EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE TERESINA-PI



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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE TERESINA-PI Ação Declaratória de União Estável (PEDIDO URGENTE DE TUTELA ANTECIPADA) Samantha Rance Silva e Lira, brasileira, solteira, RG n 62.800.19 SDS/PE, CPF 049.98.344-92, residente e domiciliada na Residência Canadá, QD D, casa 07, VALE QUEM TEM, Teresina/Pi, por intermédio de seus advogados, com escritório para recebimento de intimações de estilo à Rua Elizeu Martins, nº 1.294, Salas 104/107, Edifício Oeiras, Centro, CEP: 64.000-120, Teresina-PI, (pedindo, doravante, todas as publicações/intimações sejam realizadas em nome da advogada Audrey Martins Magalhães Fortes, inscrita na OAB/PI sob o nº 1.829), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor Ação Declaratória de Reconhecimento de União Estável Homoafetiva Pós Mortem pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. Página 1 de 11

I. Breve relato dos fatos A autora (declarante) constituiu entidade familiar com pessoa do mesmo sexo, sra. CLÁUDIA SALES SILVA, em junho/2007. Assim, durante 06 (seis) anos manteve relação estável homoafetiva, pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo de constituição de família, até que sua companheira veio a falecer em 13/02/2013 (Certidão de Óbito anexa). A autora e sua companheira coabitavam em imóvel financiado pela Caixa Econômica Federal, registrado em nome da de cujus, contudo, pago unicamente pela autora, desde outubro/2008. A autora era a única que tinha emprego fixo (Hospital São Marcos) e desde outubro/2008 era a responsável por todas as despesas de ambas, inclusive a prestação do imóvel financiado (Contrato da Caixa Econômica, anexo). (Prova de que a autora efetuava os pagamentos seguem: anexos os comprovantes de pagamento de energia elétrica e conta de água; também extrato do Cartão de Crédito da autora e sua companheira, sendo que a de cujus era dependente da autora). Conforme já mencionado, relacionamento da autora com sua companheira era de conhecimento público. Vizinhos, familiares e amigos sabiam da relação que a autora e sua companheira mantinham, de forma estável e duradoura. A relação estável homoafetiva era de conhecimento dos familiares da autora e de sua companheira, com quem mantinham entendimento amigável. Apesar desses fatos, após o falecimento da sua companheira, a autora foi pega de surpresa por diversos atos de má fé oriundos de dois familiares (colaterais) da falecida companheira, com o objetivo de lesar o seu patrimônio. Primeiro, o irmão da falecida, Norbelino de Carvalho e Silva Júnior, ingressou na casa da autora e subtraiu diversos documentos, visando obviamente dificultar/impedir que a autora ingressasse com a presente ação. Página 2 de 11

Depois, teve conhecimento a autora, de que, de posse do Contrato de Financiamento da Caixa Econômica, dos comprovantes de pagamento, a irmã da falecida, Emmanulelly Sales e Silva, havia ingressado com o pedido de recebimento do SEGURO para quitação do imóvel junto a Caixa Econômica Federal. Cumpre esclarecer que companheira faleceu vítima de hemorragia cerebral, doença que vitimou a de cujus, sem que ela tivesse tempo de deixar qualquer declaração de vontade acerca dos bens referidos. A falecida não tinha filhos, assim, não deixou descendentes. Diante da necessidade de uma declaração judicial acerca da união estável que mantinha com Cláudia, para que possa atuar como parte legítima na ação de inventário, a autora ajuizou a presente ação. II. Da fundamentação legal do pedido de reconhecimento de união estável homoafetiva Em decorrência do papel atribuído ao Direito como norteador das relações humanas, esta área do conhecimento necessita estar sempre acompanhando as transformações sociais, legislando, ou ainda, adaptando as normas existentes, de forma a satisfazer os anseios da comunidade jurisdicionada. Nesse contexto, a caracterização do conceito de família sofreu profundas mudanças no decorrer do tempo, e demandas relacionadas à união homoafetiva vêm cada vez mais à tona nas cortes judiciais do país. Felizmente, as decisões estão se uniformizando de forma positiva: o reconhecimento da união estável homoafetiva como núcleo familiar já era uma crescente nos tribunais, quando foi referendada por posicionamento histórico assumido pelo Supremo Tribunal Federal, nesse sentido. Página 3 de 11

