2. Política comercial externa 2.3. Proteccionismo versus livre comércio: custos e benefícios.



Documentos relacionados
Negócios Internacionais

11-1Introdução à Microeconomia Bibliografia: Lipsey & Chrystal cap.33 Samuelson cap. 35

Faculdade de Economia do Porto Ano Lectivo de 2004/2005. Introdução. Equilíbrio em Autarcia e em Livre Comércio. LEC 207 Economia Internacional

Investimento Directo Estrangeiro e Salários em Portugal Pedro Silva Martins*

MARKETING INTERNACIONAL

FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO ANO LECTIVO 2010/2011 1G203: ECONOMIA INTERNACIONAL

Resolução da Prova de Época Normal de Economia I 2º Semestre (PARTE A) Antes de iniciar a sua prova, tenha em atenção os seguintes aspectos:

Legislação aplicada às comunicações

Custos da empresa. Custos da empresa, economias de escala, gama e experiência

Teoria do comércio Internacional

Estratégia Empresarial. Capítulo 6 Integração Vertical. João Pedro Couto

TRABALHO DE ECONOMIA:

Prova de Microeconomia

8. Mercado de Trabalho, Emprego e Desemprego

Economia Geral e Regional. Professora: Julianna Carvalho

Monopólio. Microeconomia II LGE108. Características do Monopólio:

Negócios Internacionais

Vantagens Competitivas (de Michael Porter)

2 DISCIPLINA: Economia M6 Ano :11º C DATA: 10/07/2013 Cursos Profissionais: Técnico de Restauração Variante de Restaurante - Bar

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO

A Gestão, os Sistemas de Informação e a Informação nas Organizações

inclinada, o inverso da elasticidade se aproxima de zero e o poder de monopólio da empresa diminui. Logo, desde que a curva de demanda da empresa não

ED 2180/ maio 2014 Original: espanhol. Pesquisa sobre os custos de transação dos produtores de café

GABARITO LISTAS. 1. Dê 3 exemplos de tradeoffs importantes com que você se depara na vida.

INTRODUÇÃO objectivo

Microeconomia. Prof.: Antonio Carlos Assumpção

Permanente actualização tecnológica e de Recursos Humanos qualificados e motivados;

Avaliação Distribuída 2º Mini-Teste (30 de Abril de h00) Os telemóveis deverão ser desligados e guardados antes do início do teste.

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO VERSÃO 1

Teoria Básica de Oferta e Demanda

Microeconomia II. Cursos de Economia e de Matemática Aplicada à Economia e Gestão

Preço Máximo. Sumário, aula 12. Preço Máximo. Preço Máximo. Preço Máximo. Preço Máximo. Intervenções do Governo. Em termos de teoria económica,

C 188/6 Jornal Oficial da União Europeia

Empreendedor: Estas variáveis identificadas serão utilizadas na Ficha 7_3 Análise Interna

5º Seminário. Propostas da campanha nacional. A Política Ambiental no Sector Energético Português. 3 de Julho de 2008

CAPÍTULO 10 CONCORRÊNCIA IMPERFEITA. Introdução

Empresariado Nacional e Tecnologias de Informação e Comunicação: Que Soluções Viáveis para o Desenvolvimento dos Distritos?

Uma reflexão sobre Desenvolvimento Económico Sustentado em Moçambique

Victor Ferreira Plataforma Construção Sustentável Entidade Gestora do Cluster Habitat Sustentável

CAP. 4b INFLUÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA

MISSÃO, VISÃO, VALORES E POLÍTICA

NOME: NÚMERO: GRUPO I (8 valores)

Planejamento Estratégico

Módulo 2 Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidades de Produção

Nota: texto da autoria do IAPMEI - UR PME, publicado na revista Ideias & Mercados, da NERSANT edição Setembro/Outubro 2005.

SIMULAÇÃO DE GESTÃO EMPRESARIAL

DISCUSSÕES UE/EUA RELATIVAS AO ACORDO SOBRE EQUIVALÊNCIA VETERINÁRIA

Prova Escrita de Economia A

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Abril 2012

Crescimento em longo prazo

Capítulo 3. Avaliação das capacidades internas de uma empresa

A Taxa de Câmbio no Longo Prazo

Começo por apresentar uma breve definição para projecto e para gestão de projectos respectivamente.

