JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO RESUMO

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Transcrição:

JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO RESUMO Com o advento da Lei nº 9.249/95, as empresas tributadas pelo regime de lucro real passaram a ter a possibilidade de remunerar os seus acionistas, sócios ou titular através dos Juros sobre o Capital Próprio (JSCP). Os JSCP contabilizados conforme prescreve a referida Lei são dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda (IRPJ) e da contribuição social sobre o lucro (CSLL), se equiparando a remuneração do capital de terceiros. Portanto, sua contabilização representa economia tributária para as empresas, porém, esta economia pode se reverter conforme as características do beneficiário que os receber. Palavras Chaves: Juros sobre o capital próprio, Lei nº 9.249/95, planejamento tributário, Lucro real. INTRODUÇÃO O planejamento tributário é um recurso que pode ser utilizado pelas empresas para redução da alta carga tributária existente no país. Segundo Chaves (2008), o planejamento tributário é a escolha dentre as alternativas legalmente válidas, aquela menos onerosa ao contribuinte. Implica num estudo da legislação tributária diante da atividade da empresa, e a decisão pela forma legal menos onerosa. De acordo com Zanluca (2011), a carga tributária no Brasil representa um alto custo para as empresas, e diante da competitividade do mercado o planejamento tributário se torna uma necessidade para os contribuintes. Para Assaf Neto (2005), os JSCP criados pela Lei nº 9.249/95 são uma forma de remuneração do capital próprio dedutível da base de cálculo do IRPJ e da CSLL das empresas tributadas pelo regime de lucro real, da mesma maneira como é tratada a remuneração do capital de terceiros. 1/14

Há divergências quanto à natureza dos JSCP entre os autores pesquisados, assim como, entre os órgãos públicos, os mesmos podem ser considerados como despesa/receita financeira ou distribuição de resultado. Conforme Malaquias et al. (2007a), a contabilização dos JSCP na empresa pagadora sempre representará uma economia de impostos, porém para quem os recebe, haverá tributação do valor, e esta é diferente no caso do recebedor ser pessoa física ou pessoa jurídica. Desta forma, a análise da carga tributária deve envolver não somente a empresa pagadora, mas também os reflexos obtidos na fonte recebedora. A pesquisa também procura investigar, no caso de beneficiária pessoa jurídica, os reflexos obtidos, conforme suas características, se a mesma está sujeita ou não ao adicional do IRPJ, se enquadrada em alíquota diferenciada da CSLL ou pelo regime de tributação da empresa recebedora. 1 Planejamento tributário O planejamento tributário é um recurso que pode ser utilizado pelas empresas para redução da alta carga tributária existente no país. Planejamento Tributário é o conjunto do estudo das alternativas lícitas de formalização jurídica de determinada operação, antes da ocorrência do fato gerador, para que o contribuinte possa optar pela que apresente o menor ônus tributário. (OLIVEIRA; PEREZ JUNIOR; SILVA, 2005, p. 206) Segundo Chaves (2008), o planejamento tributário é a escolha dentre as alternativas legalmente válidas, aquela menos onerosa ao contribuinte. Implica num estudo da legislação tributária diante da atividade da empresa, e a decisão pela forma legal menos onerosa. Planejamento tributário ou elisão fiscal envolve a escolha, entre alternativas igualmente válidas, de situações fáticas ou jurídicas que visem reduzir ou eliminar ônus tributários, sempre que isso for possível nos limites da ordem jurídica. (ANDRADE FILHO, 2008, p. 764) Ainda, segundo Andrade Filho (2008), elisão fiscal não se confunde com evasão fiscal. A elisão fiscal é a atividade lícita de busca de alternativas que leve a uma menor carga tributária. Já a evasão ou sonegação fiscal, por outro lado, é resultado de ação ilícita punível com pena restritiva de liberdade e multa. De acordo com Zanluca (2011), as finalidades do planejamento tributário são: a) evitar a incidência do fato gerador; b) reduzir o montante do tributo, sua alíquota ou reduzir a base de cálculo do tributo; c) retardar o pagamento do tributo, sem ocorrência da multa. Conforme Chaves (2008), o planejamento tributário vai desde um planejamento administrativo, ou seja, um estudo prévio das situações que geram a obrigação fiscal, como por exemplo, a escolha pelo melhor regime de tributação de acordo com as características da empresa e de sua atividade visando gerar menor carga tributária, até um planejamento judicial, onde se realiza uma revisão histórica em fatos ocorridos e que possam de acordo com a interpretação da legislação 2/14

