CONJUNTOS DE HABITAÇÃO SOCIAL ESTIMULADORES DE IMPACTOS AMBIENTAIS?



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Transcrição:

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 320 CONJUNTOS DE HABITAÇÃO SOCIAL ESTIMULADORES DE IMPACTOS AMBIENTAIS? Tauana Rodrigues Batista¹; Letícia Pirola Maziero¹; Brysa Yanara de Mendoça Thomazini¹; Marcela do Carmo Vieira², Sibila Corral de Arêa Leão Honda³ 1 Discente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista. 2 Arquiteta e Urbanista, Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista,. 3 Arquiteta e Urbanista, Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista. RESUMO O processo de urbanização tem ocorrido em grande velocidade nas últimas décadas, verificandose ampliação constante da degradação dos ambientes naturais. A ausência de controle e direcionamento da expansão urbana e dos processos de ocupação do território auxiliam nos impactos gerados. A partir disso, este artigo busca contribuir para uma análise crítica sobre a produção da habitação de baixa renda em cidades médias, no período entre 1997 e 1999, considerando as questões ambientais. Com base no estudo de caso de Presidente Prudente, objetiva se relacionar a implantação de empreendimentos residenciais para a baixa renda e os efeitos no território municipal, a possibilidade de expansão territorial e de impactos ambientais. Palavras chave: Habitação de Interesse Social, Planejamento Ambiental, Planejamento e Gestão Urbanos, Adensamento Urbano, Expansão Urbana. INTRODUÇÃO O processo de urbanização no Brasil, nas últimas décadas, a manutenção da propriedade de terras concentrada e a baixa preocupação com questões ambientais reais, ocasionam problemas ambientais urbanos aliados à carência de infraestrurura e ao déficit habitacional, além da reprodução da segregação socioespacial. Durante a Era Vargas, a partir de 1930, no Brasil, o Poder Público Federal passou a desenvolver políticas de modernização do país, com estímulo à industrialização, ocorrendo maior procura por moradia nos centros urbanos. Ao mesmo tempo, também se buscou apoio popular por meio da criação de lei de proteção ao trabalhador e de política habitacional (BONDUKI, 2004, SACHS, 1999). Em 1945, o Governo Federal passou a buscar uma política habitacional nacional descentralizada, com construção de grandes conjuntos de apartamentos, em âmbito nacional. No início da década de 1960, buscou se uma reestruturação da política habitacional por meio de linhas de ação de curto e longo prazos, no entanto essa política não chegou a ser implementada. Ao mesmo tempo, o processo de urbanização no país acontecia em grande intensidade, com crescimento constante da demanda por moradias (SACHS,1999). No ano de 1964, após a entrada dos militares no Governo Brasileiro, uma nova política habitacional foi lançada, sendo que, oficialmente, visava se a facilitar o acesso à casa própria. O

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 321 Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação (BNH) também foram criados, este como agente financiador. Considerando os locais de implantação dos conjuntos habitacionais executados nesse período, verifica se que eram distantes e sem infraestrutura ou equipamento urbanos, resultando em graves problemas para o Poder Público municipal e, principalmente, aos moradores (HONDA, 2011). O período seguinte pode ser caracterizado pela crise do modelo de política habitacional, com extinção do BNH em 1986 e retomada de discussão sobre reforma urbana. Em 1988 a nova Constituição Federal foi sancionada. No ano de 1990, com a posse do novo Presidente da República, documento foi proposto com metas ambiciosas na área de moradia popular para o período de 1991 a 1995, tendo havido uma dissociação das atividades de saneamento e desenvolvimento urbano, além do fato do tomador do financiamento habitacional ter passado a ser as construtoras (FREITAS, 2004; AZEVEDO, 2007). Considerando a realidade legal, a preocupação com políticas urbanas deveria ser central nos municípios, visando também ao desenvolvimento sustentável das áreas urbanizadas (ANTONUCCI, 2009). No entanto, é verificado que as cidades, atualmente, são responsáveis pela utilização de três quartos da energia consumida no planeta e por três quartos da poluição mundial produzida (MORENO, 2002). Assim sendo, este artigo busca analisar a produção de moradia popular, tendo como foco de estudo Presidente Prudente, cidade média no interior do Estado de São Paulo, por meio da relação entre a implantação de empreendimentos residenciais para a baixa renda, os efeitos no território municipal, a possibilidade de expansão territorial, e a degradação ambiental, no período entre 1997 e 1999. METODOLOGIA A metodologia utilizada está baseada no aprofundamento da linha teórica e conceitual, e na investigação prática, procurando efetuar a análise de casos estabelecidos por meio de levantamentos bibliográficos, pesquisa documental, levantamentos sobre as características ambientais naturais locais e mapeamentos. PRESIDENTE PRUDENTE COMPREENSÃO HISTÓRICA Presidente Prudente é uma cidade no oeste do Estado de São Paulo, cuja colonização foi apoiada na implantação da Estrada de Ferro Sorocaba, ligando a estação inaugurada em 1919 com a cidade de São Paulo. A estrutura urbana dependeu de forma direta da abertura de dois