Através do julgamento da ADPF 132 e da ADIN 4277, por votação unânime, a união afetiva passou a ser reconhecida como entidade familiar e dela decorrem todos os direitos e deveres que emanam da união estável entre homem e mulher, consagrada no art. 226, 3º, da Constituição Federal e no art. 1723 do Código Civil. Conforme o entendimento do STF, a união homoafetiva deve se submeter ao regime jurídico da união estável. Para que o relacionamento possa ser considerado união estável, devem ser atendidas as exigências mínimas estabelecidas pela lei: a convivência deve ser pública, contínua e duradoura. As relações devem estar pautadas sob os deveres de respeito, lealdade e assistência, além da guarda, sustento e educação dos filhos. Deve-se salientar que um dos primeiros requisitos para o reconhecimento familiar se encontra no laço afetivo. Se as relações homoafetivas apresentam todas essas características, deve ser concedido a elas o mesmo tratamento do Estado conferido aos relacionamentos mantidos entre pessoas de sexos opostos. Se relações iguais são tratadas de modos diferentes, estão gravemente prejudicados os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, basilares de nosso ordenamento constitucional. Já existe uma vasta jurisprudência acerca do tema: Apelação cível. Ação declaratória de união estável homoafetiva c/c inventário. Demanda extinta sem exame do mérito, com fulcro no art. 267, VI, do CPC. Pedido juridicamente possível. Ausência de vedação legal à pretensão do autor. Constitucionalidade recentemente confirmada pelo STF. Clara ofensa aos princípios da igualdade e dignidade da pessoa humana. Sentença cassada. Retorno dos autos à origem para a devida Página 4 de 11

instrução. Recurso provido. O Supremo Tribunal Federal. Apoiando-se em valiosa hermenêutica construtiva e invocando princípios essenciais (como os da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminação, da igualdade, do pluralismo, da intimidade, da não discriminação e da busca da felicidade). Reconhece assistir, a qualquer pessoa, o direito fundamental à orientação sexual, havendo proclamado, por isso mesmo, a plena legitimidade ético-jurídica da união homoafetiva como entidade familiar, atribuindo-lhe, em conseqüência, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em favor de parceiros homossexuais, relevantes conseqüências no plano do direito, notadamente no campo previdenciário, e, também, na esfera das relações sociais e familiares. (...) a família resultante da união homoafetiva não pode sofrer discriminação, cabendo-lhe os mesmos direitos, prerrogativas, benefícios e obrigações que se mostrem acessíveis a parceiros de sexo distinto que integrem uniões heteroafetivas. (ministro Celso de Mello, STF). (TJSC, AC 2008.029815-9, 2ª C. Dir. Civ., Rel. Des. Sérgio Izidoro Heil, j. 01/09/2011). Constitucional. Civil. Apelação cível. Ação declaratória de união homoafetiva. Sentença que julgou procedente o pleito exordial. Amparo na constituição. Dignidade da pessoa humana. Igualdade. Provas nos autos que atestam a existência da união. Apelação cível não provida. 1. Tratase de Apelação Cível interposta nos autos de Ação Declaratória de União Estável, cuja sentença julgou procedente o pleito exordial para declarar a existência de entidade familiar homoafetiva entre S.L.C.P.doL. e G.S.deM. 2. De início, cumpre observar ser plenamente Página 5 de 11

