TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo ACÓRDÃO Registro: 2014.0000807599 Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0001620-89.2005.8.26.0481, da Comarca de Presidente Epitácio, em que é apelante/apelado NÁGILA APARECIDA ALABI AMARAL TARDIVO, é apelado/apelante CESP - COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores LUCIANA BRESCIANI (Presidente sem voto), RENATO DELBIANCO E JOSÉ LUIZ GERMANO. São Paulo, 2 de dezembro de 2014. VERA ANGRISANI RELATOR Assinatura Eletrônica
2 VOTO Nº 21679 APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO Nº 0001620-89.2005.8.26.0481 COMARCA: PRESIDENTE EPITÁCIO APELANTES E APELADOS: NÁGILA APARECIDA ALABI AMARAL TARDIVO E CESP COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO MM. JUÍZO DE 1º GRAU: DRA. THAÍS MIGLIORANÇA MUNHOZ DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. O valor da indenização deve ser aquele apurado pela perícia técnica, pois obedecidos os critérios da justa indenização. O laudo de avaliação subscrito por Engenheiro com registro de Anotação de Responsabilidade Técnica ART é imposição à própria Administração e não em relação ao auxiliar do Juiz, que deve ser um perito de sua confiança. Indevida a indenização por dano moral. Verba honorária bem fixada. Sentença mantida. Recursos conhecidos e improvidos. Trata-se de Apelação Cível interposta por NÁGILA APARECIDA ALABI AMARAL TARDIVO e pela CESP COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO, nos autos de ação de Desapropriação Indireta, contra a r. sentença de fls. 967/972 que julgou parcialmente procedente o pedido, nos termos do artigo 269, inciso I, do CPC, para condenar a requerida ao pagamento de R$ 574.999,05 (quinhentos e setenta e quatro mil e novecentos e noventa e nove reais e cinco centavos), a título de danos materiais, juros compensatórios à taxa de 12% ao ano (Súmula 618 do STF), contabilizados a partir da efetiva ocupação do imóvel pela parte requerida (Súmula 114 do STJ); e juros moratórios de 6% ao ano, contando-se a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da Constituição, de acordo com o disposto no artigo 15-B do Decreto-lei n 3.365, de 21.06.1941, acrescentado pela Medida Provisória n 2.183-56, de 24.08.2001. Sucumbência recíproca, nos termos do artigo 21 do Código de Processo Civil. A sentença é sujeita ao
3 reexame necessário, nos termos do artigo 475, 2º, do Código de Processo Civil. Interposto o reexame necessário. Apela a autora Nágila Aparecida pretendendo indenização por dano moral (fls. 978/982). Caio Cesar e Luiz Gabriel pugnam pela fixação da verba honorária e o reconhecimento do dano moral (fls. 984/990). Já a CESP às fls. 992/1004 pretende a conversão do julgamento em diligência e, no mérito, contrapõe-se ao valor indenizatório, em especial, porque não apresentada a Anotação de Responsabilidade Técnica - ART. Recursos processados (fls. 991, 1008) com apresentação de contrarrazões às fls. 1015/1018, 1021/1025, 1027/1031. A d. Procuradoria Geral de Justiça se manifestou pelo não provimento do recurso da CESP e pelo provimento do recurso dos autores (fls. 1033/1036). É o relatório. II- Os recursos não comportam provimento. Conforme apurado nos autos, os autores são proprietários de uma área de terras denominada Chácara Caiuá, às margens do córrego Ribeirão Caiuá, com 11.894,68 m², onde pretendiam construir uma pousada/restaurante objetivando auferir renda mensal. Segundo sustentam, com o represamento do reservatório Sérgio Mota, localizado no Rio Paraná, a propriedade dos autores foi expropriada pela requerida, sem, contudo, serem
