ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA SERRAVIX CURSO DE PEDAGOGIA CÍNTIA SABADINI FERNANDA COSTA DE MATTOS BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL



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Transcrição:

ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO ANÍSIO TEIXEIRA SERRAVIX CURSO DE PEDAGOGIA CÍNTIA SABADINI FERNANDA COSTA DE MATTOS BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL SERRA 2011

CÍNTIA SABADINI FERNANDA COSTA DE MATTOS BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Orientador: Davis Moreira Alvim. SERRA 2011

CÍNTIA SABADINI FERNANDA COSTA DE MATTOS BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Pedagogia da Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Pedagogia. Aprovada em: de de 2011. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Davis Moreira Alvim Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Orientador Profª. Ms. Vânia Rosa Rodrigues Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 1 Profª. Ms. Geruza Ney Alvarenga Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira Membro 2

Esse trabalho é dedicado primeiramente a Deus, aos nossos filhos por todos os momentos em que fomos ausentes, e ainda aos nossos familiares que sempre nos ajudaram e nunca permitiram que desistíssemos.

Agradecemos de antemão a todos que de alguma forma passaram pela nossa vida e contribuíram para a construção de quem somos. Aos membros desta banca examinadora pela leitura e observações sobre este trabalho. Ao professor orientador Doutor Davis Moreira Alvin, por todas as orientações e encaminhamentos necessários nesta pesquisa. Obrigada por acreditar em nós e por todas as palavras esperançosas que nos possibilitaram mais essa conquista.

Mas a educação pode ajudar a nos tornarmos melhores, se não mais felizes, e nos ensinar a assumir a parte prosaica e viver a parte poética de nossas vidas. (EDGAR MORIN)

RESUMO Este trabalho trata do fenômeno conhecido como bullying, expressão de língua inglesa utilizada para denotar a agressividade recorrente em atitudes tomadas por uma ou mais pessoas com o objetivo de causar dor, humilhação, sofrimento e angústia a outra pessoa. Para tanto, apresenta um estudo sobre o fenômeno bullying em ambiente escolar por meio de uma investigação sobre a existência desta violência na educação infantil, além de evidenciar as condições em que o bullying ocorre, buscando ainda entender o silêncio dos profissionais da educação acerca dessa problemática. Discorre sobre o tema baseado em uma pesquisa exploratória em parte da bibliografia disponível sobre bullying. Por fim, apresenta o resultado de uma pesquisa de campo realizada em escolas públicas e privadas instaladas na região da Grande Vitória, Estado do Espírito Santo. Conclui que o bullying na infância pode acarretar transtornos de personalidade e desencadear graves problemas no desenvolvimento psicossocial das crianças, como transtornos emocionais, desordens psicológicas e depressão, entre outros, transformando-as, na fase adulta, em pessoas com dificuldades em adequar as suas ações e reações. Portanto, acrescenta-se que os professores, as escolas, as famílias e a sociedade devem dar a devida importância às atitudes, às expressões e ao comportamento que configuram o aluno enquanto sujeito sócio-histórico-social, buscando a observação como aliada na intervenção nos comportamentos erráticos das crianças nesta fase educacional. PALAVRAS-CHAVE: Bullying. Docência. Educação Infantil.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 08 2 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DO FENOMENO BULLYING. 12 2.1 TENTANDO DEFINIR O BULLYING... 14 3 UMA ANÁLISE DA BIBLIOGRÁFIA SOBRE O BULLYING... 21 4 BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL... 27 4.1 EXISTÊNCIA DO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL... 27 4.2 A POSTURA DA ESCOLA FRENTE O FENOMENO BULLYING: PROFESSORES QUE SE CALAM... 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 47 6 REFERÊNCIAS... 50 APÊNDICES... 51 APÊNDICE A QUESTIONÀRIO DE ENTREVISTA COM PROFESSORA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR PRIVADA A... 52 APÊNDICE B QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM A PEDAGOGA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR PRIVADA A... 54 APÊNDICE C QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA COM A PROFESSORA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR PRIVADA B... 56

8 1 INTRODUÇÃO Um dos maiores desafios da humanidade no século XXI é o combate à violência existente no mundo. A todo o momento, a atual organização socioeconômica condiciona os sujeitos a disputarem posições hierárquicas em relação ao seu próximo. Neste contexto, o bullying, objeto de estudo deste trabalho, não é um fenômeno incomum e isolado, posto que se faz presente em qualquer situação onde ocorram relações interpessoais, estando presente no dia a dia do indivíduo desde o início de seus relacionamentos interacionais. Além disso, o bullying vem se mostrando um tipo de violência que está ganhando formas diversas, dentro e fora das instituições de ensino privadas ou públicas. Nesta pesquisa foram encontradas diversas maneiras de compreender o significado da palavra bullying, Fante (2005, p. 28), por exemplo, indica que Bully, enquanto nome, é traduzido como valentão, tirano, e como verbo brutalizar, tiranizar, amedrontar. A escolha deste tema surgiu durante a participação em palestras que debatiam o fenômeno bullying. Por conseguinte, começou-se a relacionar este tema com a infância das pesquisadoras, quando se percebeu estas também foram vítimas de bullying e carregam marcas profundas desse sofrimento. É possível lembrar-se das exclusões de brincadeiras e ainda das ameaças que se repetiam diariamente dentro das escolas, além daquilo que mais nos incomodava, os apelidos persecutórios. Diante disso, foi possível perceber que nada era feito para mudar essa situação dentro da escola, e essas atitudes agressivas e humilhantes eram entendidas pelos docentes como brincadeiras diárias da fase infantil, e nunca fizeram uma intervenção eficaz, capaz de modificar a realidade diante daqueles que se divertiam enquanto nos inferiorizavam, tornando-nos crianças cada vez mais tímidas e inseguras.

