COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO: UMA ANÁLISE DA AVICULTURA NAS MESORREGIÕES OESTE E SUDOESTE PARANAENSE



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Transcrição:

COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO: UMA ANÁLISE DA AVICULTURA NAS MESORREGIÕES OESTE E SUDOESTE PARANAENSE NATALINO HENRIQUE MEDEIROS; DIANE APARECIDA OSTROSKI; FASUL TOLEDO - PR - BRASIL nhmedeiros@uem.br APRESENTAÇÃO SEM PRESENÇA DE DEBATEDOR SISTEMAS AGROALIMENTARES E CADEIAS AGROINDUSTRIAIS COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO: UMA ANÁLISE DA AVICULTURA NAS MESORREGIÕES OESTE E SUDOESTE PARANAENSE Grupo de Pesquisa: SISTEMAS AGROALIMENTARES E CADEIAS AGROINDUSTRIAIS 1. INTRODUÇÃO A avicultura brasileira tem se constituído no segmento agro-industrial que vem se destacando, em termos de evolução produtiva, pela adoção do progresso tecnológico e organizacional, notadamente ocorrida na avicultura de corte em nível mundial, nas últimas décadas. Essa evolução é conseqüência da mudança do paradigma competitivo, anteriormente centrado no modelo fordista, que impregnou um processo competitivo e inovativo nos moldes neo-schumpeteriano, a partir da busca por inovações radicais 1 na indústria de bens de capital de máquinas e equipamentos voltados não somente para os incubatórios, aviários 1 As inovações radicais se referem a introdução de um novo produto; de um novo processo de produção; de uma nova forma de organização da produção, dentro do padrão competitivo do empresário inovador Schumpeteriano. Por sua vez, as inovações incrementais geralmente, se referem a introdução de melhoria(s) em um produto existente; em processos ou organização da produção; na busca de uma maior eficiência técnica; produtividade; qualidade; redução de custos, entre outras, sem contudo, alterar a estrutura industrial de mercado, [(FREEMAN, 1982; 1994); ALBAGLI e BRITTO, 2002]. 1

e abatedouros, como também à pesquisa genética, com o desenvolvimento das linhagens híbridas para ovos e aves, desde os anos 50. Outro fator fundamental ao crescimento da avicultura foi o implemento do sistema integrado de produção, que se traduz na parceria entre o produtor rural (aviários) e a agroindústria de abate e processamento de carnes. Esse sistema, mais conhecido como integração, é realizado mediante contrato e/ou acordos informais entre esses agentes, e cujo mecanismo de coordenação 2 foi responsável pela mudança da estrutura produtiva, principalmente a partir dos estados do Sul do País, conduzindo à uma provável concentração de mercados regionais. Antes, porém, entende-se da necessidade de situar o modelo agropecuário existente no Paraná até meados dos anos 70. A partir de então, observou-se grandes transformações estruturais na economia agrícola paranaense, tendo como base os efeitos da revolução verde na agricultura. De fato, a economia paranaense deixa a monocultura cafeeira e ingressa numa produção agrícola tecnificada, mediante a aplicação de insumos modernos subsidiados pelo governo federal 3. Após experimentar quase uma década de incrementos na produtividade agrícola, o modelo de modernização adotado começou a evidenciar um provável esgotamento desses benefícios, a partir de meados dos anos 80, notadamente na cultura da soja na região Sul do País (MEDEIROS, 1995; 1998). Por outro lado, a análise de Trintin (2002, p. 16) abordou os efeitos de uma distribuição espacial da produção agrícola paranaense, após o fenômeno da modernização da agricultura, onde se verificou a concentração de algumas culturas por meso-microrregiões do estado, mais especificamente as da soja e do milho, haja vista o crescimento dos complexos agroindustriais, notadamente em relação às cadeias alimentares da avicultura e suinocultura no estado. Em outro estudo, Maia; Trintin (2003) observaram mudanças na participação dos principais gêneros industriais no valor adicionado da indústria de transformação do Paraná, no período de 1975 a 1998. O aspecto evidenciado está em que o grupo de abate de animais e preparação de conservas superou o segmento tradicional de beneficiamento de cereais, café e afins. Ainda em relação ao segmento de grãos, a soja e o milho guardam uma estreita relação com os setores de carne bovina, suína e de aves. O estudo de Medeiros (2000), entre outros aspectos, analisou a posição das empresas agroindustriais da cadeia grãos-carnes, das regiões Centro-Sul e Centro-Norte do País, tomando-se como base alguns indicadores econômico-financeiros. Esse estudo identificou e permitiu afirmar que o movimento dessa cadeia em direção às regiões Centro-Oeste e Centro-Norte é um fato concreto, e dentro desse movimento à desestruturação de algumas agroindústrias com um histórico de tradição no segmento de grãos e carnes. Isto porque, a perda de espaço no mercado estaria em razão dos novos padrões competitivos e das novas formas de organização interna (P&D&I), e também dos novos hábitos de consumo da população, bem como, do advento da globalização nesta década, sobre os quais elas, por certo, não estavam estruturadas para implementá-los. De fato, com o processo de globalização econômica iniciada em meados dos anos oitenta, a agricultura, a agroindústria e os agronegócios não poderiam ter ficado à margem desse 2 Esse mecanismo é abordado nos conceitos de coordenação dos agentes, dentro do enfoque teórico da Teoria dos Custos de Transação, a partir de Coase (1937). 3 Os efeitos da política macroeconômica que transformou o Paraná em uma economia agroindustrial inter e entrelaçada as políticas de crédito rural, preços mínimos e modernização tecnológica está fartamente analisada em estudos do IPARDES (1981), PEREIRA (1987, 1992) e ROLIM (1995), entre muitos outros. 2

