MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO 4º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO Nº. 1.26.000.001453/2014-03. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO Cuida-se de procedimento preparatório instaurado com base em representação eletrônica formulada por Natália Cristina Mendes da Silva Santos, pela qual noticiou supostas irregularidades no concurso público do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA, organizado pela CONSULPLAN. A representante narra, em síntese, que: a) houve completo descaso e abuso cometido durante a realização das provas pelos representantes da organizadora CONSULPLAN, comprometendo a lisura do certame; b) durante a realização das provas do referido concurso público regido pelo Edital nº 1, de 21 de janeiro de 2014, em 04/05/2014, a organizadora do certame violou vários dispositivos do edital, pois houve a identificação dos candidatos na prova discursiva, uma vez que o gabarito da prova objetiva estava no verso de onde a redação deveria ser redigida, tendo os candidatos sido orientados a assinar o gabarito; c) foi permitida aos candidatos a utilização das folhas do comprovante de inscrição para anotações referentes ao gabarito, bem como para rascunho da prova discursiva, não tendo havido qualquer conferência pelos fiscais, ou seja, os candidatos poderiam estar com anotações nas folhas; Av. Gov. Agamenon Magalhães, nº 1800 - Espinheiro Recife - PE - CEP 52021-170 Fone/fax: (81) 2125-7300
2 d) por meio das redes sociais, achou notícia de ocorrência de irregularidades em várias capitais do país, podendo citar: i) não ter sido solicitado RG de algumas pessoas para conferência; ii) aparelhos celulares tocaram durante a prova e os candidatos não foram eliminados; iii) permitiram o uso de lápis e borracha apesar da vedação do edital; e iv) permitiram o uso de relógio de pulso, também contrariando o edital. Outros candidatos representaram noticiaram à possíveis irregularidades no mesmo certame, o que deu ensejo à instauração das notícias de fato nº 1.26.000.001454/2014-40, 1.26.000.001455/2014-94, 1.26.000.001456/2014-39, 1.26.000.001551/2014-32, 1.26.000.001552/2014-87, 1.26.000.001553/2014-21, 1.26.000.001554/2014-76, 1.26.000.001555/2014-11, todas encerradas, restando os autos respectivos apensados fisicamente ao presente procedimento preparatório, em razão da identidade do objeto. Os autos 1.26.000.001555/2014-11 tratam, por sua vez, de representação eletrônica formulada por Gabriel Barbosa do Nascimento, por meio da qual relatou que diversos candidatos estariam encaminhando ao Ministério Público notícias de irregularidades no concurso público promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA, regido pelo Edital nº 1, de 21 de janeiro de 2014, organizado pela empresa CONSULPLAN, com o objetivo de verem as provas anuladas e terem uma segunda chance. Aduziu esse noticiante que tal intuito é evidenciado pelo fato de as representações somente terem se iniciado depois da divulgação do gabarito pela organizadora e sustenta que, se tivessem presenciado irregularidades no dia das provas, deveriam tê-las registrado em ata, na presença de testemunhas. Ademais, consoante consignado no despacho de f. 10-12, em outros Estados do Brasil os candidatos noticiaram as mesmas irregularidades, havendo, portanto, indícios de que as condutas não foram locais. Como providência instrutória inicial, requisitou-se da CONSULPLAN e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA que prestassem esclarecimentos detalhados sobre os fatos noticiados na representação. Em resposta, por meio do Ofício n. 468/2014/GAB/SE-MAPA, o Secretário Executivo do MAPA informou que a demanda teria sido encaminhada à Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e
3 Administração SPOA, para conhecimento e adoção das providências pertinentes (f. 63). Por sua vez, a CONSULPLAN encaminhou os documentos de f. 65-91, esclarecendo que: a) não há nenhum motivo para anulação da prova do concurso do Ministério da Agricultura, em face dos fatos ali articulados; b) quanto à notícia de identificação dos candidatos, o que se pretendeu, no edital, foi deixar claro que na folha de respostas da prova discursiva não poderia haver nenhuma identificação do candidato, não decorrendo prejuízo, porém, do fato de ter sido utilizada uma folha em frente e verso para o cartão de respostas e o texto da prova discursiva; c) o corretor não tem acesso ao cartão de respostas da prova objetiva, uma vez que, ao ser desembalada para processamento, a prova é imediatamente escaneada, sendo providenciada naquele momento, a direção de cada uma delas: as respostas objetivas seguem para leitura ótica e a prova subjetiva segue online para o professor corretor (este, portanto, não tem acesso ao verso da folha que lhe foi encaminhada); d) o processamento e sistema de correção utilizado pela CONSULPLAN é similar ao adotado pela CESPE, que no Enem de 2010 foi questionada; porém, após os devidos esclarecimentos, foi proferida decisão de arquivamento do PA nº 1.26.000.002752/2010-23 instaurado pelo MPF de Pernambuco; e) qualquer folha discursiva, de qualquer concurso público realizado no país, possui algum código que identifica o candidato, uma vez que evidentemente as notas dadas pela banca precisam ser atreladas aos respectivos candidatos para o processamento do resultado; f) a metodologia de aplicação das provas discursivas respeitou integralmente os termos do edital, não havendo qualquer elemento que identifique o candidato concorrente na folha utilizada para a transcrição da dissertação; g) com relação ao relato de que diversos procedimentos de segurança foram ignorados durante a aplicação das provas, como, por exemplo, a falta de identificação do candidato ao entrar na sala, a permissão para utilizar lápis e borracha, a não eliminação do candidato quanto o celular do mesmo tocou e a permissão para o
