A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS DE BOTÂNICA COMO FACILITADORES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NA EJA

Documentos relacionados
Mostra de Projetos Como ensinar os porquês dos conceitos básicos da Matemática, visando a melhora do processo ensino e aprendizado

LUDICIDADE EM SALA DE AULA: O JOGO DA PIRÂMIDE ALIMENTAR COMO UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DOS ALIMENTOS E DA NUTRIÇÃO NO ENSINO MÉDIO

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

O uso de jogos no ensino da Matemática

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

JOGO DE BARALHO DOS BIOMAS BRASILEIROS, UMA JOGADA FACILITADORA DA APRENDIZAGEM DOS DISCENTES NA BIOGEOGRAFIA.

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM LOGO: APRENDIZAGEM DE PROGRAMAÇÃO E GEOMETRIA * 1. COSTA, Igor de Oliveira 1, TEIXEIRA JÚNIOR, Waine 2

Pesquisa com Professores de Escolas e com Alunos da Graduação em Matemática

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

JOGOS NAS AULAS DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO PIBID: UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E DE INTERAÇÃO

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O JOGO COMO INSTRUMENTO FACILITADOR NO ENSINO DA MATEMÁTICA

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE UM JOGO EDUCATIVO COMO AUXÍLIO PARA O ENSINO DA TABELA PERIÓDICA

REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE ENSINO EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA A DISTÂNCIA

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

PROFESSORES DE CIÊNCIAS E SUAS ATUAÇÕES PEDAGÓGICAS

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

USANDO A REDE SOCIAL (FACEBOOK) COMO FERRAMENTA DE APRENDIZAGEM

PROJETO CONVIVÊNCIA E VALORES

O JOGO CONTRIBUINDO DE FORMA LÚDICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA

JOGOS MATEMÁTICOS NO ENSINO MÉDIO UMA EXPERIÊNCIA NO PIBID/CAPES/IFCE

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

O ENSINO DE FÍSICA NA VISÃO DOS ALUNOS DE UMA TURMA DE 2º ANO DO ENSINO MÉDIO: ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA DO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA PARÁ.

Métodos de ensino-aprendizagem aplicados às aulas de ciências: Um olhar sobre a didática.

JOGOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM Olímpia Terezinha da Silva Henicka e Dariléia Marin

QUESTIONÁRIO DO PROFESSOR. 01. Você já acessou a página O que achou? Tem sugestões a apresentar?

ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO INICIAL DOS GRADUANDOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

História e ensino da tabela periódica através de jogo educativo

BRITO, Jéssika Pereira Universidade Estadual da Paraíba

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIMENTAÇÃO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Projeto Ludoteca do Turismo: atuação em escolas de Pelotas

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

USO DA INFORMÁTICA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS NO 9º ANO

Colégio La Salle São João. Professora Kelen Costa Educação Infantil. Educação Infantil- Brincar também é Educar

ATUAÇÃO DO PIBID NA ESCOLA: (RE) DESCOBRINDO AS PRÁTICAS LÚDICAS E INTERDISCIPLINARES NO ENSINO FUNDAMENTAL

PROJETO MÃO DUPLA TRABALHO COOPERATIVO INTRAESCOLAR

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

OFICINA DE JOGOS MATEMÁTICOS E MATERIAIS MANIPULÁVEIS

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

A EDUCAÇAO INFANTIL DA MATEMÁTICA COM A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA

Utilização do jogo didático Bingo Periódico no processo de ensinoaprendizagem de Química na Escola Estadual Professor Gerson Lopes de Apodi-RN.