processo, principalmente pela interface com os mecanismos de concentração de mercado. Ainda dentro desse processo tem-se outro, igualmente revolucionário, de transformação dos mecanismos de produção industrial dentro do novo paradigma que se impôs, a partir da chamada III Revolução Industrial ou das Tecnologias da Informação (TI), em oposição ao modelo fordista de produção em massa, (FREEMAN, 1982). Num de seus avanços, verificam-se os mecanismos de parceria contratual efetuado entre as empresas, tendo como base um sistema intensivo de informações dentro de uma nova organização e processo de produção. Por conseqüência, a competição estrita abriu a possibilidade de cooperação entre firmas proporcionando novas formas de coordenação no interior das empresas (PORTER, 1990). E, nesse novo cenário o surgimento de arranjos produtivos locacionais, que compreendem diversas formas de aglomerados produtivos, destacando-se os pólos industriais, redes de firmas e clusters ((VISCONTI, (1995); HADDAD, (1999)). Em termos teóricos o entendimento de pólos ou distritos industriais tem na origem a abordagem Marshalliana, onde os ganhos de eficiência seriam proporcionados pela especialização produtiva das firmas que estão inseridas na mesma localidade, tal como assumido por Porter (1998), e implicando, não raro, em mudança(s) na estrutura e padrão de competitividade do mercado. A partir dessas considerações, o presente artigo objetiva analisar o processo de concentração e dos mecanismos de competição utilizados pela agroindústria avícola nas mesorregiões oeste e sudoeste paranaense. A questão fundamental é verificar a participação das firmas abatedouras e processadoras de frangos nesses mercados regionais e as transformações da estrutura competitiva decorrentes. Em seguida, como complemento, se estenderá a análise para a região Sul do Brasil. O modelo adotado para essa aferição será o índice razão de concentração (CR). Este artigo está organizado em cinco seções, a saber: 1. Introdução. 2. O processo de concentração: uma breve revisão teórica. 3. A dinâmica do agronegócio avícola brasileiro. 4. Análise do grau de concentração na indústria abatedoura de frangos. 5. Considerações finais. 2. O PROCESSO DE CONCENTRAÇÃO: UMA BREVE REVISÃO TEÓRICA 2.1. ABORDAGENS SOBRE COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO A competitividade e concentração de mercado podem ser analisadas sob vários aspectos e parâmetros. O aspecto mais observado na literatura dá conta de um padrão competitivo imposto na produção e na comercialização de bens. Desde Labini (1984) que se analisa modelos competitivos que objetivam o aumento do poder de mercado das empresas em determinados segmentos. Labini (1984) formulou um modelo simples supondo uma estrutura de oligopólio concentrado, com produto homogêneo elaborado a partir de apenas uma tecnologia, pressupondo com isso a não existência de diferenciação de produto. O preço de equilíbrio é resultante da política da empresa no que se refere ao objetivo de impedir o ingresso de novas firmas (preços de exclusão) ou de expulsar firmas estabelecidas no mercado (preços de expulsão). Por sua vez, as tecnologias são componentes das economias de escala e serão os principais fatores a determinar o tamanho das empresas. As economias de escala 3

