Palavras-chave: Qualidade da informação contábil; Conservadorismo; Persistência; IFRS; CPC 17.



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A QUALIDADE DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL E O PROCESSO DE CONVERGÊNCIA INTERNACIONAL NAS EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO DO SETOR DE CONSTRUÇÃO NO BRASIL Josicarla Soares Santiago Mestre e Doutoranda em Ciências Contábeis Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB, UFPB e UFRN Professora da Universidade Federal da Paraíba Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais, Prédio da FACE, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Brasília-DF, CEP 70910-900 josicarlass@yahoo.com.br (61) 3107-0807 / 3107-0812 Paulo Roberto Nóbrega Cavalcante Doutor em Contabilidade e Controladoria pela Universidade de São Paulo Professor do Programa Multiinstitucional e Inter-Regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB, UFPB e UFRN Professor da Universidade Federal da Paraíba Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais, Prédio da FACE, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Brasília-DF, CEP 70910-900 paulocavalcante@ccsa.ufpb.br (61) 3107-0807 / 3107-0812 RESUMO O objetivo deste trabalho é verificar se a qualidade da informação contábil das empresas de capital aberto do setor de construção no Brasil sofreu mudanças após o enquadramento do Brasil no processo de convergência internacional. Destaca-se que as pesquisas brasileiras sobre os efeitos da adoção das IFRS sobre o comportamento oportunístico dos gestores apresentam resultados ambíguos e sugerem que deve haver diferenças entre setores. Portanto, nesta pesquisa limitou-se a analisar somente as empresas do setor de construção, com o intuito de verificar os efeitos da convergência internacional no referido setor, a partir da adoção do pronunciamento 17 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). A análise dos efeitos da adoção das IFRS limitou-se a dois atributos sobre qualidade da informação contábil, o conservadorismo e a persistência. Esta pesquisa foi realizada no período de 2006 a 2012 em 23 empresas do setor, de modo que as estimativas foram obtidas por meio de dados em painel. Para o conjunto de dados empilhados verificou-se conservadorismo nas informações contábeis, de forma que não se identificou quebra estrutural no período em análise e que os dados permaneceram conservadores em todo o período. Salienta-se, no entanto, que o estudo separado dos dados, remete a resultados inconclusivos com relação ao conservadorismo presente nos dados antes da adoção do CPC 17. Em relação à persistência para o conjunto de dados, verificou-se persistência nas informações contábeis e que, embora se tenha identificado quebra estrutural no período em análise de forma que poderia haver oscilação da persistência em algum momento do período em estudo, ao se analisar, individualmente, o antes e o depois da adoção do CPC 17, os dados sempre se apresentaram persistentes. Palavras-chave: Qualidade da informação contábil; Conservadorismo; Persistência; IFRS; CPC 17. 1

1 INTRODUÇÃO Vários estudos têm abordado o tema qualidade da informação contábil e os atributos de qualidade considerados relevantes para que esta possa se efetivar para alcançar os objetivos informativos da contabilidade ao contribuir com seus usuários na tomada de decisões. O estudo da qualidade da informação contábil tem sido discutido por distintos ângulos em trabalhos internacionais, a exemplo de Feltham e Ohlson (1995), Basu (1997), Dechow e Skinner (2000), Dechow e Schrand (2004), Ball e Shivakumar (2005) e Dechow, Ge e Schrand (2010). No Brasil, diversas pesquisas também têm analisado os vários atributos da qualidade dos números contábeis (MARTINEZ, 2006; PAULO; ANTUNES; FORMIGONI, 2008; ALMEIDA, 2010; ALMEIDA; LOPES; CORRAR, 2011; SILVA, 2013). Pode-se dizer que o processo de convergência contábil das normas internacionais, ou seja, o processo que objetiva a utilização de práticas contábeis comuns a todos os países, encontra-se praticamente consolidado no mundo inteiro. Entretanto, a respeito da adoção das normas editadas pelo International Accounting Standards Board (IASB), a discussão sobre o nível de qualidade das informações contábeis não constitui matéria pacificada. Do ponto de vista teórico-conceitual, os órgãos reguladores advogam em favor de uma qualidade superior, capaz de atender às necessidades informativas dos usuários. Do ponto de vista prático, a alternativa que se apresenta é a de manter vigilância permanente para averiguar até que ponto a qualidade praticada cumpre o seu papel. Uma atividade que se tem destacado nesse contexto, seria a que se tem mostrado no âmbito da construção civil. Neste ramo de atividade ocorrem muitos debates sobre o reconhecimento da receita de acordo com a natureza econômica, o que gera impacto direto quando o assunto é a qualidade da informação contábil a ser fornecida para o usuário da contabilidade. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é verificar se a qualidade da informação contábil das empresas de capital aberto do setor de construção civil no Brasil sofreu mudanças após o enquadramento do Brasil no processo de convergência internacional. Este trabalho contém, além desta Introdução, uma breve revisão de literatura para propiciar um melhor entendimento sobre o tema, seguido da exposição dos procedimentos metodológicos adotados. Na seção seguinte são apresentados e analisados os resultados da pesquisa e, por fim, as considerações finais. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A internacionalização dos mercados e o crescente desenvolvimento das relações comerciais entre os diversos países fez perceber que a Contabilidade, concebida como linguagem reconhecida dos negócios, precisava ser compreensível em qualquer local e que possibilitasse a comparabilidade das informações contábeis, por exemplo, de firmas localizadas em países distintos. As International Financial Reporting Standards (IFRS) representam um conjunto de pronunciamentos internacionais de contabilidade, editados pelo International Accounting Standard Board (IASB). A convergência das normas de contabilidade de cada país em direção àquelas editadas pelo IASB se dá na medida em que as IFRS são aceitas como padrão de qualidade, posto que buscam reduzir os problemas originados da assimetria informacional. A qualidade da informação pode ser interpretada, em termos abstratos, como a utilidade das demonstrações financeiras para os investidores, credores, administradores e todas as outras partes contratantes com a empresa (BALL; SHIVAKUMAR, 2005). Segundo Dechow, Ge e Schrand (2010), a qualidade da informação pode ser observada como um conjunto amplo de vários atributos, onde se pode visualizar a persistência, o conservadorismo, 2

o gerenciamento de resultados, a qualidade da estimação dos accruals, transparência, nível de disclosure, entre outros. Coelho, Niyama e Rodrigues (2011) realizaram uma pesquisa em periódicos internacionais que teve como objetivo analisar a situação informacional da contabilidade com a adoção das IFRS e, em sua análise, identificaram que de fato as pesquisas preocupavam-se com o impacto das IFRS sobre a qualidade da informação contábil, de modo que a transparência foi o atributo mais investigado. No geral, as pesquisas investigadas demonstraram que as IFRS tem trazido um efeito positivo para a qualidade da informação contábil. No Brasil, alguns estudos tem se preocupado em estudar o impacto na qualidade da informação contábil após a adoção das IFRS. Lima (2010) se preocupou em investigar a relevância da informação contábil antes e depois do início do processo de convergência para as normas internacionais de contabilidade no Brasil. No geral, depreendeu-se que as demonstrações contábeis aumentaram o conteúdo informacional após a adoção das IFRS e, em outro aspecto, também se levantou que a relevância da informação contábil, mensurada através dos modelos de preço e retorno, aumentou após uma adoção parcial das IFRS. Outro estudo nesta linha foi realizado por Vieira (2010), que investigou os efeitos que ocorreram na qualidade da informação contábil na fase de adoção parcial das IFRS. Em termos de qualidade da informação contábil estudou-se o gerenciamento de resultado, o reconhecimento oportuno de perdas e a relevância das informações contábeis. Os resultados apresentaram fortes indícios de que houve aumento na qualidade das informações contábeis quando medidas por gerenciamento através de alisamento de resultados. Quanto ao conservadorismo, foram encontrados resultados conflitantes, de modo que alguns demonstraram que houve um aumento de qualidade, e outros não. Para o caso da relevância da informação contábil, detectou-se certo aumento na qualidade das informações. Santos et al (2011) também se preocuparam com os efeitos das mudanças nas práticas contábeis do Brasil, e investigaram se a promulgação da Lei n 11.638/07 alterou o grau de conservadorismo contábil condicional de empresas brasileiras listadas na Bovespa e na BMF BOVESPA. Nesta pesquisa, não foi possível inferir se as mudanças realmente apresentaram efeito sobre o grau de reconhecimento assimétrico de perdas e ganhos, de modo que os autores concluíram que isso pode ter sido fruto do período de tempo abrangido ou pela falta de outros aspectos relacionados ao processo de adoção das normas internacionais de contabilidade. Ainda buscando investigar os efeitos do processo de convergência internacional das práticas contábeis na qualidade da informação contábil, Macedo, Araújo