9 Assim, buscou-se, através desta pesquisa, verificar como o fenômeno bullying se manifesta na educação infantil e ainda compreender como os profissionais da educação, os pais, a comunidade escolar e a sociedade agem diante de situações de bullying, que permeiam as escolas de todo o mundo. Deste modo, procurou-se discutir e diagnosticar essas práticas de violência que afetam a criança psicologicamente e fisicamente já na educação infantil, fase que rege a criança como ser social. Concomitantemente, tentou-se identificar as práticas de intervenção pedagógicas no combate ao bullying nas escolas. Em suma, este trabalho apresenta dados e informações sobre o fenômeno bullying, violência que se manifesta no espaço escolar e não escolar de diferentes formas, dividindo-se em três capítulos baseados em bibliografia sobre a temática abordada e ainda nos resultados de uma pesquisa de campo. O primeiro capítulo busca a compreensão do contexto histórico que cerca o elemento bullying, descrevendo sua origem, como e onde ele começou e a motivação para investigar esta temática. Durante os estudos deste tema, verificou-se que o fenômeno não tem uma única definição e, em virtude disso, esse capítulo ainda trás uma tentativa de definição dessa violência, abordando as características do bullying, e suas consequências frente às escolas, a sociedade, e ainda para as vítimas e agressores. O segundo capítulo apresenta uma análise crítica de parte da bibliografia sobre bullying, considerando ainda maior entendimento sobre a formação das autoras estudadas, o trabalho que exercem, e o que levou essas autoras a investigar e dedicar-se a essa temática. De maneira geral, as concepções de bullying nas obras estudadas são bem semelhantes e não apresentam concepções diferentes. Diante disso, buscou-se neste capítulo, fazer uma comparação das semelhanças que descrevem o bullying e, ainda, verificar se apresentam novas informações que possibilitem diferenciar suas obras quanto ao assunto abordado.

10 No terceiro capítulo são apresentados e abordados casos observados e coletados nas escolas, que deram suporte para esta pesquisa. Essas escolas pesquisadas serão caracterizadas no decorrer deste capítulo, denominadas como escola A e escola B, e os participantes como professor A e professor B. Também foi feita uma comparação sobre o bullying nas instituições privadas e instituições públicas, na tentativa de relacionar a teoria estudada e a prática vivenciada, juntamente com a postura silenciosa que as vítimas apresentam e, ainda, buscar entender o porquê de os docentes e as escolas em geral se calarem diante do fenômeno. Para a realização da coleta de dados nas instituições de ensino, foram utilizados dois instrumentos que deram suporte à realização da pesquisa. O primeiro foi um gravador utilizado para registrar as informações citadas neste capítulo. O segundo foi um questionário estruturado para docentes e pedagogo para a obtenção de dados que foram transcritos neste trabalho. Os principais objetivos deste questionário foram avaliar a postura dos profissionais da Educação diante desta temática, o corpo docente e todos os envolvidos no ensino-aprendizagem. O objetivo da aplicação desses instrumentos foi diagnosticar se já haviam sido constatadas agressões entre as crianças, e se trabalham o bullying dentro das escolas, na tentativa de prevenir a disseminação dessa violência. Buscou-se também considerar o bullying na educação infantil e relacionar experiências de professores que trabalham com essa fase, na tentativa de buscar suporte para confrontar com o pensamento das autoras diante da realidade das professoras da Educação Infantil e suas considerações enquanto pesquisadoras sobre o fenômeno. Nesse processo ficou clara a importância de se obter informações sobre o bullying, para que no exercício da docência se possa identificar, trabalhar e intervir positivamente diante das violências existentes dentro das escolas.

11 Espera-se, portanto, que este trabalho possa contribuir para uma maior compreensão do assunto abordado, e que ainda auxilie os leitores desta pesquisa a pensar em alternativas para combater essa realidade violenta, que se multiplica diariamente dentro das escolas e por trás das grades escolares. Conclui-se que, ao investigar o fenômeno bullying, alcançam-se os objetivos propostos e possibilita-se visualizar de forma holística a realidade que rege a educação, os docentes, as escolas, as vítimas e os agressores dessa realidade social.

12 2 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DO FENÔMENO BULLYING Historicamente, os estudos sobre o bullying tiveram início na Suécia, na década de 70 e na Noruega na década de 80. Aos poucos, vem se intensificando nas escolas dos mais diversos países. A maioria dos brasileiros desconhece o termo bullying, sua gravidade e abrangência. Conforme Silva (2010, p. 111): O bullying é um fenômeno tão antigo quanto a própria instituição denominada escola. No entanto, o tema só passou a ser objeto de estudo cientifico no início dos anos 70. Tudo começou na Suécia, onde grande parte da sociedade demonstrou preocupação com a violência entre estudantes e suas consequências no âmbito escolar. Em pouco tempo, a mesma onda de interesse contagiou todos os demais países escandinavos. Entretanto, na Noruega o bullying foi durante muitos anos motivo de apreensão entre pais e/ professores, que se utilizavam dos meios de comunicação para expressar seus temores e angústias sobre os acontecimentos. Mesmo assim as autoridades educacionais daquele país não se pronunciavam de forma oficial e efetiva diante dos casos ocorridos no ambiente escolar. No final de 1982, um acontecimento dramático no norte da Noruega chamou a atenção da população daquele país, pois jornais noticiavam a morte de três crianças com idade entre dez e quatorze anos, que haviam cometido suicídio por terem sido submetidos pelos seus colegas de escola a situações de maus-tratos, reescrevendo assim a história do bullying na Noruega. Diante deste acontecimento, começou uma mobilização nacional, onde o Ministério da Educação da Noruega realizou, em 1983, uma campanha em larga escala, visando ao combate efetivo do bullying escolar. Sabe-se que o fenômeno bullying já existe no mundo e nas escolas muito antes da nossa própria existência no ambiente escolar (FANTE, 2005).