representam um importante elemento para a construção de barreiras à entrada, porque as firmas potenciais entrantes avaliam o montante de produção das grandes empresas estabelecidas e presumem que serão mantidos os mesmos níveis após a sua entrada, o que em muitos casos inviabiliza sua decisão. É possível estender o conceito de concentração de mercado para as atividades agroindustriais ou dos agronegócios. Nestes termos, a medida que o capital agroindustrial avança progressivamente integrando novas atividades à cadeia produtiva, as inter-relações que se derivam a partir desses processos, implicam em que a agroindústria se transforme em um macro-complexo agroindustrial sem fronteiras, e por sua vez, levando a uma concentração de capitais afins. Nesse sentido, os mercados agroindustriais passam a compor uma estrutura de oligopólio, com poucos e grandes participantes, dentro de um processo de competição amparado por imensas barreiras à entrada de novas firmas. Esse processo é denominado por Bain (1956) de condição de entrada [difícil] e que é ao mesmo tempo uma condição estrutural, a medida que as firmas estabelecidas em uma determinada indústria/segmento, passam a ter vantagens técnicas e financeiras (vantagens absolutas de escala, de custos e de diferenciação de produtos) em relação as potenciais firmas entrantes ou novas firmas. O estudo de Possas (1987), na tradição Neo-schumpeteriana, também estabelece que as barreiras à entrada determinam um padrão de concorrência que é estabelecido na indústria ou mercado, através do tipo de produto, dos requerimentos tecnológicos da estrutura produtiva, ou da estratégia competitiva, via políticas de preços, política de vendas e de expansão da firma estabelecida. Os aspectos primordiais desse padrão competitivo recaem sobre os oligopólios concentrado e diferenciado. O oligopólio concentrado é definido como uma estrutura dotada de alta concentração técnica, de natureza homogênea, sem diferenciação de produto, e com poucos produtores. A competição nesta estrutura é pouco freqüente e quando ocorre é via investimento em resposta ao crescimento da demanda, ou seja, ocorre a partir da redução dos custos ou elevação da qualidade do produto. Quanto ao oligopólio diferenciado, conforme já definiu Labini (1984), a competitividade (competição) ocorre pela diferenciação de produto, sendo raramente utilizada a concorrência via preços, devido à característica de elevados custos indiretos unitários, resultantes de despesas como comercialização e publicidade, que poderiam ser afetados pelas oscilações dos preços. A diferenciação de produtos, por ser um processo de renovação contínua, implica em gastos em P&D, devido a isso, as barreiras à entrada são classificadas via economias de escala de diferenciação, (POSSAS, 1987, p. 175). Outra característica dessa estrutura de mercado pode ser encontrada dentro do padrão competitivo misto, configurando-o como um oligopólio concentrado-diferenciado. 2.2. ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO Para verificar o grau de concentração em uma indústria são utilizados alguns tipos de índices 4 para se alcançar este objetivo. Dentre eles, tem-se os índices de concentração parcial (CR). O índice de concentração parcial é calculado a partir das parcelas de mercado das empresas líderes, demonstrando assim, as participações das mesmas no mercado, mas não especificando o número de empresas na indústria em consideração. 4 Entre eles, existe o indicador de especialização, bastante utilizado atualmente em estudos sobre concentração industrial, através do quociente locacional (QL) e Gini locacional (GL). Ver descrição didática em Haddad et al. (1989) e Suzigan (2002), respectivamente. 4

Com o propósito de atingir o objetivo desse trabalho, inicialmente adotou-se como índice parcial para a mensuração da concentração, as proporções das quatro maiores firmas, denominado CR 4. O índice CR 4 pode ser representado pela expressão (1): CRk k i 1 Si, (1) onde: S i é a parcela de mercado da i-ésima firma, e k é 4. Normalmente os índices de concentração econômica são calculados com base na participação de cada firma no mercado. Medeiros; Reis (1999, p. 7), elaboraram a definição de seis tipos de mercado a partir da mensuração do índice CR k, conforme pode ser visto no quadro 1. Quadro 1 Tipos de mercados segundo a razão de concentração (CR). NÍVEIS DE MERCADO RAZÃO DE CONCENTRAÇÃO CR 4 CR 8 Altamente Concentrado i > 75% i > 90% Alta Concentração 65% < i < 75% 85% < i < 90% Concentração Moderada 50% < i < 65% 70% < i < 85% Baixa Concentração 35% < i < 50% 45% < i < 70% Ausência de Concentração i < 35% i < 45% Claramente Atomístico i = 2% Fonte: Medeiros; Reis (1999). Paralelamente, será analisada comparativamente a mensuração da concentração, a proporção das oito maiores firma, denominada CR 8, utilizando-se da mesma metodologia. 3. A DINÂMICA DO AGRONEGÓCIO AVÍCOLA BRASILEIRO Nas últimas décadas tem-se observado uma mudança comportamental nos hábitos de consumo de população, a partir de uma tendência mundial, em busca de uma condição de vida mais saudável, notadamente a partir de mudanças na alimentação. Por conta disso, tem-se observado igualmente o aumento do consumo das chamadas carnes brancas, com destaque para a carne de frango. Os dados sobre o comportamento das principais carnes no Brasil demonstram, por exemplo, o aumento per capita do consumo de carne de frango, que passou dos 29,9 (2000) para 33,9 em 2004, e onde se estima um consumo de 34,1 kg por habitante para o ano de 2005 (ABEF, 2005). O mesmo informativo apresenta quase como corolário o declínio do consumo de carne suína e a estabilidade no consumo per capita de carne bovina, no mesmo período. 5