tributária, serem questionados na justiça, sempre na busca de uma economia tributária. 1.1 Importância De acordo com Zanluca (2011), a carga tributária no Brasil representa um alto custo para as empresas, e diante da competitividade do mercado o planejamento tributário se torna uma necessidade para os contribuintes. Ainda, o autor afirma que o contribuinte tem o direito de estruturar o seu negócio da maneira que melhor lhe convenha, dentro dos limites legais, procurando a diminuição dos custos de seu empreendimento, inclusive dos impostos. Zanluca (2011) lembra que o artigo 153, da lei nº 6.404/76, prevê a obrigatoriedade do planejamento tributário por parte dos administradores de qualquer companhia: Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios. Segundo Andrade Filho (2008), um planejamento tributário eficaz é pensado e conduzido conforme as particularidades de cada empresa. Deve ser implantado com máximo cuidado e zelo. Assim, os documentos de suporte são cuidadosamente preparados e os registros contábeis espelham os fatos acontecidos de forma analítica. Por fim, Chaves (2008) afirma que, para realizar um planejamento tributário é fundamental ter conhecimentos contábil e jurídico. 2 Juros sobre o capital próprio (JSCP) 2.1 Histórico Segundo Malaquias et al. (2007a), no ano de 1957 foi aprovado o decreto nº 41.019 que instituiu a figura dos JSCP na legislação brasileira. No início os JSCP eram aplicados ao setor elétrico, isto devido ao longo tempo de maturação dos investimentos neste setor. Este decreto prevê que os JSCP pagos aos acionistas, assim como, os juros sobre o capital de terceiros fossem acrescidos ao custo da obra. Malaquias et al. (2007a), também afirma que após a aprovação da lei nº 6.404 de 1976, o benefício dos JSCP foi estendido para outros setores da economia, generalizando-se a possibilidade de utilização por todos os setores, sendo neste momento contabilizado no ativo diferido. Nesta época, conforme Soares Júnior (2001), a indedutibilidade dos JSCP era regra geral, e apenas em situações restritas havia exceção, como no caso dos JSCP pagos pelas cooperativas aos seus associados, às concessionárias de serviços públicos de energia elétrica, de telecomunicações e de telefonia, que contabilizavam os JSCP no ativo imobilizado, como acréscimo ao custo das obras, e as demais empresas na fase pré-operacional, que podem contabilizar os JSCP no ativo diferido, até que se iniciem suas atividades. 3/14

2.2 Base legal Os JSCP objeto desta pesquisa esta fundamentado no artigo 9º, da Lei nº 9.249/95: Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP. (BRASIL, 1995) 2.3 Motivos para criação dos JSCP O capital de terceiros é remunerado geralmente com base em taxas préfixadas, e os juros pagos são dedutíveis da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Já o capital próprio, não possui renda fixa, ele é remunerado com base nos resultados da empresa, através da distribuição de lucros ou dividendos aos seus proprietários/acionistas, sendo que essa forma de remuneração compõe a base de cálculo dos tributos sobre a renda. Conforme Soares Júnior (2001), a exposição de motivos do projeto de Lei nº 913/95, este que deu origem a Lei nº 9.249/95, a intenção foi de dar um tratamento isonômico entre os rendimentos do capital próprio e do capital de terceiros. Outro motivo encontrado, diz respeito à extinção da correção monetária prevista no artigo 4º da Lei nº 9.249/95: Art. 4º Fica revogada a correção monetária das demonstrações financeiras de que tratam a Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989, e o art. 1º da Lei nº 8.200, de 28 de junho de 1991. Parágrafo único. Fica vedada a utilização de qualquer sistema de correção monetária de demonstrações financeiras, inclusive para fins societários. (BRASIL, 1995) Segundo Chaves (2008), a correção monetária provocava uma despesa inflacionária nas empresas capitalizadas, ou seja, as empresas com patrimônio líquido (PL) superior ao ativo permanente tinham um saldo negativo de correção monetária, o que reduzia o lucro tributável das empresas, e os JSCP foram criados para compensar este aumento na carga tributária. Para Assaf Neto (2005), a extinção da correção monetária sobre o resultado contábil provocou uma tributação adicional às alíquotas a que as empresas estão comumente sujeitas, e os JSCP criados pela lei nº 9.249/95 vieram para substituir o efeito tributário gerado pela extinção da correção monetária. Iudícibus, Martins e Gelbcke (2008a), também associam a criação dos JSCP a serem utilizados como despesa dedutível da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, como uma medida encontrada pelo governo para evitar um possível aumento da carga tributária devido à extinção da correção monetária. 2.4 Natureza dos JSCP 4/14