e Braga (2012) analisaram o impacto do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade na relevância das informações contábeis. Para isso, utilizou-se, como norte, um estudo de value relevance, segundo o qual se analisa o poder informacional do LLPA (Lucro Líquido por Ação) e do PLPA (Patrimônio Líquido por Ação). Os principais resultados demonstraram que as informações contábeis mostraram-se relevantes para o mercado de capitais. E, dentro da mesma ótica, Macedo, Machado e Machado (2013), estudaram qual o impacto da primeira fase do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade sobre a relevância da informação contábil para o mercado brasileiro de capitais?. A pesquisa trouxe, como resultado, que houve diferenças no value relevance da informação contábil de LLPA e PLPA nos períodos pré e pós-primeira fase do processo de convergência, de sorte que o primeiro ganhou conteúdo informacional e, o segundo, perdeu. Uma das características destacadas como atributo da qualidade da informação é a persistência nos lucros. Dechow, Ge e Schrand (2010) afirmam que esse atributo é motivado por uma suposição segundo a qual os lucros mais persistentes trarão melhores entradas para modelos de avaliação patrimonial, e, portanto, uma quantidade de lucros mais persistentes é 3

de qualidade superior a lucros menos persistentes, desta forma, os lucros mais persistentes são mais úteis para a decisão de avaliação patrimonial. A persistência é utilizada como benchmark para o modelo de avaliação patrimonial, ao passo em que os ganhos mais persistentes são mais úteis para a avaliação patrimonial. Os estudos defendem que o desempenho atual da firma é o melhor indicativo para o desempenho futuro. Assim, a persistência tem um papel fundamental na previsão de resultados futuros e, consequentemente, na avaliação de investimentos. (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010). Se uma empresa A tem um fluxo de resultados mais persistente do que o da empresa B, então (i) o lucro corrente resume uma medida de desempenho futuro mais útil, e (ii) o lucro corrente na empresa A de valor mais preditivo do que da empresa B (DECHOW; SCHRAND, 2004; DECHOW; GE; SCHRAND, 2010). Segundo Dechow e Skinner (2000), a persistência dos resultados varia em função do regime de competência, e estes diminuem as flutuações nos fluxos de caixa da empresa, gerando um número que é mais útil ao investidor do que o fluxo de caixa operacional do período corrente. Assim, utilizou-se, aqui, do lucro operacional, considerado uma boa proxy para o modelo de persistência. O conservadorismo é conceituado como o reconhecimento enviesado das más notícias mais rapidamente do que das boas notícias (BASU, 1997). Isto implica diferenças sistemáticas no timeless e na persistência dos resultados entre os períodos de más notícias e de boas notícias da firma. O impacto no resultado proporcionado pelas boas notícias são mais persistentes do que os efeitos das más notícias, uma vez que seus efeitos são apenas parcialmente refletidos no resultado do exercício, o que redunda numa forte exigência de verificabilidade das informações, de modo que, só após a verificação, faz-se o seu reconhecimento nos lucros posteriores (BASU, 1997). Os relatórios financeiros normalmente adotam um padrão de verificação inferior para obter informações sobre reduções nos fluxos de caixa futuros esperados (perdas econômicas) do que para os aumentos (ganhos econômicos). (BALL; SHIVAKUMAR, 2005). O conservadorismo, de uma forma geral, tem sido denotado como um importante atributo da qualidade da informação se se considerar que reduz os custos de agência, definidos como os custos gerados quando os gerentes e/ou outras partes maximizam o seu próprio bemestar, em vez do valor da empresa, de forma que o conservadorismo seria uma forma de restringir um comportamento capaz de ser prejudicial ao interesse das partes (WATTS, 2003; BALL; SHIVAKUMAR, 2005). Assim, as informações conservadoras seriam mais seguras aos interesses dos diversos usuários. (BALL; SHIVAKUMAR, 2005). O efeito da persistência e do conservadorismo recebe uma atenção mais específica, setor de construção civil, principalmente após o enquadramento no processo de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade, uma vez que tais empresas estão no alcance do CPC 17 (Pronunciamento editado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)) que tem, como objetivo, estabelecer o tratamento contábil das receitas e despesas associadas a contratos de construção e que foi construído mediante correlação com as normas internacionais de Contabilidade (IAS (International Accounting Standards) 11), o que está diretamente ligado às variáveis utilizadas como proxies nos modelos de conservadorismo e persistência dos resultados da empresa. Na realidade, no Brasil, o enquadramento no processo de convergência internacional traz, consigo, um efeito de mudança na ênfase ao processo de elaboração da contabilidade. O Brasil sempre se caracterizou pelo forte impacto da legislação tributária nas práticas contábeis, as quais sempre se balizaram pelas normas legais como requisito para a prestação de cada informação contábil a ser elaborada (NIYAMA, 2010). No setor de Construção Civil, 4