Nestes termos, a tabela 1 demonstra os dados sobre o abate anual de aves, com serviço de inspeção federal (SIF), segundo os estados brasileiros, no período 2002/2004. Tabela 1 BRASIL. Abate anual de aves segundo os estados, com SIF. 2002/2004. (em mil cabeças) Estado/ANO 2002 % 2003 % 2004 % Bahia 11.463,6 1,12 33.154,5 1,22 41.416,3 1,35 DF - 0,00 31.599,8 1,16 34.704,1 1,13 Esp. Santo 3.505,1 0,34 4.749,6 0,17 8.307,9 0,27 Goiás 20.953,0 2,04 134.752,9 4,94 151.543,8 4,95 M. Grosso 18.325,7 1,78 62.215,0 2,28 48.500,1 1,58 M. G. Sul 3.387,8 0,33 112.037,0 4,11 117.016,0 3,82 M. Gerais 59.050,2 5,75 145.321,5 5,33 167.189,0 5,46 Pará 1.534,0 0,15 2.063,9 0,08 - - Paraná 150.635,8 14,67 579.926,5 21,27 600.423,6 19,61 Pernambuco 881,6 0,09 6.182,3 0,23 14.596,1 0,48 R. G. Sul 587.055,7 57,16 610.649,9 22,40 615.389,2 20,10 Rondônia 990,5 0,10 6.754,2 0,25 7.271,7 0,24 S. Catarina 156.068,6 15,20 636.726,9 23,36 731.583,0 23,90 São Paulo 13.098,9 1,28 360.041,1 13,21 522.399,5 17,07 Tocantins - - - - 773,5 0,03 TOTAL 1.026.951,0 100,00 2.726.175,7 100,00 3.061.114,4 100,00 Fonte: MAPA/Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). 2005. [elaborado pelos autores]. É possível verificar o aumento no abate entre os anos da série. É notável o crescimento do abate do ano de 2004, notadamente em relação a 2002, cujo aumento foi da ordem de 198%. Entretanto, os dados divulgados pela ABEF (2005) apresentam o abate de frangos, com SIF, no Brasil, da ordem de três bilhões de cabeças no mesmo período (2002/2004). Com efeito, esse aspecto tem reflexo imediato na estrutura de mercado, em relação ao tamanho do mercado por estado e já demonstra uma provável concentração do abate de frangos, em torno de algumas firmas. A propósito, a tabela 2 apresenta as maiores empresas abatedouras de frangos no Brasil. Tabela 2 BRASIL. Maiores empresas abatedouras de frango, com SIF. 1994-1996; 2002/2004. (em mil cabeças) EMPRESAS ESTADOS 1994 a 1996 b 2002 c 2003 c 2004 c SADIA RS, SC, PR, 306.839 346.766 451.637 479.900 550.149 MT, MG PERDIGÃO RS, SC, PR, 140.059 183.112 380.036 427.439 475.596 6

EMPRESAS ESTADOS 1994 a 1996 b 2002 c 2003 c 2004 c GO SEARA 1 SC, PR, SP, 103.722 164.484 220.172 246.151 263.320 (BUNGE) MS FRANGOSUL RS, MS 100.950 116.222 250.750 237.804 231.503 DOUX AVIPAL RS, MS, BA 79.569 116.811 166.936 213.950 187.653 DAGRANJA PR, MG 54.606 82.145 102.251 95.784 114.056 AURORA SC 34.921 33.861 86.464 87.567 86.227 DIPLOMATA RS, SC, PR n.d. n.d. 28.686 33.154 84.401 PENABRANCA SP 70.795 97.969 72.500 72.163 74.778 COPACOL n.d. n.d. n.d. 43.760 56.438 62.029 GRUPO Macri/Dreyfus 2 RS, SC, PR, PR 67.201 100.221 n.d. n.d. n.d. Notas: (1) Ex-Ceval. (2) Ex-Chapecó. O abatedouro em Cascavel foi incorporado pela Globoaves. Fontes: (a) BNDES, 1995; (b) IPARDES, 2002; (c) ABEF, 2005. É possível se notar através da tabela 2, que duas empresas (Sadia e Perdigão) detêm a maior participação em número de abates. Segundo a ABEF, essas empresas detiveram 35,38% do abate de frangos no País, em 2004, e, assim, mantiveram a posição de 1 ª e 2 ª firmas no ranking nacional, respectivamente, nos últimos anos (ABEF, 2005). Como complemento desse comportamento analisado, a tabela 3 apresenta a evolução das exportações brasileiras de carne de frango, pelas maiores empresas do segmento avícola, no período de 2001/2004. Tabela 3. BRASIL. 10 Maiores firmas exportadoras brasileiras de carne de frango. 2001/2004. EMPRESAS 2001 2002 2003 2004 SADIA 335.145 367.014 441.697 669.007 PERDIGÃO 232.735 315.504 407.447 450.705 SEARA 214.601 264.164 307.674 324.371 FRANGOSUL 214.318 265.457 276.351 273.989 7

