ACÓRDÃO 2: ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA



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Transcrição:

Universidade de Brasília UnB Faculdade de Direito FD Teoria Geral do Processo 2 Professor: Vallisney de Souza Oliveira Componentes: Fábio Toshiro Iijima (140081810) Matheus Lira (140072284) Willian Rafael Ribeiro de Santana (140087958) ACÓRDÃO 2: ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA Novembro de 2015

1. Do acórdão: Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 973.553 - MG (2007/0179376-5) RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO RECORRENTE : A. G. L. ADVOGADOS : WOLNEY DE ARAÚJO DIAS JUNIOR FLÁVIO BRANQUINHO DA COSTA DIAS E OUTRO(S) RUBENS PEREIRA DOMINGUES DAVI BRANQUINHO DA COSTA DIAS ANDREZA CÂNDIDA DE OLIVEIRA RECORRIDO : C. B. DO L. ADVOGADO : EULER SOBRAL E OUTRO(S) EMENTA CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL INICIADA NO ESTRANGEIRO. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA. COMPANHEIRA SEPARADA DE FATO HÁ MAIS DE DOIS ANOS. POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA UNIÃO. COMPANHEIROS DOMICILIADOS NO BRASIL. BENS SITUADOS NO BRASIL RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO RAUL ARAÚJO: AGL interpõe recurso especial, baseado na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão do c. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que manteve a r. sentença de procedência de pedido veiculado em ação de reconhecimento e dissolução de união estável, ajuizada por CB do L, ora recorrida, em face do recorrente. O referido acórdão está assim ementado: Apelação cível. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Impossibilidade jurídica do pedido inocorrente. Cerceamento de defesa inexistente. União estável comprovada. Companheira separada de fato há mais de dois anos. Possibilidade. Partilha dos bens adquiridos durante a união. Esforço comum. Presunção. Gratuidade de Justiça. Indeferimento. Honorários advocatícios. Redução. Recurso parcialmente provido. 1. A possibilidade jurídica do pedido consiste em existir, na ordem jurídica, abstratamente, a tutela jurisdicional para o conflito de interesses específicos. Presente a previsão abstrata, tem-se como atendida a condição da ação. 2. O cerceamento de defesa ocorre quando a parte tem o legítimo interesse em produzir um ato ou uma prova e fica impedida pelo órgão judicial. Inexistindo prejuízo para a parte, não ocorre o vício. 3. A união estável pode ser constituída pelo convívio com pessoa separada de fato há mais de dois anos, porque não existiria impedimento para o casamento. 4. Comprovada a união estável, é devida a partilha dos bens adquiridos a título oneroso enquanto durou o relacionamento. 5. O esforço comum na aquisição dos bens durante o convívio é presumido, se não houver estipulação contratual expressa em contrário. 6. Fixados os honorários advocatícios em base de cálculo incorreta, deve ser feita a retificação. 7. A pessoa natural que afirma ser hipossuficiente econômico-financeira tem direito à gratuidade de justiça. Todavia, não havendo declaração de necessidade expressa da parte, o benefício deve ser negado. 8. Agravo retido conhecido e não provido. 9. Apelação cível conhecida e parcialmente provida, rejeitada a preliminar. (fl. 402). CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira e Luis Felipe Salomão votaram com o Sr. Ministro Relator.

2. Do conteúdo do acórdão e da União Estável O acórdão proferido pelo STJ versa sobre dois temas: o reconhecimento e a dissolução de uma união estável iniciada fora do país e possibilidade de isenção das custas judiciais nesse processo. O parecer do recurso especial Nº 973.553 mostra uma decisão unânime do STJ proferida numa ação cível para reconhecimento da existência de união estável e das consequências jurídicas geradas por esta. Em virtude do tribunal não ter considerado a apelação por completo, ele justifica sua seleção da apreciação mediante os requisitos dispostos no artigos 458 e 535 do CPC, afirmando incoerência e falta de coesão no pedido solicitado. A união estável é uma relação estabelecida entre duas pessoas em que é identificável na convivência uma tendência à constituição familiar, estando prevista no artigo 226 da Constituição Federal. Desse modo, os indivíduos que partilham desse instituto gozam de direitos semelhantes aos quais pessoas casadas civilmente usufruem, por exemplo, prevalece nessas relações o regime de comunhão parcial de bens orientado pelo artigo 1.725 do Código Civil. Para haver a comunhão de bens, é importante ter a prova de que o casal construiu patrimônio em conjunto. Nesse sentido, caso os indivíduos convivam no regime supracitado, eles podem também optar por uma relação em que o pacto antenupcial vigore. Além disso, a coabitação não é essencial para a enquadramento da união estável, nem sequer o fator tempo é determinante para restringir aquela, ficando sob incumbência do juiz decidir o reconhecimento ou não dos casos dessa união. (NASCIMENTO, 2013, p. 76). Como já referido, artigo 1.725 do Código Civil explicita como se deve proceder a divisão patrimonial dos bens após a dissolução da união estável. No caso do processo analisado, fora constatado que não havia nenhum acordo entre as partes o