Relato de experiência sobre uma formação continuada para nutricionistas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR PROFESSORES E ALUNOS DA EJA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

DAS CARTAS PARA O TABLET: TRANSIÇÃO DE UM JOGO PARA AUXILIAR O APRENDIZADO DE ENTOMOLOGIA MÉDICA. Higor Hícaro Aires Rocha de Freitas Melo (IMD/UFRN)

UMA PROPOSTA PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DE INTERVALOS REAIS POR MEIO DE JOGOS

OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS NO ENSINO SUPERIOR: OUTRAS POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR

A INTERATIVIDADE EM AMBIENTES WEB Dando um toque humano a cursos pela Internet. Os avanços tecnológicos de nosso mundo globalizado estão mudando a

BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS NOS ANOS INICIAIS: UMA PERSPECTIVA INTERGERACIONAL

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

METODOLOGIA. 1 Centros de Educação de Jovens e Adultos, criados pela portaria nº 243 de 17 de fevereiro de 2005.

AS REDES SOCIAIS COMO AUXÍLIO NA COMUNICAÇÃO DE ALUNOS DE GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO MUNICÍPIO DE ITAPERUNA- RJ

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PARA TUTORES - PCAT

O JOGO NO ENSINO DE POTÊNCIAS DE NÚMEROS INTEIROS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

AS CONTRIBUIÇÕES DOS ENCARTES DE PREÇOS NA FORMAÇÃO DO ALUNO.

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

Justificativa: Cláudia Queiroz Miranda (SEEDF 1 ) webclaudia33@gmail.com Raimunda de Oliveira (SEEDF) deoliveirarai@hotmail.com

CURSINHO POPULAR OPORTUNIDADES E DESAFIOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE

JOGO DAS FICHAS COLORIDAS

Faculdade de Alta Floresta - FAF

PROJETO MEIO AMBIENTE: CONSCIENTIZAR PARA PRESERVAR - RELATO DA EXPERIÊNCIA DESENVOLVIDA COM ALUNOS DO 3ºANO NA EEEF ANTENOR NAVARRO

Abordagem de Licenciandos sobre softwares educacionais de Química

A ORGANIZAÇÃO DA RELAÇÃO ENSINO E SERVIÇO EM UMA POLICLÍNICA DE FORTALEZA

LUDICIDADE E EDUCAÇÃO: O ENCANTAMENTO DE APRENDER BRINCANDO

Gestão da Informação e do Conhecimento

Instituto Educacional Santa Catarina. Faculdade Jangada. Atenas Cursos

Estratégias de e-learning no Ensino Superior

O ENSINO DAS FUNÇÕES ATRAVÉS DO JOGO BINGO DE FUNÇÕES

LER E ESCREVER: APRENDER COM O LÚDICO

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE OUTUBRO DE 2012 EREM JOAQUIM NABUCO

AVALIAÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO-CURRICULAR, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E DOS PLANOS DE ENSINO 1

USANDO O ALFABETO MÓVEL COMO RECUSO DE RECUPERAÇÃO

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

O USO DO TANGRAM EM SALA DE AULA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

TÍTULO: ALUNOS DE MEDICINA CAPACITAM AGENTES COMUNITÁRIOS NO OBAS CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

CURSO DE EDUCAÇÃO FISICA ATIVIDADES EXTRA CURRICULARES

O BRINCAR E SUA FUNÇÃO NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA EM INSTITUIÇÕES ESCOLARES: O QUE DIZEM OS PSICOPEDAGOGOS? DIOGO SÁ DAS NEVES

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO CURSO ESPECIALIZAÇÃO DE MÍDIAS NA EDUCAÇÃO VÂNIA RABELO DELGADO ORIENTADOR: PAULO GUILHERMETI

PARANÁ GOVERNO DO ESTADO

SER MONITOR: APRENDER ENSINANDO

A divulgação desta apresentação por Cd-Rom e no Web site do programa Educação do Instituto do Banco Mundial e feita com a autorização do autor.