isso ainda se tornava um pouco mais grave, considerando que as especificidades do setor tornavam o efeito fiscal ainda mais problemático. De uma forma geral, a contabilização dos contratos de construção tem como foco o reconhecimento da receita e da despesa alcançadas ao longo do período de execução da obra. No entanto, o principal empecilho é determinar a proporção do trabalho executado até a data do balanço, uma vez que as receitas e despesas referentes aos contratos de construção, normalmente se caracterizam por ter suas datas de início e término em períodos contábeis diferentes. O ponto é, então, o fato de o exercício social das empresas de Construção Civil não se apresentarem regular e ser comumente superior a 12 meses (CPC, 2012). Assim, entenda-se, o Princípio da Competência sempre foi necessário ao cumprimento dos contratos de Construção Civil, portanto, independentemente do recebimento ou do pagamento, receitas e despesas devem ser reconhecidas quando da ocorrência do seu fato gerador, porém, as vendas, neste setor, podem ocorrer quando estiverem concluídas, ou enquanto a construção estiver em andamento, fato que gera certas questões com relação à antecipação do reconhecimento ou da necessidade de se reconhecer as receitas e despesas através de estimativas; isso, por sua vez, gerava bastantes conflitos com as cobranças fiscais, de forma que, em alguns momentos, optava-se por sempre priorizar o tratamento exigido pela legislação fiscal (a qual priorizava, algumas vezes, o regime de caixa), ao invés da essência contábil e, assim, comprometia a qualidade da informação para os demais usuários da contabilidade (SCHERRER, 2012). Assim, dado esse duplo olhar para qual o melhor procedimento a ser utilizado, o CPC 17 determinou que a receita fosse reconhecida na proporção do trabalho executado, o que já se defendia pela resolução 963 de 2003 e, posteriormente, pela 1.266 de 2009 do Conselho Federal de Contabilidade (que revogou a primeira); portanto, o lucro deve ser reconhecido proporcionalmente à execução da obra, não levando em conta, recebimentos do período-base. Tem-se então, o chamado método da Porcentagem Completada (POC), onde a receita e a despesa são apropriadas com base na proporção do trabalho executado até a data do balanço, desde que seja passível de ser estimada com segurança. (CPC, 2012; CFC, 2009). No Brasil, Scramin et al (2013) estudaram o efeito na qualidade das informações contábeis em algumas empresas de capital aberto enquadradas na atividade de construção civil após a adoção das IFRS. O estudo investigou a qualidade da informação de uma maneira geral e não enfatizou os atributos, de modo que chegou à conclusão de que as informações que estão sendo disponibilizadas ao usuário não seriam de qualidade, posto que obscuras; no entanto, o CPC 17 é considerado a norma que demarca o processo de convergência internacional para as empresas do setor de construção no Brasil, na busca de melhoraria da qualidade da informação ao proporcionar, aos usuários da Contabilidade, melhores instrumentos para a escolha dos melhores investimentos. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Amostra da Pesquisa Os dados das companhias do setor de construção foram obtidos junto ao banco de dados Economatica, os quais integram um total de 23 (vinte e três) empresas listadas. A análise ocorreu no interregno entre 2006 e 2012, com o objetivo de captar os efeitos da adoção do Pronunciamento CPC 17, que versou sobre o conservadorismo e a persistência das informações contábeis. Antes da inserção da nova norma Depois da inserção da nova norma 2006-2007-2008 2009 2010-2011-2012 5

O CPC 17 teve sua aprovação no ano de 2009 e teve sua obrigatoriedade para os exercícios iniciados em 01 de janeiro de 2010, através da Deliberação da Comissão de Valores Mobiliários CVM nº 576 (CVM, 2009). Em 2012, houve uma revisão no CPC 17, no entanto, para o objetivo deste trabalho que versa sobre a inserção do Brasil no processo de convergência internacional, considerou-se o momento da adoção inicial da referida norma. As estimações foram realizadas utilizando-se dados em painel, pois pode se identificar mais facilmente a existência de quebras estruturais, evitando-se prejuízo ao modelo, já que informações relevantes quanto a possíveis inferências poderiam não ser observadas. (GUJARATI; PORTER, 2011). No sentido de melhor captar o efeito da adoção do CPC 17 nos dados estudados, foram rodadas também regressões individuais. A primeira, com os dados do período anterior à adoção do CPC 17 (2007-2009), de modo que o ano de 2009 foi incluído considerando que o CPC 17 havia sido aprovado, mas não havia obrigatoriedade da sua adoção, e também o fato de que se identificou que muitas empresas não tinham informações no ano de 2006, de modo que a regressão seria rodada efetivamente a partir de 2007. O segundo conjunto de dados foi captado para os períodos subsequentes ao da adoção do CPC 17, incluindo-se os anos de 2010 a 2012. 