FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO ANO LECTIVO 2010/2011 1G203: ECONOMIA INTERNACIONAL

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO ANO LECTIVO 2010/2011 1G203: ECONOMIA INTERNACIONAL"

Transcrição

1 1 FCULDDE DE ECONOMI DO PORTO NO LECTIVO 2010/2011 1G203: ECONOMI INTERNCIONL 2. Política comercial externa 2.1. Instrumentos de política comercial externa 2.2. Efeitos de mercado e de bem-estar associados às medidas de política comercial: análise custo-benefício em equilíbrio parcial. na Paula fricano, Óscar fonso, Rosa Forte, Rui Henrique lves

2 2 Introdução Política comercial externa: conjunto de medidas de política económica que visam influenciar os fluxos de comércio com o exterior (exportações e importações) Instrumentos de política comercial externa: tarifas sobre as importações quotas às importações subsídios à exportação impostos sobre as exportações quotas às exportações restrições voluntárias às exportações regras técnicas e administrativas...

3 Equilíbrio em utarcia e em Livre Comércio 3 Hipóteses 2 países: (economia nacional) e B (resto do Mundo), de dimensão idêntica Produzem 2 bens (X e Y) em condições de concorrência perfeita Custos de transporte nulos Preços determinados na moeda de cada um dos países Taxa de câmbio mantém-se inalterada, mesmo perante medidas de PCE Em situação de comércio livre, balança comercial sempre equilibrada Inexistência de mobilidade internacional de factores Em autarcia, P x > P xb (expressos na mesma moeda) nálise de equilíbrio parcial: o que sucede no mercado do bem X?

4 4 Curva da Procura de Importações (MD) MD indica, para cada nível de preço, a quantidade de X procurada pelos consumidores de no mercado internacional Corresponde à diferença (positiva) entre a procura interna e a oferta interna de X em Curva com inclinação negativa: quanto menor o preço de X, maior a diferença entre a procura interna e a oferta interna em, logo maior a procura de importações Mercado país Mercado internacional P S P P P 2 P 1 D MD S 1 S 2 D 2 D 1 Q D 2 -S 2 D 1 -S 1 Q

5 Curva da Oferta de Exportações (XS) 5 XS indica, para cada nível de preço, a quantidade de X oferecida pelos produtores de B no mercado internacional Corresponde à diferença (positiva) entre a oferta interna e a procura interna de X em B Curva com inclinação positiva: quanto maior o preço de X, maior a diferença entre a oferta interna e a procura interna em B, logo maior a oferta de exportações Mercado País B Mercado internacional P D X B S X B P XS P 2 P 1 P B D 2 B D 1 B S 1 B -D 1 B S 2 B -D 2 B S 1 B S 2 B Q X Q X

6 Equilíbrio no mercado internacional 6 Equilíbrio no mercado mundial do bem X ocorre quando MD = XS => P = Pw o preço Pw: o excesso de oferta interna em B é igual ao excesso de procura interna em existe, em simultâneo, equilíbrio no mercado do bem X em e B a procura mundial e a oferta mundial do bem X igualam-se P PW E1 XS MD O comércio livre permite a integração perfeita do mercado do bem X em e B. Em autarcia P x > P xb : como se processa o ajustamento? preço diminui no país importador e aumenta no país exportador QW Q

7 7 Instrumentos de política comercial externa: tarifa sobre as importações Taxa de imposto que incide sobre o valor dos bens importados: mais vulgar e mais antigo dos instrumentos de PCE; imposto alfandegário: cobrado quando os bens importados cruzam a fronteira nacional, elevando assim o seu preço; Objectivos: protecção nacional perante a concorrência externa (principal) aumento das receitas do governo (supletivo) relevante sobretudo para os países menos desenvolvidos.

8 8 Instrumentos de política comercial externa: tarifa sobre as importações Dois tipos de tarifas: ad-valorem: valor percentual que recai sobre o preço unitário do bem importado. O nível de protecção oferecido não varia com o preço do bem importado. específica: montante fixo por unidade do bem importado (não dependendo do seu preço unitário). tarifa específica é regressiva: o nível de protecção proporcionado varia inversamente com o preço: no caso de bens diferenciados, as variedades com menor preço recebem maior nível de protecção que as de preço mais elevado; se inflação for elevada, o nível de protecção diminui caso a tarifa não seja permanentemente actualizada; tarifa específica apresenta maior facilidade de aplicação em termos administrativos.