13 A violência já acontecia da mesma maneira, com agressões e deboches, entre outros, no entanto, não se tinha um nome predeterminado para tal ato. Este não é um fenômeno recente, porém, no nosso país só nos últimos anos é que se começou a ter uma visibilidade maior sobre o assunto, uma vez que vários estudos sobre a matéria foram publicados e então surgiram pesquisadores para investigar mais a fundo este tema nas escolas. Ainda hoje, há pouca literatura sobre o assunto e os autores ainda recentemente publicaram suas investigações e experiências com relatos vividos nas escolas. Depois disso, países como Portugal, Espanha, Canadá e Estados Unidos aderiram à campanha anti-bullying com influência positiva da Noruega. Silva (2010), ao descrever um breve histórico sobre o bullying, relatou que Dan Olweus, professor de uma universidade de Bergen na Noruega foi quem relatou as primeiras investigações para diferenciar o bullying de outras interpretações de atos violentos. A autora relatou ainda que Olweus pode ser considerado o Pai do fenômeno bullying, pois foi o responsável pelas primeiras pesquisas realizadas nos anos 70 em escolas, onde utilizou como procedimento o uso de questionários que verificavam as características e a extensão do fenômeno. Segundo Silva (2010), Dan Olweus pesquisou ainda como eram as intervenções que as unidades de ensino estavam adotando. Portanto, através desses estudos e pesquisas realizadas por Olweus, é que foram adaptados estudos sobre o bullying em outros países, inclusive no Brasil, que apesar de não ter muitos estudos referentes a este assunto, realizou, no Rio de Janeiro/RJ, uma investigação nas escolas baseados nos trabalhos de Olweus. Neste estudo, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e Adolescente (ABRAPIA), apontou que no Brasil o bullying acontece com maior frequência dentro das salas de aula, diferente de outros países, onde predomina o bullying no horário do recreio e fora da sala de aula.

14 No Brasil, as pesquisas são recentes, já que apenas a partir do ano de 2000 vem sendo investigado o bullying nas escolas. (FANTE, 2005) relata que essas pesquisas não são mais avançadas, pois em nosso país, ainda não se tem uma visão mais clara do fenômeno, portanto não há um patrocínio ou incentivo para que as pesquisas avancem. Contudo não se tem verba suficiente para realização dos estudos, sendo a maioria das pesquisas realizadas por doações e verbas dos próprios pesquisadores. Há poucos anos que a mídia vem fazendo campanhas antibullying e alertando as pessoas sobre a violência que vem acontecendo com maior intensidade dentro das instituições de ensino. 2.1 TENTANDO DEFINIR O BULLYING A palavra inglesa Bully significa valentão, provocador, brigão, tirano, impiedoso, agressivo, cruel, proposital, ameaçador e intimidador, entre outras qualidades ruins que gerem e transmita repetidamente atos de violência contra outros. Essas agressões, os assédios e ações desrespeitosas são todas realizadas de maneira intencional, por parte dos agressores, justamente para atormentar (CAMARGO, 2009). Quando crianças, muita gente já pode ter se sentido constrangido nas escolas por ter ganhado um apelido de mau gosto, talvez por não estar fisicamente dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade, ou por obter uma personalidade diferente, pertencendo um padrão social inferior. A definição mais clara de bullying é que fere a alma da vítima, sendo assim um ato de covardia que acontece repetidamente contra uma criança ou adolescente até mesmo com jovens.

15 Um exemplo que lembra essas definições é a criança negra, gordinha, surda, cega, estrangeira, ou que tem partes do corpo maiores que o padrão pré-estabelecido, como um nariz maior, uma orelha que chame mais a atenção, ou pelo fato de ser pobre. Estes passam por brincadeiras covardes, onde o mais fortes abusam dos mais fracos, uma vez que a maioria dessas pessoas é mais calada e se isola do meio social, fazendo com que sofram numa relação em sala de aula. Os apelidos pejorativos ferem a integridade dessas pessoas enquanto seres humanos. Entretanto Fante (2005, p. 28) ressalta que: Por definição universal bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuações de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão além de danos físicos, morais e matérias, são algumas das manifestações do comportamento bullying. O bullying é um fenômeno expansivo, considerado epidêmico e comprometedor do desenvolvimento do sujeito agredido, por suas consequências psicológicas, emocionais, sociais e cognitivas que se estendem para além do período de alfabetização até a faculdade. Este fenômeno atingiu a todos e em vários ambientes, uma vez que exercem seu poder sobre um grupo mais fraco. O bullying obtém características próprias dentre ela os traumas. Esses traumas em muitos casos levam as pessoas agredidas a excluir-se da sociedade e em nível mais elevado leva a vítima e também o agressor ao suicídio (CAMARGO, 2009). Em pesquisa, verificam-se vários relatos que mostra com maior clareza casos extremos relacionados ao bullying que acabam desenvolvendo problemas psíquicos, muitas vezes irreversíveis, como o exemplo do aluno Jeremy Wade Delle, estudante numa escola do Texas-EUA, que matou em oito de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade, trinta colegas dentro da sala de aula em frente à professora como forma de protesto pelos atos de perseguição que sofreu vários anos de sua vida (REVISTA NOVA ESCOLA, 2010).

16 Após esse protesto do aluno Jeremy, várias crianças declararam ser vítimas de bullying nessa escola. No entanto, não lutavam contra esses fatos, pois a administração da escola não demonstrava nenhuma intervenção e, com isso, os agredidos ficavam desesperançosos e não reagiam. Nas escolas os atos de violência física, simbólica e material são muito mais frequentes do que se imagina. Essas agressões agravam o sofrimento das vítimas que se encontram numericamente desfavoráveis em relação ao grupo em que o agressor pretende dominar. Os bullyies que praticam a violência de forma física agridem por meio de socos, pontapés, beliscões, empurrões. Para a violência simbólica utilizam a desmoralização por fofocas, difamações, rotulações pejorativas e exclusão social. A violência material os bullyies quebram os pertences como óculos, mochila, tênis, celular, cadernos entre outros (CAMARGO, 2009). Diante disso, qualquer agressão física ou emociona e material que seja praticada de maneira repetitiva define o bullying em todas as situações possíveis, como colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encanar, sacanear, fazer sofrer, isolar, intimidar, chutar, bater, dominar, tiranizar, aterrorizar, amedrontar, excluir, empurrar, ferir, e roubar (CAMARGO, 2009). Muitas escolas ainda percebem o bullying como brincadeiras normais que acontecem no dia-a-dia no ambiente escolar. Portanto, verifica-se que as brincadeiras de fato só acontecem quando todos os sujeitos que estão envolvidos nela estão de acordo e se divertindo. A partir do momento em que uma única criança que se sinta incomodada ou deseje parar de brincar, isso deve então ser respeitado, pois se o que a incomoda se repita por várias vezes, isto deixa de ser uma brincadeira e torna-se um ato de bullying. Por diversas vezes fomos alvos de brincadeiras violentas contra nossa vontade dentro das escolas e o choro era o nosso único refúgio e consolo. As reclamações surgiam e logo as respostas desapareciam em meio a tantas outras coisas que o docente achava mais importante.