1 Macroeconomia II - Aula 11

Pequenas e Médias Empresas no Canadá. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

OS MAIORES RISCOS DA INTERNACIONALIZAÇÃO

A Análise DAFO. Toward a Theory of Library Administration Alan R. Samuels & Charles R. McClure.

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

Política de Responsabilidade Corporativa. Março 2013

GASTAR MAIS COM A LOGÍSTICA PODE SIGNIFICAR, TAMBÉM, AUMENTO DE LUCRO

I - Introdução à Contabilidade de Gestão 1.5 REVISÃO DE ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS RECLASSIFICAÇÃO DE CUSTOS

Documento Explicativo

Características do Monopólio:

COMÉRCIO INTERNACIONAL Políticas Comerciais. Políticas Comerciais, Barreiras e Medidas de Defesa Comercial

3.1 Da c onta t bil i i l d i ade nacio i nal para r a t e t ori r a i ma m cro r econômi m c i a Det e er e mi m n i a n ç a ã ç o ã o da d

GRUPO DE ECONOMIA E CONTABILIDADE. Cursos Profissionais. Ano Lectivo 2014/2015 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E PLANIFICAÇÃO ANUAL ECONOMIA

CONTABILIDADE NACIONAL 1

O Processo Básico de Reorganização da Economia

6. Moeda, Preços e Taxa de Câmbio no Longo Prazo

DEBATE: UPP x MERCADO RELEVANTE. Arthur Barrionuevo

Faculdade de Direito da Universidade de Macau Ano Lectivo

Economia e Finanças Públicas Aula T9

TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) PERGUNTAS MAIS FREQÜENTES

TP043 Microeconomia 01/12/2009 AULA 24 Bibliografia: PINDYCK capítulo 18 Externalidades e Bens Públicos.

REDE TEMÁTICA DE ACTIVIDADE FÍSICA ADAPTADA

Marketing Turístico e Hoteleiro

INOVAÇÃO, EMPREENDEDORISMO E O FUTURO MINISTÉRIO DA ECONOMIA

Instrumentos Econômicos: Tributos Ambientais.

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ATUÁRIA PROGRAMA DE ENSINO

Externalidades. Externalidades. Externalidades

ENTREVISTA Coordenador do MBA do Norte quer. multiplicar parcerias internacionais

Rafael Vargas Presidente da SBEP.RO Gestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora Secretário do Terceiro Setor da UGT.RO

O Cluster Financeiro

Perguntas e respostas frequentes. Extinção das Tarifas Reguladas Eletricidade e Gás Natural

Antes de iniciar a sua prova, tenha em atenção os seguintes aspectos:

Programa de Desenvolvimento Social

Título A terceirização sob a perspectiva do interesse público Veículo Congresso em Foco Data 23 dezembro 2014 Autores Claudio J. D.

OS IMPACTOS DA ALCA E DO ACORDO COMERCIAL COM A UNIÃO EUROPÉIA - O CASO DA CADEIA TÊXTIL/CONFECÇÕES 1 Victor Prochnik 2

GRANDES OPÇÕES DO PLANO 2008 PRINCIPAIS ASPECTOS

2. Condições de Equilíbrio do Modelo No modelo keynesiano simples, a economia estará em equilíbrio se:

REQUISITOS MÍNIMOS DE INFORMAÇÕES E DADOS PARA OS ESTUDOS DE VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÓMICA E FINANCEIRA (EVTEF) DOS PROJECTOS

Microeconomia NATÉRCIA MIRA EDIÇÕES SÍLABO

DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, GERAÇÃO DE EMPREGO E INCLUSÃO SOCIAL. XII Seminario del CILEA Bolívia 23 a 25/06/2006

Acompanhamento de preços de produtos para a saúde é desnecessário e prejudicial ao mercado

2. São grupos, respectivamente, de crédito na Conta 1 (PIB) e débito na Conta 2 (RNDB) das Contas Nacionais:

Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

6º Congresso Nacional da Administração Pública

A Concentração do Capital Humano e o Desenvolvimento das Cidades

Transcrição:

1G203 ECONOMIA INTERNACIONAL 1 ANO LECTIVO 2010/2011 2. Política comercial externa 2.3. Proteccionismo versus livre comércio: custos e benefícios. Ana Paula Africano, Óscar Afonso, Rosa Forte, Rui Henrique Alves