3.2 Hipóteses de Pesquisa Conforme visualizado na revisão de literatura, a qualidade da informação contábil pode ser mensurada através de diversos atributos. No que se refere ao conservadorismo, com base na suposição de maior verificabilidade para o reconhecimento das boas notícias do que para as más notícias, pode-se descrever a primeira hipótese desta pesquisa: a) Hipótese 1: As companhias abertas brasileiras do setor de construção civil reportam resultados contábeis conservadores. No entanto, considerando que o foco principal deste estudo é verificar se a adoção das IFRS pelas firmas do setor de construção civil afetou o comportamento conservador, tem-se a seguinte hipótese de pesquisa: b) Hipótese 2: O nível de conservadorismo dos resultados contábeis das companhias abertas brasileiras do setor de construção civil sofreram alterações com a adoção do Pronunciamento Técnico CPC 17. Da mesma forma, a persistência dos resultados contábeis é um atributo desejado para os números contábeis, então, sugere-se a terceira hipótese deste trabalho: c) Hipótese 3: As empresas de capital aberto do setor de construção civil no Brasil reportam resultados contábeis persistentes. Com o intuito de analisar se a persistência dos resultados contábeis foi afetado pela adoção das IFRS, descreve-se a quarta e última hipótese de pesquisa: d) Hipótese 4: O nível de persistência dos resultados contábeis das empresas de capital aberto do setor de construção civil no Brasil foi alterado com a adoção do Pronunciamento Técnico CPC 17. 3.3 Definição dos Modelos e Variáveis Utilizadas O modelo escolhido para analisar o conservadorismo foi o modelo de Ball e Shivakumar (2005), descrito da seguinte forma: em que: ΔNIit = α0 + α1dδniit-1 + α2δniit-1 + α3dδniit-1*δniit-1 + εit-1 (1) 6

ΔNIit = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t; ΔNIit-1 = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1; DΔNIit-1 = variável dummy para indicar se existe variação negativa no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1, assumindo valor 1 se ΔNIit-1 = 0 e; 0, nos demais casos; εit-1 = erro da regressão Todas as variáveis são ponderadas pelo Ativo Total no início do período. Espera-se que o coeficiente α2 seja igual a zero (α2 = 0) posto que é devido ao diferimento do reconhecimento dos ganhos até o momento em que seu fluxo de caixa seja realizado, fazendo, assim, com que os resultados positivos tornem-se um componente persistente do lucro contábil, que tende a não ser revertido (BALL; SHIVAKUMAR, 2005). Por outro lado, o reconhecimento mais oportuno das perdas do que dos ganhos implica afirmar-se que o coeficiente α3 seja menor que zero (α3 < 0). Da mesma forma, o reconhecimento oportuno das perdas resulta em decréscimos transitórios do resultado e, consequentemente, devem ser revertidas nos períodos seguintes, o que implica, a priori, que o somatório dos coeficientes α2 e α3 seja menor que zero (α2 + α3 < 0). Ressalta-se que não existe uma predição para os coeficientes lineares (interceptores) α0 e α1 nesse modelo. Para analisar se existem diferenças significativas no comportamento conservador após a adoção do CPC 17, considera-se que a amostra com o menor somatório dos coeficientes estimados de α2 e α3 é aquela com maior nível de conservadorismo dos resultados contábeis. Para a análise da persistência dos lucros, foi utilizado o modelo descrito por Dechow e Schrand (2004): em que: Xit+1 = α0 + α1xit + εit-1 (2) Xit+1 = valor do lucro operacional da empresa i no ano t+1; Xit = valor do lucro operacional da empresa i no ano t; εit-1 = erro da regressão Todas as variáveis são ponderadas pelo Ativo Total no início do período. A intenção de fazer tal ponderação é justamente para buscar se realizar um controle de extremas diferenças de tamanho entre as empresas em estudo. Considera-se que os resultados contábeis são mais persistentes quando a estimativa do seu coeficiente α1 está mais próximo de 1, sendo consistente com o adotado por Dechow (1994), Barth, Cram e Nelson (2001) e Dechow e Schrand (2004). Para analisar as diferenças de características da informação contábil após a adoção das IFRS, considera-se que a amostra com o maior coeficiente estimado de α1 é aquela com maior nível de persistência dos resultados contábeis. Adicionalmente, será realizado o teste de Chow para a amostra completa desta pesquisa com o intuito de verificar que ocorreu quebra estrutural dos comportamento dos números contábeis após a adoção do Pronunciamento CPC 17. Devido ao limite de páginas, as estimativas dos parâmetros e testes estatísticos não podem ser apresentadas com maior detalhamento, porém, quando ocorreu problema de heterocedasticidade, os erros padrão foram corrigidos por White. 7

