35 PESQUISA DE MICRORGANISMOS ADERIDOS NAS SUPERFÍCIES DE TECLADOS DE MICRO-COMPUTADORES DE LANHOUSES NO MUNICÍPIO DE TEIXEIRA DE FREITAS-BA RESEARCH OF MICROORGANISMS ADHERED IN THE KEYBOARDS SURFACES OF MICROCOMPUTERS OF LANHOUSES IN TEIXEIRA DE FREITAS CITY BRITO, Flamarion de Almeida 1 ; QUARESMA, Evódio Soares¹; FORTUNA, Jorge Luiz² Resumo Este trabalho teve como objetivo geral pesquisar a presença quantitativa de microrganismos nas superfícies de teclados de micro-computadores das lanhouses localizadas no município de Teixeira de Freitas-BA. Foram realizadas 20 coletas em teclados convencionais de lanhouses, através de swabs esterilizados. Após retirada do material, este foi inoculado em placas de Petri com Agar Eosina Azul de Metileno (EMB) para crescimento de Enterobactérias, Agar Sabouraud Dextrose (ASD) para bolores e leveduras, Agar Padrão para Contagem (APC) para Bactérias Aeróbias Mesófilas. Utilizou-se o método Semeadura em Profundidade. Foram encontradas bactérias aeróbias mesófilas em 75% das amostras, para bolores e leveduras em 35%. Apenas 5% apresentaram contaminação de enterobactérias. Para estafilococos os resultados demonstraram contaminação de 70% dos teclados. As superfícies dos teclados de Lanhouse da cidade de Teixeira de Freitas apresentaram um grande potencial de contaminação por microrganismos patogênicos podendo causar assim possíveis riscos a saúde dos usuários. Palavras-chave: Microrganismos; Teclados; Lanhouses. Abstract This work had as objective generality to search the quantitative presence of microorganisms in the keyboards surfaces of microcomputers of lanhouses located in Teixeira de Freitas city. Twenty collections in keyboards of lanhouses had been carried through swabs. After removed of the material, this was inoculated in Petri plates with Eosin Methylene Blue Agar for growth of Enterobacteria, Sabouraud Dextrose Agar for moulds and yeasts, Standard Count Agar for Aerobic Bacteria Mesophil. The method was used pour plate. Aerobic bacteria had been found mesophil in 75% of the samples, for moulds and yeasts in 35%. But 5% had presented contamination of enterobacteria. For staphylococci the results had demonstrated contamination of 70% of the keyboards. The keyboards surfaces of Lanhouse in Teixeira de Freitas city of had presented a great potential of contamination for pathogenic microorganisms having been able to cause possible risks thus the health of the users. Key words: Microorganisms; Keyboards; Lanhouses. 1 Licenciados em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus X ² Mestre em Higiene e Processamento de Produtos de Origem Animal pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) jfortuna@uneb.br
36 Introdução O processo de miniaturização foi um fator importantíssimo no processo de acesso do computador ao grande público na década de 70, quando os primeiros modelos começaram a aparecer nos Estados Unidos da América (EUA) e na Inglaterra (RAMALHO, 2000). Atualmente, com as amplas modificações socioeconômicas dos brasileiros, no que se diz respeito ao poder de compra, têm-se feito aumentar a venda de micro-computadores, o que faz com que pessoas de diferentes classes sociais possam assim adquiri-los. Todavia, existem pessoas que ainda não adquiriram o computador pessoal, não significando dizer que tais pessoas estão de fora da inclusão digital. Concomitantemente houve um crescimento dos cybers espaços conhecidos como lanhouses, para atender essa demanda. O conceito de lanhouse é uma novidade nas alternativas de entretenimento que utiliza a moderna tecnologia como meio. As lanhouses iniciaram uma revolução nas opções de entretenimento, permitindo a interação entre dezenas de usuários através de uma rede local de computadores. Segundo pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC), 49% dos internautas usam centros públicos de acesso pago, sendo que na região norte e nordeste esse número salta pra quase 70% dos acessos. Mesmo que historicamente, o principal local de acesso à rede sempre foi domiciliar as lanhouses tem aumentado a utilização da internet no Brasil (CETIC, 2008). O grande crescimento desse segmento traz consigo praticidade, agilidade e conforto no acesso a internet e a jogos de rede, fora do ambiente domiciliar. Entretanto o grande fluxo de pessoas de diferentes hábitos vem acompanhado de inúmeros riscos, em especifico o risco biológico, uma vez que tanto os usuários como os proprietários não utilizam procedimentos de higiene e/ou assépticos, tais como: limpeza das mãos e limpeza dos teclados. Dessa forma, mais pessoas de diferentes costumes higiênicos podem assim se interagirem, possibilitando que alguns desses usuários possam transmitir diversos microrganismos através principalmente das mãos, pois os teclados tornam-se um ambiente propício para a proliferação