O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar. The Epidemiological Profile of Neonatal Mortality in the Hospital Environment

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www4.fsanet.com.br/revista Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 4, n. 2, art. 7, p. 118-128 jul./dez.2017 ISSN Eletrônico: 2358-7946 http://dx.doi.org/10.12819/rsf.2017.4.2.7 O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar The Epidemiological Profile of Neonatal Mortality in the Hospital Environment David Wesley Ribeiro Muniz Graduação em Medicina pela Faculdade Integral Diferencial E-mail: dwrmuniz@gmail.com Matheus Gaspar de Miranda Graduação em Medicina pela Faculdade Integral Diferencial E-mail: mmatheusgaspar@gmail.com Andrea Pinto Costa Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí E-mail: andreapintoodc@hotmail.com Gleydyson Wesley Freire Lima Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí E-mail: gwfreire@hotmail.com Edison de Araújo Vale Mestrado em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Piauí Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Piauí E-mail: eavale@uol.com.br Endereço: David Wesley Ribeiro Muniz Faculdade Integral Diferencial. Rua Veterinário Bugyja Brito, Horto. 64052410 - Teresina, PI - Brasil Endereço: Matheus Gaspar de Miranda Rua Antônia Myriam Eduardo Pereira 4935, Campestre, Teresina PI Brasil CEP: 64053-550 Endereço: Andrea Pinto Costa Universidade Federal do Piauí - UFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella Bairro Ininga - Teresina - PI -CEP: 64049-550 Endereço: Gleydyson Wesley Freire Lima Conjunto Itaperu Quadra 3, Casa 4, CEP 64007-800, Teresina PI Brasil Endereço: Edison de Araújo Vale Av. Frei Serafim, 2352 - Centro (Sul), Teresina - PI, 64001-020 Editor-Chefe: Dr. Tonny Kerley de Alencar Rodrigues Artigo recebido em 14/05/2017. Última versão recebida em 06/06/2017. Aprovado em 07/06/2017 Avaliado pelo sistema Triple Review: a) Desk Review pelo Editor-Chefe; e b) Double Blind Review (avaliação cega por dois avaliadores da área) Revisão: Gramatical, Normativa e de Formatação

O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar 119 RESUMO Objetivo: Caracterizar o perfil epidemiológico da mortalidade neonatal, na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal em um hospital público de Teresina-Piauí. Métodos: Estudo de natureza descritiva, retrospectivo, quantitativo e censitário, utilizando-se a ficha de investigação e a declaração de óbito do Recém-Nascido de janeiro de 2015 a dezembro de 2015. Resultado: Predominou a faixa etária materna entre 16 e 25 anos de idade; a taxa de óbitos entre filhos de mulheres com escolaridade até o ensino médio; o tipo de parto cesáreo; o Apgar igual ou menor que sete e naqueles com baixo peso ao nascer. Dentre as causas de óbito neonatal, a prematuridade prevaleceu. Em relação às complicações que surgiram durante a gestação, o trabalho de parto prematuro foi o predominante entre as mães. Conclusão: Persiste a necessidade de medidas que visem melhorar a assistência prestada à gestante para auxiliar a redução da mortalidade neonatal. Palavras-Chave: Epidemiológico. Mortalidade. Neonatal. ABSTRACT Objective: To characterize the epidemiological profile of neonatal mortality in the Neonatal Intensive Care Unit (NICU) in a public hospital in Teresina, Piauí. Methods: A census type, descriptive, retrospective and quantitative survey about health situation was carried out using the investigation file and the newborn (RN) death certificate from January 2015 to December 2015. Results: maternal age range between 16 and 25 years old; death rate was higher among children of women with high school; cesarean as childbirth way; Apgar score equal to or less than seven and low birth weight. Regarding the causes of neonatal death, prematurity was predominant. Preterm labor was the most prevalent complication associated to gestation. Conclusion: Necessity for measures to improve the care provided to pregnant women remains, in order to help reduce neonatal mortality. Key Words: Epidemiological. Mortality. Neonatal.