9 nálise dos efeitos da tarifa 9 Efeitos de mercado: impacto nos preços e nas quantidades produzidas, consumidas e importadas; Efeitos de bem estar: variação dos excedentes de produtores e consumidores e das receitas fiscais; Interpretação económica dos efeitos referidos: eficiência económica e redistribuição de rendimento.

10 Dois casos em análise 10 Economia de pequena dimensão (económica): o país é um price-taker no mercado mundial do bem; economia com uma quota no mercado mundial tão reduzida que alterações nas suas exportações ou importações têm um impacto nulo no preço mundial do bem. Economia de grande dimensão (económica): o país é um price-maker na indústria em análise; economia com uma quota no mercado mundial suficientemente elevada para que alterações nas suas exportações ou importações tenham impacto no preço mundial do bem.

11 11 tarifa sobre as importações: efeitos de mercado - país pequeno Mercado doméstico Mercado mundial Mercado externo S PW+t S* PW D XS MD D* S1 S2 D2 D1 Q milhão Nota: trata-se dum problema de escala Preço interno do bem aumenta (no montante da tarifa) Produção interna aumenta Consumo interno diminui Importações diminuem

12 12 tarifa sobre as importações: efeitos de bem-estar - país pequeno P P 2 =P W +t P 1 =P W a S 1 b País c d S 2 D 2 D 1 S X D X Q X umento do excedente dos produtores: área (a) Perda de excedente dos consumidores: áreas (a)+(b)+(c)+(d) umento da receita fiscal: t * Q imp = área (c) Resultado global: perda líquida de bem-estar no país : área (b)+(d) (b) é reflexo do aumento na produção interna: corresponde ao efeito produção da tarifa; (d) é reflexo da redução no consumo: corresponde ao efeito consumo da tarifa; conjuntamente, correspondem à diminuição das importações.

13 13 Interpretação económica dos efeitos Redução da eficiência económica: menor racionalidade na utilização dos recursos (factores produtivos) pela economia importadora; Redistribuição de bem estar em favor dos produtores: os produtores são protegidos da concorrência externa; os consumidores pagam preços mais elevados; as tarifas são, inequivocamente, pró-produtores e anti-consumidores;

14 14 tarifa sobre as importações: efeitos de mercado - país de grande dimensão País Mercado internacional País B P S X P P B D X B P 2 =P W *+t XS S X P 1 =P W P W * D X S 1 S 2 D 2 D 1 Q X P W P W * t M2 MD' MD P W P W * M 1 Q X D 2 B D 1 B S 1 B S 2 B Q X Preço do bem X aumenta no país (por um montante inferior à tarifa); Produção interna aumenta e consumo interno diminui: Importações diminuem; O país grande exporta parte dos efeitos da tarifa para o exterior: o preço do bem X diminui no mercado internacional significa que o preço diminui no país B, pelo que a produção e as exportações diminuem e o consumo aumenta.

15 Economia grande: efeitos de 15 bem-estar P P 2 =P W *+t a b c d P 1 =P W e P W * País S X S 1 S 2 D 2 D 1 M 2 D X Saldo final tanto pode ser positivo como negativo: redução da eficiência económica, em virtude das distorções na produção e no consumo; mas ganhos nos termos de troca. Q X umento do excedente dos produtores: área (a) Perda de excedente dos consumidores: área (a)+(b)+(c)+(d) umento da receita fiscal: t * Q imp = área (c)+(e) Resultado global: variação líquida de bem-estar: (e)- [(b)+(d)] (b) corresponde ao efeito produção da tarifa (d) corresponde ao efeito consumo da tarifa (e) corresponde ao efeito nos termos de troca de

16 16 Instrumentos de política comercial externa: Quotas às importações Correspondem a uma restrição quantitativa das importações; s quotas podem ser: globais (ou abertas): é definida a quantidade total a importar pelo país, sem especificar quem pode importar; licenças de importação: são atribuídas directamente aos importadores (gratuitamente ou contra pagamento); Tarifa equivalente: para cada quota de importação existe uma tarifa equivalente que teria exactamente o mesmo efeito de mercado contudo, o impacto sobre o bem-estar pode ser distinto, dependendo da forma como as quotas são atribuídas quem se apropria da receita da tarifa equivalente?