Benefícios de um movimento em direcção ao comércio livre em todo o mundo % PIB Estados Unidos 0.57 União Europeia 0.61 Japão 0.85 Países em desenvolvimento 1.4 Mundo 0.93 Fonte: Krugman & Obstfeld, 2009:p.214 2

3 Argumentos a favor do livre comércio Existem três argumentos a favor do livre comércio: Livre comércio e eficiência; Ganhos adicionais: economias de escala na produção e oportunidades de aprendizagem e inovação; Argumento político.

Comércio livre e eficiência 4 O proteccionismo gera ineficiências quer no consumo quer na produção: Mesmo no caso de países grandes, as situações de ganho na sequência de restrições ao comércio são pouco frequentes; Assim, o comércio livre será gerador de eficiência a análise é o inverso da análise do impacto de uma tarifa.

Comércio livre e eficiência Ponto de partida da análise: restrição total comércio externo (ex. tarifa proibitiva) equilíbrio autárcico: P A, D A, S A P X S A Diminuição do excedente dos produtores: área (a) P A P W a b c Aumento do excedente dos consumidores: área (a)+(b)+(c) S L D A =S A D L D A Q X Resultado global no país A: ganho de bem estar pela diferença: área (b)+(c) Para esta análise é irrelevante se país é grande ou pequeno. 5

6 Comércio livre e eficiência Observações A análise do impacto da liberalização dos mercados de bens de exportação seria muito semelhante, embora simétrica. Na análise dos ganhos de eficiência associados ao comércio livre optámos, por simplificação, por partir de uma situação de autarcia: Poderíamos igualmente ter assumido uma situação com comércio limitado, i.é., sujeito a tarifas, quotas ou outra restrição; Neste caso a análise seria simplesmente o inverso do que foi feito anteriormente: Agora teríamos de partir do proteccionismo para a livre troca.

Comércio livre e eficiência 7 Preço, P O Preço mundial mais tarifa Preço mundial Distorção na produção Distorção no consumo D Quantidade, Q A abertura ao livre comércio elimina a perda de eficiência provocada pela tarifa e aumenta o bem-estar nacional.

8 Ganhos dinâmicos e de escala (ganhos adicionais) A análise custos-benefícios clássica é estática: ignora o impacto da concorrência na inovação e na aprendizagem: concorrência (resultante do comércio livre) obriga a eliminar ineficiências e a inovar por forma a encontrar soluções para exportar e para concorrer com as importações; efeito de imitação relativamente a produtores estrangeiros; redução de custos e melhoria dos produtos que resulta da acumulação de experiência produtiva e comercial.

Ganhos dinâmicos e de escala (ganhos adicionais) 9 Economias de escala internas (são importantes em vários sectores): o proteccionismo fragmenta os mercados e como tal a produção mundial, conduzindo-a para uma escala ineficiente; o livre comércio permite: aumentar a escala de produção e a eficiência; eliminar monopólios naturais e destruir oligopólios.

10 Argumento político a favor do comércio livre Na prática, as políticas comerciais são mais influenciadas por interesses particulares do que pela consideração dos custos e dos benefícios nacionais. O compromisso político com o livre comércio pode ser uma boa ideia. Defesa do livre comércio sem excepções.

Argumentos a favor do 11 proteccionismo 1) Argumento dos termos de troca 2) Argumento das falhas de mercado 3) Argumento da indústria nascente 4) Argumento da concorrência imperfeita 5) Outros argumentos

Argumento dos termos da 12 troca Argumento inicialmente apresentado por Robert Torrens, em 1844; No caso de um país grande, a restrição das importações pode aumentar o seu bem estar: fazem diminuir o preço das importações, o que, ceteris paribus, melhora os termos da troca (ou razão de troca internacional); esse benefício deve ser comparado com os custos da tarifa (distorções de produção e consumo).

Argumento dos termos da 13 troca É possível que os benefícios dos termos de troca proporcionadas pela tarifa superem os custos. O livre comércio pode não ser a melhor política para um país. É demonstrável que os ganhos estão associados a tarifas positivas, mas baixas: a tarifa óptima é o valor que maximiza esses ganhos.

