto do Partido Comunista. In: Coleção a obra prima de cada autor. São Paulo, Editora Martin Claret, 2006. MICHEL. Maria Helena. Metodologia e pesquisa científica em Ciências Sociais. 2ª ed São Paulo, Editora Atlas, 2009. ELIAS, Nobert. A Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. São Paulo, Editora: Saraiva, 2010.