4 indenizados pelos prejuízos sofridos. Ressaltaram o potencial turístico da área afetada, postulando pela condenação da requerida no pagamento de indenização por danos materiais (lucros cessantes) e danos morais. Inicialmente, não há que se falar em nulidade da perícia ou conversão do julgamento em diligência, ante a pacificação do entendimento, já abordada a questão em agravo de instrumento (negado provimento- fls. 895/902), confirmada a decisão pelo Superior Tribunal de Justiça (fls. 947/957), de modo que, supera da discussão quanto à capacidade do expert. Acrescente-se que inexiste vedação ao acatamento de laudo oferecido por perito oficial que não apresentou Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), pois o Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de que "no que toca ao artigo 12, 3º, da Lei n. 8.629/93, como bem asseverou a Corte de origem, "o 3º do art. 12 da Medida Provisória n. 1.577, de 12.06.97, ao impor que o laudo de avaliação seja subscrito por Engenheiro Agrônomo com registro de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, o faz em relação à própria Administração e não em relação ao auxiliar do Juiz, que deve ser um perito de sua confiança" (REsp 697.050/CE, 2ª Turma, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 13.2.2006), consoante entendimento pacífico desta Corte. Citam-se nesse sentido, a título de ilustração, os seguintes julgados: AgRg no REsp 902.595/CE, 1ª T., Min. Francisco Falcão, DJ de 31.05.2007; REsp 555.080/CE, 2ª T., Min. Castro Meira, DJ de 16.06.2006; REsp 840.648/PR, 1ª T., Min. Denise Arruda, DJ de 07.11.2006. Por isso o laudo técnico deve prevalecer em
5 relação à forma de avaliação pretendida pela recorrente, tendo em vista os elementos de convicção colhidos, os quais denotam que o valor estabelecido no trabalho do expert se coaduna com a realidade de mercado do local. Ademais, as invectivas lançadas não contam com respaldo probatório hábil a elidir o trabalho de avaliação elaborado. Assim, a r. decisão baseou-se corretamente nos parâmetros apontados pela avaliação judicial, respeitando a justa indenização prevista no artigo 5º, incisos XXIV e XXV, da Constituição Federal de 1988. Quanto à pretensão de indenização por danos morais em decorrência da inundação definitiva de gleba de terra, irretocável a conclusão da sentença singular. O dano em questão consiste na agressão ao íntimo do ser humano, produzindo-lhe dolorosa sensação de perda de seus valores, de sua tranquilidade, dignidade, prestígio social, comercial ou familiar. Denota-se que equilíbrio moral das pessoas está inserido nos direitos fundamentais, concluindo-se ser vedada qualquer ação que importe em lesão ou ameaça a valores protegidos como aspectos basilares da personalidade humana, sendo certo que o desconforto, a mágoa, o constrangimento, o sofrimento e a tristeza resultantes de ofensa ao patrimônio moral, advindo de abalos nas relações sociais e públicas, há de ser objeto de ressarcimento por parte do ofensor.
6 A fixação de indenização por danos morais deve observar o constrangimento sofrido e o grau de responsabilidade do causador do dano. Segundo o Professor Humberto Theodoro Júnior, in verbis: "[...] Impõe-se a rigorosa observância dos padrões pela doutrina e jurisprudência, inclusive dentro da experiência registrada no direito comparado para se evitar que as ações de reparação de dano moral se transformem em expedientes de extorsão ou de espertos maliciosos e injustificáveis. As duas posições sociais e econômicas da vítima e do ofensor, obrigatoriamente, estarão sob a análise, de maneira que o Juiz não se limitará a fundar a condenação isoladamente na forma eventual de um ou na possível pobreza do outro. Assim, nunca poderá o Juiz arbitrar a indenização tomando como base tão-somente o patrimônio do devedor [...]" (in Dano Moral - Ed. Oliveira Mendes - p. 43/44)". Considerando o exposto alhures, coaduno com o entendimento esposado pela Magistrada a quo de que não se configurou dano moral na hipótese vertente. No caso, os honorários advocatícios foram arbitrados de forma correta, aplicando-se a sucumbência recíproca, pelo fato dos autores terem decaído de parte do pedido. Considera-se prequestionada toda matéria infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico no Superior Tribunal de Justiça que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida. E mais, os embargos declaratórios, mesmo para fins de prequestionamento, só são
7 admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que ensejariam a oposição dessa espécie recursal (EDROMS 18205 / SP, Ministro FELIX FISCHER, DJ 08.05.2006 p. 240). Isto posto, conhece-se e nega-se provimento aos recursos, mantendo-se a r. sentença por seus próprios e jurídicos fundamentos. VERA ANGRISANI Relatora