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 322 loteamentos: a Vila Goulart e a Vila Marcondes, juntos à estação ferroviária, um de frente e outro ao fundo desta. Percebe se que a expansão da malha tem apresenta mais vigor na direção sudoeste, como prolongamento da Vila Goulart. A partir da década de 1920, Presidente Prudente apresentou grande expansão territorial urbana, até a primeira metade da década de 1950. Entretanto, não houve planejamento ou regularização legal das áreas intra urbanas. No período seguinte, compreendido entre a segunda metade da década de 1950 e a de 1960, percebe se pequeno crescimento espacial urbano, quando comparado aos anos anteriores. Verifica se, entretanto, significativo aumento da população e desenvolvimento das atividades terciárias nessa cidade durante as décadas de 1960 e 1970 (HONDA, 2011). O primeiro empreendimento de habitação social foi construído em Presidente Prudente no ano de 1968, executado em loteamento pré existente na franja urbana, na região sul, atual Jardim Bongiovani, com financiamento do BNH. Em 1978, foi executado o segundo conjunto habitacional, também com financiamento do BNH, em franja urbana em loteamento pré existente, mas na região oeste (SILVA, 2005). Nos anos seguintes, outros dez outros conjuntos foram aprovados e implantados na cidade, cuja maioria foi executada na região oeste da malha urbana (TORREZAN, 1992). No entanto, ocorreu grande redução de investimentos no setor habitacional, gerando lacuna temporal entre os anos de 1982 e 1987 na liberação de novos financiamentos de conjuntos de moradia popular. Com a retomada do processo, entre 1987 e 1996, dezoito novos empreendimentos foram aprovados (MARISCO, 2003; FERNANDES, 1998). Verifica se razoável incentivo à implantação de habitação social na cidade. Entre 1997 e 1999, mais cinco empreendimentos foram construídos: Jardim Maracanã, Jardim Cecap II, Maré Mansa, Jardim Cobral e São João, dos quais um era particular (Maré Mansa), e os outros quatro foram financiados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo do Estado de São Paulo. Entre os anos de 2000 e 2009, mais sete conjuntos foram executados (HONDA, 2011). A partir desse percurso histórico, verifica se a importância da não construção de conjuntos habitacionais na franja, incentivando a expansão urbana, possibilitando grandes problemas sociais, ambientais e econômicos urbanos.

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 323 EXPANSÃO URBANA E ANÁLISE SOCIOESPACIAL A implantação de empreendimentos de moradia popular na estrutura urbana deve ser analisada a partir de parâmetros comparativos de localização e de incentivo ao crescimento da cidade. A possibilidade de implantação desses conjuntos em áreas previamente abertas e/ou urbanizadas e em vazios urbanos pode auxiliar na inclusão de população carente em áreas com infraestrutura e serviços públicos, possibilitando a diminuição da segregação socioespacial. Aliado a isso, a ocupação de áreas urbanizadas pode, além de diminuir a expansão periférica, reduzir impactos ambientais em áreas naõ urbanizadas, contíguas à malha urbana. Não obstante, cidades com grande número de córregos, nascentes e áreas de mananciais podem fragilizar o próprio processo de urbanização, na ampliação de áreas novas assim como na implantação de empreendimentos e loteamentos em áreas existentes na estrutura urbana. A análise da estrutura natural que apoia a estrutura urbana é de extrema importância na busca da sustentabilidade no espaço construído. Ou seja, o zoneamento ecológico deveria ser a base do processo de controle do uso e ocupação do solo, que não é verificado em Presidente Prudente. A preocupação com a degradação do meio ambiente vem tomando grande importância mundial, assim como a questão de impactos ambientais urbanos, compreendido como qualquer alteração produzida pelo ser humano e suas atividades no ambiente, excedendo sua capacidade de absorção. Pode se considerar o ambiente urbano como a relação entre homem, natureza e espaço construído, compreendendo este último como resultante da transformação do ambiente na adequação das necessidades da sociedade (MORENO, 2002). Entre as necessidades da sociedade está a moradia, caracterizando se como um direito do ser humano. Dessa forma, a carência de moradia adequada, decorrente do crescimento dos centros urbanos, gerou a necessidade de ações públicas e privadas voltadas à construção de empreendimentos habitacionais direcionados à camadas mais frágeis da população. Essas ações, no entanto, visavam à execução dos conjuntos de moradia popular de forma rápida e barata, na tentativa de reduzir o déficit habitacional existente. Isso resultou em descaso com as necessidades de seus usuários, locados em áreas distantes, carentes de serviços e infraestrutura urbanos (LIMA e LAY, 2010). É observada grande relação entre pobreza e degradação ambiental, principalmente em regiões com urbanização crescente, resultado da precariedade de serviços e da omissão do Poder Público na proteção das condições de vida, além de ações impensadas da população urbana. A ausência de políticas urbanas voltadas ao controle, direcionamento, planejamento e gestão