17 Camargo (2009, p. 46) coloca que: É muito importante uma conscientização dos professores e dos educadores para com o bullying. Saber que nem todas as brincadeiras são realmente lúdicas é necessário para uma possível intervenção deste profissional, de forma a acrescentar melhorias nas situações encontradas. Verifica-se que o profissional escolar e todos aqueles envolvidos nas instituições de ensino devem estar comprometidos e capacitados para juntos proporcionar um ambiente escolar livre do bullying, sendo fácil identificar se é brincadeira lúdica ou algum tipo de bullying que está sendo desenvolvido, buscando assim uma maneira para intervir (FANTE, 2005). O clima social da escola e a qualidade da supervisão oferecida no ambiente são de grande importância. Um ambiente escolar em que falta o afeto e aceitação para todos os alunos é mais passível de abrigar problemas relacionados ao bullying. O âmbito escolar que não tem altas expectativas do comportamento dos alunos e uma política de repreensão eficiente está sujeito a criar um ambiente no qual os bullyies prosperem. As agressões ocorrem, frequentemente, nas áreas em que não há supervisão de adultos ou essa supervisão é insuficiente ou de baixa qualidade. A prática do bullying hoje, felizmente, é entendida como negativa e considerada inaceitável numa sociedade civilizada, pois vem sendo definida como um ato covarde, uma vez que é sempre o mais forte e valentão fazendo com que o mais fraco sofra, marcando e prejudicando a vida da pessoa para sempre. Um dos eventos mais lamentáveis envolvendo bullying foi em Virgínia, nos Estados Unidos. O estudante Cho Ceung-hu, no dia 16 de abril de 2007, matou 32 pessoas e depois a si próprio. Logo depois, descobriram que ele havia enviado um vídeo para uma emissora de televisão contando suas angústias e o que o levou a ter essa reação. No vídeo ele contava que sofria muito e havia se decepcionado com as pessoas. Este tipo de culminância no bullying é de alguém que não aguentava mais sofrer, e por isso acabou matando outras pessoas e destruindo a própria vida (CAMARGO, 2009).

18 O bullying vem sendo definido em etapas, sendo elas diretas e indiretas. Aos praticantes (bullyies) que agem sobre a vítima de forma direta, acabam por envolver o contato físico, utilizando das próprias mãos, sendo assim o mais fácil de constatar, praticado com maior frequência pelos bullyies masculinos. O ato praticado de maneira indireta envolve meninas e crianças sendo assim mais sutil, ocorre sem contato físico e por isso é mais difícil de constatar, tendo como consequência o isolamento do ambiente social das pessoas vitimadas. Grande parte dessas vítimas tem dificuldade de se relacionar e interagir, o que acaba por refletir no convívio social. Esses sujeitos procuram um lugar isolado para se esconder durante o recreio, e acabam por se afastar dos professores e dos funcionários da escola, facilitando o agir do agressor que se aproveita das inseguranças e ansiedades das vítimas para atacar, impondo sua força. Diante disso, CAMARGO (2009, p. 45) diz que: O bullying é manifestado em caráter sigiloso. As agressões ocorrem de forma secreta, escondida daqueles que poderiam intermediar a situação. O bullying apresenta suas próprias características, dentre elas a causa de traumas e problemas psíquicos. Este fenômeno acontece em vários contextos além das escolas, como nas residências, nas famílias, nas prisões, nos locais de trabalho, enfim onde houver relações interpessoais. Salienta-se ainda que o bullying atingiu a todos e a vários ambientes, uma vez que encontramos em toda sociedade pessoas que exercem seu poder sobre um grupo mais fraco. Este fenômeno não privilegia classe social, cor, gênero, raça ou etnia, este abrangido todas as pessoas.

19 O bullying tem um nome próprio em todos os países. No Brasil é conhecido como nos Estados Unidos: Bullying, a França denomina harcéliment quotiden, na Itália conhecido como Bulismo, a Alemanha chama-se agressionem unter shulern, em Portugal adota-se o termo maus-tratos entre pares. É importante saber que a agressão, seja ela física ou psicológica, que acontece em grupos de maneira intencional e repetitiva, vem sendo definida e caracterizada como bullying (CAMARGO, 2009). As possibilidades e as construções para inúmeros conflitos têm seu palco na escola. A intenção de machucar, ferir e violentar gratuitamente com ações frequentes seja física ou psicológica é então definida por vários autores como bullying. Conclui-se, portanto, que o termo bullying é utilizado para discriminar atos violentos e repetitivos de um determinado grupo sobre pessoas mais fracas. As vítimas sofrem caladas e tem dificuldades de se relacionar em um meio social, pois se sentem inferiores aos outros. O comportamento violento através do bullying provoca graves consequências no aprendizado do agressor e da vítima, bem como vários transtornos psicológicos, emocionais, como o baixo rendimento escolar. O bullying não é um problema somente da escola, mas também da sociedade e da família. Com este conceito entende-se que a violência é a cultura de um determinado grupo social que pode alimentar os casos de bullying, uma vez que os sujeitos acabam por herdarem a violência. Diante disso, sabe-se ainda que a cultura à qual pertencemos possui uma enorme influencia em nossos comportamentos, e é importante ressaltar que essa cultura pode ser determinante para que o bullying prospere na vida escolar e social, pois o ambiente se contamina e os sujeitos se afetam negativamente.

