Orientações Curriculares do Ensino Médio

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7. ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

Transcrição:

Orientações Curriculares do Ensino Médio

República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Ministério da Educação (MEC) Tarso Genro Secretaria Executiva do MEC Fernando Haddad

Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica SEB Departamento de Políticas de Ensino Médio Orientações Curriculares do Ensino Médio Brasília DF 2004

Secretaria de Educação Básica Francisco das Chagas Fernandes Departamento de Políticas de Ensino Médio Lucia Helena Lodi Consultores responsáveis pela elaboração de textos Roxane Rojo - Língua Portuguesa Haquira Osakabe - Literatura José Mauro Ribeiro - Arte Antonio Carlos Moraes Educação Física Paulo Cezar Pinto de Carvalho - Matemática Celi Aparecida Espasandin Lopes - Matemática Nelio Bizzo - Biologia Lenir Basso Zanon - Química Elio Carlos Ricardo - Física Holien Bezerra - História Maria Encarnação Beltrão Sposito - Geografia Amaury Moraes - Sociologia João Carlos Sales P. Silva - Filosofia Equipe Técnica do Departamento de Política do Ensino Médio Cristiane Herres Terraza Maria de Lourdes Lazzari de Freitas Maria Eveline Pinheiro Mirna França da Silva de Araújo Tiragem 2000

Sumário Apresentação... 6 Subsídios para uma reflexão sobre o Ensino Médio... 7 Linguagem, Códigos e suas Tecnologias... 14 Língua Portuguesa... 26 Língua Estrangeira... 42 Literatura... 60 Arte... 83 Educação Física... 109 Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias... 131 Biologia... 148 Física...170 Química... 207 Matemática... 258 Ciências Humanas e suas Tecnologias... 278 História... 278 Geografia... 314 Sociologia... 343 Filosofia... 373

Apresentação No âmbito das mudanças relativas ao Ensino Médio, a implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais sugere mudanças significativas para a organização da escola e orientação do trabalho pedagógico. No entanto, é necessário considerar que tal proposta não se concretizou com a sua implementação por não ter conseguido, nas diferentes instâncias do Ensino Médio, aprofundar análise consistente que permitisse esclarecer e orientar as escolas, bem como, promover o estudo do documento e discutir as possibilidades didático-pedagógicas, por ela apresentadas, junto ao professor na execução da sua prática docente. O Ministério da Educação, exercendo sua função de coordenação e articulação da política nacional de educação, promove, por meio da Secretaria de Educação Básica, de outubro a dezembro de 2004, cinco seminários regionais e o Seminário Nacional, a fim de consolidar a organização curricular do Ensino Médio. Os seminários contarão com a participação de equipes técnicas das Secretarias Estaduais de Educação, professores e estudantes da rede pública de ensino. Esta publicação traz para discussão textos desenvolvidos por professores universitários atuantes na área de formação docente e pretende subsidiar as discussões que acontecerão nos seminários regionais a respeito das Orientações Curriculares do Ensino Médio. FRANCISCO DAS CHAGAS FERNANDES Secretário de Educação Básica

Subsídios para uma reflexão sobre o Ensino Médio Profª Drª Lucia Helena Lodi A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecerlhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (Artigo 22, LDB 9394/96). Esta última a ser desenvolvida de maneira precípua pelo Ensino Médio, por estarem incluídos, entre os seus fins específicos, a cidadania do educando e a preparação básica para o trabalho, a serem desenvolvidas por um currículo que destaque: a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. O Parecer da Câmara de Educação Básica - N o 15/98 e a respectiva Resolução N o 3/98 - do Conselho Nacional de Educação vêm dar forma às diretrizes curriculares para o Ensino Médio. Fundamentam-se em princípios axiológicos e pedagógicos e propõem-se a orientar os sistemas e instituições de ensino na construção dos projetos educacionais. O Contexto do Ensino Médio Essas diretrizes legais não foram suficientes para sustentar a reforma do Ensino Médio. Em 1998, o MEC divulgou os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), com o objetivo de difundir os princípios da reforma do ensino em nível médio. Decorridos sete anos, tal reforma não se efetivou, em razão de fatores políticos, pedagógicos e operacionais. 7