de microrganismos, tais como bactérias e fungos. Muitas bactérias são transmitidas de uma pessoa para outra por meio das mãos. Como exemplo, uma pessoa portadora da bactéria Staphylococcus aureus na parte anterior das narinas pode esfregar o nariz, contaminar as mãos com os estafilococos e disseminá-los para outras partes do corpo ou superfícies das quais ela entrou em contato contaminando assim outra pessoa, podendo originar uma infecção (JAWETZ et al, 2001). Diante do que foi descrito, este trabalho teve como objetivo geral pesquisar a presença quantitativa de microrganismos nas superfícies de teclados de microcomputadores das lanhouses localizadas no município de Teixeira de Freitas-BA. E como objetivos específicos: enumerar o número de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) de bactérias aeróbias mesófilas; de enterobactérias; de Staphylococcus sp.; e de bolores e leveduras nas superfícies de teclados de microcomputadores das respectivas lanhouses visitadas. Material e Métodos Foram coletadas e analisadas, microbiologicamente, amostras das superfícies de teclados de microcomputadores de diferentes lanhouses localizadas no município de Teixeira de Freitas-BA, entre os meses de dezembro de 2008 e janeiro de 2009. Foram realizadas coletas em teclados convencionais do tipo 102 teclas de
37 lanhouses, através de swabs esterilizados. Para a coleta do material, utilizou-se técnica semelhante à usada por Binatti et al (2006), onde cada swab foi friccionado sobre a superfície e laterais das teclas de letras, da barra de espaço e da tecla Enter, de 20 teclados de diferentes micro-computadores de mesa, sendo que foram escolhidos dois diferentes teclados, aleatoriamente, de dez diferentes lanhouses localizadas no município de Teixeira de Freitas-BA. Após a coleta, os swabs foram introduzidos em tubos de ensaio contendo 10,0 ml de Solução Salina Peptonada (SSP) a 0,1% e colocados em um recipiente isotérmico, com gelo, e transportados para o Laboratório de Microbiologia da UNEB, Campus X, em até 30 minutos, para as análises microbiológicas. Para a diluição de cada amostra, foi retirada uma alíquota de 1,0 ml, com o auxílio de pipeta graduada esterilizada, e adicionada em 9,0 ml de Solução Salina Peptonada (SSP) a 0,1%, para obtendo a diluição 10-1. A partir desta, após homogeneização, com auxílio de uma pipeta graduada transferiu-se 1,0 ml da solução 10-1 para outro tubo contendo 9,0 ml de Solução Salina Peptonada (SSP) a 0,1%, para obter a diluição 10-2 e, por fim, utilizou-se do mesmo procedimento, para obtenção da diluição de 10-3. Seguiu-se a técnica de semeadura em profundidade (pour plate) segundo Silva et al (2007). Esta técnica baseia-se no fato de que, em condições adequadas um microrganismo vivo isolado se divide e forma uma Unidade Formadora de Colônia (UFC) visível em uma placa de Agar. Colocou-se, em quatro diferentes placas de Petri, uma alíquota de 1,0 ml para cada diluição respectivamente, e verteu-se cerca de 20 ml de Agar Sabouraud Dextrose (ASD); Agar Eosina Azul de Metileno (EMB); Agar Padrão para Contagem (APC); Agar Baird-Parker (ABP) liquefeitos e estéreis, sobre cada uma das respectivas placas, seguido de homogeneização. As placas foram incubadas em estufa durante 48 horas a 35-37ºC, para bactérias e de 3-5 dias a 20-25ºC para os bolores e leveduras. Para contagem de bactérias aeróbica mesófila, o material coletado foi semeado em três placas com APC, com diluições, respectivamente de 10-1 a 10-3, ficando em estufa durante 24-48 horas a 35-37ºC. Para enumeração de enterobactérias foram usadas três placas contendo EMB, onde foi semeado o material coletado em diluições respectivas de 10-1 a 10-3 ficando em estufa durante 24-48 horas a 35-37ºC. Para enumeração de estafilococos foram usadas três placas contendo ABP, onde foi semeado o material coletado em diluições respectivas de 10-1 a 10-3 ficando em estufa durante 24-48 horas a 35-37ºC. Após o tempo prédeterminado de incubação destes meios de cultura, as UFC das placas de Petri, contendo APC; EMB e ABP foram enumeradas. Na contagem dos bolores e leveduras, o material coletado foi colocado em três placas com ASD e respectivamente semeado o material com diluições de 10-1 a 10-3, sendo incubados de 3 a 5 dias em temperatura ambiente (+ 25 C). Após o tempo de incubação, as UFC foram então enumeradas. Resultados e Discussão Das 20 amostras pesquisadas nas superfícies de teclados de microcomputadores de lanhouses do município de Teixeira de Freitas-BA obteve-se a enumeração de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) de bactérias aeróbias mesófilas; de bolores e leveduras; de enterobactérias; e de estafilococos, respectivamente, sendo que todos os teclados analisados apresentaram algum nível de contaminação por algum dos microrganismos pesquisados (Tabela 1).
