À LUZ DO PROTOCOLO DA SADC: Cimeira nacional discute fim da violência baseada no género

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Transcrição:

À LUZ DO PROTOCOLO DA SADC: Cimeira nacional discute fim da violência baseada no género 21 Novembro 2016 A CIDADE de Maputo acolhe esta semana a Cimeira Nacional do Protocolo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que deverá discutir as formas de empoderar a mulher, na perspectiva de pôr termo à violência baseada no género em Moçambique. A propósito do evento, Alice Banze, directora executiva da Gender Links, instituição que organiza a cimeira, disse que constitui igualmente objectivo do evento estabelecer novas pontuações de linha de base para os centros de excelência para género nos governos locais, em consonância com a agenda de género e desenvolvimento sustentável pós-2015 da SADC. Participam da cimeira, cuja cerimónia de abertura será dirigida pela Ministra do Género, Criança e Acção Social, Cidália Chaúque, presidentes de municípios, mulheres que conseguiram superar o trauma da violência doméstica e que actualmente tornaram-se empreendedoras, entre outros actores.

Explicou que durante os dois dias de trabalhos os presidentes de municípios farão apresentações sobre como é que incluem as questões de género na gestão local. Por outro lado, as mulheres presentes no encontro vão dar seus depoimentos sobre como conseguiram passar da situação de vítimas de violência a que eram alvos no lar para empreendedoras. É um momento que vamos popularizar o Protocolo do Género Pós-2015 e seus objectivos de Desenvolvimento Sustentável, metas e indicadores. Vamos também lançar o Barómetro do Protocolo de Género 2016 da SADC e o estudo do progresso dos media e usar essa evidência para fortalecer a agenda de acção e resultados pós-2015, afirmou Alice Banze. Em paralelo, segundo a fonte, profissionais da comunicação social serão chamados a analisar o estudo do progresso dos 'media'. O documento analisa, entre vários aspectos, a proporção entre homens e mulheres nos órgãos de comunicação social, a questão da liberdade de imprensa, a forma como a mulher é tratada nos órgãos de comunicação social (se é fonte ou aparece como vítima). Os jornalistas vão analisar e criticar o estudo, dando as suas opiniões em relação aos resultados, olhando para a realidade moçambicana e propor soluções e ideias de como a mulher deve ser tratada nos media, observou Alice Banze. A cimeira termina um dia antes do início dos 16 Dias de Activismo. É nestes dias que todos são chamados a intensificar acções de luta contra todas as formas de violência da mulher na sociedade moçambicana. Municípios no combate à violência

A GENDER Links tem vindo a trabalhar em Moçambique com 19 municípios, dez dos quais já beneficiaram de três fases de capacitação em empreendedorismo virado para mulheres vítimas de violência baseada no género. A directora executiva da Gender Links em Moçambique, Alice Banze, fez saber que o programa focaliza-se numa abordagem integrada de habilidades de vida e formação para o empreendedorismo, incluindo a criação de confiança, tomada de decisão, gestão de negócios, uso de tecnologias de informação e redes sociais. É um projecto que tem como objectivo abordar as relações de poder no indivíduo, relacionamento pessoal e níveis sociais, referiu. Explicou que pesquisas feitas nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane demonstram, através de histórias narradas por pessoas que viveram várias formas de violência, que muitas mulheres, mesmo depois de fazer queixa, retiram-na devido ao fraco poder económico, o que as torna vítimas recorrentes de violência na comunidade. É olhando para esta realidade que, segundo Alice Banze, a Gender Links concebeu este programa como forma de controlar a violência baseada no género, empoderando economicamente as mulheres. Em Moçambique o programa está a ser desenvolvido nos municípios que fazem parte dos centros de excelência para o género nos governos locais, nomeadamente Namaacha, Manhiça, na província de Maputo, Chókwè, Chibuto, Macia, Praia do Bilene, Mandlakazi e Xai-Xai, na província de Gaza, e os municípios de Inhambane e Maxixe, na província de Inhambane. Para o sucesso do projecto, a Gender Links trabalha em coordenação com os ministérios do Género, Criança e Acção Social, Administração Estatal e Função Pública e do Interior.

Mais de 200 beneficiárias ATRAVÉS do programa que está ligado aos centros de excelência para género nos governos locais as mulheres têm tido acesso às oportunidades de negócio, para além de aprender sobre os Direitos Humanos. No âmbito desta iniciativa, segundo a directora executiva da Gender Links em Moçambique, pelo menos 220 sobreviventes da violência baseada no género (VBG) de 10 municípios do sul do país foram treinadas em matérias de empreendedorismo. Destas, 80 por cento completaram o plano de negócios após a primeira capacitação, 56 por cento expandiram o seu mercado após a segunda capacitação e ao fim da terceira capacitação 67 por cento tinham melhorado o seu negócio, 50 por cento dos quais tinham aberto as suas contas bancárias e cerca de 36 por cento com noções básicas do uso de e-mail, comentou Alice Banze. A realização destas acções, segundo a fonte, conta com o apoio dos governos locais, que dentro dos seus planos estratégico de redução da pobreza absoluta (PERPU) têm disponibilizado 10 por cento do fundo para o projecto de mulheres empreendedoras. Afirmou que o envolvimento das lideranças municipais contribuiu para que a pontuação do progresso de género nas comunidades subisse 11 pontos percentuais nos últimos anos, passando de 56 para 67 por cento, sendo que actualmente 66 por cento dos participantes dizem experimentar menos violência.

A Gender Links é uma organização não governamental da África Austral que trabalha em quatro áreas principais, a destacar o Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento, Comunicação Social, Governação e Justiça de Género. A superação de Maria MARIA Mboene viveu anos vítima de violência protagonizada pelo marido, mas nada podia fazer porque, segundo disse, foi educada a manter-se no lar, independentemente das circunstâncias. Sofria no silêncio, afirmou, alegando que mesmo se mantendo firme na relação o marido abandonou-a com seis crianças para cuidar. A vida desta mulher complicou-se ainda mais porque dependia em grande medida do marido para sustentar a família. Passou a viver de favores de alguns familiares, que ofereciam alimentos aos filhos, o que não era suficiente para a família. Foi depois desta experiência que ela decidiu iniciar o negócio de venda de peixe na zona onde vivia, na província de Gaza, bem como em Xinavane, província de Maputo. Com o dinheiro da venda a mulher construiu uma barraca no mercado local, onde vende também refrigerantes e confecciona alimentos. Até hoje este negócio constitui a base de sustento de Maria. Esta mulher foi seleccionada pela Gender Links para beneficiar, em 2004, de formação sobre empreendedorismo e Direitos Humanos, capacitação esta que a ajudou a ter uma outra visão sobre a vida.

Conta que foi graças à formação que aprendeu que homens e mulheres gozam dos mesmos direitos e que ambos têm de ter iguais oportunidades de trabalho ou formação. Maria partilha a sua experiência de vida e de negócio com outras mulheres e os filhos. A maior parte dos filhos desta mulher estão no mundo de negócios. Um deles é pescador e fornece produtos do mar à sua mãe, que os revende na sua banca. http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/62460-a-luz-do-protocolo-da-sadc-cimeira-nacionaldiscute-fim-da-violencia-baseada-no-genero.html