EMPRESAS 2001 2002 2003 2004 AVIPAL 33.211 77.110 141.002 144.234 PENA BRANCA 18.408 14.471 27.186 47.880 AURORA 24.399 29.487 42.694 45.962 LAR 9.806 24.257 38.946 42.901 DIPLOMATA 3.791 3.837 6.278 39.244 CVALE 3.152 15.003 22.904 32.622 Fonte: ABEF, 2005. Embora não disponível na tabela 3, cálculos realizados à parte, evidenciaram a redução relativa da participação no mercado externo dos abatedouros arrolados, com exceção da Sadia e Diplomata. Contudo, no ano de 2004, a Saída participou com 27,6% das exportações brasileiras, enquanto que a Diplomata ficou com apenas 1,6% de participação no mercado externo. A tabela 4 apresenta o abate anual de frangos, com serviço de inspeção federal, na região Sul, no período de 1995 a 2004. É possível observar nos últimos 10 anos a evolução do abates nos 3 estados do Sul, onde o Paraná (PR) se destaca com o maior percentual de abate, passando de 354.755.049 (1995) cabeças para 918.483.512, em 2004, e desse modo, registrando um crescimento de 158% no mesmo período. Em termos comparativos ao País, a participação crescente do Paraná também é evidente, passando de 13,97% (1995) para 22,72% no ano de 2004. Tabela 4 REGIÃO SUL. Abate anual de frangos, com SIF. 1995/2004. (em cabeças) ANO/Estado Partic. Partic. % BR % BR RS PR SC Partic. % BR 1995 354.755.049 13,97 390.249.650 15,37 338.410.451 13,32 1996 398.664.701 15,46 430.482.855 16,69 380.175.695 14,74 1997 401.718.193 14,17 477.737.569 16,86 422.707.138 14,91 1998 457.169.376 16,08 470.853.762 16,56 430.983.844 15,16 1999 533.321.723 17,11 540.739.327 17,35 485.169.951 15,56 2000 604.656.205 18,64 596.421.355 18,38 505.946.942 15,60 2001 671.998.690 19,49 642.931.458 18,64 548.395.560 15,90 2002 751.769.383 20,78 687.605.317 19,01 581.876.367 16,08 2003 813.373.908 21,90 648.752.226 17,47 602.214.275 16,22 2004 918.483.512 22,72 712.581.904 17,63 607.278.961 15,02 Fonte: ABEF, 2005. InformABEF. Dados brutos. 8

Análise semelhante é realizada em relação aos estados de Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS). O estado de SC apresentou uma participação crescente ano a ano; de 390.249.650 (1995) atingiu o abate de 712.581.904 cabeças de frangos em 2004. O estado do RS manteve o mesmo comportamento nesse período, saindo de um abate de 338.410.451 (1995) para 607.278.961 cabeças em 2004. Em termos relativos, os estados de SC e RS também tiveram uma participação crescente em comparação ao Brasil. Na seção seguinte dá-se continuidade à essa análise enfatizando-se o processo de concentração na indústria de abate e processamento de frangos. 4. ANÁLISE DO GRAU DE CONCENTRAÇÃO NA INDÚSTRIA ABATEDOURA DE FRANGOS A (agro)indústria 5 abatedoura de frangos é identificada também como processadora de carnes a medida que o padrão competitivo implementado nas últimas décadas, tanto no exterior como no Brasil, praticamente impôs uma [nova] conduta de competição em relação a diferenciação de produtos. Nesse sentido, essa indústria tem diversificado a oferta de produtos a partir do frango inteiro (congelado/resfriado) de característica produto homogêneo, utilizando-se da diferenciação do frango por cortes 6. Isso lhe permitiu sair de um mercado competitivo, via preços, ainda que numa estrutura de oligopólio, e ingressar noutro: o oligopólio diferenciado e, não raro, de padrão concentrado. Ainda que as firmas ofertantes de produto homogêneo sejam, sob o enfoque teórico marginalista, pequenas firmas e possam ingressar nos mercados a qualquer momento, sem se depararem com barreiras à entrada; no mercado avícola esse modelo competitivo não se observa. Isto porque, nesse segmento há fortes barreiras ao ingresso, sejam financeiras, tecnológicas, ou mesmo sanitárias, tanto na produção de frangos quanto no abate e/ou processamento. Em termos teóricos observa-se nesse segmento avícola os chamados ativos específicos, dentro da abordagem da Nova Economia Institucional. Estudos nesse sentido podem ser vistos em Nogueira; Zylbersztajn (1998), Silva; Zanatta (2003), entre outros. A tabela 5 apresenta as empresas abatedouras de frangos, com inspeção federal, no Estado do Paraná, onde se observa nesse segmento avícola a existência de capitais nacionais, cooperativos 7 (Copacol, Coopavel, Coopervale, Lar) e estrangeiros 8.(Seara). 5 Expressão aqui utilizada para evidenciar as várias atividades produtivas contidas nessa indústria, notadamente, levando-se em conta o processo de integração (avicultura integrada contratualmente), coordenado pelos abatedouros de frangos. 6 Nesse segmento avícola são considerados produtos diferenciados, os cortes especiais ou nobres, marinados, pré-cozidos, empanados, temperados, embutidos, nuggets, etc..). 7 Conforme notas 1 e 2 na tabela 5, duas novas cooperativas (Copagril e Cooperaves) estão compondo esse segmento avícola. 9