D. W. R. Muniz, M. G. Miranda, A. P. Costa, G. W. F. Lima, E. A. Vale 120 1 INTRODUÇÃO A taxa de mortalidade infantil tem sido considerada como indicador visível às condições sociais e de saúde da população humana, e a mortalidade neonatal hospitalar pode ter grande participação nesses índices (RODRIGUES et al., 2013). Por este prisma, a vulnerabilidade das condições de vida e de acesso a bens e a serviços de saúde muito tem contribuído para constatação dessa realidade, na medida em que os primeiros dias de vida representam um dos períodos de maior risco de morte do ser humano. Sabe-se neste sentido, que a taxa de mortalidade neonatal é definida como o número de óbitos de 0 a 27 dias de vida a cada 1000 nascidos vivos, e a de mortalidade pós-neonatal como o número de óbitos de 28 a 364 dias de vida a cada 1000 nascidos vivos. A primeira tem maior peso, quanto mais desenvolvido for o país em análise (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012). Portanto, para análise da mortalidade neonatal, muitos são os fatores associados. Porém, para facilitar o entendimento pode-se classificá-los em dois grupos: fatores maternos e fatores relacionados ao recém-nascido. No primeiro grupo incluem-se, a idade materna, o número de parte, as visitas ao pré-natal, as morbidades durante a gestação, o uso de fumo na gestação, o uso de corticosteróide antenatal, a corioamnionite e a gemelaridade (VICTORA et al., 2015). O segundo grupo, por sua vez, está relacionado ao peso ao nascimento e à idade gestacional, que têm sido considerados os principais indicadores de morte no período neonatal, como também ao escore de Apgar, crescimento intrauterino, sexo, uso de surfactante pulmonar, uso de ventilador mecânico e uso de nutrição parenteral (SARINHO; FILHO; LIMA, 2015). Assim, o presente estudo objetiva caracterizar o perfil epidemiológico da mortalidade neonatal na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) em um hospital público de Teresina, para que possa servir de instrumento de análise institucional quanto ao tema em foco, assim para de embasar o conhecimento dos profissionais da saúde, acadêmicos e da área e a população em geral, sobre a importância do enfrentamento do problema apontado e, por fim porém, não menos importante ser útil aos operadores do setor de saúde e no sentido de sensibiliza-los para implementar medidas capazes de solucionar ou, pelo menos, amenizar os problemas detectados.

O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar 121 Diante destas considerações, surgiu o seguinte questionamento de pesquisa: Qual o perfil epidemiológico dos óbitos neonatais registrados em uma maternidade pública de Teresina-PI? Resta salientar a relevância deste estudo, na medida que poderá incentivar outras pesquisas científicas e proporcionar uma ampla e fundamentada discussão acerca da mortalidade neonatal. 2 MÉTODO Trata-se de estudo de levantamento de situação de saúde, de natureza descritiva, retrospectivo e quantitativo, a partir das fichas de investigação e a declarações de óbito do RN de janeiro de 2015 a dezembro de 2015. O estudo foi realizado em uma Maternidade de referência de Teresina-Piauí e foi do tipo censitário. Foram avaliados os prontuários de todos os pacientes diagnosticados com óbito de RN (zero até 27 dias de nascido), como também os prontuários das respectivas mães, no período estudado, totalizando 301 pacientes. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro estruturado, tabulado e posteriormente, transcrito para uma planilha elaborada de acordo com o objetivo proposto pelo estudo, com os dados da ficha de investigação e a declaração de óbito do RN existentes na maternidade. Os dados foram coletados no mês de julho 2016. Utilizou-se como variáveis maternas: faixa etária, escolaridade, tipo de parto e morbidades durante a gestação. As discussões relacionadas ao RN são: índice de Apgar, peso ao nascer, causa de óbito e sexo. O trabalho foi pautado na Resolução 466/2012, que trata de estudos com seres humanos, e foi submetido ao Conselho de Ética e Pesquisa da Facid e da instituição onde foi realizada a pesquisa, que foi registrada na Plataforma Brasil. Foram utilizados o Termo de Consentimento Institucional (TCLE) e o Termo de Fiel Depositário (TFD). 3 DISCUSSÃO E RESULTADOS Inicialmente, em relação às mães dos RNs, observou-se que 53,15% dessas mulheres estão na faixa etária entre 16 e 25 anos de idade; 37,21% entre 26 e 35 anos; 7,97% com idade superior a 36 anos e 1,67% com 15 anos ou menos (Tabela 1). Desta forma, percebe-se a prevalência da faixa etária materna entre 16 e 25 anos de idade. Nota-se que existem condições favoráveis a uma gestação saudável tanto para a mãe quanto para o feto, pois as possibilidades de complicações nesta faixa etária são bem mais