20 O bullying, então, está presente no nosso dia-a-dia, na realidade escolar, onde sujeitos passam por situações de humilhações, gozações, ameaças, apelidos constrangedores, chantagens, intimidações (FANTE, 2005). Portanto, quando ocorre isso, os sujeitos agredidos se calam, pois se sentem ameaçados e com medo de novos ataques. Concluímos que o fenômeno bullying não pode ser comparado com brincadeiras infantis, pois carregam características negativas como as citadas no decorrer deste trabalho. Desta maneira, a sociedade e escolas devem trabalhar juntas para prevenir essa prática, que vem crescendo em nosso meio e deixando marcas profundas.

21 3 UMA ANÁLISE DA BIBLIOGRAFIA SOBRE O BULLYING Sabe-se que bullying é um fenômeno mundial que vem se intensificando no ambiente escolar e na sociedade, com suas características de humilhar, maltratar, aterrorizar dentre outras características abordadas anteriormente. Neste capítulo iremos realizar uma breve análise da bibliografia quanto às referências bibliográficas sobre o fenômeno bullying.. Abordaremos três autoras que nos deram um suporte fundamental para esta pesquisa. A primeira dela é Carolina Giannoni Camargo, com sua obra Brincadeiras que fazem chorar: Introdução ao Fenômeno Bullying. Camargo é graduada em Pedagogia pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pesquisa sobre o bullying desde 2005, coordena ainda uma empresa que se dedica a prevenção e ao combate ao bullying nas escolas e vem contribuindo com palestras sobre o assunto para professores, pais e alunos. A segunda autora a ser abordada, é Cléo Fante, com seu livro Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Fante é educadora e idealizou o Programa Educar Para a Paz, coordena um curso de Pós-graduação em fenômeno bullying, ministra cursos e também faz palestras sobre o assunto. A terceira autora é um pouco mais conhecida pela mídia, a psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva, escritora do livro Bullying: mentes perigosas nas Escolas. Silva é medica pós-graduada em psiquiatria, e diretora da Clínica Médica do Comportamento. Realiza ainda palestra, conferências e consultorias sobre este assunto e sobre vários temas do comportamento humano, além de já ter escrito várias obras relacionadas ao tema.

22 Observa-se nessas literaturas que o assunto vem se repetindo e os escritores acabam, em alguns momentos, utilizando de outros autores como suporte para sua obra. Ao fazer a leitura, verifica-se que as experiências e investigações feitas pelas autoras é o que modifica e recheia cada livro, com muitos relatos e pesquisas de campo. Entende-se que no Brasil o tema bullying ainda é um assunto cheio de limitações, pois não existem pesquisas significativas de estudos acadêmicos relacionados a este fenômeno e as fontes encontradas, apesar de serem muito importantes, estão abordando e relacionando o tema também através de pesquisas realizadas em campo e com acontecimentos mundiais. Porém, no Brasil o fenômeno bullying vem aos poucos entrando nas instituições de ensino e sendo trabalhado, pois a mídia vem contribuindo com incentivos e publicações sobre o tema, colaborando para que este ato de violência receba um olhar mais significativo das escolas e da sociedade. Fante (2005), em sua obra Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz, define o termo como sendo um comportamento cruel, onde os mais fortes acabam por dominar as sujeitos mais frágeis, que utilizam maneiras de brincar onde esses sujeitos viram um objeto de prazer, um brinquedo que utilizam para sua própria satisfação, que acabam por disfarçar o propósito de maltratar, intimidar e aterrorizar suas vítimas. Segundo Fante (2005, p. 29): Definimos o bullying como um comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objeto de diversão e prazer, através de brincadeiras que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar.

23 Fante, ainda em seu livro (2005), aborda uma proposta de estratégias de intervenção e prevenção, o Programa Educar para a Paz, que tem como finalidade implantar nas crianças e nos jovens estudantes formas de internalizar e praticar o respeito pelos outros, a solidariedade, a tolerância e o amor, construindo assim uma sociedade pacífica e uma escola reprodutora da paz. No entanto, isso deve acontecer primeiramente dentro de cada sujeito, através do diálogo, tendo como apoio os professores, os pais, e a comunidade. Entende-se que o bullying é uma forma de violência, e não deve ser visto e interpretado somente como meio de agressão, não sendo uma violência qualquer, mas sim uma violência cheia de características específicas que acontecem repetitivamente contra o mesmo alvo, como uma perseguição que acontece várias vezes ao dia. No entanto Fante (2005, p. 30) diz que: O bullying é um conceito especifico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. A escritora Carolina Giannoni Camargo (2009), descreve o bullying através de verbos como, intimidar, maltratar, ridicularizar, ameaçar. Para ela, esse fenômeno acontece em pares, de forma intencional e repetitiva, sendo frequentemente uma violência gratuita que gera muitas consequências, que pode ser realizado em qualquer lugar em que existam relações interpessoais. Desta maneira Camargo (2009, p. 22) coloca que Bullying é uma agressão física e/ou psicológica ocorrida entre pares, de forma intencional, repetida, sem motivo aparente que justifique tal atitude, gerando uma consequência. A autora também faz relatos importantes quanto à prevenção ao fenômeno bullying e descreve a importância do trabalho em conjunto para a implantação de princípios como respeito, solidariedade e regras que estipulam o limite, dentro da escola e em casa, desta maneira a importância do trabalho em conjunto.

