A classe média em alta



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Transcrição:

4 Reportagem Especial > ZERO HORA > QUARTA 6 AGOSTO 2008 A ascensão da família Ferreira, da zona norte de Porto Alegre, para a classe média converge com a evolução da economia brasileira nos últimos 21 anos. NO PAÍS 1987 O clima era de ressaca do Plano Cruzado, implementado no ano anterior e que fracassou, depois de provocar um forte aumento do consumo. O governo voltou a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI). FOTOS ARQUIVO PESSOAL 1994 O que marcou foi o Plano Real, que conseguiu colocar a inflação em níveis mais civilizados. Depois de mais de uma década de preços descontrolados, as famílias conseguiram novamente planejar as suas vidas. FAMÍLIA FERREIRA 1987 Vera e Rogério se casam e vão morar num apartamento alugado de um quarto. Com renda inferior a três salários mínimos, eles ainda contam com a ajuda dos pais para montar a casa. 1994 Inflação baixa era o impulso que faltava para o casal Ferreira financiar a compra da casa própria e receber o primeiro filho, Rafael. Também chega o carro zero. A família superava a renda de cinco mínimos Pirâmide acima A classe média em alta Pesquisa da FGV JOÃO GUEDES e RODRIGO MÜZELL Com uma renda aproximada de R$ 4,5 mil, a família Ferreira, de Porto Alegre, simboliza a ascensão vivida pela classe média nos últimos anos, hoje, a maior parte da população. Do apartamento alugado de um quarto no início dos anos 1990, a família passou para uma confortável casa de três quartos na Zona Norte e uma casa na praia, em Imbé, além de dois carros. Quando se casaram, em 1987, Vera e Rogério ganhavam menos de três salários mínimos. Com a estabilidade da economia e muito trabalho, puderam financiar a casa própria onde nasceu Rafael, hoje com 14 anos, e a pequena Laura, de sete. Nos brinquedos de Laura está um exemplo do Brasil da classe média: enquanto Rafael se contentava com carrinho e bola, a menina aproveita a coleção de bonecas Barbie e um laptop da Xuxa. São brinquedos caros que na época do Rafael não teríamos condições de comprar lembra Vera. Passar dos três salários mínimos para os 10 atuais não é um feito exclusivo dos Ferreira. Mais da metade da população economicamente ativa do Brasil está incorporada à classe média segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), famílias com renda entre R$ 1.064 e R$ 4.591 mensais. Desde 2002, o segmento passou de 44,19% para 51,89% da população. Outra pesquisa, divulgada também ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou forte redução da pobreza em seis regiões metropolitanas brasileiras. Ambos estudos se baseiam em dados levantados pelo IBGE desde 2002, e retratam uma transformação inesperada no quadro da renda. Na opinião de Marcelo Neri, coordenador da pesquisa A Nova Classe Média, da FGV, o Brasil vive um momento mágico : Com o cenário externo desfavorável, é surpreendente que ainda não vejamos nenhum sinal de arrefecimento do emprego e da renda. O primeiro efeito de uma classe média mais gorda se sente no ar das grandes cidades, mais enfumaçado, e no trânsito, mais confuso: é o aumento do consumo, que traz mais carros às ruas, explica o pesquisador. E a estrela desse fenômeno é a carteira de trabalho, considera. O país pode fechar o ano com a geração de 2 milhões de novos empregos, e boa parte é formal, o que facilita o aumento de consumo. Segundo Fábio Vaz, do Ipea, os dados demonstraram uma mobilidade menor na parcela superior da pirâmide: os mais ricos permanecem sendo 1% da população, como em 2002. Para ele, isso prova que ainda é mais difícil para a classe média passar à elite do que ascender da miséria a uma condição melhor. A nova classe média é um grupo emergente que cresceu a partir do próprio trabalho acrescenta Neri. O curso de robótica de Rafael, e as aulas de ginástica rítmica de Laura, mostram, na vida real, o que o pesquisador da FGV viu nos números. OS TRABALHOS As duas análises sobre o perfil econômico da população brasileira foram divulgadas juntas, ontem, por acaso, garantem os autores de ambos os trabalhos. Enquanto o estudo A Nova Classe Média, da FGV, verificou principalmente as mudanças para quem ganha entre R$ 1.064 e R$ 4.591, o levantamento Pobreza e Riqueza no Brasil Metropolitano, do Ipea, atentou à mobilidade nos extremos, abaixo de meio salário mínimo e acima de 40 salários. Fonte: FGV Para onde foram os integrantes da classe E* 16,46% chegaram à classe D e ganham até R$ 1.064 14,53% ascenderam à classe C e ganham até R$ 4.591 1,45% se tornou elite e ganha acima de R$ 4.591 67,57% permanecem pobres, com renda familiar até R$ 768 O que houve com a Classe C* 84,58% continuam na classe média 6,98% desceram à classe D 4,74% enriqueceram e estão na classe AB 3,70% empobreceram e chegaram à classe E * Entre 2002 e 2008 O Ipea não adota a divisão da população em classes sociais, mas considera apenas a renda obtida. Percentual de ricos, pobres e indigentes nas seis regiões metropolitanas: 2002 2008 Ricos 448 mil (1%) 476,5 mil (1%) Pobres 14,3 milhões (32,9%) 11,3 milhões (24,1%) Indigentes 5,5 milhões (12,7%) 3,1 milhões (6,6%) Porto Alegre tem a menor taxa de pobreza das seis regiões metropolitanas pesquisadas, em %: 43,1 37,4 Recife Salvador Belo Horizonte 23,1 22 20,7 20 Rio São Paulo Porto Alegre Os conceitos do Ipea Rico Renda familiar igual ou maior do que R$ 16,6 mil (40 salários mínimos). A partir desse patamar, a família começa a ter um padrão de consumo muito diferente do restante da população brasileira. Pobre Renda igual ou menor de R$ 207,50 per capita. É considerado o valor mínimo para se alimentar, considerando também outros gastos. Indigente Renda igual ou menor do que R$ 103,75 por pessoa. Ganhando isso, o cidadão não consegue comprar a quantidade de alimento necessária para manter seu peso. Obs.: valores deflacionados pelo INPC-IBGE. Fonte: Ipea. Editoria de Arte