Tabela 5 PARANÁ. Empresas abatedouras de frango, com SIF. 2000; 2002/2004. (em mil cabeças) EMPRESAS a CIDADES 2000 b 2002 c 2003 c 2004 c Parati Rondon n.d. 5.212 6.082 6.592 Sadia Francisco Beltrão 58.894 Sadia Toledo 93.733 277.842 d 303.785 d 333.225 d Sadia Dois Vizinhos 100.954 Felipe Paranavai 15.062 13.900 16.310 20.926 Copacol - Consolata Cafelândia 40.813 43.760 56.438 62.029 DaGranja Lapa 45.863 51.018 51.617 60.169 Perdigão Carambeí n.d. 31.663 44.249 59.604 Coopavel Cascavel 32.746 33.339 32.346 30.490 Anhambi Itapejada d Oeste n.d. 4.681 6.796 7.785 Pioneiro Joaquim Távora 3.028 4.287 6.438 7.650 Globoaves Cascavel 16.641 45.312 23.349 37.121 Avenorte Cianorte n.d. 6.563 7.236 8.979 Gonçalves & Tortola Maringá 7.426 10.994 12.521 17.904 Coopervale - CVale Palotina 30.338 36.435 36.243 37.302 Jaguafrangos Jaguapitã 4.000 6.667 10.648 13.780 Avebom Jaguapitã 4.033 4.492 6.081 8.584 Diplomata Capanema 15.558 28.686 20.364 21.984 Seara (Ceval/Bunge) Jacarezinho 21.735 23.355 33.223 33.964 Coroaves Maringá 18.250 17.580 19.322 20.019 Averama Umuarama 11.208 4.843 5.361 5.644 Comaves Londrina 16.601 20.655 14.619 14.826 Big Frango - Jandelle Rolândia 20.277 27.900 41.881 43.766 Core-Etuba Mandirituba 9.339 10.142 8.772 8.280 Frango D.M. Arapongas 6.810 7.544 9.040 10.957 Frango Seva Pato Branco 2.026 n.d. 4.431 5.686 LAR (Cotrefal) Matelândia 27.179 32.907 36.209 40.149 Aves Aconã Astorga n.d. n.d. n.d. 1.057 Copagril 1(e) Mal. C. Rondon Cooperaves 2(e) Paraíso do Norte Notas: (1) início das operações em jan./2005 (capacidade inicial abate 80.000 aves/dia). (2) previsão de operações em 2006 (capacidade inicial abate 25.000 aves/dia). Fontes: (a) MAPA/(DIPOA), 2005; (b) IPARDES, 2002; (c) ABEF/SINDICARNE, 2005; (d) Razão social (abatedouros/pr); (e) AVISITE, 2005. Nesse momento, já é possível observar uma certa concentração em termos de quantidade de cabeças abatidas, por messoregiões e abatedouros locais. Neste sentido, cálculos realizados à parte, demonstraram que os abatedouros localizados 8 Não será analisado neste artigo o processo de fusões e aquisições (F&A) ocorrido no Brasil, em período recente. 10

nas mesorregiões oeste e sudoeste paranaense responderam em 2004, por 62,7% do abate estadual. Para uma análise mais detalhada, em relação ao grau de concentração no segmento de abate de frangos, utilizar-se-á os dados da tabela 6 para a mensuração da razão de concentração (CR), inicialmente para as oito maiores firmas (abatedouros) e, posteriormente, para as quatro maiores firmas estabelecidas no estado do Paraná. Tabela 6 PARANÁ. Maiores empresas abatedouras de frangos, com SIF. (em mil cabeças) EMPRESAS a CIDADES 2002 b 2003 b 2004 b Sadia 1 Toledo; FB 2 ; DV 3 277.842 303.785 333.225 Copacol Consolata Cafelândia 43.760 56.438 62.029 DaGranja Lapa 51.018 51.617 60.169 Perdigão Carambeí 31.663 44.249 59.604 Big Frango Jandelle Rolândia 27.900 41.881 43.766 LAR (Cotrefal) Matelândia 32.907 36.209 40.149 Coopervale Cvale Palotina 36.435 36.243 37.302 Globoaves Chapecó Cascavel 45.312 23.349 37.121 Seara (Ceval/Bunge) Jacarezinho 23.355 33.223 33.964 Coopavel Cascavel 33.339 32.346 30.490 Diplomata Capanema 28.686 20.364 21.984 TOTAL PARANÁ 751.769 813.373 918.483 Nota: (1) Razão social (abatedouros no PR). (2) Francisco Beltrão. (3) Dois Vizinhos. Fontes: (a) MAPA/(DIPOA), 2005; (b) ABEF/SINDICARNE-PR, 2005. A partir de cálculos realizados, obteve-se os índices de concentração CR 8 e CR 4, para os maiores abatedouros de frangos do estado, conforme apresentados na tabela 7. Tabela 7 PARANÁ. Concentração estadual das empresas abatedouras de frangos, segundo a razão de concentração (CR). EMPRESAS a CIDADES ÍNDICE CR 8 2002 b 2003 b 2004 b Sadia c Toledo; FB; DV. 36.96 37.35 36.28 Copacol Consolata Cafelândia 0.82 6.94 6.75 DaGranja Lapa 6.79 6.35 6.55 Perdigão Carambeí 4.21 5.44 6.49 Big Frango Jandelle Rolândia 3.71 5.15 4.77 LAR (Cotrefal) Matelândia 4.38 4.45 4.37 Coopervale Cvale Palotina 4.85 4.46 4.06 Globoaves Chapecó Cascavel 6.03 2.87 4.04 11