24 Camargo (2009) realiza ainda, um detalhamento do que vem a ser o respeito, a solidariedade e a regra, acentuando que o diálogo entre pais, filhos e escola é o melhor caminho para trabalhar a prevenção do bullying. Camargo também vem relatando a lei contra o bullying, como uma forma de conscientização de que a prática a esse fenômeno também tem uma punição. Para prevenir o bullying os professores devem então conhecer o termo, suas características, consequências e se atualizarem sobre o assunto. Camargo também insiste na importância de garantir meios para combater esta violência, sem confundila no dia-a-dia das escolas, e não visualizar o bullying como mais uma violência diária ou comum. Segundo Camargo (2009, p. 26): Nem todas as brigas são consideradas bullying. Observar as características das agressões torna-se um importante meio para não banalizarmos o termo. Lembrando que para ser bullying, a agressão deve acontecer de forma repetida, intencional e sem motivação e entre pares. Em concordância com as autoras acima citadas, Ana Beatriz Barbosa Silva, afirma ainda em sua obra que o fenômeno bullying é uma expressão que caracteriza um determinado tipo de violência, sendo epidêmico e estando presente em todas as escolas do mundo. Diante disso, relata que o bullying se caracteriza pelos atos de impor autoridade e domínio sobre os alvos, adotando e aplicando poder, intimidando e sendo prepotente perante as vítimas. Nesse sentido, Silva (2010, p. 21) esclarece: Já a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender. Silva (2010) também acrescenta experiências vivenciadas no seu ambiente de trabalho, as clínicas Medicina do Comportamento, localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde, como psicóloga, atende vários casos de bullying apresentadas em seu livro.

25 A autora busca investigar o comportamento dos sujeitos, descrevendo não só o comportamento do agressor, como ainda o da vítima e dos espectadores, tentando uma compreensão mais ampla sobre este problema que afeta a vida de muitas pessoas e vem contribuindo com o crescimento dos atos violentos. Esclarece, ainda, os vários transtornos e consequências psíquicas e comportamentais do bullying, como o transtorno do pânico, a fobia escolar, a fobia social, dentre outros. Sua obra contempla de maneira esclarecedora este fenômeno nos dando maior entendimento do porquê da ocorrência do bullying, o que leva os bullyies a agir de maneira intencional e tão cruel, suas causas e consequências. O bullying gera frustrações para todos os envolvidos. Como as outras autoras acima citadas, Silva também sugere que, para combater este fenômeno, pais, alunos, comunidade e escola devem batalhar juntos para alcançar um final feliz, pois este combate tem que ser realizado em uma luta diária. Em complemento, Silva (2010, p. 13) afirma ainda que nem todas as brincadeiras são puras e inocentes e que: As brincadeiras acontecem de forma natural e espontânea entre os alunos. Eles brincam, Zoam, colocam apelidos uns nos outros, tiram sarros dos demais e de si mesmo, dão muitas risadas e se divertem. No entanto, quando as brincadeiras são realizadas repletas de segundas intenções e de perversidade, elas se tornam verdadeiros atos de violência que ultrapassam os limites suportáveis de qualquer um. Diante disso, fica claro para todas as autoras que o bullying não é um tipo qualquer de violência. Ele é aterrorizador, perverso em todos os sentidos, por isso a importância de que todos devem estar integrados para saber identificar o fenômeno diante dos atos de violência. Como também referido por outras autoras, o bullying não se deixa confundir, por suas características e por acontecer de maneira repetitiva para com as vítimas.

26 Contudo, após esta análise a bibliografia do fenômeno bullying, fica claro que este ato de violência vem sendo caracterizado pelas autoras estudadas de maneira semelhante, nos oferecendo uma descrição conjunta do que vem a ser o bullying, como ele surge, suas características e consequências, juntamente com relatos mundiais e experiências em atividades de pesquisas de campo. Ou seja, o bullying é o nome dado ao ato de violência que tem como características a forma de violentar repetidamente as vítimas, aterrorizando, ameaçando, intimidando, provocando, agredindo fisicamente e psicologicamente aqueles sujeitos que demonstram ser mais frágeis. Entretanto, as autoras citadas acima, mesmo com toda a formação profissional diante do assunto, ainda não encontraram uma definição determinada ou concreta do que seria o bullying e buscam cada vez mais viver experiências diárias que possam levá-las a uma conclusão satisfatória, visto que as pesquisas sobre este assunto ainda não são prioridade no Brasil e este tema ainda é escasso. Concluímos que as autoras apresentam características bem semelhantes quanto ao fenômeno bullying. Em suas obras não se verificam contradições que possam diferenciar seus livros, possibilitando informações novas que remeteriam a um novo sentido e conhecimento sobre este assunto. No entanto, percebe-se que este tema também é limitado nos livros e nos leva a uma única forma de visualizar e compreender o fenômeno. De maneira geral, a concepção de que seja bullying é semelhante, não apresentando diferentes concepções. Diante disso, perguntamos o que leva uma criança ou jovem a cometer o bullying? Seria somente o fato de se sentir maior e melhor que o outro, impondo sua autoridade? O que existe por trás desse fenômeno?

27 4 BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL Iniciaremos este capítulo abordando o pensamento da autora Carolina Giannoni Camargo, em seu livro Brincadeiras que fazem Chorar: Introdução ao Fenômeno Bullying, que aborda em uns de seus capítulos a temática do bullying na Educação Infantil. A autora se baseia principalmente no pensamento de Piaget para analisar as crianças e relacioná-las com o fenômeno bullying. Apresentaremos também as pesquisas que realizamos em instituições de ensino privado e ensino público, para tentar identificar e confrontar juntamente com Camargo as experiências vívidas, verificando a postura de cada escola e professor frente ao bullying. Para a coleta de dados, utilizamos um gravador e um questionário com questões relacionadas à temática. Optamos por fazer uma pesquisa de campo para relacionar a teoria estudada com a prática vivenciada, na tentativa de compreender melhor por que os professores se calam diante dos atos de violência frequentes nas escolas e, ainda, como as crianças são consideradas e classificadas perante esses acontecimentos diários e cruéis, visto que refletem seu mundo real através de contextos diversos de vida. 4.1 EXISTÊNCIA DO BULLYING NA EDUCAÇÃO INFANTIL Na educação infantil construímos e desconstruímos saberes. Trata-se de uma fase muito importante que possibilita à escola e aos docentes, juntamente com os pais, trabalhar conteúdos que despertem nas crianças o amor pelo próximo, o respeito e a solidariedade perante o outro. Nas relações humanas desde muito cedo a disputa já é uma forma de exercer o poder entre as pessoas, e as crianças usam e abusam dessa disputa para alcançar seu objetivo.