Quanto à natureza dos JSCP, eles podem ser considerados como despesa/receita financeira ou distribuição de resultado. Rolim apud LIBONATI; LAGIOIA; MACIEL (2008) entende que o capital próprio apresenta um custo de oportunidade representado por um passivo da empresa para com seus sócios ou acionistas, sendo assim, considera os JSCP como despesa financeira, igual à remuneração do capital de terceiros, e por isto, defende sua dedutibilidade. Para Assaf Neto (2005), os JSCP são uma forma de remuneração aos acionistas criada pela Lei nº 9.249/95, que possuem certos privilégios fiscais. Ele também destaca que uma das principais decisões financeiras a ser tomadas pelas empresas refere-se à decisão de uma política de distribuição de dividendos. Assim, classifica os JSCP dentro da política de distribuição de dividendos. Entre os órgãos públicos, segundo Iudícibus, Martins e Gelbecke (2008a), a Secretaria da Receita Federal entende que os JSCP, para que sejam passíveis de dedutibilidade, devem ser contabilizados a título de despesa financeira. Este entendimento está expresso no parágrafo único do artigo 30 da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal (IN SRF) nº 11/96: Parágrafo único. Para efeito de dedutibilidade na determinação do lucro real, os juros pagos ou creditados, ainda que imputados aos dividendos ou quando exercida a opção de que trata o 1º do artigo anterior, deverão ser registrados em contrapartida de despesas financeiras. (BRASIL, 1996a) Já para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), os autores afirmam que ela entende que, pelo conceito de lucro da legislação societária, os JSCP configuram distribuição de resultado, e não despesa. Entende ainda que, se os juros não forem tratados como distribuição de resultado, além de possibilitar a falta de comparabilidade entre os resultados das companhias abertas, pela não-obrigatoriedade de pagamento desses juros por todas as companhias, poderão provocar reflexos em todas as participações e destinações calculadas com base no lucro societário. (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2008a, p. 471) A Deliberação CVM nº 207/96 dispõe sobre a contabilização dos JSCP previstos na lei nº 9.249/95, e os incisos I, VIII e IX evidenciam o entendimento da CVM quanto à natureza dos mesmos: I. Os juros pagos ou creditados pelas companhias abertas, a título de remuneração do capital próprio, na forma do artigo 9º da Lei nº 9.249/95, devem ser contabilizados diretamente à conta de Lucros Acumulados, sem afetar o resultado do exercício. VIII. Caso a companhia opte, para fins de atendimento às disposições tributárias, por contabilizar os juros sobre o capital próprio pagos/creditados ou recebidos/auferidos como despesa ou receita financeira, deverá proceder à reversão desses valores, nos registros mercantis, de forma a que o lucro líquido ou o prejuízo do exercício seja apurado nos termos desta Deliberação. IX. A reversão, de que trata o item anterior, poderá ser evidenciada na última linha da demonstração do resultado antes do saldo da conta do lucro líquido ou prejuízo do exercício. (BRASIL, 1996b) Neste sentido, Iudícibus, Martins e Gelbecke (2008a) orientam que para atender a ambos os órgãos reguladores, a empresa deve contabilizar os JSCP como uma despesa financeira para torná-los dedutíveis e, para fins de apuração e 5/14