possível demandar em Juízo a declaração de união homoafetiva. A orientação sexual não deve ser utilizada como critério de segregação. Negar a existência dessa entidade familiar é afrontar um dos fundamentos da República Federativa do Brasil previsto na Constituição: a dignidade da pessoa humana. 3. É certo que o Código Civil de 2002 não prevê expressamente a hipótese de união estável homoafetiva, uma vez que define haver a necessidade de que a união se opere entre pessoas de sexo oposto (caput do art. 1723 do Código Civil). Nada obstante, não há qualquer empecilho na utilização da analogia para importar os efeitos da união estável para a união homoafetiva. Isso tendo em vista que ignorar a existência dessa modalidade de família é agredir o preceito da igualdade, que norteia nosso ordenamento jurídico. 4. O Código Civil deve ser lido a partir da Constituição, o que nos leva à conclusão de que, em nome dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade, devemos emprestar os efeitos civis da união estável à entidade familiar fundada na homoafetividade. 5. Diante das provas acostadas aos autos, temos que restou caracterizada a existência da união homoafetiva entre S.L.C.P.D.L. e G.S.deM., a qual deve importar os efeitos da união estável prevista em nosso Diploma Civil (art. 1723 e seguintes do C.C.), através de analogia, e em nome dos princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, os quais têm assento constitucional (art 1º inc. III e art. 5º caput da CF/88). 6. Apelação Cível não provida à unanimidade. (TJPE, AC 0232925-3, 3ª C. Cív., Rel. Des. Alfredo Sergio Magalhães Jambo, j. 14/07/2011). Apelação cível e agravo retido. Ação declaratória de união estável homossexual. Ocorrência. Agravo retido. Página 6 de 11

Antes mesmo da decisão do egrégio Supremo Tribunal Federal, no sentido de equiparar as uniões estáveis homossexuais às uniões estáveis heterossexuais, a corte já reconhecia a possibilidade jurídica do pedido de reconhecimento de união estável homossexual. Precedentes jurisprudenciais. Portanto, de rigor o não provimento do agravo retido. Apelação. A prova produzida nos autos retrata que, dentro da peculiaridade própria de um casal homossexual, as partes conviveram de forma contínua, duradoura e com ânimo de constituição de família. Caso em que deve ser mantida a sentença. Negaram provimento ao agravo retido e à apelação. Por maioria. (TJRS, AC 263084-35.2010.8.21.7000, 8ª C. Civ., Rel. Des. Rui Portanova, j. 30/06/2011). Declaratória de reconhecimento de união homoafetiva cumulada com partilha de bens e herança. Admissibilidade. Ordenamento jurídico vigente não exclui a pretensão da apelante. Situação fática que exige a entrega da prestação jurisdicional no mérito. Divergência jurisprudencial já é suficiente para que o feito tenha regular sequência. Anulação da sentença deve prevalecer. Apelo provido. (TJSP, AC 994.09.277447-1, Ac. 4681851, 4ª C. Dir. Priv., Rel. Des. Natan Zelinschi de Arruda, j. 26/08/2010). Na 4ª Vara de Família e Sucessões desta Comarca, no processo de n 234932008, em sentença proferida pelo Juiz de Direito, Dr. Antonio de Paiva Sales, publicada em 27 de janeiro deste ano, foi julgada procedente Ação de Reconhecimento de União Estável Homoafetiva Pós Morte. Em trecho da sentença, cuja íntegra segue em anexo, o julgador pondera, sabiamente: Página 7 de 11