28 Segundo Camargo (2009), o pensamento de Piaget sugere que a criança passa por estágios ou etapas de desenvolvimento, sendo capaz de construir e desconstruir o seu desenvolvimento cognitivo, levantando a idéia que as crianças têm comportamentos de acordo com sua faixa etária e que isso vai sendo alterado a partir do momento em que ela sai da educação infantil (fase entre zero a cinco anos), que, para Piaget, é constituída pelas etapas Sensório-Motora e Pré- Operatória. Para entendermos o significado dessas duas etapas, Camargo (2009, p. 50) as descreve: Na primeira etapa a Sensório-Motora, as crianças agem por meio de reflexos neurológicos, participam do mundo pelos sentidos de forma direta e objetiva, sem formular reflexões e pensamentos, conhecem o mundo pelos sentidos, levando os objetos até a boca e prestam atenção em cada ruído ocorrido a sua volta, desenvolvem-se emocionalmente e criam a noção do tempo-espaço e objeto por meio da ação. Na segunda etapa Pré-Operatório, ocorre o despertar da comunicação, a criança ganha, ano a ano, um vocabulário cada vez mais extenso, facilitando a socialização, conhece e gosta de brincar com o outro, interagir e se comunicar, há um avanço no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo em decorrência da aquisição da linguagem. Diante dessa argumentação advinda de Piaget, Camargo (2009) acredita que essas duas etapas da criança não possibilitam a presença do fenômeno bullying, mas sim um ato de agressão, ao disputar com o outro um brinquedo, ou até mesmo a atenção total da professora. Segundo a autora, nessa fase, a criança ainda é egocêntrica e tende a morder, beliscar, puxar o cabelo ou cuspir para resolver seus conflitos. Camargo (2009) considera a todo o momento o pensamento de Piaget, concordando que a criança somente a partir de cinco anos será capaz de colocar apelidos, xingar, excluir, humilhar com intenção, pois é a partir dessa fase que elas começam a se socializar e distinguir o certo do errado, o bom e o ruim. A autora (2009, p. 52) indica que por volta de cinco e seis anos de idade, a criança é capaz de inventar apelidos pejorativos para seus colegas de turma, criar panelinhas, excluir, provocar e até humilhá-los.

29 Diante deste contexto, a autora não concebe a criança numa perspectiva sóciohistórico-social, capaz de agir mediante ao seu convívio. Entende que a criança já nasce em sociedade e a todo o momento recebe informação que irá caracterizá-la enquanto sujeito. Em pesquisa nas escolas públicas e privadas visualiza-se que a violência não tem idade, tamanho, nem sequer momento para acontecer. Ela está por toda parte do ambiente escolar e acontece com frequência com as crianças negras, ruivas, gordas, tímidas, estrábicas, dentre outras. Nossas experiências como mães nos possibilitam lembrar casos de nossos filhos na infância, quando refletiam na escola toda nossa postura de autoridade diante deles. Mesmo sem falar, agiam através dos gestos, dos olhares e até pegavam seus sapatinhos e sandálias, para ameaçar seus amigos, quando esses se recusavam em entregar o que eles queriam. Várias foram às vezes que fomos chamadas na escola para explicar certas atitudes de nossos filhos. Essa reação da criança tem relação com os ensinamentos e hábitos que estão em nossa cultura e que impomos a eles desde que nascem. No entanto, não podemos pensar na criança sem a concebê-la como sujeito sócio-histórico-social, capaz de agir intencionalmente, com a razão. Na escola e na sociedade a agressão deve ser investigada e diagnosticada pelos pais e professores desde a educação infantil, possibilitando um olhar mais apreensivo a esses atos que são violentos, adquiridos no convívio com os outros, pois agressão é uma ponte que, sem intervenção da escola e da família, pode ser transformar em um transtorno de conduta mais grave, visto que conscientemente repetem maneiras de agir que lhes foram transferidos, conforme sua cultura e sociedade. Já indicamos que Camargo (2009, p. 24), quando pesquisou o bullying, não constatou casos deste fenômeno na educação infantil, mas sim na fase da adolescência. Porém, contraditoriamente, a autora também afirma que o bullying é encontrado em todos os espaços de uma escola, em família, em residências, dentre outros, onde existir pessoas e houver convivência.

30 Diante disso, Camargo (2009, p. 24) afirma: As pesquisas que encontramos sobre bullying, costumam se referir aos adolescentes no convívio escolar. Ou seja, quando ouvimos a para bullying, logo associamos a jovens e à escola. Porém, este fenômeno pode ser encontrado na família, no clube, nos condomínios residenciais, na faculdade, quartéis, enfim, em qualquer lugar onde existam pessoas em convivência. Então poderíamos pensar que a criança não é um ser que convive em família? Na escola? E que não se relaciona com outros sujeitos? Se pensarmos desta forma conceberíamos a criança como sujeito desprovido de aprendizado, incapaz de aprender com o outro, de se relacionar e conviver em sociedade, pois se ela convive em família e a todo o momento recebe informação e influência dos atos representados pelos sujeitos do seu ambiente familiar, logo a criança também aprende a praticar tudo o que acontece neste contexto, visto que se o bullying está presente nesses espaços, a criança também irá aprender a praticá-lo. 4.2 A POSTURA DA ESCOLA FRENTE AO FENÔMENO BULLYING: PROFESSORES QUE SE CALAM Neste tópico faremos uma investigação de escolas privadas e públicas, e de alguns de seus funcionários, pedagogos e professores, para verificar suas posturas e entendimentos frente ao fenômeno bullying. É importante entendermos a função da escola, a função do docente para a vida dos alunos como sujeitos que já trazem conhecimentos e hábitos que devem ser considerados e trabalhados. Entendemos que a escola é um lugar onde passamos grande parte do dia e de nossas vidas. É neste ambiente que nos constituímos enquanto cidadão, onde aprendemos, ensinamos e nos relacionamos com várias pessoas com diferentes hábitos e costumes. É um lugar que deve ensinar e enfatizar o respeito entre as diferenças, proporcionando assim um ambiente sem discriminação e violência, um lugar democrático e aberto às discussões.