D. W. R. Muniz, M. G. Miranda, A. P. Costa, G. W. F. Lima, E. A. Vale 122 baixas do que naquelas com idade mais avançadas. Esses dados corroboram com o estudo feito por Rodrigues et al, no qual as mães com idade entre 16 e 25 anos tiveram uma maior porcentagem, seguida pelas mães entre 26 e 35 anos, nos óbitos neonatais (RODRIGUES et al., 2013). Em relação à escolaridade, registrou-se que 37,87% das mães têm o ensino médio; 36,88% o fundamental; 13,29% foram ignorados ou sem registros; 4,32% sem escolaridade; 3,99% ensino superior incompleto e 3,65% cursaram superior completo. Os dados demonstram a elevada prevalência dos óbitos entre as mães que apresentam o ensino médio. O maior nível de escolaridade das mães do estudo pode interferir no entendimento de possíveis complicações que surgem durante a gravidez, facilitando a compreensão sobre os cuidados que se deve ter em relação a possíveis intercorrências na gestação. Dentro desta perspectiva, a literatura aponta que a escolaridade é fundamental para a eficácia das ações de promoção e prevenção de saúde através da qual se adquirem conhecimento e entendimento de determinados fatores de risco para a saúde, e a vida da população. Diante disso, à medida que se utiliza uma linguagem compatível com o grau de instrução da comunidade, gera-se uma melhor orientação e, consequentemente, uma assistência mais eficaz para a população (AGUIAR, 2011). Em relação ao tipo de parto, os dados mostram que 59,47% das mães tiveram um parto cesáreo e 40,53% parto normal. A pesquisa mostra que o parto cesáreo foi predominante, isso pode ser decorrente o parto cesáreo ter uma maior possibilidade de complicações ao RN como morbidades respiratórias, internação na UTI neonatal, encefalopatia hipóxica-isquémica, hemorragia intracraniana e aumento de mortalidade neonatal (LAGES, 2012). Contrariando os dados da pesquisa Soares, em seu estudo, relatou uma maior proporção nos óbitos de RNs cujas mães foram submetidas a parto vagina (SOARES; MENEZES, 2010), sendo que, para alguns, o parto cesariano tem sido julgado como fator protetor de saúde para os neonatos (MARAN; UCHIMURA, 2008).

O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar 123 Tabela 1 - Fatores Maternos relacionados a mortalidade neonatal em um ambiente hospitalar. Teresina-PI. 2015. Variável n % Faixa Etária 15 anos ou 5 menos 1,67 Entre 16 e 25 160 53,15 anos Entre 26 e 35 112 37,21 anos Acima de 36 24 anos 7,97 Escolaridade Sem escolaridade 13 4,32 Fundamental 111 36,88 Médio 114 37,87 Sup. Incompleto 12 3,99 Sup. Completo 11 3,65 Ignorado 16 5,32 Sem registro 24 7,97 Tipo de parto Cesário 179 59,47 Vaginal 122 40,53 Quanto ao índice de Apgar, notou-se que 51,16% apresentaram o índice menor ou igual a sete; 41,86% maior do que sete e 6,98% sem relato nos primeiros 5 minutos. Visto que esse índice tem uma estreita relação com alterações indesejáveis para o RN, o predomínio de Apgar igual ou menor que sete sugere que esse valor, no estudo em questão, pode contribuir para a debilitação do quadro de saúde do bebê, consequentemente, levando-o, possivelmente, á óbito. Além disso, o estudo feito na sala de parto de uma maternidade do Rio de Janeiro constatou que o percentual dos óbitos neonatais com o Apgar igual ou menor do que sete foi de 99%; desta forma, percebe-se uma forte relação com o grau de sobrevida do RN (OLIVEIRA; LLERENA JUNIOR; COSTA, 2013). A amostra do estudo revelou que 39,54% dos RNs que foram ao óbito nasceram com o peso entre 1000g e 2500g, seguido por 37,54% com peso abaixo de 1000g e, por último,