4 uso de relógio de pulso, tais assertivas constituem meras ilações, já que o noticiante em momento algum informa que tais acontecimentos ocorreram no seu local de realização de prova, sendo tais fatos articulados por terceiros, tratando-se de boatos que não chegaram ao conhecimento da CONSULPLAN e nem registrados em ata. É o que se põe em análise. Após regular instrução, verifica-se que não subsiste necessidade de dar continuidade ao presente procedimento. Com efeito, com relação à irregularidade mais grave apontada - a única concretamente identificada pelos representantes - qual seja, a de possível identificação, pela banca corretora da CONSULPLAN, das provas subjetivas dos candidatos, em razão de a prova objetiva e subjetiva se encontrarem na mesma folha em frente e verso, em pesquisa no Sistema Aptus, vê-se que, por se tratar de concurso de âmbito nacional, muitos já são os procedimentos instaurados especificamente para apurar o específico tal questão (anexo). Trata-se de questão não regionalizada, mas, pelo contrário, de procedimento adotado nos mesmos parâmetros em todo o território nacional, o qual é objeto de apuração em de diversos outros procedimentos já instaurados no âmbito do MPF. Cita-se, por exemplo, o Procedimento Preparatório n. 1.18.000.000968/2014 PRGO, instaurado anteriormente ao presente, no qual foi proferida decisão de arquivamento cujos termos se transcrevem, parcialmente, abaixo: (... ) Instada a manifestar-se, a Secretaria- Executiva do MAPA encaminhou ofício da banca examinadora (CONSULPLAN), informando que: na prova discursiva não poderiam haver nenhum tipo de identificação do candidato, uma vez que ( ) o corretor não tem acesso ao cartão de resposta da prova objetiva, uma vez que ao ser desembalado para processamento, a prova é imediatamente escaneada, sendo provida naquele momento a direção de cada uma delas. As respostas objetivas seguem para leitura ótica; a prova segue online para o professor corretor. ( ) o material físico, folhas de respostas, são encaminhados para o arquivo e os procedimentos de
5 processamento de resultado e correção são feitos de forma virtual. e) Ato contínuo, uma vez retirada as imagens, as folhas de texto da redação são enviadas para o programa de correção, que somente a Banca Examinadora tem o link de acesso, login. ( ) f) Acessando o sistema, o Professor irá fazer a correção das provas discursivas, totalmente feita on line, que recebe, via sistema, apenas e tão somente a face da referida prova, sem nenhuma identificação. (sic) É o relato necessário. Ao teor das informações prestadas pela representada, não se aquilata ilicitude que justifique a continuidade da atuação desta Procuradoria da República, conforme passo a argumentar. Pois bem, lição comezinha do direito público ensina que a Administração Pública, em todas suas atividades, deve pautar-se pelos princípios constitucionais da publicidade, legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência, corolários do princípio republicano, impondo-se, consequentemente, a interagir com os cidadãos com equidade e isonomia, sem distinção de nenhuma natureza (artigos 1º e 37, caput, da Constituição Federal). Nesse sentido, para que a Administração Pública trate isonomicamente os candidatos em concurso público, são estabelecidas regras, previstas no edital e em atos administrativos complementares, que regem o certame. Na hipótese dos autos, aquilata-se que as regras gerais do concurso público deflagrado pelo Edital MAPA nº 01/2014 foram atendidas satisfatoriamente. A coleta da assinatura do candidato na folha da prova objetiva é necessária para comprovação de que foi realmente respondida por ele. O verso da folha, que contém a prova discursiva, por sua vez, não conta com nenhuma identificação. Dessa forma, os corretores não têm como identificar o candidato, autor da prova discursiva, haja vista que, no processo de digitalização das imagens para correção da redação, a identificação do estudante é retirada. Ademais, são 412.118 (quatrocentos e doze mil, cento e dezoito) candidatos em todo o país 1, o que torna mínima 1 Cf.: <http://www.consulplan.net/concursos/398/23.pdf>. Acesso em 26 de maio de 2014.
6 a probabilidade da prova discursiva de um candidato ser corrigida por uma pessoa específica. Assim, forçoso reconhecer que não há, neste ponto, nenhuma irregularidade editalícia, erro material manifesto ou outra impropriedade que determine a atuação desta Procuradoria da República. (sublinhamos) Por sua vez, com relação às demais irregularidades apontadas pelos representantes, vê-se que, de fato, trata-se de meras ilações, originadas de boatos em redes sociais e grupos de discussão em sites de concursos públicos (f. 6), sem o mínimo de concretude. Note-se que os representantes não indicam ao menos as salas, os candidatos envolvidos e os horários em que as alegadas irregularidades se sucederam, limitando-se a tecer alegações vagas e genéricas. Quanto a essas notícias, portanto, inexistem indícios mínimos da ocorrência de lesão aos direitos da coletividade dos candidatos e interessados, pela CONSULPLAN, a permitir a atuação do Ministério Público Federal. Posto isso, com amparo no art. 9º da Lei n. 7.347/85 e no art. 17, caput, da Resolução n. 87/2006-CSMPF, decido pelo arquivamento deste procedimento preparatório com todos os seus apensos. Comunique-se a presente decisão a todos os noticiantes 2, nos termos do art. 17 da Resolução CSMPF n. 87/2006, cientificando-os, inclusive, da previsão inserta no 3º desse dispositivo. Em seguida, encaminhem-se os autos à 1ª CCR/MPF, no prazo estipulado no 2º do art. 17 da Resolução CSMPF n. 87, de 2006, para fins de revisão. Recife, 16 de junho de 2014. CAROLINA DE GUSMÃO FURTADO PROCURADORA DA REPÚBLICA 2 Representantes de todas as notícias de fato apensadas a estes autos.