14 Argumento dos termos da troca Tarifa óptima e tarifa proibitiva Bem-estar nacional Bem estar total em livre comércio Bem estar total em autarcia Tarifa óptima, t o Tarifa proibitiva, t p tarifa

15 Argumento dos termos da troca A conclusão é igualmente válida para a restrição das exportações numa economia grande; Faz subir o preço das exportações, melhorando os respectivos termos de troca. Em qualquer destes casos: O efeito será tanto mais forte quanto maior for a parcela do mercado mundial do bem controlada pelo país; Geram-se perdas de eficiência quer na produção quer no consumo; Tratam-se de políticas potencialmente conflituosas nas relações comerciais.

Argumento dos termos da troca Limitações 16 O argumento não se aplica aos países pequenos; A tarifa óptima é zero para um país pequeno porque não pode afectar os seus termos de troca. Possibilidade de retaliação por parte dos parceiros comerciais (no caso de países de grande dimensão).

Argumento das falhas de mercado 17 Ideia base: o valor privado de um bem (preço de mercado) pode não coincidir com o respectivo valor social. Neste caso, a produção/consumo do bem tem efeitos não considerados nas decisões tomadas por produtores e consumidores do mesmo. Produção do bem tem associado externalidades (positivas ou negativas).

Argumento das falhas de 18 mercado Significa que o mercado em causa não funciona plenamente Existem imperfeições/falhas que impedem a solução óptima/eficiente, i.é., que se produzam/consumam as quantidades que maximizam o bem estar social. Várias políticas tentam eliminar/reduzir estas ineficiências e a política comercial comercial externa é uma delas: Contudo, não é a mais adequada para lidar com falhas no mercado interno.

Argumento das falhas de 19 mercado Alguns exemplos de externalidades positivas: produção local beneficia outras indústrias via spillovers de know-how e tecnologia na produção, na gestão ou qualificação dos trabalhadores; rigidez no mercado de trabalho permitem existência de desemprego; activos desempregados perdem know-how em áreas que podem ser vitais para a economia; produção aumenta a segurança nacional; produção aumenta o orgulho nacional; produção do sector melhora distribuição interna do rendimento.

Argumento das falhas de 20 mercado Na presença de externalidades, a análise custo-benefício em equilíbrio parcial não mede todos os benefícios associados com a produção e o consumo de um bem: os custos e benefícios sociais da produção e consumo diferem dos custos e benefícios privados; Uma tarifa, p. ex., pode melhorar o bem-estar se houver um benefício social marginal que não seja captado pela medida do excedente do produtor.

Proteccionismo na presença de externalidades positivas (caso 1: país pequeno importador) P S X A Var. Exc. Consumidores -(a+b+c+d) P W +t P W a b c d A D X Var. Exc. Produtores +a Estado (Receita) +c S 1 A S 2 A D 2 A D 1 A Q X Bem-estar social -(b+d) Bmg social +z z Bmg social Bem-estar social (efectiva) z-(b+d) Q X Fonte: Krugman & Obstfeld (2001), Economia Internacional: Teoria e Política, Makron Books, p.233 21

Proteccionismo na presença de externalidades positivas (caso 2: país pequeno exportador subsídio à exportação) P P 2 =P W +s P W a A b d S X c Var. Exc. Consumidores -(a+b) A D X D 2 D 1 S 1 S 2 Exportações após subsídio Q X Var. Exc. Produtores Estado (Receita) +(a+b+c) -(b+c+d) Bem-estar social -(b+d) z Bmg social Q X Bmg social +z Bem-estar social (efectiva) z-(b+d) 22

Argumento das falhas de 23 mercado A produção ou o consumo do bem podem também acarretar externalidades negativas: poluição, utilização de recursos estratégicos, destruição de ambientes naturais de interesse nacional, imagem internacional negativa para o país e seus cidadãos (e.g. drogas); Nestes casos, o custo social da externalidade teria que ser somado ao custo marginal da produção um aumento da produção em resultado de uma política comercial proteccionista poderia ter custos superiores aos identificados numa análise custo-benefício tradicional.