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Modelo do Conservadorismo Para testar a hipótese da presença do conservadorismo nas empresas do setor de construção civil, foi utilizado o modelo Ball e Shivakumar (2005), cujas estimativas estão descritas na Tabela 1. Tabela 1: Análise do nível de conservadorismo Todo o Período 2006-2012 Antes da Adoção do CPC 17 2006-2009 Após Adoção do CPC 17 2010-2012 Constante 0,0154 0,0000 0,0152 0,0000 0,0152 0,0000 DNI t-1-0,0332 0,0000-0,0330 0,0000-0,0331 0,0000 ΔNI t-1 0,0586 0,1899 0,1301 0,0248 0,0209 0,7566 DNI t-1*δni t-1-0,1252 0,0504-0,1963 0,0082-0,0881 0,4147 R 2 0,2050 0,3324 0,1410 R 2 ajustado 0,2000 0,3240 0,1296 F (test) 40,3093 0,0000 39,6590 0,0000 12,3665 0,0000 Critério de Akaike -1876,053-1099,932-821,5894 Critério de Schwarz -1859,416-1085,960-807,8370 Critério Hannan-Quinn -1869,509-1094,304-816,0419 Durbin-Watson 2,5233 2,147923 2,5504 Teste de Normalidade Doornik- 1785,49 0,0000 190,062 0,0000 1996,19 0,0000 Hansen Teste de White 1,8418 0,8706 1,5084 0,9121 1,5870 0,9028 Teste Chow 1,3186 0,2620 Observações 473 243 230 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Notas: Modelo de estimação de conservadorismo (Equação 1): ΔNI it = α 0 + α 1DΔNI it-1 + α 2ΔNI it-1 + α 3DΔNI it- 1*ΔNI it-1 + ε it-1. Em que: ΔNI it = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t; ΔNI it-1 = variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1; DΔNI it-1 = variável dummy para indicar se existe variação negativa no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1, assumindo valor 1 se ΔNI it-1 = 0 e; 0, nos demais casos; ε it-1 = erro da regressão. Todas as variáveis são ponderadas pelo Ativo Total no início do período. Inicialmente, ao analisar-se a amostra com os dados que compreende todo o período, pode-se verificar, na Tabela 1, considerado o nível de significância de 5%, depreende-se que a variável ΔNIt-1 é estatisticamente igual a zero. Portanto, o resultado corrobora a literatura corrente, segundo a qual os resultados positivos tornam-se componentes persistentes no lucro contábil, não sendo revertidos nos períodos subsequentes. Observa-se que o coeficiente α3 é negativo, mas somente é significativo ao nível de 10%. Assim, considerado o nível de 10%, não se pode rejeitar a hipótese de que as perdas econômicas são reconhecidas de forma mais oportuna do que os ganhos. Com relação aos pressupostos, o teste Durbin-Watson não detectou presença de autocorrelação nos resíduos. Com base no teste Doornik-Hansen, verificou-se que os erros da estimativa não têm uma distribuição normal. O teste White para heteroscedasticidade não rejeita a presença de homocedasticidade nos resíduos da regressão. Por fim, o teste Chow foi utilizado para verificar se existe mudança estrutural durante a série temporal analisada, ou seja, se os parâmetros (relação entre regressandos e regressores) do modelo não se mantêm iguais durante todo o período considerado. Neste estudo considerou-se, para fins de análise, uma única possível quebra estrutural, a qual poderia se dar quando houvesse a obrigatoriedade da utilização do CPC 17, o que ocorreria no início de 2010. Assim se dividiram os dados da amostra de acordo com essa possível quebra. A hipótese nula do teste Chow é a existência de estabilidade dos parâmetros, ou seja, não existe mudança estrutural. O F calculado encontrado de 1,31855, com um p-value de 5% 8

é menor que o F tabelado nessas mesmas condições (2,37), de forma que não se rejeita a hipótese nula, uma vez que nela não existe significância estatística. Portanto, segundo o teste de Chow, não se pode rejeitar a hipótese de estabilidade dos parâmetros. Desta forma, não houve quebra estrutural, o que sugere que a adoção do CPC 17 não afetou o nível de conservadorismo das informações contábeis. No intuito de verificar os resultados obtidos pela análise de todo o período amostral no que se refere à mudança de comportamento conservador com a adoção das IFRS, optou-se estimar, separadamente, os parâmetros com os dados para os períodos precedentes da adoção do CPC 17 (período compreendido entre os anos de 2005 a 2009) e posteriores à adoção do CPC 17 (período compreendido entre os anos de 2010 a 2012). Para o período anterior ao da adoção