17 Efeitos duma quota à importação: País pequeno País P S P S+Q Q Quota Mercado mundial P 1 =P W P 2 P 2 a c b d D P W MD S 1 S 2 D 2 D 1 Q X Q D 1 -S 1 Q X Quota = Q Importações antes da quota

18 18 Efeitos duma quota à importação: País grande País P S S+Q P Mercado mundial b Quota XS P 2 d P 2 a c P W e P w * P w * D P W MD S 1 Q D 1 Q X Q Q W Q X

19 Quota à importação: Efeitos s/ bem estar Variação exc. Consumidor Variação exc. produtor Idêntica à que seria obtida com uma tarifa equivalente Receitas do estado?

20 20 Quota à importação: Efeitos s/ bem estar Efeito final da quota e de uma tarifa equivalente só será idêntico: Se a diferença entre o preço interno do bem importado e o seu preço internacional (o rendimento da quota) reverter para os importadores nacionais Quando o governo atribui (gratuitamente) as licenças a agentes nacionais. Se o Governo vender as licenças a um preço igual a P 2 -P w * (=t esp. ) Se a diferença entre o preço interno do bem importado e o seu preço internacional for apropriada por agentes externos (exportadores), o efeito final da quota poderá ser mais negativo que o efeito da tarifa.

21 21 Instrumentos de política comercial externa: Subsídios às exportações São um instrumento largamente utilizado, ainda que a OMC pretenda a sua eliminação. Tal como as tarifas, podem ser específicos ou advalorem. Os seus efeitos são exactamente inversos dos de uma tarifa. Podem ser contraproducentes se os países importadores impuserem uma tarifa exactamente igual ao subsídio atribuído às exportações o único efeito passará a ser uma transferência directa de rendimento do governo do país exportador para os governos dos países importadores.

22 22 Efeitos de um subsídio à exportação País pequeno País Mercado mundial P P b d S XS P 2 =P W +s P W a c MD D D 2 D 1 S 1 S 2 Q X S 1 -D 1 S 2 -D 2 Q X Exportações após subsídio

23 23 Efeitos de um subsídio à exportação País grande P País Mercado mundial P b d S XS s P 2 P W P W * W a c e f g MD D D 2 D 1 S 1 S 2 Q X S 1 -D 1 S 2 -D 2 Q X Exportações após subsídio

24 Caso prático 24...o inquérito realizado pela Comissão Europeia, na sequência de denúncias de práticas anti-concorrenciais no que respeita ao calçado de couro originário da China e do Vietname, reuniu elementos de prova irrefutáveis da existência de intervenção estatal que consubstancia efeitos de prática de subsídios à exportação... (assim) recomenda-se a instituição de tarifas de 19,4% relativamente à China e de 16,8% relativamente ao Vietname (Comissário Europeu do Comércio, Fevereiro 2006) Comente o caso relatado referindo-se aos efeitos de mercado e de bem-estar, na União Europeia, associados aos subsídios e respectiva retaliação.

25 25 Instrumentos de política comercial externa: Impostos às exportações São raros nos países industrializados (e mesmo proibidos nos EU) mas frequentes em alguns países menos desenvolvidos; Podem ser específicos ou ad-valorem; Objectivos: aumento das receitas do Estado; melhoria dos termos de troca; redistribuição interna do rendimento; combater pressões inflacionárias internas; incentivo ao processamento interno das matérias primas.

26 26 Impostos às exportações São particularmente eficientes quando o país domina o mercado mundial de um qualquer produto: situação em que restringindo as exportações é possível ao país melhorar os seus termos de troca; no limite, o país exportador pode comportar-se como monopolista nos mercados internacionais mesmo que a estrutura de mercado seja, no mercado doméstico, de concorrência perfeita.