No âmbito político, a instituição das diretrizes curriculares nacionais para este nível de ensino ocorreu sem uma discussão mais amadurecida entre os diferentes segmentos da comunidade educacional. Segundo os legisladores e dirigentes da época, a garantia dessa nova concepção de educação só se faria possível se o país adotasse uma educação baseada no desenvolvimento de competências conceituais, atitudinais e procedimentais. Sem que as discussões alcançassem grau consistente de convergência teórica e metodológica; essas novas orientações não foram internalizadas pelos educadores e, portanto, não instituíram novas práticas pedagógicas. No âmbito pedagógico, a divergência conceitual nos meios especializados da noção de competência defendida em documentos oficiais e a insuficiente formação dos professores constituíram empecilhos para adoção das novas orientações, visto o desconhecimento teórico, pelos profissionais da educação básica, e mesmo por seus formadores, limitou a apropriação desse novo modelo. As condições de ensino também contribuíram com esse quadro. A ênfase dada à reforma curricular não resulta na melhoria destas, o que dificultou, ou mesmo inviabilizou, a execução de um projeto-pedagógico compatível com as novas diretrizes. No âmbito social, a separação do Ensino Médio da educação profissional teve como conseqüência a ampliação do tempo de formação para ingresso do jovem na vida produtiva. Isso, aliado às precárias condições de oferta desses cursos e às dificuldades financeiras de uma grande parcela da população, provocou, muitas vezes, a evasão de um ou de ambos os cursos, apesar do significativo crescimento das matrículas, nos últimos anos nesse nível de ensino. Entre as críticas mais recorrentes relacionadas às atuais diretrizes e aos parâmetros curriculares destacam-se: t A idéia de que a reforma curricular é a solução de todos os problemas educacionais; 8

t O currículo tratado como instrumento de controle da educação e submisso aos princípios do mercado; t O fato dos PCNEM e as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM) possuírem discurso híbrido contemplando tendências pedagógicas diversas, com vistas a assegurar legitimidade junto a diferentes grupos sociais; t A ênfase no discurso das competências fragmentadas em habilidades, como modelo de regulação e controle do processo educacional, a fim de garantir metas e resultados; t A ausência de referências mais precisas para organizar e orientar a aquisição de competências e habilidades de acordo com a realidade dos alunos e da escola. O retrato sócioeconômico da juventude brasileira exige que a educação média atenda a uma dupla necessidade: direito a uma formação humanística geral de qualidade e o acesso a conhecimentos humanísticos e específicos que viabilizem a continuidade dos estudos e o ingresso na vida produtiva. O atual governo propõe-se a instituir um fórum curricular permanente a respeito da educação média tendo em vista a reorganização da escola e das práticas pedagógicas, promovendo a qualidade do ensino e o fortalecimento da identidade dos jovens e adultos. Consolidando o currículo a partir do aluno-sujeito O Ensino Médio deve ser planejado em consonância com as características sociais, culturais e cognitivas do sujeito, tendo como referencial desta última etapa da Educação Básica: adolescentes, jovens e adultos. Cada um desses tempos de vida tem a sua singularidade, como síntese do desenvolvimento biológico e da experiência social. Se a construção do conhecimento científico, tecnológico e cultural é também um processo sócio-histórico, o 9

Ensino Médio pode configurar-se como um momento em que necessidades, interesses, curiosidades e saberes diversos confrontam-se com os saberes sistematizados, produzindo aprendizagens socialmente e subjetivamente significativas. Num processo educativo centrado no sujeito, a educação médio deve abranger todas as dimensões da vida, possibilitando o desenvolvimento pleno das potencialidades do educando. No atual estágio de construção do conhecimento pela humanidade, a dicotomia entre conhecimento geral e específico, entre ciência e técnica, ou mesmo a visão de tecnologia como mera aplicação da ciência, devem ser superadas, de tal forma que a escola incorpore a cultura técnica e a cultura geral na formação plena dos sujeitos e na produção contínua de conhecimentos. As relações nas unidades escolares, por sua vez, expressam a contradição entre o que a sociedade busca conservar e o que pretende mudar. É preciso estar atento a este movimento para se construir novas relações a serem buscadas de forma coletiva. O desafio consiste em efetivar, no Ensino Médio, a perspectiva interdisciplinar. É necessário que cada escola faça um retrato de si mesma, dos sujeitos que a tornam viva e do meio social em que se insere, no sentido de compreender sua própria cultura e de identificar as dimensões da realidade motivadoras em favor de uma proposta curricular coerente com os interesses e as necessidades de seus alunos e de sua comunidade. A dimensão local - sem nunca se esgotar em si mesma - pode ser importante no planejamento educacional, integrado a um projeto social comprometido com a melhoria da qualidade de vida de toda a população. Projeto curricular interdisciplinar Ao longo de anos, a organização do trabalho escolar se estabelece em disciplinas, cujo enfoque preserva a identidade, a autonomia e os objetivos próprios de cada uma delas. Assentado na base ético-política do projeto esco- 10