38 Tabela 1 Número de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) das contagens padrões em placas de bactérias aeróbias mesófilas; bolores e leveduras; enterobactérias; e estafilococos, encontrados em teclados localizados em diferentes lanhouses no município de Teixeira de Freitas-BA. Amostras Aeróbias Mesófilas Bolores e leveduras Enterobactérias Estafilococos 1 < 1,0 x 10 1 2,0 x 10 2 < 1,0 x 10 1 > 6,5 x 10 6 2 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 3,5 x 10 2 3 3,8 x 10 3 1,8 x 10 3 < 1,0 x 10 1 3,0 x 10 3 4 < 1,0 x 10 1 9,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 9,5 x 10 2 5 1,2 x 10 2 6,0 x 10 2 < 1,0 x 10 1 5,0 x 10 1 6 4,6 x 10 2 1,7 x 10 3 < 1,0 x 10 1 1,4 x 10 3 7 4,8 x 10 2 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 3,0 x 10 2 8 2,3 x 10 2 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 9 1,9 x 10 4 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 3,0 x 10 1 10 8,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 11 7,1 x 10 2 1,6 x 10 2 < 1,0 x 10 1 1,6 x 10 2 12 2,4 x 10 3 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 1,6 x 10 2 13 1,7 x 10 3 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 14 3,7 x 10 3 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 15 1,2 x 10 3 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 16 2,2 x 10 3 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 17 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 4,0 x 10 2 18 4,3 x 10 2 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 3,0 x 10 2 19 8,1 x 10 2 3,2 x 10 2 < 1,0 x 10 1 9,7 x 10 2 20 < 1,0 x 10 1 < 1,0 x 10 1 2,0 x 10 3 7,0 x 10 2 Para a enumeração de bactérias aeróbias mesófilas nos teclados, 15 (75%) amostras apresentaram contaminação, sendo que esta contaminação variou de 8,0x10 1 até 1,9x10 4 UFC. Em relação à enumeração de bolores e leveduras foram encontrados em sete (35%) teclados, com a variação de 9,0x10 1 até 1,8x10 3 UFC. De acordo com Spicer (2000), os bolores e leveduras podem causar micoses superficiais, subcutâneas e cutâneas, além de sistêmicas e profundas. As enterobactérias foram encontradas em apenas uma (5%) das amostras (2,0x10 3 UFC). Esse grupo de bactérias é utilizado como indicador de contaminação fecal, pois são encontradas no intestino. Algumas delas causam algumas doenças ao homem. Um ótimo exemplo é a salmonelose, uma patogenia infecciosa provocada por um grupo de bactérias do gênero Salmonella, que pertencem à família Enterobacteriaceae. Um fator positivo dessa pesquisa foi a baixa expressividade de bactérias desse grupo. Os estafilococos foram encontrados em 14 (70%) teclados, com variação de 3,0x10 1 até >6,5x10 6 UFC. Bures et al (2000), realizaram pesquisa em 80 amostras de teclados. Destas, 19 (24%) estavam contaminadas por microrganismos, sendo 49% por Staphylococcus; 18% por Enterococcus; 12% por Enterobacter e 21% por outros bastonetes Gram-negativos. Em estudo realizado por Binatti el at (2006), sobre patógenos hospitalares resistentes em teclados de computadores, também foram encontrados altos valores de contaminação. Sendo 82% de detecção de microrganismos aeróbios mesófilos; 84% de