D. W. R. Muniz, M. G. Miranda, A. P. Costa, G. W. F. Lima, E. A. Vale 124 22,92% com peso acima de 2500g. Nesta mesma perspectiva, notou-se que a prevalência de RNs com baixo peso proporciona maiores chances de complicações que afetam a saúde dos bebês e, por sua vez, pode levar ao óbito. Neste sentido, pesquisas afirmam que a prematuridade e o baixo peso têm uma estreita relação com os óbitos neonatais, principalmente o extremo baixo peso ao nascer (LANSKY et al., 2014). De acordo com a organização mundial de saúde, o recém-nascido de baixo peso é aquele que apresenta o peso ao nascer inferior a 2500g. O peso ao nascer é um dos principais indicadores que interferem na saúde e sobrevida infantil. O peso ao nascer é um dos indicadores de maior influência na saúde e sobrevivência infantil, já que dados epidemiológicos destacam que crianças que nascem com peso abaixo desse limite retratam um maior risco de óbito, comparadas as que nascem com peso adequado (VICTORA et al., 2015). Em relação às causas dos óbitos, o diagnóstico de maior prevalência foi a prematuridade, com percentual de 32,22%; 25,25% destes foram acometidos por anomalias; 13,62% infecções perinatais; 7,65% deslocamento prematuro da placenta; 5,65% síndrome aspirativa de mecônio; 3,65% doença hipertensiva específica da gravidez e outros; 2,66% amniorrexe prematura e gemelaridade; 1,66% doenças pulmonares e 1,33% sepse neonatal (Tabela 2). Tabela 2. Fatores dos neonatos relacionados à mortalidade neonatal em um hospital. Teresina- PI, Brasil. 2016. Variável n % Indice de Apgar Menor ou igual a 154 51,16 7 Maior do que 7 126 41,86 Sem relato 21 6,98 Peso ao nascer Abaixo de 1000g 113 37,54 Entre 1000 e 119 39,54 2500g Acima de 2500g 69 22,92 Causas de óbitos Infecções perinatais 40 13,29 Prematuridade 97 32,22 Amniorrexe prematura 8 2,66 Doenças 5 1,66

O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar 125 pulmonares Anomalias 76 25,25 Sepse neonatal 4 1,33 Síndrome asp. 17 De mecônio 5,65 Deslocamento prepaturo 23 7,64 Gemelaridade 8 2,66 Outros 12 3,99 Doença hipertensiva 11 específica da 3,65 gravidez Total 301 100 Sexo Feminino 138 45,84 Masculino 157 52,16 Ignorado 8 2 Complicações ITU 87 17,54 TPP 117 23,59 RPM 59 11,89 Gestação multípara 31 6,25 DPP 23 4,64 Sífilis 6 1,21 Anomalias 47 9,48 DHEG 68 13,71 Hemorragias 17 3,43 Diabetes gestacional 4 0,81 CIUR 15 3,02 Outros 22 4,43 Ademais, Lansky (2014) mostrou em seu estudo que as principais causas de óbitos neonatais era a prematuridade (correspondendo a 1/3 dos casos), seguidos por anomalias, as infecções, os fatores maternos e asfixia /hipóxia. Neste sentido, a literatura sustenta que as principais causas de óbitos são prematuridade, a malformação congênita, a asfixia intra-parto, as infecções perinatais e os fatores maternos, com uma porcentagem considerável de mortes preveníeis por ação de serviços de saúde (FRANÇA; LANSKY, 2009).

D. W. R. Muniz, M. G. Miranda, A. P. Costa, G. W. F. Lima, E. A. Vale 126 Em relação às complicações que surgiram durante a gestação, o trabalho de parto prematuro foi o de maior prevalência, com um percentual de 23,59%; seguido da infecção do trato urinário, com 17,54%; da doença hipertensiva específica da gravidez com 13,71%; da ruptura prematura da placenta, com 11,89%. As demais complicações foram: 9,48% anomalias; 6,25% gestação multípara; 4,64% deslocamento prematura da placenta; 4,43% outros; 3,43% hemorragias; 3,02% crescimento intrauterino restrito e 1,21% sífilis e diabetes gestacional. Dados da literatura afirmam que as complicações na gravidez que influenciam o recém-nascido estão relacionadas ao maior número de mortes neonatais reduzíveis por adequada atenção à mulher, atingindo um total de 40 (51,28%) óbitos neonatais (BRANDÃO; GODEIRO; MONTEIRO, 2012). Portanto, possíveis investimentos na melhoria da qualidade da atenção pré-natal proporcionada, buscando combater as complicações da gestação, pode reduzir mortalidade neonatal. Em relação ao tipo de sexo na amostra, notou-se que prevaleceu o sexo masculino (53,16%) comparado com o feminino (46,84%). Araújo e colaboradores concluíram que o sexo tem uma associação com o óbito neonatal, com prevalência do masculino. Segundo os autores da pesquisa, a explicação para a menor mortalidade do sexo feminino seria o amadurecimento mais precoce do pulmão fetal, tendo como consequência, diminuição de problemas respiratórios, que estão entre as principais causas de óbito neonatal (ARAÚJO; BOZZETI; TANAKA, 2000). Constatou-se que a mortalidade neonatal é mais frequente em pacientes jovens com nível regular de escolaridade e que foram submetidas ao parto normal. Quanto à mortalidade dos recém-nascidos, a maioria apresentou Apgar inferior a sete no 5º minuto e que as causas estavam relacionadas à prematuridade. Portanto, estratégias implementadas pelo poder Público e pela rede de saúde podem colaborar significativamente com a diminuição da mortalidade neonatal, através do acompanhamento das gestantes e dos RNs, como também a realização de atividades educativas como, por exemplo, a Estratégia da Saúde da Família. Assim, essas ações de controle com o intuito de melhorar a assistência prestada a gestante no pré-natal, parto e puerpério, podem proporcionar a redução da mortalidade neonatal.