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO VOLTADO AO ENSINO DE FÍSICA E A INCLUSÃO NO ENSINO DE FÍSICA

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

Transcrição:

A PRODUÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS DE BOTÂNICA COMO FACILITADORES DO ENSINO DE CIÊNCIAS NA EJA Ágata Laisa Laremberg Alves Neves (Universidade Federal do Piauí) Gardene Maria de Sousa (Universidade Federal do Piauí) Maria das Graças Medina Arrais (Universidade Federal do Piauí) RESUMO Os jogos didáticos têm contribuído evidentemente para o processo de ensino e aprendizagem. No ensino de ciências suas aplicações são notórias nos diversos conteúdos trabalhados em sala de aula. Assim, o presente artigo objetivou produzir um jogo didático, intitulado No mundo das Plantas, com conteúdos de botânica, a fim de refletir sobre essa ferramenta de ensino, em uma turma de EJA. O jogo proposto corresponde a um baralho com 48 cartas que reune conceitos de botânica, com figuras e características das Angiospermas. Assim, o jogo mostrou resultados satisfatórios em sua aplicação, bem como, sua funcionabilidade através da interação observada durante a dinâmica de forma lúdica em sala de aula. Palavras-chave: Ensino de Ciências; Jogos didáticos; Botânica; EJA. INTRODUÇÃO No Brasil, os estudos sobre ensino de Ciências apenas foram estabelecidos firmemente a partir deste século e, como afirma Delizoicov (1994) ainda muito incipiente na sua primeira metade. O autor aborda que somente a partir do final da década de 50 começam a surgir novas tendências, paralelamente relacionadas a uma expansão da rede pública de ensino, o que caracteriza o avanço em pesquisas nessa área. Nesse contexto iniciou-se a busca por alternativas metodológicas que visem a melhoria do ensino de ciências. Assim, nas concepções de Gagné (1971), os materiais didáticos, componentes do ambiente da aprendizagem surgem como estimulo para o aluno e alicerces para o professor. Para Schmitz (1993) o material didático é considerado no ensino, como ligação entre palavra e realidade. Já Nérici (1991) afirma que o ideal seria que toda aprendizagem se 553

efetuasse em situação real de vida. Não sendo isso possível, o material didático tem por fim substituir a realidade, representando-a da melhor forma possível, de maneira a facilitar a sua intuição por parte do aluno. Os jogos didáticos constituem uma ferramenta pedagógica pouco compreendida e utilizada na prática docente, sendo uma forma alternativa de aprendizado, além de tornar lúdico o ato de ensinar. Nessa perspectiva, o jogo pedagógico ou didático para Cunha (1988), é produzido com o objetivo de proporcionar determinadas aprendizagens, diferenciando-se do material pedagógico, por conter o aspecto lúdico. Este pode ser utilizado para atingir determinados objetivos pedagógicos, sendo ainda, considerado por Gomes et al. (2001), uma alternativa para melhorar o desempenho dos estudantes em alguns conteúdos de difícil aprendizagem. Freire (2001) afirma que o ato de jogar revela o jogo. Sobre esta temática, Venâncio (2005) aponta ainda que, não são considerados jogos as atividades específicas, somente por serem chamadas de jogos. O conceito vai mais além, devendo possuir objetivos e estratégias delimitadas. O autor afirma ainda que: [...] enquanto o jogo acontece ocorrem inúmeras mudanças, alternâncias, sucessões, associações, ou seja, ele é todo movimento, propiciando em meio ao acaso um ambiente instável, totalmente propício e facilitador para o aprendizado (VENÂNCIO, 2005, p. 43). Nesse contexto, Kishimoto (1996) destaca que o jogo não é um fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de informações. [...] A brincadeira é o lúdico em ação. Enquanto tal tem a propriedade de liberar a espontaneidade dos jogadores, o que significa colocá-los em condições de lidar de maneira peculiar e, portanto, criativa com as possibilidades definidas pelas regras, chegando eventualmente até a criação de outras regras e ordenações. Nesta perspectiva a brincadeira deixa de ser coisa de criança e passa a se constituir em coisa séria digna de estar presente entre recursos didáticos capazes de compor uma ação docente comprometida com os alvos dos processos de ensino e de aprendizagem que se pretende atingir (PENTEADO, 1997, p. 167). 554

