O CENSO DEMOGRÁFICO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL: INSTRUMENTO PARA APLICAÇÃO EFICIENTE DE POLÍTICAS PÚBLICAS Alexsandro Rahbani Aragão Feijó; Universidade de Fortaleza - UNIFOR, alexrahbani@gmail.com, Brasil. Denys Tavares de Freitas; Universidade de Fortaleza UNIFOR, denystavares@uern.br; Brasil. Ruth Araújo Viana; Universidade de Fortaleza UNIFOR, ruthinhaviana@hotmail.com; Brasil. Simone Coêlho Aguiar; Universidade de Fortaleza UNIFOR, simoneaguiar@terra.com.br; Brasil. Eje: Líneas de captura: Encierros, DDHH y abordajes críticos. Áreas Teórico/Prácticas: Derecho Objetivos: temática principal O presente trabalho tem como objetivo compreender a relação entre um censo demográfico específico sobre pessoas com deficiência, a definição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimento feitas pelo Estado. Assim, obter e compreender dados que revelem o perfil e a realidade das pessoas com deficiência viabilizará, com maior eficiência técnica e econômica, a aplicação de políticas públicas adequadas que eliminem barreiras e promovam a inclusão social, para efetivação dos seus direitos, assegurando-os a verdadeira cidadania. Conclusões Conclui-se que o censo demográfico é um instrumento técnico produtor de informações, revelador de indicadores sociais, imprescindível ao Estado para a definição e aplicação eficientes de políticas públicas e para a tomada de decisões de investimento na busca da efetivação dos direitos das pessoas com deficiência.
2 O CENSO DEMOGRÁFICO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL: INSTRUMENTO PARA APLICAÇÃO EFICIENTE DE POLÍTICAS PÚBLICAS INTRODUÇÃO Inspirada pelo princípio da igualdade que trabalha o ideal de que todos são iguais em dignidade e direitos e por todos os movimentos de direitos humanos surgidos no pós 2ª guerra mundial, a Constituição Federal brasileira de 1988 acolheu e destacou os direitos das pessoas com deficiência, ratificando o seu caráter democrático. O Estado brasileiro, por meio do Poder Executivo tem o dever de disponibilizar recursos orçamentários para a garantia dos direitos fundamentais dos deficientes físicos. A utilização eficiente desses valores, tanto pelo aspecto social, quanto econômico, demanda um estudo apurado sobre os indicadores sociais desse grupo de pessoas. Nesse sentido, afigura-se necessária a compreensão de como o censo demográfico pode auxiliar na formulação e aplicação de políticas públicas para a concretização dos direitos das pessoas com deficiência, buscando demonstrar a indispensabilidade do censo demográfico como instrumento eficiente para implantação de políticas públicas voltadas para esta parcela da população. 1 O CENSO DEMOGRÁFICO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DO CENSO PARA ESTE SEGMENTO DA SOCIEDADE O censo demográfico é um instrumento estatístico para verificar o desenvolvimento e progresso nacional das políticas sociais, permitindo uma análise crítica sobre o país, buscando, através de uma pesquisa qualificada, fornecer dados que facilitem o investimento financeiro do Estado em diversos setores, como o da saúde pública. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (on line), a partir das informações coletadas pelo censo, o Brasil poderá planejar-se para os próximos dez anos, definindo políticas públicas em níveis nacional, estadual, distrital e municipal, e auxiliando a iniciativa privada a tomar decisões sobre investimentos. É com este estudo aprofundado sobre a política social do país, que se torna possível realizar um exame nítido sobre a condição de vida dos brasileiros, dentre eles as pessoas com deficiência. Foi sob a égide da Constituição Federal brasileira de 1988 que o tema pessoa com deficiência foi objeto de investigação, pela primeira vez, no Censo Demográfico de 1991, tendo em vista que, até então, nunca as autoridades competentes tiveram a preocupação e o interesse em saber sobre a realidade desse grupo. Registre-se que essa mudança de postura
3 ocorreu em face da promulgação, em 24 de outubro de 1989, da Lei federal nº 7.853, que trouxe, entre outras garantias legais, a obrigatoriedade de se incluir nos censos nacionais questões específicas sobre as pessoas com deficiência, conforme disposto no artigo 17: Serão incluídas no censo demográfico de 1990, e nos subseqüentes, questões concernentes à problemática da pessoa portadora de deficiência, objetivando o conhecimento atualizado do número de pessoas portadoras de deficiência no País. O Censo de 1991 foi pioneiro na coleta de dados mais diversificados sobre pessoas com deficiência 1. Por ele se constatou que cerca de 10% da população brasileira possuía algum tipo de deficiência. Após dez anos, com um novo censo, verifica-se que esse número aumentou. Os resultados do Censo Demográfico de 2000 indicaram que aproximadamente 24,5 milhões de pessoas, correspondente a 14,5% da população brasileira, apresentaram algum tipo de incapacidade ou deficiência. Ressalte-se que estão incluídas nessa categoria as pessoas com dificuldade de enxergar, de ouvir, de se locomover ou com alguma deficiência física ou mental. Este conceito é compatível com a International Classifiction of Functioning, Disability and Health, divulgada em 2001 pela Organização Mundial da Saúde 2. Os brasileiros portadores de deficiência representam, portanto, atualmente, uma parcela significativa da população brasileira que ganhou maior destaque em razão de previsão legal em sua defesa e de estudos específicos do censo neste setor, tornando viável e mais ativa ações estatais em prol desta parcela da sociedade. 