TOTAL CR 8 72.74 73.00 73.31 PARANÁ CR 4 53.78 56.07 56.07 Nota: (1) Razão social (abatedouros no PR). Fontes: (a) MAPA/(DIPOA), 2005; (b) ABEF/SINDICARNE-PR, 2005. [dados brutos]. Os índices CR 8 demonstram que houve um ligeiro aumento no grau de concentração no ano de 2003, em relação a 2002, e praticamente uma estabilidade desse índice, para o ano de 2004, em torno dos 73,00. Isso significa que 73% do abate de frangos no estado do Paraná está concentrado nas mesorregiões oeste e sudoeste paranaense. De acordo com os parâmetros do quadro 1, isso significa que esse mercado avícola apresenta uma concentração moderada (70% < i < 85%). Por outro lado, olhando para os índices CR 4, nota-se que a interpretação toma outro sentido. Embora os resultados para o CR 4 sejam semelhantes em relação ao CR 8, em termos de um ligeiro aumento (53,78 para 56,07) e de uma estabilidade (56,07), no entanto, há uma expressiva modificação interpretativa, ainda que o nível de concentração também se apresente como moderado para esse intervalo (50% < i < 65%). De fato, quando se toma o CR 4 em seus parâmetros internos, identificando caso a caso, observa-se que a empresa Sadia é responsável por 36,2% do mercado avícola paranaense. Esse percentual torna-se bem mais expressivo quando se observa que as demais sete maiores empresas desse segmento avícola, têm uma participação individual em torno de 4 a 7% no período em consideração. Análise semelhante pode ser realizada em relação a região Sul. A tabela 8 apresenta as 10 maiores empresas abatedouras de frangos nos três estados que compõem o Sul do Brasil. Através dela foram calculados os índices CR 8 e CR 4 para essa região. Tabela 8 REGIÃO SUL. 10 Maiores empresas abatedouras de frango, com SIF. (em mil cabeças) EMPRESAS a ESTADOS AVES ABATIDAS 2002 b 2003 b 2004 b Sadia 1 RS, SC, PR 376.761 407.120 475.309 Perdigão 1 RS, SC, PR 329.550 356.745 390.936 Frangosul Doux RS 228.578 212.443 207.365 Seara 1 Bunge SC, PR 155.225 179.292 195.702 Avipal RS 115.367 149.354 113.669 Aurora SC 86.464 87.567 86.227 Diplomata 1 RS, PR, SC 28.686 59.013 84.401 Copacol PR 43.760 56.438 62.029 DaGranja PR 51.018 51.617 60.169 Big Frango Jandelle PR 27.900 41.881 43.766 TOTAL REGIÃO SUL 2.021.251 2.064.340 2.238.344 Nota: (1) Por razão social. Fontes: (a) MAPA/(DIPOA), 2005; (b) ABEF/SINDICARNE-PR, 2005. Ao se observar os índices CR 8 para a região Sul, constantes da tabela 9, nota-se que o grau de concentração dos abatedouros esteve em torno de 67,00 a 72,00 nos anos analisados. 12

Em termos de interpretação desse índice, isso significou passar de um nível de baixa concentração (45% < i < 70%) em 2002, para um mercado de concentração moderada (70% < i < 85%) nos anos de 2003 e 2004. Nesse sentido, quando se analisam os índices CR 4, observa-se que o grau de concentração também se enquadra no nível de concentração moderada em todo o período, porém, apresentando variações na razão de concentração, entre os anos da série. De maneira semelhante pode ser realizada uma análise, em termos de poder de mercado das empresas (abatedouros) localizadas nessa região. Com efeito, a empresa Sadia manteve sua liderança no segmento avícola do Sul 9, participando de forma crescente no abate de frangos, onde passou de 18,64% (2002) para 21,23% no ano de 2004. A segunda empresa ( second best ) também participou de forma crescente nesse mercado. Ambas empresas (Sadia e Perdigão) participaram com mais de 1/3 do abate de frangos, no período analisado, e tiveram uma participação conjunta próxima dos 40% no ano de 2004. Isso é poder de mercado! 9 Os dados preliminares do Balanço/2005, da ABEF, para o ano de 2005, apontam a mesma tendência na manutenção do ranking entre os abatedouros/exportadores de frangos no País. 13