Sobre a importância do jogo, a autora completa afirmando que este favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e moral dos jogadores, não devendo ser visto como um divertimento ou brincadeira para desgastar energia. O jogo é uma coisa nova feita de coisas velhas. Quem vai ao jogo, leva, para jogar, as coisas que já possui que pertencem ao seu campo de conhecimento [...]. Os ingredientes do jogo, portanto, são as coisas velhas fechadas pela objetividade (FREIRE, 2002, p. 119). Deste modo, o presente artigo apresentará os resultados obtidos a partir da produção de um jogo didático, intitulado No mundo das plantas, desenvolvido com conteúdos de botânica. O mesmo teve como finalidade refletir sobre essa importante ferramenta de ensino, através da sua aplicabilidade em uma turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos). Além disso, a aplicação do jogo didático nos permitiu vivenciar o cotidiano da EJA, em uma escola pública da cidade de Teresina, identificando algumas dificuldades encontradas pelos alunos em sala de aula, dinamizando e criando momentos de interação entre a teoria e a prática. METODOLOGIA Elaboração do Jogo Didático O jogo intitulado No Mundo das Plantas foi elaborado e confeccionado com o intuito de mostrar a importância das angiospermas, despertado no aluno da EJA a curiosidade sobre estas plantas. Ele é constituído de um baralho que contem características relacionadas ao referido tema trabalhado. O jogo foi editado primeiramente no computador, em caixas de textos, adicionando figuras e informações a cada carta criada. A impressão foi feita em papel vergé e plastificado com papel adesivo. Porém, outros materiais podem ser utilizados para impressão como: papel peso 40 ou 60, papel cartão, dentre outros. Ressaltamos que este jogo é de baixo custo, para o professor, pois é confeccionado com material acessível. No baralho as cartas são divididas em categorias referentes a cada órgão da planta: raiz, caule, folha, flor, fruto e semente. Há doze figuras (Figura 1) de plantas e trinta e seis cartas contendo informações sobre cada órgão, totalizando 48 cartas. 555

Figura 1: Categorias das cartas do baralho: flor, semente, folha, raiz, caule e fruto. Fonte: Ágata Neves, 2011 Dinâmica do Jogo No Mundo das Plantas Consiste em um baralho de cartas com a finalidade de se formar um jogo. A sala foi dividida em equipes de até cinco participantes, e assim cada grupo pode jogar e discutir o conteúdo. Antes de começar a jogar, foi realizado um sorteio para decidir qual aluno iniciaria o jogo (fica a critério da equipe). Em seguida, as cartas foram embaralhadas e distribuídas, a fim de que cada jogador recebesse quatro cartas (Figura 2). Cada jogador manteve as cartas na sua mão de forma a ocultá las dos adversários. Figura 2: Quatro cartas são passadas aos alunos. Fonte: Ágata Neves, 2011 556

Após a distribuição, o primeiro jogador iniciou o jogo, retirando uma carta do baralho e descartando outra. Dessa forma, o jogo segue, sempre com um descarte (semelhante a um jogo de baralho normal). A finalidade é reunir quatro cartas, que constitui um jogo. Cada aluno recebeu as cartas, com o objetivo de reunir uma figura e três características daquele órgão (Figura 3), ganhando o jogo quem as reunir primeiro. Figura 3: Jogo formado por uma figura e três características do órgão da planta. A. Jogo com características da flor. B. Jogo com características da raiz. Fonte: Ágata Neves, 2011 Técnicas de Coleta e Análise de Dados Ao longo do trabalho foram desenvolvidas algumas técnicas para análise e coleta de dados/informações: utilização de questionários semi-estruturados antes e depois do jogo, préteste e pós-teste que permitiram conhecer a opinião do entrevistado a cerca dos conteúdos de botânica e sobre a importância do jogo didático para as aulas de Ciências; acompanhamento da turma durante a aplicação do jogo, observando e analisando as ações dos alunos neste momento (discussões, dúvidas, comentários). A utilização de questionários semi-estruturados, com perguntas abertas e fechadas, como pré-testes e pós-testes contribui para a análise dos dados coletados, pois permite identificar público ao qual se destina o material didático elaborado (MICHEL, 2009). Os Mesmos foram desenvolvidos a partir da necessidade de obter informações sobre o nível de conhecimento dos alunos sobre o tema proposto. 557

