UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA XIV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA XIV CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA MARCOS RODRIGO DE OLIVEIRA SOKOLOSKI ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS TEÓRICOS E DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO FLORIANÓPOLIS (SC) 2012

2 MARCOS RODRIGO DE OLIVEIRA SOKOLOSKI ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS TEÓRICOS E DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO Monografia apresentada ao XIV Curso de Especialização em Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Saúde Pública. Orientadora: Profª. Dra. Marta Verdi FLORIANÓPOLIS (SC) 2012

3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA XII CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA ANÁLISE DOS DISPOSITIVOS TEÓRICOS E DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO MARCOS RODRIGO DE OLIVEIRA SOKOLOSKI Essa monografia foi analisada pelos professores e julgada e aprovada para obtenção do grau de Especialista em Saúde Pública no Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, 12 de abril de 2012. Profª Dra. Jane Maria de Souza Philippi Coordenadora do Curso Profª. Dra. Marta Verdi Orientadora do trabalho

4 RESUMO Este estudo apresenta uma revisão da literatura do marco teórico-metodológico que sustenta o processo de formação e capilarização da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde lançada pelo Ministério da Saúde em 2003. Aborda o contexto em que se deu a emergência da PNH, seu método de formação de apoiadores da política, revelando os desafios enfrentados no cotidiano do Sistema Único de Saúde e as estratégias traçadas para o seu enfrentamento. Palavras-chave: Política Nacional de Humanização; Sistema Único de Saúde; Saúde pública. INTRODUÇÃO Diz nossa Carta Magna que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Essa foi uma grande conquista dos movimentos sociais democratizantes ocorridos na década de 1980. E para que isso fosse posto em prática, foi criada em 1990 a legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) que deu execução à atenção em saúde, conferindo-lhe universalidade, integralidade e equidade. Com ela, assumiu-se a visão de que saúde não se confunde com a simples ausência de doença, mas sim com um conjunto de fatores determinantes e condicionantes para a promoção de bem-estar físico, mental e social. Desde a sua instituição, o SUS tem enfrentado e superado grandes obstáculos e desafios no âmbito da formulação das políticas, na mudança de modelo de saúde buscando debater e superar o esgotamento do modelo biomédico. Porém, ao mesmo tempo em que evolui, acumula dificuldades de acesso aos bens e serviços de saúde, associadas a um processo de precarização das condições de trabalho dos trabalhadores da saúde e a consequente desqualificação da atenção, fato agravado pela enorme desigualdade socioeconômica encontrada no país. Para enfrentar esse cenário que se formou, o Ministério da Saúde lançou em 2003 a Política Nacional de Humanização (PNH) HumanizaSUS -, que se caracteriza pela reforma dos modelos de atenção à saúde e sua gestão, tendo como base a tríplice

5 inclusão de seus atores gestores, trabalhadores e usuários em todos os processos de ação política e institucional do SUS. Dessa forma, torna-se importante analisar os principais fatores que levaram o SUS ao atual entrave em suas relações gestor-trabalhador-usuário; bem como a Humanização como política pública e os meios de disseminação da política nos espaços de atenção e de gestão.. O SUS DESUMANIZADO Há vinte e dois anos, a Lei Orgânica da Saúde foi concebida para dar executoriedade às normas programáticas contidas na Constituição Federal no que diz respeito aos direitos sociais à saúde. Porém, no cenário atual verificam-se graves problemas na relação gestor-trabalhador-usuário, que passam pela burocratização do sistema, baixa participação social, desvalorização dos trabalhadores de saúde, entre outros. (BRASIL, 2008) A tradição brasileira de saúde pública teve como base a experiência norteamericana, que se baseia no modelo Flexneriano especialismo, foco na doença e uso intensivo de insumos biomédicos. A atenção básica, a partir desse entendimento, passou a ser compreendida como atenção primária seletiva, voltada para populações pobres. (BRASIL, 2010a) Desta forma, a atenção à saúde passou a se caracterizar por baixos investimentos em educação permanente dos trabalhadores, com consequente despreparo desses profissionais para lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de saúde pressupõe, gerando uma fraca interação entre equipes e frágil vínculo com os usuários. (BRASIL, 2008) A partir disso, encontramos um SUS com problemas relativos ao acesso dos usuários, à falta de qualidade nos serviços, a precarização das condições de trabalho, que acaba fomentando um processo que se caracteriza pela insensibilidade dos trabalhadores frente ao sofrimento das pessoas, os tratamentos desrespeitosos, o isolamento das pessoas de suas redes sócio-familiares nos procedimentos, consultas e internações, e as práticas de gestão autoritária. Na perspectiva da PNH, todas essas características derivam de condições precárias da organização dos processos de trabalho (BRASIL, 2010b).