31 O docente tem a função de mediar o ensino, trabalhando diversas maneiras de construir sujeitos críticos capazes de exercer seus direitos e deveres diante da sociedade. Ele deve reconhecer que ensinar exige comprometimento e busca de novos conhecimentos, atualizando-se frente às mudanças e realidades atuais. O professor deve ser amigo do aluno, uma pessoa em que as crianças deveriam confiar e solicitar sempre que preciso, como em uma briga com o colega, em momentos de duvidas e de angustia, obtendo do professor uma postura positiva onde o aluno se sinta seguro e tenha a certeza de que está protegido. Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia Saberes Necessários à Prática Educativa (2008), sugere que ensinar exige ter humildade e saber escutar. Para isso, o educador deve demonstrar para seus alunos que é responsável e está disposto a mudanças, aceitando as diferenças, dando ao aluno um exemplo a ser seguido e transmitindo confiança, demonstrando que é amigo e que irá ajudá-lo e ouvi-lo, garantindo ao aluno que ele é importante e considerado. No entanto, percebe-se que o professor que não cumpre eticamente a sua própria função e é autoritário em sua docência, que ironiza o aluno e o desrespeita enquanto sujeito que traz conhecimento, proporciona, cada vez mais, um afastamento entre aluno e professor, garantindo esse distanciamento, pois desrespeita a curiosidade dos alunos. O docente que não enxerga o aluno, acaba sufocando a liberdade do discente e proporcionando o desrespeito e a confiança entre si. Logo, esse universo transmitirá a violência em suas diversas maneiras, pois não se encontram nas escolas profissionais preocupados com o aluno e sim em transferir o conhecimento e cumprir o calendário. Verifica-se então que as escolas e os professores acabam se distanciando dos alunos e não dão conta de resolver tudo o que acontece no ambiente escolar, devido à correria diária, a falta de capacitação dos professores, salas lotadas, salários baixos, pouco apoio pedagógico e as famílias dos alunos sempre ausentes.

32 O professor que não tem tempo de ler e muito menos de tentar diagnosticar algo na sua escola ou na sua sala de aula dentre outros fatores acabam proporcionado um afastamento entre aluno-professor-escola. E por isso, quando são questionados sobre o bullying se unem e se calam frente ao fenômeno, garantindo uma boa imagem da escola e deles mesmo enquanto profissionais da educação. Para melhor compreender esta problemática relatada acima, iniciamos nossa coleta de dados no dia 31 de maio de 2011, na tentativa de sanar dúvidas e visualizar casos de bullying nas escolas, além de observar a postura dos professores e das escolas, dentre outras questões que serão abordadas no decorrer deste capítulo, na tentativa de compreender melhor este fenômeno. Começamos neste dia, pois já havíamos tentado fazer a pesquisa em outras escolas. Porém, mesmo com a carta de apresentação informando a importância de da coleta de dados para a nossa pesquisa, não fomos bem recebidas. Então nos lembramos de uma escola privada que já havia nos recebido para a realização de um estágio supervisionado em períodos anteriores, o que facilitou a nossa entrada na instituição. Porém, quando fomos apresentadas para equipe pedagógica e começamos a falar o nosso tema de coleta e qual seriam os recursos que utilizaríamos para coletar dados (gravador, questionários), logo se percebia o desconforto desta equipe em falar do assunto e em deixar registros. Os funcionários começaram afirmando que na escola não havia casos de bullying e que muito antes deste fenômeno receber o nome bullying, o assunto já era trabalhado nesta instituição através de projetos. Esta maneira de pensar e agir dos profissionais de educação das escolas privadas não difere das instituições públicas. Constatamos que a escola pública recebe os pesquisadores com maior entusiasmo, mas também não facilitam a coleta de dados quando estamos em campo, impedindo a visualização e a identificação de casos de violência, seja de qualquer natureza.

33 Em uma de suas entrevistas realizadas e disponibilizadas na internet a doutora psicóloga Ana Beatriz Silva fez uma afirmação muito importante. Ao verificarmos a inquietação dos profissionais das instituições privadas, Silva (2011) afirma que há um grande diferencial entre as escolas privadas e públicas, garantindo que as redes públicas, quando se pensa em bullying, são favorecidas mediante os órgãos como Conselhos Tutelares e Delegacias da Criança e do Adolescente, que oferecem suporte diante dos casos de violência, e não parecem temer tanto a imagem. Diante disso, a autora aponta que as escolas particulares não utilizam esses órgãos, pois temem por sua imagem, abafando os casos de bullying e fechando os olhos para este assunto que assombra o recinto educacional. Em coleta de dados, na escola privada A, realizada no dia 31 de maio de 2011, com a pedagoga de 46 anos, formada em pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo UFES, foi feita a seguinte pergunta: Pesquisadoras - De acordo com a autora do livro bullying, a Dra. Ana Beatriz Silva, as escolas particulares não têm uma postura muito efetiva diante do fenômeno bullying, e tendem a abafar, pois pode representar um aspecto negativo na imagem da escola. Diante desta colocação qual sua postura? Pedagoga da escola A - Tratamos o assunto de forma intensa e preventiva. Através de projetos damos ênfase nos valores. Quando acontece, é fato isolado, não trazendo nenhum prejuízo às crianças, pelo contrario, recebemos muitos elogios por ter tido uma postura de prevenção. As escolas, de modo geral, e também os professores não assumem que este fenômeno acontece e que, como educadores, não conseguem dar conta de controlar toda a violência existente neste ambiente escolar. Quando partimos para a coleta de dados nas instituições de ensino, estes profissionais se dividiram por toda a escola na tentativa de não deixar que aconteça nenhum ato suspeito de violência que nos permita identificar falhas da escola ou de profissionais escolares frente ao ato de agressão.