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 324 urbanos, assim como às definições de implantação de habitação podem resultar em aprofundamento da degradação ambiental (JACOBI, 1993). A localização geográfica, as distâncias e os processos químico físicos possuem influência direta sobre a forma de ocupação e de organização do espaço, no qual ambientes naturais mais frágeis são atingidos de forma mais profunda. Importante destacar também que esses ambientes, em sua maioria, acabam sendo destinados às classes mais carentes da sociedade (CUNHA e GUERRA, 2010). PRESIDENTE PRUDENTE ANÁLISE DE CONJUNOS HABITACIONAIS O estudo de caso da pesquisa que embasa este artigo é composto por empreendimentos de habitação de interesse social na cidade de Presidente Prudente, entre os anos de 1997 e 1999. Foram executados cinco conjuntos habitacionais: Jardim Maracanã, Jardim Cecap II, Maré Mansa, Jardim Cobral e São João, dos quais um foi loteado por incorporadora privada (Maré Mansa), e os outros quatro foram financiados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo do Estado de São Paulo (Figura 1). Figura 1. Localização dos conjuntos habitacionais estudados (Fonte: Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, 2012) O loteamento Maré Mansa está implantado fora da malha urbana de Presidente Prudente, próximo à Rodovia Arthur Boigues Filho (Estrada da Amizade). Sua localização gera problemas de instalação de infraestrutura urbana, também criando dificuldades de mobilidade urbana aos moradores. Em relação a questões ambientais, importante destacar que está em área de manancial, junto a diversas nascentes (Figura 2).

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 325 Verifica se com grande facilidade o descaso com questões ambientais, de negação à preservação, de criação de muitos impactos; além das questões sociais, a despreocupação quanto a equipamentos e serviços públicos, à mobilidade urbana, à segregação socioespacial, e à geração de problemas resultantes dos impactos ambientais causados localmente. Reforça se a constatação da instalação de bairros voltados à população carente em locais frágeis ambientalmente, cujo valor econômica da terra é reduzido. O Conjunto Habitacional Maracanã foi executado em área de lazer de loteamento anteriormente aberto e aprovado. Foi financiado pela CDHU, cuja área foi disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, no entanto, esse conjunto ainda não está regularizado junto à Secretaria de Planejamento Municipal. Verifica se, também, que encontra se em área baixa, fundo de vale. O córrego existente foi canalizado pela Prefeitura, tendo sido eliminada a vegetação da Área de Proteção Ambiental (APP) (Figura 3). Figura 2. Maré Mansa e APP (Fonte: Google Maps, 2012) Figura 3. Maracanã e APP (Fonte: Google Maps, 2012) O CECAP II foi executado em área residual urbana, devido à implantação de loteamento urbano e da abertura da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Sua área não está próxima a fundos de vales ou APP s. Sua implantação não demonstra impactos diretos no meio ambiente natural. Também vale destacar que a localização no contexto intra urbano demonstra maior integração urbana. É exemplo positivo de execução de conjunto habitacional no espaço urbano. O Conjunto Habitacional São João, apesar de constar no limite da malha urbana, é região de fácil mobilidade urbana, com oferta de serviços e equipamentos públicos. É uma das regiões mais altas da cidade. Verificando suas características urbanas, ambientais e sociais, percebe se