6 A HUMANIZAÇÃO COMO POLÍTICA A humanização vista como política pública estrutura-se na valorização dos diferentes sujeitos envolvidos na atenção à saúde. Essa valorização baseia-se na autonomia, protagonismo e corresponsabilidade entre os sujeitos na busca da identificação das necessidades sociais de saúde, de forma a promover mudanças nos modelos de atenção e gestão. A humanização desejada se espelha em um SUS que reconhece a diversidade do povo brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde de modo mais acolhedor, ágil e resolutivo. Para isso, a PNH se operacionaliza principalmente com a troca e a construção de saberes através de diferentes espaços de encontro entre sujeitos, possibilitando o trabalho em rede com equipes multiprofissionais/transdisciplinares. Essa troca de saberes promove a identificação das necessidades, desejos e interesses dos diferentes sujeitos do campo da saúde. As ações da PNH visam ao resgate dos fundamentos básicos que norteiam as práticas de saúde no SUS, dentre eles o fortalecimento do controle social e a valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente. A PNH se estrutura a partir dos princípios da Transversalidade; Indissociabilidade entre atenção e gestão; e Protagonismo, Corresponsabilidade e Autonomia dos Sujeitos e dos Coletivos. Tudo isso pressupõe a transformação das relações entre os sujeitos ligados à saúde, de modo a promover a vinculação entre atenção à saúde e gestão, respeitando e acolhendo ao sistema de trabalho a capacidade de cada indivíduo. (BRASIL, 2008) IMPLANTAÇÃO DA PNH A capilarização da Política Nacional de Humanização pressupõe vários eixos de ação que objetivam a institucionalização da estratégia e, principalmente, a apropriação de seus resultados pela sociedade, colocando no primeiro plano as pessoas, seus interesses, desejos e necessidades. Nesse sentido, a PNH busca a sua introdução nas instituições do SUS de maneira ampla, abarcando a gestão do trabalho de modo a assegurar aos trabalhadores a participação nos processos de discussão e decisão, promovendo sua valorização e desenvolvimento profissional. Propõe ainda ações

7 integrais, promocionais e intersetoriais de saúde, resultando em aumento de autonomia e protagonismo dos sujeitos. (BRASIL, 2008) No eixo da educação permanente em saúde, a PNH deve ser incluída como conteúdo curricular dos cursos de graduação, pós-graduação e extensão em saúde, visto que há senso comum de que faltam aos profissionais, em virtude de suas formações, conhecimentos para intervenções em grupos e coletivos. (BRASIL 2008; 2010a) Nesse sentido, a PNH encontra na atenção básica o espaço ideal para a qualificação do SUS como política pública, sendo considerada estratégica para a reorganização e ampliação da efetividade dos sistemas de saúde. Isto porque favorece a produção de vínculos terapêuticos entre sistema/equipes e usuários/redes sociais; e exatamente essa vinculação com corresponsabilização é que permite a organização de cuidado em rede em sintonia com as singularidades das situações. (BRASIL, 2010a; 2010b) Na perspectiva da PNH, o diferencial proposto na discussão da atenção é a construção de composições que resultem em entendimento comum, do ponto de vista de trabalhadores, usuários e gestores da saúde, apontando para o caminho do SUS que dá certo. Numa compreensão diferente da atenção minimalista, a atenção básica passa a ser vista como espaço de produção de mudanças no sistema de saúde brasileiro. (BRASIL, 2010a) Nesse contexto é que entra o processo de formação de apoiadores institucionais, que contribuem para a problematização de realidades do SUS, construindo com as equipes de saúde mudanças nas formas de lidar com problemas e desafios encarados no cotidiano da atenção à saúde. Dessa interação surgem analisadores sociais capazes de refletir sobre os desafios que se apresentam rotineiramente no ambiente de trabalho da saúde de maneira autônoma e responsável. A formação de apoiadores consiste num importante meio de consolidação e capilarização da PNH. Todos os processos de formação são estratégicos para implementação da Política, entretanto alguns se propõem a formar apoiadores enquanto outros podem desenvolver atividades pontuais que criem condições para tanto. Os processos de formação se dão a partir de cursos, oficinas de difusão, seminários, etc. (BRASIL, 2010b) CONCLUSÃO

8 Considerando que a Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS apresenta-se como uma estratégia transformadora do SUS no seu processo dinâmico de evolução. Os resultados esperados com a implantação da PNH apontam para o crescimento do controle social sobre as políticas de saúde; para uma participação protagonista dos trabalhadores não só no fazer, mas também no pensar saúde. Apontam para a quebra da verticalização gestora, criadora de barreiras; para o fim da despersonificação nos atendimentos; e, portanto, para um SUS acolhedor, mais humano, tomador de uma visão ampliada de saúde. REFERÊNCIA BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política de Humanização. HumanizaSUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 4. ed. Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Cadernos HumanizaSUS. Atenção Básica. v.2 Brasília, 2010a. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Cadernos HumanizaSUS. Formação e intervenção. v.1 Brasília, 2010b.