lar e no princípio da interdisciplinaridade, o currículo, nas dimensões epistemológica e metodológica, pode mobilizar intensamente os alunos, assim como os diversos recursos didáticos disponíveis e/ou construídos coletivamente. Pressupõe-se, com isto, a possibilidade de se dinamizar o processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva dialética, em que o conhecimento é compreendido e apreendido como construção histórico-social. Tomando as áreas de conhecimento presentes na educação básica, observa-se que os estudos na área de códigos e linguagens visam à compreensão do significado das letras e das artes; desenvolver a capacidade de comunicação, e o acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. O eixo curricular dessa área pode ter como referência a língua em funcionamento e a atuação do sujeito nas relações intersubjetivas e coletivas. Os estudos das ciências da natureza e da matemática devem destacar a educação tecnológica básica e a compreensão do significado da ciência. Um eixo de organização dessa área pode ser a complexidade e o equilíbrio dinâmico da vida no processo de desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. A área de ciências humanas e sociais assenta-se na compreensão do processo histórico de transformação da sociedade e da cultura, podendo ser organizada em torno do eixo da cidadania e dos processos de socialização, na perspectiva sócio-histórica. Algumas abordagens metodológicas podem conferir ao currículo uma perspectiva de totalidade, respeitando-se as especificidades epistemológicas das áreas de conhecimento e das disciplinas. Como exemplo, parte-se da premissa de que o conhecimento da sua realidade mais próxima pode motivar o aluno a compreender as complexas relações existentes em nível mais global. Um projeto dessa natureza pode articular-se a cinco fundamentos da vida societária: físico-ambiental; sócio-histórico, sócio-cultural, sócio-político e econômico-produtivo, sabendo-se não serem independentes entre si. A formação básica para o trabalho é defendida como necessária para se 11

compreender a tecnologia e a produção, com o propósito de preparar os jovens para a realidade contemporânea. A proposta pedagógica do Ensino Médio deve ter como referência a continuidade dos estudos, o exercício da cidadania e o mundo do trabalho, considerando-se: a) a formação de pesquisadores para o desenvolvimento de novos conhecimentos, da ciência e do país; b) os processos produtivos de bens, serviços e conhecimentos tecnológicos com os quais o aluno se relaciona no seu quotidiano, bem como os processos com os quais se relacionará no âmbito do trabalho. Portanto, são os enfoques necessários à reorganização curricular: t Propiciar a reinterpretação e reorganização dos PCNEM e das DC- NEM, priorizando o aluno-sujeito, respeitando a diversidade cultural, privilegiando o diálogo e a construção coletiva do currículo; t Rever a concepção de avaliação predominante que coloca ênfase no resultado em detrimento do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, promover a avaliação qualitativa no lugar da quantitativa; t Criar condições para o desenvolvimento de parâmetros e diretrizes curriculares locais, com a mediação das Secretarias de Educação e do MEC, em consonância com as diretrizes nacionais; t Tratar como política sócio-cultural o tema relativo às orientações curriculares nacionais; t Entender a importância de trabalhar o desenvolvimento da capacidade crítica dos alunos em relação aos padrões universais de conhecimento escolar até hoje instituídos; t Trabalhar o conceito de competência enquanto conhecimento necessário à compreensão e atuação crítica quanto às questões de ordem ética, social e econômica; t O movimento de reorganização da escola deve estar sustentado no 12

tripé: currículo, formação de professores e gestão, a serem plenamente considerados; t Assegurar condições teóricas e materiais para a comunidade escolar assumir papel significativo na elaboração e execução do currículo. É fundamental que as discussões iniciadas tenham continuidade e aprofundamento no campo de atuação de cada sistema, com a organização de fóruns locais que permitam a troca de conhecimentos e experiências a partir da própria realidade, para que os resultados sejam expressos nas reuniões nacionais. Profª Drª Lucia Helena Lodi Diretora do Departamento de Políticas de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica/MEC REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Mirian. Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília: UNESCO, MEC, 2003. DOMINGUES, José Juiz. A reforma do ensino médio: a nova formulação curricular e a realidade da escola pública. In Educação e Sociedade,São Paulo, ano XXI, n.º 70, abril de 2000. LOPES, Alice C. Interpretando e produzindo políticas curriculares para o ensino médio. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (Org.) Ensino médio : ciência, cultura e trabalho. Brasília: MEC,SEMTEC, 2004. 13