39 bolores e leveduras; e estafilococos com contaminação em 28% da amostras analisadas. Não houve detecção de bactérias da família Enterobacteriaceae nas amostras de teclados coletados. Havendo uma grande correlação com as amostras realizadas nesta pesquisa em lanhouses, onde a contaminação mostrou-se presente em apenas uma das 20 amostras pesquisadas. De acordo com uma pesquisa realizada pela revista "Computing Which?", muitos teclados de computadores podem reunir mais bactérias que assentos sanitários. Foram analisados 30 teclados dos escritórios da própria revista e descobriram bactérias capazes de causar desde diarréia a intoxicações alimentares, tais como a Escherichia coli, o Staphylococcus aureus e enterobactérias (COMPUTING WHICH?, 2009). Conclusão Dos 20 (100%) teclados analisados, 15 (75%) estavam contaminados por bactérias aeróbias mesófilas; sete (35%) por bolores e leveduras; um (5%) por enterobactérias e 14 (70%) por estafilococos. Estes dados sugerem que as superfícies analisadas podem ser consideradas produtos de alto risco, sendo necessário definir medidas adequadas de controle higiênico-sanitário para garantir a qualidade e segurança destas áreas. Entretanto, por todas as adversidades encontradas, este trabalho traz informações inéditas, para a comunidade científica e para toda a sociedade. Na parte científica, referese ao primeiro trabalho no Brasil a fazer pesquisas de quantificação de microrganismos em superfície de teclados de lanhouses. E socialmente, traz informações que poderão contribuir para sensibilização dos profissionais da área de informática, e usuários domésticos de computadores, ao informar que superfícies de teclados são de grande potencial de transmissão de microrganismo patogênicos, que uma vez existentes nessas superfícies podem acarretar problemas graves de saúde. Com o exposto verifica-se que há um grande potencial de contaminação em teclados de computadores por microrganismo patogênicos, independemente do local onde ele esteja. Caracterizando assim, possíveis riscos à saúde daqueles usuários, seja em hospitais, escritórios, em residências e como aqui apresentado, nas lanhouses. Os resultados desta pesquisa deixam evidente a necessidade de realização de um trabalho educativo junto aos proprietários desses estabelecimentos (lanhouses) e, sobretudo com os próprios usuários. Evidenciando que os bons hábitos higiênicosanitários podem evitar, de forma incisiva, a contaminação. Proporcionando assim, um ambiente livre de microrganismos causadores potenciais de inúmeras doenças. Referências Bibliográficas BINATTI, V. B.; COSTA, C. R. M.; TORTORA, J. C. O. Patógenos hospitalares resistentes em teclados de computadores. Jornal Brasileiro de Medicina. v. 90, n. 3. 2006, p. 28-33. BURES, S.; FISHBAIN, J. T.; UYEHARA, C. F. T.; PARKER, J. M.; BERG, B. W. Computer keyboards and faucet handles as reservoirs of nosocomial pathogens in the intensive care unit. Am. J. Infect. Control. v. 28, n. 6. 2000, p. 465-471. CETIC (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação). Uso e Posse de Computador e Internet, Barreiras de Acesso, Uso do Celular, Intenção de Aquisição. Apostila. 2008. 26 p. COMPUTING WHICH?. Bacteria in your PC. Computing Which?. [Online]. Disponível em <http://www.which.co.uk/advice/how-to-clean-yourpc/bacteria-in-your-pc/index.jsp> Capturado em 05 de fevereiro de 2009. JAWETZ, E.; MELNICK, J.; ADELBERG, E. A. Microbiologia Médica. 22ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill. 2001, 653 p. RAMALHO, J. A. Introdução à Informática: Teoria e Prática. São Paulo: Berkeley. 2000, 168 p. SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A.; TABIWAKI, M. H.; SANTOS, R. F. S.; GOMES, R. A. R. Manual de Métodos de Análises
40 Microbiológicas de Alimentos. 3ª ed. São Paulo: Varela. 2007, 526 p. SPICER, W. J. Bacteriologia, Micologia e Parasitologia Clínicas: Um Texto Ilustrado em Cores. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2000 224 p.