Argumento das falhas de mercado Política comercial externa como segundo óptimo 24 O argumento da falha do mercado doméstico é um caso particular da teoria do segundo óptimo De acordo com esta teoria, uma política sem interferências é desejável em qualquer mercado somente se todos os outros mercados funcionarem adequadamente. Se um dos mercados falhar, uma intervenção do governo pode efectivamente aumentar o bem-estar.

Argumento das falhas de mercado 25 O argumento da falha de mercado é convincente? Existem duas linhas de defesa do livre comércio na presença de distorções domésticas: As falhas de mercado são difíceis de diagnosticar e medir. Na prática, a política comercial é dominada interesses particulares e não por questões de bem estar nacional. As falhas do mercado doméstico podem ser corrigidas por políticas domésticas, e não por políticas comerciais internacionais.

Argumento das falhas de mercado 26 A utilização da política comercial externa visando eliminar falhas no mercado doméstico terá custos mais elevados do que a actuação ao nível local Não é a política óptima pois leva a novas distorções de incentivos na economia. A regra geral é que a política óptima de intervenção deve ser o mais próximo possível da causa da dissociação entre custo privado e custo social.

Argumento das falhas de mercado 27 Assim: o governo deve actuar directamente sobre a falha de mercado que gerou a necessidade de intervenção; se o objectivo é eliminar o desemprego (falha no mercado de factores), a política óptima é ao nível do mercado de trabalho; se existe uma externalidade positiva ou negativa associada à produção esta deve ser internalizada na estrutura de custos das empresas subsidiando ou tributando directamente a produção.

28 Tarifa sobre importações vs subsídio à produção P País A - Tarifa s/ importações S X A P País A - Subsídio à produção S X A S' P W +t P W +s a c b d P P P W P W a b D X A D X A S 1 A S 2 A D 2 A Q X S 2 A Q X D 1 A S 1 A D 1 A z Bmg social z Bmg social Q X Q X

29 Tarifa sobre importações vs subsídio à produção Atribuição de subsídio s por unidade produzida do bem, em alternativa a uma tarifa t sobre as importações (t = s). Preço doméstico mantém-se em P W : consumo mantém-se, pelo que excedente consumidor não se altera; Produção interna aumenta para S 2 Subsídio à produção acarreta menor perda de eficiência que tarifa sobre importações: ao contrário da tarifa, subsídio não interfere no preço interno (e, por isso, na quantidade consumida).

Tarifa sobre importações vs subsídio à produção Tarifa Subsídio Var. Exc. Consumidores -(a+b+c+d) Var. Exc. Produtores +a +a Estado (Receita) +c -(a+b) Bem-estar social -(b+d) -b Bmg social +z +z Bem-estar social (efectiva) z-(b+d) z-b 30

31 O argumento da indústria nascente Inicialmente sugerido por Alexander Hamilton (Report on Manufacturers, 1791), posteriormente desenvolvido por John Stuart Mill (1848) e vários outros autores; Pressupõe bens homogéneos e a ausência de economias de escala internas: todas as empresas vão ser pequenas e produzir bens idênticos; logo, o mercado será de concorrência perfeita.

32 O argumento da indústria nascente Na sua base está a existência de economias de escala externas: externas à empresa, associadas à indústria: quanto maior a produção de um sector, mais baixo é o custo médio de todas as empresas participantes; o argumento pode ser facilmente expandido para englobar economias de aprendizagem ao nível da empresa.

O argumento da indústria nascente Fontes de economias de escala externas (EEE) 33 A concentração geográfica fomenta o desenvolvimento de vários factores geradores de EEE: a especialização de fornecedores; o desenvolvimento de um mercado comum de trabalho; spillovers de conhecimento

O argumento da indústria nascente Fontes de economias de escala externas (EEE) 34 As EEE parecem explicar a formação de clusters em várias indústrias Semicondutores e computadores em Silicon Valey Produção de filmes em Hollywood Indústria de relógios na Suiça.

35 O argumento da indústria nascente Do argumento resulta que: Empresas em países há muito estabelecidos num mercado terão, ceteris paribus, custos mais baixos que produtores do mesmo bem localizados em países emergentes. Razão: beneficiam de economias de escala externas, ao contrário dos produtores de países com fraca tradição nessa indústria;

O argumento da indústria 36 nascente Nestas circunstâncias, os padrões de especialização poderão perdurar para além do que seria previsível pela análise da evolução das vantagens relativas: as economias de escala externas poderão compensar total ou parcialmente a perda de vantagens relativas.