Aplicação do Jogo Didático O jogo foi aplicado no segundo semestre de 2011, nos meses de outubro e novembro, em uma turma noturna da 4ª Etapa da EJA, que corresponde ao 7º ano de uma escola da rede pública estadual da cidade de Teresina, Piauí. Após serem ministrados os conteúdos de botânica na turma, teve início a fase de aplicação do jogo, para verificar sua funcionabilidade, uma vez que o professor não utilizou nenhum recurso didático no decorrer de suas aulas. Cada equipe recebeu um manual de instruções do jogo, com regras pré-estabelecidas. Ao término da atividade, um pós-teste foi aplicado como forma de avaliar os conhecimentos adquiridos após o jogo e sua opinião sobre o mesmo. RESULTADOS A produção do jogo No mundo das plantas contribuiu para o ensino de ciências, pois envolve conteúdos de botânica, trabalhados no currículo da disciplina. Neste sentido, Haidt (2003) afirma que o jogo tem um valor formativo porque contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade iniciativa, pessoal e grupal. Nas concepções de Miranda (2001), acerca do jogo didático, vários objetivos podem ser atingidos, relacionados à cognição (desenvolvimento da inteligência e da personalidade, fundamentais para a construção de conhecimentos); afeição (desenvolvimento da sensibilidade e da estima e atuação no sentido de estreitar laços de amizade e afetividade); socialização (simulação de vida em grupo); motivação (envolvimento da ação, do desfio e mobilização da curiosidade) e criatividade. A aplicação do baralho No mundo das plantas foi realizada durante as aulas de Ciências no turno da noite com a presença do professor da turma. Os assuntos de botânica já haviam sido ministrados pelo professor titular da turma, antes da aplicação do jogo. Assim, o jogo funcionou como uma ferramenta auxiliar na revisão do conteúdo já visto, como facilitadores do processo de ensino e aprendizagem, ao tempo que descontraia a rotina da sala de aula. Logo após a realização do pré-teste, os alunos foram divididos em duas equipes; receberam o baralho e iniciando o jogo (Figura 4 e 5). 558

Figura 4: Alunos da 4ª etapa da EJA recebendo as cartas do jogo. Fonte: Ágata Neves, 2011. Figura 5: Alunos da 4ª etapa da EJA debatendo sobre o jogo. Fonte: Ágata Neves, 2011. Os alunos mostraram-se bastante empolgados. Conversavam entre si sobre as características das partes da planta, relembrando os conteúdos já vistos. Assim, o baralho foi sendo jogado, e aos poucos, um momento divertido, de descontração e troca de conhecimento reinou na sala de aula. A relação entre os alunos durante os jogos tem a vantagem de levá-los a discussões em que ocorra linguagem semelhante entre eles, facilitando a comunicação. [...] quando os alunos discutem sobre o mesmo tema abordado em sala de aula, certos aspectos do aprendizado podem ser elucidados porque os alunos conversam numa linguagem em comum, aluno-aluno. (PINTO, 2009, p. 27-28) Deste modo, Canto (2009) descreve que os jogos didáticos são utilizados como atrativos para determinados conteúdos, tornando-se essencial conhecer muito bem as possibilidades de aplicação dos jogos e a preferência do público alvo, para que o legal não se torne chato. Percebemos que esse trabalho gerou um interesse significativo nos alunos, aceitação do jogo por parte deles e também do professor da turma. Foi verificada com base no questionário (pós-teste) e a partir da empolgação dos discentes que estas observações se complementam com as respostas dos questionários respondidos após o jogo. O interesse pelo jogo didático nos leva a refletir sobre a abordagem do lúdico em sala de aula, tendo como suporte a utilização e confecção de jogos, uma vez que estes geram novas formas de acesso a informações e de produção do conhecimento, motivando o aluno a conhecer, estudar os conteúdos programáticos, o que contribui para a melhoria da qualidade do aprendizado. 559

