Apelação Criminal n , de Blumenau Relator: Desembargador Rui Fortes

Documentos relacionados
Agravo de Execução Penal n , de Curitibanos Relator: Desembargador Ernani Guetten de Almeida

SMAB Nº (Nº CNJ: ) 2017/CRIME

3º JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL SUSCITANTE 2º JUIZADO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR SUSCITADO ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos os autos.

Volnei Celso Tomazini RELATOR

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

TURMA DE CÂMARAS CRIMINAIS REUNIDAS CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA Nº 42317/ CLASSE I COMARCA DE SORRISO

Recurso Em Sentido Estrito n , da Capital Relator: Desembargador Volnei Celso Tomazini

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ADEMIR BENEDITO (VICE PRESIDENTE) (Presidente) e XAVIER DE AQUINO (DECANO).

PARECER Nº 6200 EGRÉGIA CÂMARA

Apelação Criminal n Relator: Desembargador Sidney Eloy Dalabrida

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Apelação Cível n , da Capital Relator: Des. Henry Petry Junior

Vistos, relatados e discutidos os autos. 1

Apelação Criminal n , da Capital Relator: Desembargador Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva

Habeas Corpus (criminal) n , de São José Relator: Desembargador Getúlio Corrêa

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

RICARDO DIP (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO) RELATOR Assinatura Eletrônica

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Superior Tribunal de Justiça

Apelação Criminal n , da Capital Relator: Desembargador Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva

I EXPOSIÇÃO DOS FATOS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

DES. MARCÍLIO EUSTÁQUIO SANTOS (RELATOR)

NEGARAM PROVIMENTO. Nº COMARCA DE URUGUAIANA A C Ó R D Ã O

ESTADO DO TOCANTINS PODER JUDICIÁRIO 2ª CÂMARA CRIMINAL GAB. DES. CARLOS SOUZA

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Recurso Em Sentido Estrito n Relator: Desembargador Substituto Luiz Antônio Zanini Fornerolli

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores A.C.MATHIAS COLTRO (Presidente sem voto), JAMES SIANO E MOREIRA VIEGAS.

Apelação Criminal n , da Capital Relator: Desembargador Alexandre d Ivanenko

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 5ª Câmara de Direito Público

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Apelação Cível em Mandado de Segurança n , de Lages Relator: Juiz Rodrigo Collaço

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Direito Penal. Lei nº /2006. Violência doméstica e Familiar contra a Mulher. Parte 1. Prof.ª Maria Cristina

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Tupã, em que é apelante ELÍDIA RODRIGUES

SESSÃO DA TARDE PENAL E PROCESSO PENAL Lei Maria da Penha. Professor: Rodrigo J. Capobianco

Vistos, relatados e discutidos os autos.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 10ª Câmara de Direito Privado

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

NEGARAM PROVIMENTO. A C Ó R D Ã O

ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Salesópolis, em que é apelante FAZENDA DO

ACÓRDÃO Nº COMARCA DE CAMPINA DAS MISSÕES E.J.K. APELANTE.. H.S.K. APELANTE.. A.J. APELADO.. LFBS Nº /CÍVEL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

TURMA RECURSAL ÚNICA J. S. Fagundes Cunha Presidente Relator

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Apelação ns , , CDA , de Joinville Relator: Desembargador Francisco Oliveira Neto

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Superior Tribunal de Justiça

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DESEMB - JANETE VARGAS SIMÕES 31 de maio de 2016

DLDT Nº (N CNJ: ) 2014/CRIME AGRAVO EM EXECUÇÃO. VISITA POR

A C Ó R D Ã O. Agravo de Instrumento nº

Dados Básicos. Ementa. Íntegra

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 37ª Câmara de Direito Privado

Apelante: Otacília Lourenço Rodrigues da Silva

R. A. R. RECORRIDO L. C. R. VÍTIMA A C Ó R D Ã O

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE

Apelação Criminal n , de São João Batista Relator: Des. Carlos Alberto Civinski

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores NEWTON NEVES (Presidente), ALMEIDA TOLEDO E PEDRO MENIN.

CURSO PRÉ-VESTIBULAR DO CENTRO DE ESTUDOS E AÇÕES SOLIDÁRIAS DA MARÉ AULÃO DA MULHER VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER VOCÊ CONHECE A LEI?

SEGUNDA CÂMARA CÍVEL RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL Nº 8785/2004 CLASSE II COMARCA DE SINOP APELANTE: BRASIL TELECOM S. A.