qual pudesse esclarecer essa questão. A parte recorrente afirmou ainda que a instância inferior ao Superior Tribunal de Justiça violara seu direito de ampla defesa através do cerceamento de sua defesa, que é um princípio de direito processual garantido pelo artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Esse argumento demonstrou-se imprescindível para a aceitação da apelação pelo Tribunal Superior, uma vez que esse princípio não pode ser violado e deve ser assegurado no devido processo legal. A Lei Nº 9.278, de 10 de maio de 1996 e a jurisprudência do STF expressa pela súmula 377 evidenciam a necessidade da prova de que os bens adquiridos durante a união foram possíveis devido ao esforço comum para o incremento patrimonial dos parceiros. Por intermédio dessa compreensão, os ministros tiveram mais um fator cuja existência facilitou o indeferimento do pedido, haja vista a falta de evidências que comprovassem uma construção mútua de patrimônio entre o recorrente e o requerido. Assim, o Tribunal entendeu que ainda que a união estável tivesse iniciado nos Estados Unidos, o casal chegou a conviver por certo tempo aqui no Brasil antes de se separar e trouxeram o patrimônio construído por eles, reconhecendo, portanto, a união estável, sua dissolução e determinou a partilha de bens conforme a lei brasileira. 3. Desenvolvimento: Assistência Jurídica Gratuita, Assistência Jurídica Popular e Justiça Gratuita. Muitas vezes entendidas confundidas entre si, as expressões gratuidade da justiça e assistência jurídica gratuita, ambas presentes no acórdão em questão, possuem significados diferentes. A primeira expressão, de acordo com a Lei 1060/50, refere-se ao direito da parte em vulnerabilidade econômica de exigir que não lhe seja cobrada nenhuma taxa, custo ou despesas processuais. Para ser mais preciso, são isentos: I) de taxas

judiciárias e selos; II) dos emolumentos e custas devidos aos juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da justiça; III) das despesas com publicações indispensáveis no jornal encarregado da divulgação dos atos oficiais; IV) das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregadas, receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo contra o Poder Público federal, no Distrito Federal e nos Territórios, ou contra o Poder Público estadual, nos Estados; V) dos honorários de advogado e peritos. (GAMA, 2002, p. 228). A assistência jurídica gratuita, por sua vez, é um conceito mais amplo, que engloba o primeiro. Ela se fundamenta no inciso LXXIV do artigo quinto da constituição, que diz genericamente que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Segundo Ruy Pereira Barbosa, a assistência jurídica significa não só a assistência judiciária que consiste em atos de estar em juízo onde vem a justiça gratuita, mas também a préjudiciária e a extrajudicial ou extrajudiciária. A assistência jurídica compreende o universo, isto é, o gênero (1998, p. 62). Nesse sentido, além da isenção dos encargos processuais, a Administração Pública é responsável por disponibilizar todos os outros meios materiais necessários para que a parte possa ter acesso à justiça. Um exemplo desses meios é o papel exercido pela Defensoria Pública, que oferece advogados gratuitamente. Apesar dessas diferenças, é possível encontrar também várias semelhanças. Talvez a principal seja a de que ambas tem como fim a garantia da possibilidade de que todos, principalmente aqueles que não possuem condições financeiras para arcar com os custos de exigir judicialmente seus direitos, possam ter acesso à justiça, pelo menos formalmente. Desse modo, as duas foram criadas para garantir a afirmação de princípios como o do devido processo legal, da igualdade processual, do contraditório e da ampla defesa, dentre outros.