De acordo com as Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental do Paraná (PARANÁ, 2008), o lúdico deve ser considerado estratégia de ensino independente da série ou faixa etária do aluno, pois adequa encaminhamento, linguagem e recursos utilizados como apoio. Assim, as atividades lúdicas proporcionam uma aprendizagem descontraída e ao mesmo tempo proveitosa, uma vez que a educação através do lúdico propõe-se a uma nova postura existencial. Santos (2001) afirma ser este um modelo, constituindo um novo sistema de aprendizagem inspirado numa concepção de educação para ir além de apenas ensinar. No âmbito social percebemos que houve interação entre os alunos, atitude esta percebida através da ajuda mútua no momento do jogo. Após o jogo, os alunos responderam a um questionário pós-teste e as respostas foram positivas quando perguntados se, na opinião deles, foi importante a utilização do jogo No mundo das plantas na aula de Ciências. Observamos que 87% responderam SIM, acharam importante utilizar jogos didáticos nas aulas de Ciências e 13% disseram NÃO, afirmando ser desnecessário o uso de jogos, como demonstra o Gráfico 1. Gráfico 1: Importância do jogo para os alunos da 4ª etapa da EJA da U. E. Cristino Castelo Branco, Teresina, 2011. Com a aplicação do pós-teste foi possível identificar que o jogo foi bem aceito e até fomentar dúvidas que foram esclarecidas a contento. Observamos que os alunos demonstraram maior curiosidade em relação ao conteúdo no momento de formar o jogo no baralho. No fim, quando perguntados se os professores devem trazer novos materiais didáticos, como jogos, os alunos apresentam respostas favoráveis: 560

A1: Sim, gostei muito desse jogo, queria que o professor trouxesse outros. A2: Acho que o professor deve trazer mais jogos, pra mudar as aulas e brincarmos um pouco. A3: Sim, é bom, a gente se divertiu muito com esse jogo, se tiver mais, vai melhora as aulas. Foi constatado que existe algumas opiniões contrárias a utilização dos jogos didáticos em sala de aula pelos professores. A4: Não estamos mais na idade de brincadeira, a aula tem que ser coisa séria. A5: Não precisa perder tempo com essas coisas, o jogo cria bagunça. Esses relatos comprovaram que no ensino de Ciências, principalmente na EJA, os professores não utilizam materiais didáticos que auxiliem os processos de ensino e de aprendizagem dos alunos, deixando-os desestimulados e muitas vezes, sem interesse nas aulas. Por isso Schimitz (1993) afirma que o professor atua como dinamizador do processo de aprendizagem, facilitando a aprendizagem integrada e dinâmica. Piletti (2000) salienta ainda, em suas concepções que a eficácia de um material dependerá da interação entre ele e o aluno, consequentemente cabe ao professor estimular a atenção, receptividade e a participação ativa dos alunos. A aplicação do jogo nos permitiu, ainda, evidenciar as dificuldades encontradas no ensino de botânica, com base nos questionários utilizados, além de oportunizar uma experiência na EJA. Nessa perspectiva, Kinoshita (1996), aborda que o ensino de botânica é caracterizado por ser muito teórico, desestimulante para os alunos e subvalorizado dentro do ensino de Ciências e de Biologia. Assim, como mencionado anteriormente, o ensino é sempre centralizado no professor e há ênfase na repetição e não no questionamento, seguindo somente um único caminho: repetindo as afirmações do livro. Por esta razão, a produção e aplicação do jogo No mundo das plantas constituiu uma alternativa viável e prática para dinamizar as aulas de ciências, aliando o lúdico as diferentes atividade realizadas em sala de aula. 561