2 O CENSO FACILITANDO A IMPLANTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA O Estado Democrático de Direito vincula-se a uma postura inclusiva, educativa, próativa, urbanística, de saúde pública, de saneamento básico, ou seja, atua nas mais diversas frentes para promover o desenvolvimento nacional e, com isso, oferecer o pleno exercício dos direitos fundamentais das pessoas de forma igualitária e não-discriminatória. Com efeito, a Constituição Federal brasileira de 1988 traçou os seguintes objetivos: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 1 Sobre os outros censos ou inquéritos domiciliares anteriores vide http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0210261_04_cap_04.pdf. 2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. International Classifiction of Functioning, Disability and Health 2001. Disponível em <http://www.who.int/classifications/icf/>. Acesso em: 12 ago. 2010.
4 Há de se ressaltar que o investimento de dinheiro público em programas e projetos perpassa por questões orçamentárias delicadas que, não raro, são complexas, porque demandam a atuação dos Poderes do Estado por meio de planos de governo (Executivo) aliados à produção normativa (Legislativo), na medida em que repercutem nas leis orçamentárias. Por conseguinte, é necessário o controle e a fiscalização desses gastos através dos Tribunais de Contas, do Ministério Público, do Judiciário e da própria sociedade, a fim de assegurar a boa e regular aplicação das verbas destinadas às políticas públicas. Implantar medidas dessa ordem demanda altos investimentos públicos que são limitados por uma série de fatores: escassez de recursos, princípio da legalidade, reserva legal, arrecadação de tributos, leis orçamentárias etc. Por isso, é imprescindível um estudo estatístico sobre as demandas e as necessidades da população para que as políticas públicas além de concretizadas sejam realizadas de maneira efetiva e econômica. Conforme Paulo de Martino Jannuzzi (on line) O aparecimento e o desenvolvimento dos indicadores sociais estão intrinsicamente ligados à consolidação das atividades de planejamento do setor público ao longo do século XX. Assim, demonstra-se a relação existente entre o censo demográfico e as políticas públicas. No que tange aos portadores de deficiência, o conceito amplo que os identifica torna ainda mais necessária a pesquisa demográfica deste segmento, fazendo do censo um instrumento imprescindível para a ordem, o crescimento social e a garantia dos seus direitos. O número de pessoas com deficiência no Brasil é bastante considerável, realidade que não pode ser ignorada pelo Estado. Defende-se que as medidas assecuratórias dos direitos fundamentais destas pessoas são prioritárias 3 e abrangidas pelo interesse público. 4 O estudo dessa população-alvo passou a constituir, portanto, condição indispensável para sustentar a definição de medidas específicas mais adequadas à realidade brasileira, com a aplicação de políticas públicas 5 eficientes, buscando um maior alcance social através de uma melhor distribuição das verbas públicas. O censo demográfico, nessa ordem de pensamentos, 3 Vide, por exemplo, a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde do Brasil em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_pessoa_deficiencia.pdf 4 De um lado, temos um amplo leque de necessidades sociais, cuja satisfação envolve custos. De outro, deparamos com a escassez de recursos, especialmente quando se trata de nações em desenvolvimento. A conclusão óbvia é a de que não há como atender plenamente a todas as demandas sociais, devendo o Estado efetuar escolhas de prioridades a tratar. (QUEIROZ, 2009). 5 As políticas públicas são a materialização do Estado por meio de diretrizes, programas, projetos e atividades que tenham por fim atender às demandas da sociedade. São chamadas públicas para distinguir do privado, do particular, do individual, considerando-se a ótica de que o termo público tem uma dimensão mais ampla e abrange o estatal e o não-estatal. De acordo com Bucci (2001), as políticas públicas funcionam como instrumentos de aglutinação de interesses em torno de objetivos comuns, que passam a estruturar uma coletividade de interesses e funcionam como um instrumento de planejamento, racionalização e participação popular. (SILVA, 2010).