Exemplo: mercado de relógios Pressupostos (Krugmand&Obstfeld, 2009: p.143) 37 Bem homogéneo (relógios), transaccionado em concorrência perfeita mas com economias de escala externas: muitos pequenos produtores que beneficiam de economias de aglomeração; Duas localizações alternativas (dois países produtores): Suíça e Tailândia; Suíça é actualmente o produtor mundial de relógios: provavelmente porque teve, no passado, uma vantagem comparativa que permitiu o desenvolvimento do sector;

Exemplo: mercado de relógios Pressupostos (Krugmand&Obstfeld, 2003: p.151) 38 Tailândia tem actualmente uma vantagem comparativa: é, potencialmente, o produtor mais eficiente; evolução recente dos custos relativos de produção faz com que, para uma mesma quantidade produzida pelo sector, produzir na Tailândia tem um custo inferior a produzir na Suíça.

Exemplo: mercado de relógios Equilíbrio inicial 39 P, custo médio (por relógio) D Mundial C 0 P 1 E 1 E2 CM Suiça P 2 CM Tailândia D Mundial Q 1 Q 2 Q Relógios Fonte: Krugman & Obstfeld (2009), International Economics: Theory and Policy, p.143.

40 Exemplo: mercado de relógios Equilíbrio em livre comércio A presença de EEE faz com que o custo médio na Suíça seja P 1, enquanto na Tailândia é C 0 ; como o mercado é de concorrência perfeita, Preço = Cmd; qualquer nova empresa produtora de relógios terá custos (e preços) mais baixos se escolher a Suíça do que se optar pela Tailândia; na Suiça integrará um cluster bastante denso, enquanto na Tailândia estará isolada;

41 Exemplo: mercado de relógios Equilíbrio em livre comércio Neste caso, as EEE estão a fazer perdurar o padrão de especialização, gerando um subóptimo mundial: apesar de a Tailândia ter uma vantagem relativa, em livre comércio nenhuma empresa se vai instalar nesse país; as economias de escala externas proporcionam à Suiça uma vantagem competitiva apesar da desvantagem relativa.

Efeito da protecção temporária no mercado tailandês 42 P, Custo médio (por relógio) Resultado: Produção passará a ser feita na Tailândia P 1 C 0 P A E A E 1 P 2 E 2 CM Suiça CM Tailândia D Tailândia D Mundial Q 1 Q 2 Q Relógios Q A Fonte: Krugman & Obstfeld (2009), International Economics: Theory and Policy, p.144.

Equilíbrio final 43 Porque a Tailândia tem vantagens relativas sobre a Suíça, comparando com o equilíbrio inicial, ao novo equilíbrio (E 2 ) corresponde: um preço mais baixo no mercado mundial e uma maior quantidade transaccionada; maior bem estar dos consumidores em todo o mundo;

Equilíbrio final 44 A Tailândia ganha no processo: desde que os custos da protecção temporária (suportados pelos consumidores) sejam inferiores aos ganhos (no consumo) nos anos posteriores. A Suiça perde apenas se os recursos libertados não encontrarem uma utilização alternativa e os custos assim gerados forem maiores que os ganhos dos consumidores.

E se a realidade for diferente? - Exiguidade do mercado doméstico 45 P, Custo médio (por relógio) Protecção temporária não produz os efeitos desejados. C 0 P A P 1 E A E 1 CM Suiça P 2 CMTailândia D Tailândia D Mundial Q A Q 1 Q Relógios Fonte: Adaptado de Krugman & Obstfeld (2003), International Economics: Theory and Policy, p.152

Validade do argumento das 46 indústrias nascentes O argumento só faz sentido enquanto protecção temporária: A protecção só deve estar em vigor o tempo suficiente para que a indústria se torne internacionalmente competitiva; O mercado doméstico tem que ser suficientemente grande para que o sector se torne internacionalmente competitivo; Os ganhos futuros devem compensar perdas incorridas durante o período em que a indústria é protegida: custos esses suportados sobretudo pelos consumidores;

47 Concorrência imperfeita e política comercial estratégica Justifica-se perante ausência de concorrência perfeita no mercado internacional (Spencer & Brander, 1983): Falha de mercado localiza-se no mercado internacional, logo a política comercial é um primeiro- óptimo. Caso o mercado mundial seja de oligopólio ou monopólio, a intervenção do governo nacional pode alterar a distribuição de riqueza, favorecendo o produtor nacional e, com isso, a economia doméstica: O objectivo é deslocar benefícios de produtores estrangeiros para produtores nacionais.