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE VASCONCELOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Superior Tribunal de Justiça

APELAÇÃO CÍVEL Nº SOROCABA. APELANTES e reciprocamente APELADOS:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Registro: ACÓRDÃO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS SANTOS (Presidente) e NEVES AMORIM.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 5ª Câmara de Direito Público

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

SEXTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 58592/ CLASSE CNJ COMARCA DE COLÍDER

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DÉCIMA QUINTA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO ACÓRDÃO

PODER JUD I C I ÁR I O

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 37ª Câmara de Direito Privado

Apelação Criminal nº , oriundo do Juizado Especial Criminal da Comarca de Curitiba.

18 a CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL N o 11496/08 RELATOR : DES.JORGE LUIZ HABIB

ACÓRDÃO , da Comarca de Barueri, em que é apelante PROXIMO GAMES

Número de Ordem Pauta Não informado Registro: ACÓRDÃO

EXERCÍCIOS. I - anistia, graça e indulto; II - fiança.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

AGRAVO EM EXECUÇÃO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL - REGIME DE EXCEÇÃO COMARCA DE JAGUARÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Nº COMARCA DE SÃO GABRIEL A C Ó R D Ã O

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Reis Friede Relator. TRF2 Fls 356

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição:

Apelação Criminal n. 0307739-25.2016.8.24.0008, de Blumenau Relator: Desembargador Rui Fortes APELAÇÃO CRIMINAL. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA NO ÂMBITO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PRATICADA CONTRA HOMENS E MULHERES DA MESMA FAMÍLIA. ALEGAÇÃO DE QUE O GÊNERO MASCULINO DE PARTE DAS VÍTIMAS NÃO REPRESENTA ÓBICE IDÔNEO À FIXAÇÃO DAS MEDIDAS. TESE NÃO ACOLHIDA. LEI MARIA DA PENHA QUE TRATA EXCLUSIVAMENTE DOS CRIMES COMETIDOS CONTRA A MULHER, NO ÂMBITO DOMÉSTICO. CASO CONCRETO, ADEMAIS, QUE TRATA DE CONFLITO FAMILIAR DECORRENTE DE RAZÕES DE CUNHO PATRIMONIAL, DISSOCIADO DA MOTIVAÇÃO DE GÊNERO. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal n. 0307739-25.2016.8.24.0008, da comarca de Blumenau (2ª Vara Criminal), em que são Apelantes I. M. e outros, e Apelado o Ministério Público do Estado de Santa Catarina e outro. A Terceira Câmara Criminal decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Sérgio Izidoro Heil e Ernani Guetten de Almeida. Funcionou como representante da Procuradoria-Geral de Justiça, o Exmo. Sr. Dr. Abel Antunes de Mello. Florianópolis, 27 de março de 2018. Desembargador Rui Fortes Presidente e Relator

RELATÓRIO Trata-se de apelação criminal interposta por I. M., C. C. T., E. C. T., L. P. T., A. P. de A. e L. M. de P. L, contra a decisão (fls. 68 a 72) proferida pelo MM. Juiz da 2ª Vara Criminal da comarca de Blumenau, que, nos autos da Ação Penal n. 0307739-25.2016.8.24.0008, indeferiu o pedido de fixação de medidas protetivas de urgência contra H. T., em razão da ausência de situação de violência em face do gênero. Requerem, em síntese, a concessão de medidas protetivas em desfavor de H. T., para determinar a proibição de se aproximar dos apelantes, devendo permanecer a uma distância mínima a ser fixada, bem como determinar a proibição de manter contato com eles e seus familiares, por qualquer meio de comunicação. Sustentam, também, que o gênero masculino de parcela das vítimas não representa óbice idôneo à fixação das medidas protetivas, sobretudo porque a violência ocorre no ambiente doméstico e familiar. Alternativamente, pugnam para que a medida protetiva valha somente às mulheres em decorrência da situação de vulnerabilidade (fls. 78 a 87). Apresentadas as contrarrazões (fls. 94 e 95), a Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do Exmo. Sr. Dr. Carlos Eduardo Abreu Sá Fortes, opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 102 a 106). 2