destinação do resultado, deve a empresa expurgar os efeitos produzidos por este procedimento, através de um estorno do lançamento. 2.5 Custo de oportunidade Conforme Assaf Neto (2005), o custo de oportunidade é a remuneração que a empresa sacrificou por ter tomado a decisão de aplicar seus recursos em determinado investimento alternativo, de risco semelhante. O custo de oportunidade é hipotético, e pela falta de objetividade não é considerado pela ciência da contabilidade. Ainda, segundo Assaf Neto (2005), uma empresa gera valor para o acionista, somente quando as receitas operacionais superarem todos os dispêndios (custos e despesas) incorridos, inclusive o custo de oportunidade do capital próprio. Segundo Malaquias et al. (2007b), a definição semântica dos JSCP remete a compensação financeira aos acionistas pelos recursos próprios investidos na empresa, se encaixando dessa forma ao conceito de custo de oportunidade, proveniente da teoria econômica. O autor também defende o fato desta remuneração ser destinada diretamente ao acionista e dedutível fiscalmente, como o capital de terceiros. Martins (apud MALAQUIAS et al., 2007b), afirma que os JSCP podem ser considerados, apenas como uma parcela do custo de oportunidade, devido aos limites e restrições impostos pela lei, além disso, não leva em consideração o risco do negócio. 2.6 Dedutibilidade fiscal e critérios de contabilização Segundo Soares Júnior (2001), para fins de dedutibilidade fiscal do lucro real e da base de cálculo da CSLL, os JSCP estão sujeitos as seguintes regras: a) individualização dos beneficiários (art. 9º, Lei nº 9.249/95); b) contabilização como despesa financeira (art. 30, IN SRF nº 11/96); c) apropriação pelo regime de competência (art. 29, IN SRF nº 11/96); d) apuração dos JSCP correspondente à variação da Taxa de Juros à Longo Prazo (TJLP) sobre o patrimônio líquida (PL) ajustado conforme o 8º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95; e) valor menor que um dos limites impostos no 1º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95. O cálculo será: JSCP = base de cálculo (PL ajustado) x alíquota (TJLP), e ainda observar um dos limites de dedutibilidade. Sendo que o valor dos JSCP será deduzido do IRRF. 2.6.1 Empresas que podem contabilizar os JSCP previstos na Lei nº 9.249/95 Somente as empresas tributadas pelo regime do lucro real poderão contabilizar os JSCP previstos na Lei nº 9.249/95. Conforme prescreve o caput do artigo 9º da referida Lei, A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos de apuração do lucro real (...). (BRASIL, 1995) 6/14

2.6.2 Base de cálculo A base de cálculo dos JSCP é o PL da empresa, ajustado de acordo com o 8º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95. (BRASIL, 1996) A diferença entre o valor dos ativos e o dos passivos e resultado de exercícios futuros representa o Patrimônio Líquido, que é o valor contábil pertencente aos acionistas ou sócios. (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBECKE, 2008a, p.312) Conforme a Lei nº 6.404/76 (lei das sociedades por ações, aplicada às demais sociedades), em seu artigo 178, 2º, item III (incluído pela lei nº 11.941/09) descreve a composição do patrimônio líquido: III patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. (BRASIL, 1976) O lucro do próprio período-base, ou seja, do período de apuração corrente, não deve ser computado como integrante do PL que servirá de base de cálculo dos JSCP, haja vista que o objetivo dos mesmos é remunerar o capital pelo tempo em que ele ficou à disposição da empresa. (PERGUNTAS E RESPOSTAS..., 2011a) Desta forma, o PL que servirá de base de cálculo dos JSCP, é o do período passado, e segundo Pinto (2011), se houver mudanças no PL, durante o período de apuração (aumento ou redução), as mesmas deverão ser consideradas de forma proporcional. Assim, a alíquota pro rata dia deve ser aplicada a base de cálculo separadamente, antes e depois de sua alteração, e somado os resultados. 2.6.2.1 Exclusões O ajuste referido no 8º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95, refere-se à conta de reservas de reavaliação: 8º Para os fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, não será considerado o valor de reserva de reavaliação de bens ou direitos da pessoa jurídica, exceto se esta for adicionada na determinação da base de cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido. (BRASIL, 1995) Porém, como demonstrado na composição do PL, esta conta não integra mais este grupo, ela foi revogada pela Lei nº 11.638/07. (BRASIL, 2007b) Segundo Chaves (2008), as empresas não podem mais fazer a reavaliação dos bens do imobilizado, todavia, ocorre que as empresas com saldo existente nesta conta deverão mantê-los até sua efetiva realização, ou estorná-los até quando a referida Lei entrar em vigor. Portanto, pode haver empresas que tenham em seu PL, reservas de reavaliação. Contudo, havendo saldo na conta reserva de reavaliação, este será excluído do valor do patrimônio líquido que servirá de base de cálculo dos JSCP, exceto a 7/14