Tabela 9 REGIÃO SUL. Concentração regional das empresas abatedouras de frangos, segundo a razão de concentração (CR). EMPRESAS a ESTADOS CR 8 2002 b 2003 b 2004 b Sadia 1 RS, SC, PR 18.64 19.72 21.23 Perdigão 1 RS, SC, PR 16.30 17.28 17.47 Frangosul Doux RS 11.31 10.29 9.26 Seara 1 Bunge SC, PR 7.68 8.69 8.74 Avipal RS 5.71 7.23 5.08 Aurora SC 4.28 4.24 3.85 Diplomata 1 RS, PR, SC 1.42 2.86 3.77 Copacol PR 2.16 2.73 2.77 TOTAL CR 8 67.50 73.05 72.18 REGIÃO SUL CR 4 53.93 55.98 56.71 Nota: (1) Por razão social. Fontes: (a) MAPA/(DIPOA), ago./2005; (b) ABEF/SINDICARNE-PR, mar./2005. [dados brutos]. Quando se observam seus concorrentes mais próximos, ainda que sejam empresas (abatedouros) de capital estrangeiro, nota-se que a Frangosul-Doux apresentou participação decrescente no período analisado: 11,31% (2002), 10,29% (2003) e 9,26% (2004). E a Seara-Bunge, manteve-se em torno de 8% sua participação nesse segmento, no mesmo período. Todavia, quando se analisa caso a caso, novamente fica evidente o poder de mercado em torno das empresas Sadia e Perdigão. Mediante outro exercício analítico, pode-se perceber que, ao se somar a participação conjunta das empresas estrangeiras (Frangosul-Doux e Seara-Bunge), seus índices são: 18,99% (2002), 15,92% (2003) e 13,82% (2004). Duas interpretações podem ser realizadas: a primeira é que as empresas estrangeiras tiveram em conjunto, praticamente a metade do mercado das empresas Sadia e Perdigão. A segunda interpretação, salvo engano, demonstra que, se mantido esse comportamento (conduta-desempenho) estaria havendo uma tendência de declínio na participação das empresas de capital estrangeiro, no segmento de abate de frangos na região Sul brasileira. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avicultura brasileira tem apresentado boa performance em toda a cadeia produtiva, desde a fabricação de ração, produção de ovos, pintos e frangos e, sem dúvida, no abate e processamento de frangos. Isto porque, desde os anos 50 que se implementam pesquisas genéticas voltadas à esse segmento e, mais recentemente, na adoção de biotecnologias destinadas a melhoria genética, de sanidade e na criação de aves. Dentro das mudanças ocorridas no paradigma produtivo, observa-se igualmente a adoção de modelos organizacionais no processo de produção, a exemplo da integração por contratos, bem 14

como, da coordenação dos agentes nessa cadeia alimentar, realizada por uma empresa líder. Essas mudanças ocorreram simultânea e paralelamente, como decorrência da implementação de uma agricultura moderna e tecnificada, nos anos setenta, a partir da revolução verde, notadamente nos estados do Sul. Esse modelo implicou no aumento da produtividade e da oferta de grãos, principalmente de milho e soja, que viriam a ser o componente de rações industrializadas. Por outro lado, conforme já posto, a medida que o capital agroindustrial avançou progressivamente integrando novas atividades à cadeia produtiva, a agroindústria se transformou em um macro-complexo agroindustrial sem fronteiras, possibilitando a concentração de capitais afins. Com efeito, os mercados agroindustriais passaram a compor uma estrutura de oligopólio, com poucos e grandes participantes, dentro de um processo de competição amparado por imensas barreiras à entrada de novas firmas. A partir dessa conceituação e entendimento, procurou-se analisar neste artigo o comportamento das empresas abatedouras de frangos, objetivando verificar a ocorrência de um processo de concentração de mercado no segmento avícola, nas mesorregiões oeste e sudoeste paranaense. Para tanto se utilizou o instrumento contido no índice CR k, que mensura a razão de concentração em diferentes mercados. Como metodologia de estudo, foram definidas duas aferições para medir o grau de concentração dos abatedouros de frangos estabelecidos, levando-se em conta as oito maiores empresas participantes nesse segmento, e num segundo momento, filtrando-se os dados com o objetivo de evidenciar o comportamento das quatro maiores empresas. Como complemento analítico, estendeu-se esse estudo para a região Sul do Brasil. Os resultados permitiram as seguintes considerações: i) o segmento avícola nas mesorregiões oeste e sudoeste paranaense apresentam um grau de concentração ao nível de concentração moderada (70% < i < 85%), quer seja pela atuação (conduta-desempenho) dos 8 maiores abatedouros ou dos 4 maiores; ii) a empresa Sadia é líder de mercado não somente nas mesorregiões onde opera, como também no Paraná, a medida que responde com 36,2% do mercado; iii) o segmento avícola nas duas mesorregiões pode ser conceituado como um oligopólio concentrado-diferenciado, a medida que as firmas estabelecidas competem por diferenciação e diversificação de produtos, notadamente as que atuam no mercado externo; iv) o grau de concentração na região Sul tem, ao nível CR 4, uma concentração moderada, principalmente nos anos de 2003 e 2004, tal como aquele verificado nas mesorregiões paranaense; v) as empresas Sadia e Perdigão responderam por mais de 1/3 do abate de frangos dos estabelecimentos do Sul e, em 2004, bem próximo dos 40% do mercado; vi) os abatedouros de capital estrangeiro (Frangosul-Doux e Seara- Bunge) detiveram, em média, 16% do mercado avícola do Sul, o que representou a metade das empresas de capital nacional (Sadia e Perdigão), vii) a Sadia é a empresa líder nas exportações brasileiras de carne de frango, viii) o segmento avícola da região Sul demonstrou ser um oligopólio concentrado-diferenciado, nos moldes labiniano. 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABEF. Associação Brasileira dos Exportadores de Frango. Informativo ABEF, São Paulo, mar./2005. Disponível em: <http://www.abef. com.br/redesist> Acesso em: 12 mar. 2006. ALBAGLI, S.; BRITTO, J. Glossário de arranjos produtivos locais. Relatório de Pesquisa s/n. Rio de Janeiro: UFRJ, ago. 2002. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/redesist> Acesso em: 05 set. 2005. 15

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