ZERO HORA > QUARTA 6 AGOSTO 2008 Reportagem Especial 5 2001 O país foi afetado pelo racionamento de energia, mas a economia cresceu, embora pouco: apenas 1,5% bem menos do que no ano anterior, quando chegou a 4,36%. JEFFERSON BOTEGA 2008 Consumo das famílias em alta, aumento do emprego e da renda. Mas nem tudo é maravilhoso. A inflação ressurge, e o fenômeno dessa vez é mundial. A crise dos alimentos atinge o estômago e os bolsos dos brasileiros. 2001 A consolidação profissional garante economias para a compra da casa na praia, o presente para acompanhar a chegada de Laura. Também chega o segundo carro do casal. 2008 Com o crescimento do escritório de advocacia de Rogério e a consolidação da carreira de mais de 20 anos de magistério de Vera, o casal supera os 10 salários mínimos de renda. Com isso garante o pagamento de cursos como de ginástica rítmica para a pequena Laura e de robótica e futsal para Rafael. A menina ainda conta com uma coleção de Barbies e um laptop de brinquedo, presentes caros considerados impensáveis na época de Rafael. Porto Alegre tem menos pobres Mais do que uma aritmética simples, a expansão da classe média no país reflete uma conta positiva: a redução da pobreza. Entre 2003 e o final de 2008, 4 milhões de brasileiros que moram nas seis principais regiões metropolitanas do país São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife terão saído dessa faixa, aponta um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo federal. A taxa de pobreza nas seis onde vive um quarto da população brasileira e são produzidos dois quintos do Produto Interno Bruto (PIB) cairá de 35% para 24,1%. Porto Alegre é que apresenta a menor taxa de pobreza, com 20% da população (veja quadro na página ao lado). Esse contingente passou a integrar o grupo que o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, chama de classe média emergente. Esse novo segmento da população se expandiu com o crescimento econômico dos últimos anos, que permitiu o aumento do emprego e da renda. Novos ricos estão crescendo, aponta pesquisa do Ipea A pesquisa do Ipea também apontou um crescimento do número de novos ricos. Esse grupo aumentou 28,1 mil entre 2002 e 2008. Em 2002, as pessoas consideradas ricas nas seis regiões corres- pondiam a 448,5 mil. Agora, em 2008, somarão 476,6 mil. Apesar disso, a participação de ricos no total da população nessas seis regiões metropolitanas permaneceu estável, em 1%. O Ipea classificou como pobres as pessoas que têm renda per capita igual ou inferior a meio salário mínimo. Ricas são consideradas aquelas pertencentes a famílias com renda igual ou maior do que 40 salários mínimos (o equivalente a R$ 16,6 mil). O Brasil está deixando de ser um país de pobreza absoluta para ser um país de pobreza relativa, diminuindo a distância entre o topo e a base da pirâmide avaliou Pochmann. O avanço é maior nos pobres do que nos ricos acrescentou. Uma combinação de fatores colabora para a redução da pobreza no país. Eles são o crescimento da economia, o aumento do salário mínimo, os programas sociais de transferência de renda do governo, como Bolsa-Família, e os incentivos à agricultura familiar, explicou Pochmann. Laura, sete anos, e Rafael, 14 anos, filhos da professora Vera e do advogado Rogério, perceberam que a família melhorou de vida nos últimos anos. Tanto que até os presentes que os pais dão são mais caros do que os de antigamente. Os pais agora podem pagar cursos para seus filhos, como ginástica rítmica, futsal e robótica, e a família tem casa na praia. Isso acontece porque o salário deles aumentou, em comparação quando Laura e Rafael eram menores. Eles não são os únicos. No Brasil todo, muitas outras famílias passaram a ganhar mais nos últimos anos. Principalmente entre as pessoas mais pobres, porque conseguiram emprego em lojas e fábricas, por exemplo.