É exatamente nesse aspecto que não podemos confundir, ainda, esses dois conceitos com o de auxílio jurídico popular. Esse último refere-se à prática dos advogados populares, cujo objetivo é também a garantia do acesso à justiça, mas num sentido mais específico. Com efeito, esses profissionais tem como âmbito de atuação uma defesa principalmente dos movimentos sociais. Como esses movimentos tem como finalidade a materialização dos direitos previstos formalmente na Constituição (por exemplo: moradia, defesa dos povos indígenas, defesa da liberdade sexual, etc.), os advogados populares entendem sua prática como uma forma de militância e, portanto, acreditam que nunca se deve perder a percepção das implicações políticas e sociais de seu trabalho. 4. CONCLUSÃO O acórdão do Superior Tribunal de Justiça apresenta duas importantes decisões no que tange ao direito de família, sobretudo ao reconhecimento de união estável iniciada fora do Brasil e sobre a gratuidade da justiça. Nesse caso, o Tribunal acatou a tese do reconhecimento da união de fato entre as partes, ainda que esta tenha se iniciado em outro país. Uma das parte usa a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, Lei 46570/42 para sustentar sua argumentação. Segundo esta parte, não haveria respaldo legal para a recepção desse relacionamento como união estável pelo ordenamento jurídico brasileiro, baseando-se nos artigos 7º e 9º da referida lei, A construção do raciocínio sugere que a união estável e outros direitos de família regem-se pela legislação do domicílio da pessoa, no caso em apreço, os Estados Unidos da América. O STJ refutou esse argumento usando o direito internacional acerca da competência jurisdicional sobre a partilha de bens e sobre a suposta união estável que iniciou-se nos EUA e findou-se no Brasil, onde estava travada a lide. Como os bens se encontravam no Brasil, a competência é exclusiva do Brasil quanto ao regime de partilha. No que concerne à união estável, a

competência é internacional cumulativa ou concorrente. Sob essa ótica, O STJ reconheceu a união de fato entre os dois litigantes e a dissolução dessa união, a partir daí, definiu-se a divisão dos bens segundo o direito brasileiro. Outro ponto importante é a quanto a gratuidade da justiça que foi solicitada nesse caso. A Lei 1060/50 dispõe sobre a concessão de assistência judiciária e foi ela que foi usada como argumento para isenção dos valores devidos. No artigo 4º desta lei há a possibilidade de concessão do benefício da gratuidade das custas processuais e dos honorários advocatícios pelo simples fato de a parte solicitar isenção, na petição inicial, alegando hipossuficiência. Os ministros do STJ não entenderam a questão dessa maneira, para eles, conforme consta nos autos, a parte recebia mensalmente R$ 8.000,00 o que não configura a renda de uma família pobre no Brasil, assim, os ministros negaram provimento da gratuidade na justiça. Aqui percebe-se claramente uma intenção do Tribunal de entregar a justiça às pessoas. Ora, existiu sim união de fato entre as partes e a decisão foi no sentido de reconhecer esse instituto para que outras questões atinentes ao direito de família pudessem ser aplicadas. Também é louvável a negativa da gratuidade da justiça nesse caso. Aqui percebemos uma forte ameaça a violação de um direito nobre do ordenamento jurídico brasileiro - que é o de não negar o acesso à justiça aos mais pobres, porém a parte queria apenas transitar por uma brecha achada no texto da Lei: mediante simples afirmação da parte a gratuidade da justiça será concedida. A opinião dos ministros é que a parte agiu de má-fé ao solicitar a justiça gratuita, uma vez que possuía condição de arcar com o processo, por isso foi condenada a pagar o décuplo das custas, finalizando, nessa instância, um processo muito complexo, mas com um desfecho bem concatenado.

Bibliografia BARBOSA, Ruy Pereira. Assistência jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 1998; BRASIL. Constituição (1988). Constituição [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988: atualizada até a emenda constitucional nº 66, de 13/07/2010.ed. São Paulo: Saraiva, 2011; BRASIL. Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950. Estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 fev. 1950. disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1060compilada.htm>. Acesso em: 6 novembro de 2015; GAMA, Ricardo Rodrigues. Temas de Direito Processual. Campinas: Bookseller, 2002; NASCIMENTO, Cláudia. 10 anos de código civil: Aplicação, acertos, desacertos e novos rumos. Rio de Janeiro. EMERJ, 2013; BRASIL. Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm#art5. Último acesso em: 7 de novembro de 2015; BRASIL. Súmula 377 do STF. Dinsponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarjurisprudencia.asp?s1=377.num E.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas. Último acesso em 7 de novembro de 2015.