parcela realizada, ou seja, a parte do valor que integrar o lucro real e a base de cálculo da CSLL. A Lei nº 11.638/07, a mesma que revogou a reserva de reavaliação, criou no PL a conta ajustes de avaliação patrimonial, que segundo Iudícibus, Martins e Gelbecke (2008b) tem como grande objetivo registrar os valores que, já pertencem ao patrimônio líquido, e não transitaram ainda pela conta do resultado do exercício, mas o farão no futuro. Santos e Barros (2010) afirmam que o artigo 59, da Lei nº 11.941/09, prevê que se deve excluir do PL, o saldo da conta de ajustes de avaliação patrimonial. As contas retificadoras, como por exemplo, ações em tesouraria e prejuízos acumulados, por sua natureza já reduzem o valor do PL. 2.6.3 Alíquota A alíquota usada para o cálculo dos JSCP, conforme prescreve o caput do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95, é a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Conforme Santos e Barros (2010), a TJLP é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em percentuais anuais com vigência trimestral. Ela é divulgada por meio de resoluções do Banco Central do Brasil (BACEN). A tabela 1 demonstra o percentual da TJLP nos últimos cinco anos: Tabela 1: TJLP (2006 2011) % a/a Ano Jan. a Mar. Abr. a Jun. Jul. a Set. Out. a Dez. 2011 6,00 6,00 6,00-2010 6,00 6,00 6,00 6,00 2009 6,25 6,25 6,00 6,00 2008 6,25 6,25 6,25 6,25 2007 6,50 6,50 6,25 6,25 2006 9,00 8,15 7,50 6,85 Fonte: Adaptado de TAXA DE JUROS A LONGO PRAZO, 2011 2.6.4 Limites de dedutibilidade Os JSCP deverão obedecer aos limites descritos no 1º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95, com redação dada pela Lei 9.430/96: 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados. (BRASIL, 1995) O artigo 29, da IN SRF nº 93/97 regulamenta os limites descritos acima: Art. 29. O montante dos juros remuneratórios do capital passível de dedução para efeitos de determinação do lucro real e da base de cálculo da contribuição social limita-se ao maior dos seguintes valores: I - 50% (cinqüenta por cento) do lucro líquido do exercício antes da dedução desses juros; ou II - 50% (cinqüenta por cento) do somatório dos lucros acumulados e reserva de lucros. Parágrafo único. Para os efeitos do inciso I, o lucro líquido do exercício será aquele após a dedução da contribuição social sobre o lucro líquido e antes da dedução da provisão para o imposto de renda. (BRASIL, 1997) 8/14