48 Política comercial estratégica: exemplo (Krugman e Obstfeld, 2009, p.268) Por simplificação, vamos assumir que existem no sector apenas duas empresas à escala mundial; É desenvolvido um novo produto que ambas estão em condições de produzir; As estruturas de custos e de procura sugerem que produtor sobreviverá no mercado mundial; Vamos assumir que as empresas têm apenas duas opções: produzir ou não produzir ;

Equilíbrio inicial Suponhamos a seguinte matriz custo-benefício (Tabela 1): Empresa A Produzir Não produzir Empresa B Produzir -5-5 100 0 Não produzir 0 100 0 0 Admite-se que a empresa B se antecipa, decidindo começar a produzir antes de A. 49

Intervenção do Governo de A 50 Concede à sua empresa um subsídio à exportação no valor de 25: a matriz custo-benefício passa a ser (Tabela 2): Empresa A Empresa B Produzir Não produzir Produzir -5 20 100 0 Não produzir 0 125 0 0

Retaliação por parte de B 51 E se o governo de B decidir apoiar também a sua empresa, concedendo-lhe um subsídio idêntico, de 25? a nova matriz custo-benefício passa a ser (Tabela 3): Empresa B Empresa A Produzir Não produzir Produzir 20 20 125 0 Não produzir 0 125 0 0

Intervenção com premissas 52 erradas Outro risco da intervenção é a possibilidade de uma errada avaliação da situação de mercado por parte do governo de A. Suponhamos que a verdadeira matriz custo-benefício não era a Tabela 1 mas sim a Tabela 4: Empresa A Empresa B Produzir Não produzir Produzir -20 5 100 0 Não produzir 125 0 0 0 B dispõe de uma vantagem competitiva, pelo que o equilíbrio será B produzir e A não produzir.

Intervenção com premissas 53 erradas (cont.) Nestas condições, a concessão de um subsídio de 25 por parte do governo de A (que decidiu com base na Tabela 1), resultaria na Tabela 5: Empresa A Empresa B Produzir Não produzir Produzir 5 5 125 0 Não produzir 0 125 0 0

Outros argumentos 54 proteccionistas Argumento anti-dumping: particularmente popular nos EUA nos últimos anos; relevante no caso de dumping predador; tem regulamentação cuidada por parte da OMC.

Outros argumentos 55 proteccionistas Dumping Não é mais do que a discriminação internacional de preços. Para ser posto em prática exige que os Para ser posto em prática exige que os mercados estejam completamente separados (por barreiras geográficas ou outras)

Outros argumentos proteccionistas 56 Formas de dumping Dumping persistente: Possível se os mercados domésticos são imperfeitos e a procura doméstica e internacional têm diferente elasticidade-preço. A discriminação de preços implica barreiras à entrada de importações: seja através de restrições de política comercial externa; seja pela capacidade da empresa em diferenciar os seus produtos no mercado doméstico.

57 Outros argumentos proteccionistas Formas de dumping (cont.) Dumping predador: corresponde à entrada em novos mercados com preços extremamente baixos (incluindo com prejuízo) para eliminar as empresas instaladas; é sempre temporário: uma vez a concorrência eliminada o preço subirá. Dumping esporádico: operações pontuais de forma a eliminar stocks acumulados.

Outros argumentos 58 proteccionistas Tarifas para contrariar subsídios às exportações atribuídos por governos estrangeiros: o governo que impõe a tarifa apodera- se do valor do subsídio; a situação de mercado inicial é reposta. Argumento da protecção da saúde pública ex: transgénicos, BSE, gripe das aves, etc.

Outros argumentos 59 proteccionistas Argumento da segurança nacional tarifas (ou outros instrumentos) devem proteger indústrias vitais para a segurança/defesa da nação; mas... o que são indústrias vitais? um subsídio à produção seria mais eficiente que restrições às importações;