CONSIDERAÇÕES FINAIS A aplicação de jogos didáticos nos permitiu evidenciar que essa estratégia de ensino há algum tempo se mostra eficiente dentro do processo ensino e de aprendizagem, não só pela prática realizada na turma de EJA, mas como de vários autores citados neste trabalho. Através do jogo foi possível cativar a curiosidade dos alunos, aliando o tema abordado ao lúdico. Foi positiva a reflexão dos alunos durante a atividade, gerando discussões entre eles. No final, enquanto respondiam o questionário (pós-teste), perceberam que adquiriram um conhecimento mais abrangente sobre o tema. Alguns ficaram surpresos em aprender, sem ter que fazer trabalho de escola, resumindo assim alguns comentários de alguns alunos após a realização da atividade. Acreditamos que a abordagem do lúdico em sala de aula, a partir da utilização de jogos didáticos pode gerar novas formas de acesso a informação e de produção do conhecimento, motivando o aluno a conhecer, estudar os conteúdos programáticos, contribuindo assim, para a melhoria da qualidade do ensino. A proposta do jogo didático No mundo das plantas surge neste contexto como ferramenta de ensino de Ciências, através da abordagem de conteúdos de botânica, muitas vezes difíceis de serem trabalhados em sala de aula. Além disso, este trabalho nos proporcionou uma experiência na EJA, favorecendo uma reflexão sobre o lúdico no aprendizado, motivando os alunos, no entendimento da necessidade de conhecer melhor os processos relacionados ao contexto de ensinar. REFERÊNCIAS CANTO, A. R.; ZACARIAS, M. A. Utilização do jogo Super Trunfo Árvores Brasileiras como instrumento facilitador no ensino dos biomas brasileiros. Ciências & Cognição. v. 14 n. 1, p. 144-153, 2009. CUNHA, N. Brinquedo, desafio e descoberta. Rio de Janeiro: FAE, 1988. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. P. Metodologia do ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994. FREIRE, J. B. Investigações preliminares sobre jogo. Campinas: Universidade Federal de Campinas, Faculdade de Educação Física, 2001. Tese (Livre-Docência).. Jogo: entre o riso e o choro. Campinas: Autores Associados, 2002. GAGNÉ, R. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1971. 562

GOMES, R. R.; FRIEDRICH, M. A Contribuição dos jogos didáticos na aprendizagem de conteúdos de Ciências e Biologia. In: EREBIO. Rio de Janeiro, 2001, Anais. Rio de Janeiro, 2001, p.389-392. KINOSHITA, L.S.; TORRES,R.B.; TAMASHIRO,J.Y.; FORNE-MARTINS,E.R.(Orgs). A Botânica no Ensino Básico: relatos de uma experiência transformadora. São Carlos: Rima, 2006. 162p. KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996. MICHEL, M. H. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. 2. ed. atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2009. NÉRICI, I. G. Introdução à didática geral. 16. ed. São Paulo: Atlas, 1991. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Fundamental da Rede de EducaçãoBásica do Estado do Paraná. Secretaria de Estado da Educação. Curitiba: Imprensa Oficial, 2008. PENTEADO, H. D. Jogo e a Formação de Professores: Videopsicodrama Pedagógico. In: PILETTI, C. Didática geral. 23. ed. São Paulo: Ática, 2000. PINTO, L. T. O uso dos jogos didáticos no ensino de ciências no primeiro segmento do ensino fundamental da rede municipal pública de Duque de Caxias. 2009. 138f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Rio de Janeiro, 2009. IFRJ. SANTOS, S. M. P dos. Apresentação. In: SANTOS, S. M. P. (Org.) A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001. SCHMITZ, E. Fundamentos da Didática. 7. ed. São Leopoldo: UNISINOS, 1993. VENÂNCIO, S.; FRERE, J. B. (Org.). O jogo dentro e fora da escola. Campinas: Autores Associados, 2005. 563