Nesse tipo de relação, que a sociedade era e ainda é preconceituosa, mesmo se tendo avanços, como reconhecimento recentes da União Estável entre pessoas do mesmo sexo e congressos para tornar pública a luta pela igualdade de direitos dos homossexuais, é difícil se tornar a relação íntima pública ou do conhecimento de todos, sob pena de correr risco de repúdio e chacotas constantes. Mas a prova dos autos, principalmente a documental, leva à evidência da existência de uma entidade familiar entre a autora e a de cujus, exercida publicamente e semelhante ao casamento, que deve ser reconhecida já que as companheiras conviveram de modo duradouro e como se fossem casadas, dedicandose a uma a outra até no momento da morte, sem prazo certo para existir ou terminar, vivendo um relacionamento social, (...) Dessa maneira, resta demonstrado que a união homoafetiva deve receber igual tratamento dispensado à união estável mantida entre pessoas de sexos opostos, conforme entendimento do STF, seguido por tribunais por todo o país, em consonância com os princípios constitucionais da igualdade, da liberdade e da dignidade da pessoa humana. III. NECESSIDADE DE TUTELA ANTECIPADA Cumpre relatar que após o falecimento da companheira, a irmã da falecida, EMMANUELLY SALES e SILVA, tentou invadir o imóvel já mencionado e no qual reside a autora. Desse modo, com vistas à garantia da sua integridade física, a autora registrou BOLETIM DE OCORRENCIA. Sendo assim, os parentes colaterais da de cujus não se resumiram a tentar adquirir o imóvel junto a Caixa Econômica, mas também por meio da força física. Página 8 de 11

Evidente que a autora tem posse mansa de pacífica do imóvel que reside há 06 anos, sendo assim, demonstrado o direito líquido e certo de permanecer no imóvel de que, na menor das hipóteses, é meeira. Demonstrado outrossim, o perigo da demora, o risco dos colaterais receberem junto à SEGURADORA ou perante a Caixa Econômica Federal os direitos legais e patrimoniais sobre o imóvel. Diante disso, requer a V. Exa que em sede de tutela antecipada conceda à autora o direito de permanecer no imóvel, bem como oficie a Caixa Econômica Federal para que se abstenha de transferir o bem já relacionado (cuja documentação segue anexa) até determinação ulterior deste juízo, ou seja, até o julgamento final deste processo. IV DO PEDIDO Ante o exposto, REQUER seja deferida LIMINARMENTE a tutela antecipada e conceda à autora o direito de permanecer no imóvel, bem como oficie a Caixa Econômica Federal para que se abstenha de transferir o bem já relacionado (cuja documentação segue anexa) até determinação ulterior deste juízo, ou seja, até o julgamento final deste processo. No mérito, após os trâmites legais, seja julgada procedente a presente ação, declarando o M.M. Juízo por sentença a união estável homoafetiva mantida entre a autora e sua companheira, até a data de seu falecimento, com a submissão dessa união ao regime jurídico da união estável, consagrado no art. 226, 3º, da Constituição Federal e no art. 1723 do Código Civil. Requer de Vossa Excelência a procedência do pedido - da ação DECLARATÓRIA, para posteriormente ingressar, como meeira do arrolamento Página 9 de 11

Imóvel Financiado pela Caixa Econômica Federal, conseguida com o esforço mútuo, constante dos autos Requer a citação da ascendente da de cujus, sra Maria das Graças Sales, residente e domiciliada na Rua Nova Redenção, n 1692, Parque Itararé, Teresina/Piauí. Requer seja a CITAÇÃO procedida pelos CORREIOS, com aviso de recepção. Requer ainda o depoimento pessoal da genitora da de cujus, bem como protesta por todos os meios de provas admitidas em direito, em especial prova testemunhal, cujo rol apresentará oportunamente. Requer, caso entenda por bem este juízo, a intimação do Ilustre Representante do Ministério Público Estadual. Com fulcro no art. 4 da Lei n 1.060/50 e art. 5, LXXXIV, da CF, a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, haja vista que a autora não possui condições financeiras de arcar com custas judiciais, honorários advocatícios e demais despesas processuais, sem prejuízo do seu próprio sustento processuais. Dá-se a causa o valor de (R$ 100,00), cem reais para efeitos Nestes termos, espera deferimento. Teresina, 19 de abril de 2013. Audrey Martins Magalhães OAB/Pi 1829 Página 10 de 11

Documentos anexos: 1. Procuração 2. Certidão de Óbito 3. Contrato com a Caixa Econômica Federal 4. Boletim de Ocorrência 5. Cópias de contas de energia e água e cartão de crédito 6. Identidade profissional da autora junto seu empregador 7. Cópia da CPTS Página 11 de 11