5 facilita a atuação do Estado e o desenvolvimento de políticas nesta área. Cita-se como exemplo dessa interação a Lei Orçamentária de 2010 da União Federal (Lei n.º 12.017, de 12 de agosto de 2009), mormente em seu art. 32, parágrafo único, inciso I, ao prever que entidades de assistência social voltadas ao atendimento direto e gratuito de pessoas deficientes receberão subvenções sociais se preenchidos certos requisitos legais. 6 Destarte, questiona-se ainda e muito a atenção do Estado para esse segmento da população que muitas vezes é tratada com desatenção e descaso. Menciona-se, como exemplo, a ausência de programas voltados à saúde mental. Por outro lado, é oportuno frisar que, atualmente, verificam-se grandes mudanças e ações estatais em prol das pessoas com deficiência, desde o uso do censo como ferramenta que amplia a informação e, assim, o conhecimento sobre como a gestão do Estado deve proceder, onde ela deve atuar e qual a maneira mais eficiente para realizar políticas públicas. CONCLUSÃO O avanço dos direitos humanos, sobretudo, dos direitos das pessoas com deficiência, é fruto de um processo sócio-político bastante intenso que está muito longe de terminar. No Brasil, a implementação de políticas públicas ainda possui muitos obstáculos, dentre eles o de assegurar prestações mais eficientes para esse segmento da sociedade, garantindo direitos e qualidade de vida. Assim, obter e compreender dados que exponham o perfil e a realidade das pessoas com deficiência é uma necessidade, o que torna indispensável o censo demográfico. Descobrir a quantidade, a forma de aquisição da deficiência, a distribuição regional, a distribuição pelo tipo de deficiência, a distribuição por sexo, dentre outros fatores, viabiliza, com maior eficiência técnica e econômica, a aplicação de políticas públicas adequadas que eliminem barreiras e promovam a inclusão social para efetivação dos seus direitos, assegurando-os a verdadeira cidadania. Para tanto, o censo demográfico é um instrumento técnico produtor de informações, revelador de indicadores sociais, imprescindível ao Estado para a definição e aplicação eficientes de políticas públicas e para a tomada de decisões de investimento na busca da efetivação dos direitos das pessoas com deficiência. REFERÊNCIAS 6 Art. 32. A transferência de recursos a título de subvenções sociais (...): [...] Parágrafo único. O disposto no caput também se aplica: I às entidades de assistência social voltadas ao atendimento direto e gratuito de pessoas deficientes, crianças e idosos detentoras de registro ou certificação de entidade beneficente de assistência social, expedida pelo Conselho Nacional de Assistência Social CNAS ou por outro órgão competente das demais áreas de atuação governamental, de acordo com lei superveniente;
6 BARBOSA, Viviane Cristina. Tem que ser deficiente e eficiente: a condição de trabalhador com deficiência física. 2004. 116 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Serviço Social, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0210261_04_cap_04.pdf>. Acesso em: 19 set. 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 44 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2010.. Lei n.º 7.853/89, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm>. Acesso em: 25 jan. 2010.. Lei nº 12.017, de 12 de agosto de 2009. Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2010 e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12017.htm>. Acesso em: 19 set. 2010.. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cart09.pdf>. Acesso em: 19 set. 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico 2000. <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/27062003censo.shtm>. Acesso em: 02 fev. 2010. JANNUZZI, Paulo de Martino. Indicadores sociais e as políticas públicas no Brasil. <http:// www.comciencia.br/comciencia/index.php?section=8&edicao=33&id=386>. Acesso em: 19 set. 2010. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. International Classifiction of Functioning, Disability and Health 2001. <http://www.who.int/classifications/icf/>. Acesso em: 12 ago. 2010. SILVA, Jacqueline Maria Cavalcante da. Controle social das políticas públicas no Brasil: caminho para uma efetiva democracia. 2010. 146f. Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional) Programa de Pós-graduação em Direito Constitucional. Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2010. QUEIROZ, Rholden Botelho de. Democracia, direitos sociais e controle de Políticas Públicas pelos Tribunais de Contas. Revista Controle. Fortaleza: Tribunal de Contas do Estado do Ceará, vol. VII, nº 1, p. 63-83, 2009.