Quanto ao limite do item II, da IN SRF nº 93/97, como já apresentado, não consta atualmente na composição do PL, a conta de lucros acumulados. Segundo Iudícibus, Martins e Gelbecke (2008b) a conta lucros acumulados não foi extinta, tanto que sua demonstração continua vigente, e ela continua sendo prevista no plano de contas. O que a Lei nº 11.638/07 determina é que não pode mais permanecer, nos balanços, saldo na conta lucros acumulados, todo o resultado precisará, obrigatoriamente, ser destinado ao final do exercício, e as parcelas do resultado a serem retidas devem ser contabilizadas nas reservas de lucros. 2.6.5 Imposto de renda retido na fonte (IRRF) Haverá tributação dos JSCP conforme consta no 2º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95: 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário. (BRASIL, 1995) Neste sentido, Santos e Barros (2010) declaram que o beneficiário dos JSCP, seja ele pessoa física ou jurídica, residente no Brasil ou no exterior, está sujeito ao IRRF de 15% sobre os mesmos. 2.6.6 Distribuição dos JSCP Os JSCP poderão ser pagos ou creditados individualizadamente aos sócios, acionistas ou titular da empresa, como prescreve o caput do artigo 9º da Lei nº 9.249/95. Ou seja, podem ser distribuídos à vista, ou creditado em conta do passivo exigível, representativa da dívida da empresa para com seus sócios, acionistas ou titular. Conforme Andrade Filho (2008), quando a Lei se refere a juros pagos ou creditados, supõe-se que, propositadamente, ela não atribui relevância à fluência desses juros no tempo. De acordo com o parágrafo único, do artigo 1º, da IN SRF 41/98, o valor dos JSCP poderá ser incorporado ao capital social, sem prejuízo de sua dedutibilidade fiscal: Art. 1º Para efeito do disposto no art. 9º da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, considera-se creditado, individualizadamente, o valor dos juros sobre o capital próprio, quando a despesa for registrada na escrituração contábil da pessoa jurídica, em contrapartida a conta ou subconta de seu passivo exigível, representativa de direito de crédito do sócio ou acionista da sociedade ou do titular da empresa individual. Parágrafo único. A utilização do valor creditado, líquido do imposto incidente na fonte para integralização de aumento de capital na empresa, não prejudica o direito a dedutibilidade da despesa, tanto para efeito do lucro real quanto da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido. (BRASIL, 1998) O valor dos JSCP líquidos do IRRF também pode ser imputado ao dividendo mínimo obrigatório, como prescreve o 7º, do artigo 9º, da Lei nº 9.249/95: 9/14

7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no 2º. (BRASIL, 1995) Desta forma, Assaf Neto (2005) afirma que os juros sobre o capital próprio pago aos acionistas são descontados do montante de dividendos obrigatórios devido pelas companhias. 2.7 Efeitos tributários decorrentes da contabilização dos JSCP na empresa pagadora As empresas tributadas pelo lucro real estão sujeitas a alíquota de 15% de IRPJ, conforme o artigo 3º, da Lei nº 9.249/95. De acordo com Pinto (2011), a alíquota da CSLL é de 9% para empresas em geral, desde 2003. Porém há exceção a esta regra, a partir de 1º/05/2008 o inciso I, artigo 17, da Lei nº 11.727/08 alterou a alíquota da CSLL para 15% para algumas atividades como segue: a) seguros privados; b) capitalização; c) os bancos de qualquer espécie; d) distribuidoras de valores mobiliários; e) corretoras de câmbio e de valores mobiliários; f) sociedades de créditos, financiamentos e investimentos; g) sociedades de créditos imobiliários; h) administradoras de cartão de crédito; i) sociedades de arrendamento mercantil; j) administradoras de mercado de balcão organizado; k) cooperativas de crédito; l) associações de poupança e empréstimos; m) bolsas de valores e de mercadorias e futuros; n) entidades de liquidação e compensação. Portanto, a empresa pagadora ao contabilizar os JSCP de acordo com os critérios definidos em Lei, economizará 15% de IRPJ e 9% de CSLL sobre o valor desses juros, totalizando 24%. E como visto, em algumas atividades, a economia com a CSLL será maior, chegando ao total de 30% sobre o valor dos JSCP (15% de IRPJ + 15% de CSLL). Vale lembrar que, de acordo com o 1º, do artigo 3º, da Lei nº 9.249/95 (com redação dada pela lei nº 9.430/96) a parcela do lucro real, presumido ou arbitrado, que exceder o valor resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de meses do respectivo período de apuração, sujeita-se à incidência de adicional de imposto de renda à alíquota de dez por cento. (BRASIL, 1995) Neste sentido, Neves, Vicenconti e Aguiar (2009) afirmam que a pessoa jurídica pagadora dos JSCP, quando sujeitas ao adicional de 10% do IRPJ, terá uma economia maior sobre o valor contabilizado a título de JSCP. Conforme Soares Júnior (2001) é possível contabilizar JSCP em empresas que tenham prejuízo fiscal, devido ao limite de reservas de lucros e lucros acumulados e também pelo lucro tributável ser diferente do lucro contábil. Desta 10/14