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 326 adequada implantação. Ignorando os impactos inerentes de qualquer construção civil, seu resultado ambiental está adequado ao contexto urbano (Figura 4). O Cobral está implantado na franja urbana na região norte da cidade, local de grande segregação socioespacial. Apesar disso, a oferta de serviços e equipamentos públicos é adequada. No entanto, há carência relacionada à mobilidade urbana, apesar da finalização da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira que se encontra próxima ao conjunto habitacional. Percebe se também que o empreendimento está locado em área de fundo de vale, bastante próximo à APP. Volta se à questão da implantação em áreas de fragilidade ambiental (Figura 5). Figura 4. São João inserção na malha (Fonte: Google Maps, 2012) Figura 5. Cobral inserção na franja (Fonte: Google Maps, 2012) A partir dos dados apresentados, pode ser observado que os processos de implantação de conjuntos habitacionais diferem grandemente, inclusive quando comparados empreendimentos executados em pequeno período de tempo, financiados pelo mesmo órgão (quatro têm a CDHU como agente), e implantados na mesma cidade. Apresentar resultados fechados e préestabelecidos representa grande erro analítico. CONSIDERAÇÕES FINAIS A implantação de conjuntos de habitação social em vazios urbanos deveria ser estimulada. No entanto, as análises ambientais locais precisam ocorrer durante todos os processos de projetação, de aprovação e de execução. Afinal, vários conjuntos de moradia popular estão ligados a sérios processos de deterioração ambiental. Dessa forma, verifica se que a implantação desses empreendimentos na franja urbana ou além dela pode ser causa de grandes impactos ambientais em áreas naturais, embora sua locação em áreas já urbanizadas não exclui diretamente a possibilidade de agressão a fundo de vales ou outros ambientes frágeis.

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 327 Assim sendo, a ação, o controle e o direcionamento municipais na estruturação e expansão urbanas são fundamentais. O planejamento e a gestão urbanos são ferramentas de política pública de grande importância na tentativa de redução de impactos ambientais e sociais. REFERENCIAS ANTONUCCI, Denise. ONU e 30 anos do UN Habitat. 5 o. Fórum de Pesquisa FAU Mack. São Paulo: UPM, 2009. AZEVEDO, Sérgio. Desafios da Habitação Popular no Brasil: políticas recentes e tendências. In: CARDOSO et al. Habitação social nas Metrópoles brasileiras: Uma avaliação das políticas habitacionais em Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XX. Coleção Habitare ANTAC. Coleção 7, cap.1. Porto Alegre, 2007. Disponível em: http://habitare.infohab.org.br/pdf/ publicacoes/arquivos/colecao7/ capitulo_1.pdf. Acesso em: 04 jun 2008. BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. 4 a.edição. São Paulo: Estação Liberdade, 2004. CUNHA, Sandra Baptista; GUERRA, Antonio José Teixeira (org.). Geomorfologia e meio ambiente. 9ª.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. FERNANDES, Sílvia Aparecida Souza. Territorialização das políticas habitacionais em Bauru e Presidente Prudente a atuação da CDHU, COHAB CRHIS e COHAB Bauru. Presidente Prudente: UNESP, 1998 (Dissertação de Mestrado). FREITAS, Eleusina Lavôr Holanda de. Como qualificar conjuntos habitacionais populares. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2004. HONDA, Sibila Corral de Arêa Leão. Habitação de Baixa Renda como Produto do Capital o Programa de Arrendamento Residencial (PAR) em Presidente Prudente SP. São Paulo: UPM, 2011 (Tese de Doutorado). JACOBI, Pedro. A percepção dos problemas ambientais urbanos em São Paulo. In: Lua Nova: Revista de Cultura e Política. N.31, dez 1993. São Paulo. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102 64451993000300003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 6 ago 2012.

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 328 LIMA, Márcia Azevedo; LAY, M. Cristina Dias. A influência da dimensão, configuração de conjuntos habitacionais na interação social. In: ANAIS Congresso Internacional Sustentabilidade e Habitação de Interesse Social. maio 2010. Porto Alegre. Disponível em: http://www.joaobn.com/chis/artigos%20chis%202010/075 B.pdf. Acesso em : 6 ago 2012. MARISCO, Luciane Maranha de Oliveira. A norma e o fato: abordagem analítica da segregação sócio espacial e exclusão social a partir dos instrumentos urbanísticos. Presidente Prudente: FCT UNESP, 2003 (Tese de Doutorado). MORENO, Júlio. O Futuro das Cidades. São Paulo: Editora SENAC, 2002. SACHS, Celine. São Paulo: políticas públicas e habitação popular. São Paulo: EDUSP, 1999. SILVA, Rones Borges. Segregação e/ou integração: o Programa de Desfavelamento e Loteamentos Urbanizados em Presidente Prudente. Presidente Prudente: FCT/UNESP, 2005 (Dissertação de Mestrado). TORREZAN, Rosiane M. Reestruturação da cidade: localização de conjuntos habitacionais, estrutura e crescimento urbano em Presidente Prudente. Presidente Prudente: FCT/UNESP, 1992 (Monografia de Graduação).