do CPC 17, conforme Tabela 1, verifica-se que o coeficiente α2 não é estatisticamente igual a zero (ao nível de significância de 0,05). Desta forma, considerando que α2 é diferente de zero, não se pode afirmar que os resultados positivos tornam-se componentes persistentes no lucro contábil, pois eles não são revertidos nos períodos seguintes. Por outro lado, observa-se que α2 é negativo e significativo, sugerindo que os resultados negativos são revertidos nos períodos posteriores. Considerando o somatório dos coeficientes α2 e α3 (-0,0662), pode-se depreender que existe reconhecimento oportuno de perdas econômicas no período que antecede a adoção do CPC 17. Observando as estimativas do modelo para o período anterior ao da adoção do CPC 17 (2006 a 2009), verifica-se que o poder preditivo do modelo (R 2 ajustado = 0,3240) é um pouco maior do que o obtido na amostra com todo o período analisado (R 2 ajustado = 0,2000). O teste Durbin-Watson não detectou presença de autocorrelação nos resíduos, da mesma forma que as estimativas para toda a amostra; o teste White apresenta que os dados são homocedásticos. Na amostra com o período posterior à adoção do CPC 17, todas as estimativas dos parâmetros do modelo de Ball e Shivakumar (2005) são insignificantes, o que reduziu fortemente o poder preditivo. Como os coeficientes α2 e α3 são insignificantes, pode-se considerar que os resultados positivos e negativos são persistentes. Dessa forma, os resultados desta pesquisa sugerem que os números contábeis das empresas do setor de construção civil após a adoção do CPC 17 não são conservadores. O teste Durbin-Watson (2,5504) identificou que não existe autocorrelação nos resíduos. O teste de normalidade de Doornik-Hansen, indicou que a distribuição dos resíduos não é normal. Por fim, verificou-se a homocedasticidade dos dados para a amostra no período pós-adoção CPC17. 4.2 Modelo da Persistência O Modelo de Dechow e Schrand (2004) foi utilizado para testar a hipótese da persistência do resultado. Inicialmente, verificou-se que os erros da regressão não têm distribuição normal, de modo que o teste de Doornik-Hansen para normalidade dos resíduos apresentou um valor extremamente baixo para o p-valor (0,0000). No entanto, e apoiando-se no teorema do limite central, tal limitação não inviabiliza a regressão. O teste de White destinado a verificar a heterocedasticidade também foi realizado e se rejeitou a hipótese nula de que há homocedasticidade nos resíduos, uma vez que o p-valor é nulo (0,0000), para uma estatística do teste de 38,0867, assim se rodou o mesmo modelo com a heterocedasticidade corrigida, de forma que as estimativas válidas para o teste da persistência dos resultados foram expostas na Tabela 2 9

Tabela 2: Aplicação do Modelo da Persistência Todo o Período 2006-2012 Antes da Adoção do CPC 17 2006-2009 Após Adoção do CPC 17 2010-2012 constante 0,0090 0,0000 0,0093 0,0000 0,0067 0,0046 EBIT it-1 0,4382 0,0000 0,4738 0,0000 0,5236 0,0000 R 2 0,1048 0,1124 0,1316 R 2 ajustado 0,1032 0,1091 0,1278 F (test) 60,9362 0,0000 33,9349 0,0000 34,6919 0,0000 Critério de Akaike 2691,244 1415,015 1200,727 Critério de Schwarz 2699,759 1422,212 1207,612 Critério Hannan-Quinn 2694,579 1417,905 1203,504 Durbin-Watson 1,9099 1,7752 1,7587 Teste de Normalidade Doornik- 940,661 0,0000 392,997 0,0000 528,174 0,0000 Hansen Teste de White 38,0867 0,0000 22,5394 0,0000 16,5263 0,0002 Teste Chow 3,9492 0,0199 Observações 522 270 231 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. No modelo trabalhado por Dechow e Schrand (2004), o coeficiente α1 deve apresentarse positivo de modo que, quanto maior e mais próximo de um for, mais persistentes serão os resultados contábeis no futuro. Portanto, na análise de todo o período, os resultados alcançados demonstraram a existência de persistências nos resultados, de forma que o coeficiente da variável de interesse da persistência do lucro é positivo e estatisticamente significante. O teste Chow também foi utilizado para verificar se os parâmetros do modelo não se mantêm homogêneos durante todo o período considerado. A hipótese nula é a não existência de mudança estrutural. Como o p-value é de 0,0199, com base em um nível de significância de 4%, rejeita-se a hipótese nula. Portanto, pode-se sugerir que não existe estabilidade dos parâmetros. Desta forma, os resultados encontrados apontam que ocorreu quebra estrutural nos parâmetros de persistência dos resultados contábeis, o que sugere que a adoção do CPC 17 afetou a persistência dos dados em estudo. Novamente, optou-se por estimar os parâmetros de persistências para os dados antes e após a adoção do CPC17, separadamente, de modo a confirmar os dados apresentados pelo teste Chow. Para as duas amostras, foram realizados os testes de normalidade, e se identificou que os erros não têm distribuição normal (p-valor = 0,0000) para ambos os períodos analisados. Também, para elas, rejeitou-se a hipótese nula de que há homocedasticidade nos resíduos (pvalor = 0,0000). Quando da estimação separada dos períodos, observou-se um aumento do poder preditivo do modelo, bem como do coeficiente α1 para os dois períodos separadamente. Ao observar-se o valor do coeficiente α1 das duas amostras, verifica-se que o coeficiente para o período posterior à adoção do CPC 17 é maior do que o do período anterior à obrigatoriedade de adoção do referido pronunciamento. Assim, estes resultados sugerem que a persistência dos números contábeis aumentou após a adoção do CPC 17. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste trabalho foi verificar se a qualidade da informação contábil das empresas de capital aberto do setor de construção no Brasil sofreu mudanças após o enquadramento do Brasil no processo de convergência internacional. 10

De uma maneira geral, não se identificam mudanças nas empresas do setor de construção após o período de convergência, o qual aqui foi marcado pela adoção do CPC 17, com relação ao conservadorismo e à persistência. Com a intenção de se analisar detalhadamente os dados das empresas estudadas, fez-se uso de técnica estatística que estudava o período escolhido como um todo, assim, se analisou o conjunto de dados empilhados de 2006-2010, e foi possível a partir dos levantamentos de Ball e Shivakumar (2005) se identificar o conservadorismo nas informações contábeis de todo o período. Buscou-se entender, inclusive, se existia quebra na estrutura dos dados, de modo que os comportamentos destes pudessem ser modificados por um fato novo (no caso, a adoção do CPC 17) e isso não ficou evidenciado, corroborando-se, assim, para se afirmar que os dados mostraram-se conservadores em todo o período em análise. No entanto, para que se confirmasse ou se refutasse tal resultado, fez-se o estudo do conjunto de dados por período, mediante o estabelecimento de dados do período precedente ao da adoção do CPC 17 (2006-2009) e o dos que sucederam a adoção do CPC 17 (2010-2012). O resultado da análise dos dados que antecedeu a adoção do CPC 17 se mostrou inconclusivo, se se considerar que, em alguns dos apontamentos realizados por Ball e Shivakumar (2005), poder-se-ia remeter ao conservadorismo, e, em outros, não. Por outro lado, no período posterior à adoção do CPC 17, restou patente o conservadorismo para todos os pontos propostos por Ball e Shivakumar (2005). Para o modelo da persistência, quando se considerou o conjunto de dados empilhados verificou-se considerável persistência nas informações contábeis. Também se buscou verificar a existência de quebra estrutural no ano em que se deu a obrigatoriedade da adoção do CPC 17 e se identificou a existência de quebra, o que demonstra uma alteração no comportamento com relação à persistência dos dados naquele ano; no entanto, em análise única de cada um dos períodos, antes e pós-adoção do CPC 17, não se verificou oscilação na persistência dos dados, de forma que os resultados contábeis se mostraram persistentes em ambos os períodos. Assim, a adoção do CPC 17, remetendo ao enquadramento do Brasil no processo de convergência internacional, não afetou significativamente as empresas de capital aberto de construção no Brasil. De fato, é possível afirmar que tais atributos de qualidade da informação contábil, conservadorismo e persistência são intrínsecos à cultura da prática do sistema contábil nacional, de modo que ele pode ser um fator que remeta a uma possível justificativa. Ainda é possível refletir com relação à questão do setor de construção que tem sido visualizado no decorrer dos anos como bastante complexo no sentido da qualidade da informação, posto que possuem atipicidades que sempre têm sido alvo de intensas discussões e assim, talvez, ainda possa ser recente para se visualizar uma mudança na qualidade da informação contábil disponibilizada pelo setor. E, por fim, este impacto talvez possa ser visualizado através de estudos comparativos que verifiquem eventos que possam exercer um impacto mais rápido e direto sobre a qualidade da informação contábil, assim como se poderia ampliar o estudo para verificar como outros atributos da qualidade se manifestam neste setor. REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. E. F. Qualidade da Informação Contábil em Ambientes Competitivos. 2010. 188 p. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2010. ALMEIDA, J. E. F.; LOPES, A. B.; CORRAR, L. J. Gerenciamento de resultados para sustentar a expectativa do mercado de capitais: impactos no índice market-to-book. Advances in Scientific and Applied Accounting, v. 4, n. 1, p. 44-62, 2011. 11

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