maneira, a contabilização dos JSCP trará economia tributária futura com aumento do valor dos créditos fiscais. 2.8 Efeitos tributários decorrentes da contabilização dos JSCP nos beneficiários No caso de pessoas físicas, e ainda pessoas jurídicas não tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, inclusive isentas, os JSCP auferidos são considerados como rendimento de tributação definitiva, ou seja, o seu valor não será incluído na base de cálculo da declaração de rendimentos, nem o IRRF poderá ser objeto de qualquer compensação. (PERGUNTAS E RESPOSTAS..., 2011a) Conforme Perguntas e Respostas... (2011a), no caso de pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real, o valor dos JSCP deverá ser considerado como receita financeira e o IRRF será considerado como antecipação do devido no encerramento do período de apuração ou, ainda, poderá ser compensado com aquele que houver retido, por ocasião do pagamento ou crédito de JSCP, ao seu titular, sócios ou acionistas (lei nº 9.249/95, artigo 9º, 3º, inciso I e 6º). Já no caso de empresas tributadas pelo lucro presumido ou arbitrado, o artigo 51, da Lei nº 9.430/96, prevê que a partir do ano de 1997, os JSCP recebidos integram a base de cálculo do IRPJ e CSLL, e o valor do IRRF é considerado como antecipação do IRPJ devido no período de apuração. Conforme Neves, Vicenconti e Aguiar (2009) os JSCP auferidos estão sujeitos à incidência das contribuições para o PIS e COFINS, a uma alíquota de 0,65% e 3% respectivamente (regime cumulativo), e de 1,65% e 7,6% respectivamente (regime não-cumulativo). Ainda segundo os autores, os JSCP não geram créditos no regime não-cumulativo.. 2.9 Avaliação da carga tributária decorrente da contabilização dos JSCP na fonte pagadora e beneficiários De acordo com Chaves (2008), se o beneficiário for pessoa física, haverá diminuição da carga tributária para o conjunto empresa-beneficiário, devido à redução nos valores de 15% do IRPJ e de 9% da CSLL na fonte pagadora, e incidirá 15% de IRRF de tributação definitiva ao rendimento do beneficiário, deste modo (15% IRPJ + 9% CSLL 15% IRRF = economia de 9% do valor dos JSCP). Vale lembrar que, segundo Neves, Vicenconti e Aguiar (2009), se a pessoa jurídica pagadora dos JSCP estiver sujeita ao adicional do IRPJ, a economia tributária será ainda maior, pois o valor contabilizado como JSCP será dedutível também do respectivo adicional que tem sua alíquota de 10%. Neste caso a redução da carga tributária para o conjunto empresabeneficiário pode chegar a 19% (15% IRPJ + 10% adicional do IRPJ + 9% CSLL 15% IRRF). Neves, Vicenconti e Aguiar (2009) afirmam que do ponto de vista do IRPJ e da CSLL, se a empresa pagadora e a beneficiária estiverem ou não, sujeitas ao adicional do IRPJ, é indiferente remunerar os acionistas com JSCP. 11/14