27 Impostos às exportações 27 País pequeno País Mercado mundial P P b c e S XS P W P 2 =P W -i X a cd MD D D 1 D 2 S 2 S 1 Q X S 2 -D 2 S 1 -D 1 Q X Exportações após imposto

28 28 Impostos às exportações País grande i X País Mercado mundial País B B P P P S X c e S X XS b P W * d c f a c P W ea P fd 2 b MD D X B D X D 1 D 2 S 2 S 1 Q X X 2 X 1 B B Q X D B B S 1 S 2 2 D 1 Q X Exportações após imposto

29 29 Instrumentos de política comercial externa: Quotas às exportações Consistem na limitação da quantidade (restrição quantitativa) que pode ser exportada; s quotas podem ser: Globais ou abertas Licenças de exportação São uma das formas disponíveis para explorar posições monopolistas no mercado mundial quando a indústria nacional não está concentrada; Objectivos: Favorecer determinados exportadores e os consumidores (redistribuição interna do rendimento); umentar a receita do Governo (vendendo as licenças); Melhoria dos termos de troca (país grande).

30 30 Quotas às exportações Têm um efeito semelhante a um imposto sobre as exportações existe sempre um imposto equivalente que teria o mesmo efeito sobre as exportações; o efeito sobre o bem estar pode, contudo, ser diferente: Tal como no caso de uma quota à importação o governo pode não conseguir obter qualquer rendimento. Tal como nos casos anteriores, tem a desvantagem de desvirtuar o mecanismo de mercado neste caso, com a agravante de não garantir que os produtores excluídos sejam os menos eficientes, o que acentuaria as perdas de eficiência.

31 31 Instrumentos de política comercial externa: Restrições Voluntárias das Exportações (RVE) Limitação das exportações resultante, normalmente, de acordos internacionais ou negociações internacionais Podem ser feitas através de impostos ou de quotas sobre as exportações; O cordo Multi-Fibras é o mais famoso conjunto de RVEs; São normalmente uma resposta dos países exportadores a pressões por parte dos países importadores: nomeadamente através de ameaças de imposição de tarifas. Têm algumas vantagens do ponto de vista legal e político.

32 32 Restrições Voluntárias das Exportações (RVE) s vantagens relativamente às tarifas são: para os países exportadores, o facto de poderem reter a receita da tarifa equivalente; para aos países importadores, limitarem os custos políticos da imposição de restrições às importações. Do ponto de vista económico têm, para o país importador, os mesmos efeitos das quotas às importações quando as licenças são dadas ao governo do país exportador: RVE tem, para o país importador, um custo mais elevado que uma tarifa que limitasse as importações em igual montante.

33 33 Outros instrumentos: Incorporação Nacional Mínima Obriga a que uma parte do preço final de um bem represente valor acrescentado interno: Salários pagos aos trabalhadores locais; Inputs/componentes utilizados produzidos localmente. Os visados são normalmente empresas estrangeiras. Esta medida pode proteger as importações a dois níveis: Pode constituir uma barreira à importação de produtos que não satisfaçam as exigências; Pode limitar as importações de materiais e componentes que, noutras circunstâncias, seriam usados na produção do bem final.

34 Incorporação Nacional Mínima 34 Tipo de protecção conferido: os produtores de componentes: semelhante ao de uma quota de importação variável, dependendo da quantidade produzida pela empresa; os produtores do bem final: não há limites à importação (quanto mais importarem mais terão de comprar no mercado interno).

35 35 Outros instrumentos: Política de consumo público É frequente os governos (que são grandes consumidores e investidores) darem preferência aos produtores nacionais, o que constitui uma clara barreira às importações. Exemplo: o Buy merican ct estipulou que as agências governamentais federais comprassem os produtos a empresas americanas desde que o preço não fosse superior, em mais de 6% (12% para algumas compras do Departamento de defesa), ao preço dos fornecedores estrangeiros.

36 36 Outros instrumentos: Barreiras técnicas e administrativas Há um grande número de regras administrativas ou legais que podem impedir o livre comércio: formalidades para desalfandegamento; regulamentos de segurança; legislação de protecção da saúde pública; regras de etiquetagem; marcas de origem; especificações técnicas.