VOTO Inicialmente, convém esclarecer que, contra decisão que indefere o pedido de fixação de medidas protetivas de urgência, é pertinente a interposição do recurso de apelação, em conformidade com o art. 593, inciso II, do CPP, em razão da ausência de previsão do recurso cabível na Lei Maria da Penha. Nesse sentido: PROCESSO PENAL. REVOGAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS PREVISTAS NA LEI N. 11.340/06. APELAÇÃO. ADEQUAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL EXPRESSA QUANTO AO RECURSO CABÍVEL. EXEGESE DO INCISO II DO ARTIGO 593 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONHECIMENTO. [...] RECURSO NÃO PROVIDO (Apelação Criminal n. 2014.074840-2, de Jaraguá do Sul, rel. Des. Newton Varella Júnior, j. 13-08-2015). Feita tal ponderação, verifica-se que, no mérito, pretendem os recorrentes a reforma da decisão que indeferiu as medidas protetivas de urgência requeridas, alegando que são membros da mesma família (ex-esposa, filhas e genros), sofrem constantes ameaças e agressões por parte do apelado H., e o gênero masculino de parte das vítimas não representa óbice idôneo à fixação das medidas porque verificado que a violência ocorre no ambiente familiar. Sem razão, pois nos termos do que bem consignou o ilustre Procurador de Justiça no parecer de fls. 102 a 106, o qual, inclusive, adoto como razões de decidir, "a Lei 11.340/2006 criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra mulher, compreendida como toda e qualquer ação ou omissão baseada no gênero feminino, que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial à mulher, em razão de sua situação de vulnerabilidade. "Nesse sentido, dispõe o art. 5º da Lei 11.340/2006: Art. 5º- Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: 3

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. "Data maxima venia, da simples leitura do dispositivo, é possível concluir-se pela inaplicabilidade da Lei Maria da Penha aos casos de violência doméstica e familiar praticados contra pessoas do gênero masculino. Nesse viés, inviável a fixação de medidas protetivas de urgência em favor dos Apelantes A. P. de A. e L. M. de P. L. "Aliás, com decidido por essa Colenda Corte de Justiça, 'se os autos versam sobre crime praticado com violência doméstica, todavia, contra uma vítima do sexo masculino, a Lei Maria da Penha não pode ser aplicada, eis que a legislação especial trata exclusivamente dos crimes cometidos contra a mulher no âmbito doméstico e familiar' (Apelação Criminal n. 2014.014543-1, de Criciúma, rel. Des. Marli Mosimann Vargas, j. 04-11-2014). "Ademais, embora parte das vítimas seja do sexo feminino e haja entre elas e o agressor relação de afeto (ex-esposa) ou parentesco (filhas), temse que a pretensa prática criminosa não guarda qualquer relação com o gênero das vítimas. "Na hipótese, os conflitos familiares relatados pelos Apelantes, decorrem, essencialmente, de razões de cunho patrimonial, dissociados, portanto da motivação de gênero. "Como bem salientou Sua Excelência 'o ofensor, pessoa idosa, ainda que assistido financeiramente pelas vítimas (ex-esposa, filhas e genros), vem constantemente à procura deles em busca de recursos financeiros desarrazoados, inclusive, relatando a órgão oficial que, embora seja idoso e enfermo, foi abandonado pela família. Em síntese, ainda que as vítimas o 4

assistam financeiramente, contribuindo para o seu sustento, exige mais dinheiro e, às negativas, responde com ameaças e agressividade' (fl. 71). "Logo, verificado que nas ameaças e agressões perpetradas por H. T. não se vislumbra motivação de gênero - até porque dirigidas, indistintamente, a pessoas do sexo masculino (genros) e feminino (ex-esposa e filhas) - inviável a fixação de medidas protetivas de urgência em favor das vítimas. "Decidiu, também, esse Egrégio Tribunal de Justiça: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO ENTRE O JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE BLUMENAU E O JUÍZO DA 2ª VARA CRIMINAL DA MESMA COMARCA (PRIVATIVO PARA O JULGAMENTO DAS CAUSAS QUE ENVOLVEM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER - LEI N. 11.340/06). AÇÃO PENAL QUE IMPUTA A POSSÍVEL PRÁTICA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL POR TIO CONTRA SOBRINHA. (ARTIGO 217-A DO CÓDIGO PENAL). CONDUTAS QUE, EMBORA TENHAM SIDO PRATICADAS, EM TESE, NO ÂMBITO DOMÉSTICO, NÃO CARACTERIZAM VIOLÊNCIA DE GÊNERO. NÃO ENQUADRAMENTO NO CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER A QUE ALUDE A LEI N. 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL (SUSCITADO) PARA O PROCESSAMENTO DO FEITO. CONFLITO PROCEDENTE. 1. Para que uma conduta caracterize violência doméstica e familiar contra a mulher e se sujeite aos ditames da Lei n. 11.340/06, não basta que a ação ou omissão tenha ocorrido no âmbito familiar e contra uma vítima do sexo feminino. É imprescindível, ainda, que a violência tenha motivação de gênero - ou, em outras palavras, que o agente, no seu proceder, se prevaleça da vulnerabilidade física, econômica ou afetiva da vítima, decorrente da posição por esta ocupada no relacionamento entre ela e o agressor. (TJSC, Conflito de Jurisdição n. 2015.074456-2, de Blumenau, rel. Des. Paulo Roberto Sartorato, j. 01-12-2015) sem grifos no original". Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso. 5