Ainda, segundo os autores, se a empresa pagadora estiver sujeita ao adicional do IRPJ e a empresa recebedora não, haverá economia de 10% sobre o valor dos JSCP, referentes ao adicional. Vale lembrar que nestes casos, o IRRF é compensável na empresa beneficiária, e os autores não consideraram a oneração tributária referente às contribuições do PIS e da COFINS. Conforme Brito apud SOARES JÚNIOR (2001), se a empresa beneficiária incorrer em prejuízo fiscal e base de cálculo da CSLL negativa, haverá economia tributária em qualquer situação (havendo ou não o adicional do IRPJ). Há de ser considerada também, a hipótese de alíquota diferenciada da CSLL para a empresa pagadora ou recebedora, e a redução da carga tributária através de créditos diferidos do IRPJ e CSLL. Conclusão Para a análise da carga tributária decorrente da contabilização dos JSCP, deve-se considerar em conjunto seus efeitos, tanto na empresa pagadora, como nos beneficiários. Quando o beneficiário for pessoa física, ou pessoa jurídica não tributada pelo lucro real, presumido ou arbitrado, a utilização dos JSCP sempre trará economia tributária. No caso de beneficiária pessoa jurídica, a utilização dos JSCP acarretará ônus tributário. Porém, se a empresa pagadora, tiver sua tributação majorada pelo adicional do IRPJ e/ou alíquota de 15% da CSLL e a empresa beneficiária não, ou apresentar percentual conjunto do IRPJ, da CSLL e do PIS/CFINS menor que a empresa pagadora, ou base de cálculo negativa para o IRPJ ou CSLL, haverá economia tributária. Portanto, os JSCP são uma ferramenta de planejamento tributário que possibilita, conforme as características que envolvem a pessoa jurídica pagadora e seus respectivos beneficiários, a redução da carga tributária. Ressalta-se um estudo prévio dos efeitos de sua utilização. Referências Bibliográficas: ANDRADE FILHO, E. O. Imposto de renda das empresas. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2008. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2005. BNDES. Taxa de Juros de longo prazo TJLP. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/sitebndes/bndes/bndes_pt/institucional/apoio_financeiro/ Custos_Financeiros/Taxa_de_Juros_de_Longo_Prazo_TJLP/ BRASIL. Lei nº 6404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm.>. Acesso em 20 jul. 2011. 12/14

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. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. Suplemento. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2008b. LIBONATI, J. J.; LAGIOIA, U. C. T.; MACIEL, C. V. Pagamento de juros sobre o capital próprio x distribuição de dividendos pela óptica tributária. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CONTABILIDADE, 18., 2008, Gramados Rio Grande do Sul. Anais... Recife: UFPE. MALAQUIAS, R. F. et al. Contabilização de juros sobre o capital próprio e economia tributária são sinônimos? In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 10., 2007a, Fea- USP, São Paulo. Anais... Uberlândia: UFU. MALAQUIAS, R. F. et al. Juros sobre o capital próprio: uma análise envolvendo a empresa pagadora e o acionista recebedor. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO, 10., 2007b, Fea-USP, São Paulo. Anais... Uberlândia: UFU. NEVES, S.; VICENCONTI, P. E.; AGUIAR, F. Curso prático de imposto de renda: pessoas jurídicas e tributos conexos. 14 ed. São Paulo: Frase, 2009. OLIVEIRA, L. M.; PEREZ JUNIOR, J. H.; SILVA, C. A. Controladoria estratégica. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2005. PINTO, J.R.D. Imposto de renda, contribuições administradas pela secretaria da receita federal e sistema simples: incluindo procedimentos fiscais para encerramento do ano-calendário de 2010. 19 ed. SCAN, 2011. RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Perguntas e respostas pessoa jurídica: juros sobre o capital social (remuneração do capital próprio). Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/pessoajuridica/dipj/2005/pergresp2005/pr454a 459.htm> Acesso em: 20 fev. 2011a. SANTOS, C.; BARROS, S.F. Imposto de renda pessoa jurídica para contadores. 5 ed. São Paulo:IOB, 2010. SOARES JÚNIOR, L. Modelo para avaliação do impacto dos juros sobre o capital próprio na estrutura de capital e no fluxo de caixa das empresas. 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. ZANLUCA, J. C. Planejamento tributário: luxo ou necessidade. Portal Tributário. Disponível em: <http://www.portaltributario.com.br/artigos/planejamento.htm.>. Acesso em 25 fev. 2011. 14/14

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