O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar 127 REFERÊNCIAS AGUIAR, J. B. Fatores de risco para mortalidade neonatal, em hospital de referência. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública do centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza. 2011. ARAÚJO, B. F; BOZZETI, M. C; TANAKA, A. C. A. Mortalidade neonatal precoce no município de Caxias do Sul: um Estudo de Coorte. Jornal de Pediatria.; v. 76, n. 3, p. 200-206. 2000. BRANDÃO, I. C. A; GODEIRO, A. L. S; MONTEIRO, A. I. Assistência de enfermagem no pré-natal e evitabilidade de óbitos neonatais. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, dez; v. 20, n. 1, p. 596-602. 2012 FRANÇA, E; LANSKY, S. Mortalidade infantil neonatal no Brasil: Situação, tendências e perspectivas. In: Rede Interagencial de Informações para Saúde, organizador. Demografia e saúde: contribuição para análise de situação e tendências. Brasília: Organização Pan- Americana da Saúde; p. 83-112. (Série G. Estatística e Informação em Saúde) (Série Informe de Situação e Tendências). 2009. LAGES, A. M. S. Parto por cesariana: consequências a curto e longo-prazo. Mestrado Integrado em Medicina. Março. 2012. LANSKY, S. et al. Pesquisa Nascer no Brasil: perfil da mortalidade neonatal e avaliação da assistência à gestante e ao recém-nascido. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p.192-s207, 2014. MARAN, E; UCHIMURA, T. T. Mortalidade Neonatal: fatores de risco em um município no sul do Brasil. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. v. 10, n. 1. P. 29-38. 2008. OLIVEIRA, A. R. R, LLERENA JUNIOR, J. C.; COSTA, M. F. S. Perfil dos óbitos de recém-nascidos ocorridos na sala de parto de uma maternidade do Rio de Janeiro, 2010-2012. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 22, n. 3, p. 501-508, jul-set 2013. RODRIGUES, R. B, et al. Neonatal mortality: na epidemiological study in a public maternity. Rev enferm UFPE on line., Recife, v. 7, n. 10, p. 5968-75, out., 2013. SARINHO, S. W; FILHO S. G. A; LIMA M. C. Fatores de risco para óbitos neonatais no Recife: um estudo caso-controle. J Pedatric, Rio de Janeiro, v.77. n. 4, p. 294-298, 2001. SOARES, E. S; MENEZES G. M. S. Fatores associados à mortalidade neonatal precoce: análise de situação no nível local. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 19, n. 1, p. 51-60, janmar 2010. VICTORA, C. G, et al. Tendências e diferenciais na saúde materno-infantil: delineamento e metodologia das coortes de 1982 e 1993 de mães e crianças de Pelotas, Rio Grande do Sul. Cad Saúde Pública: v.12, v. 1, pg. 7-14. 1996;

D. W. R. Muniz, M. G. Miranda, A. P. Costa, G. W. F. Lima, E. A. Vale 128 WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Born too soon: the global action report on preterm birth [Internet]. Geneva; 2012 [cited 2014 June 20]. Como Referenciar este Artigo, conforme ABNT: MUNIZ, D. W. R; MIRANDA, M. G; COSTA, A. P; LIMA, G. W. F; VALE, E. A. O Perfil Epidemiológico de Mortalidade Neonatal no Ambiente Hospitalar. Rev. Saúde em Foco, Teresina, v. 4, n. 2, art. 7, p. 118-128, jul./dez.2017. Contribuição dos Autores D. W. R. M. G. A. P. G. W. F. E. A. Muniz Miranda Costa Lima Vale 1) concepção e planejamento. X X X X X 2) análise e interpretação dos dados. X X X X X 3) elaboração do rascunho ou na revisão crítica do conteúdo. X X X X X 4) participação na aprovação da versão final do manuscrito. X X X X X