O III Cultivando Água Boa/Porã/Agenda 21 da Bacia Hidrográfica do Paraná III, realizado em Foz do Iguaçu, Brasil, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro de 2006, com a presença de 2.300 participantes, aqui nos reunimos para avaliar, refletir e propor ações para a qualidade de vida e meio ambiente, em especial o cuidado com a água na região em que habitamos. Neste encontro, trabalhamos com as idéias, sugestões e recomendações apresentadas, que foram discutidas e consensadas durante as oficinas temáticas, onde construímos, a milhares de mãos, a carta pactos pela vida sustentável, representando os nossos compromissos pessoais e coletivos com as seguintes propostas: 1. GESTÃO POR BACIA HIDROGRÁFICA E MONITORAMENTO PARTICIPATIVO a) Ampliar o programa para a área urbana; b) Elaboração de projetos que viabilizem as pequenas propriedades, do ponto de vista da sustentabilidade (econômico, social e ambiental); e c) Expandir o programa de monitoramento participativo visando diagnosticar e disponibilizar os dados coletados sobre a situação das bacias e identificar pontos representativos e críticos para o desenvolvimento de um programa e monitoramento técnico-científico pelas Instituições de Ensino Superior locais, dessa forma valorizando o desenvolvimento de recurso humano e instituições locais. Ampliação do programa Cultivando Água Boa atingindo todas as áreas da BPIII, Mato Grosso do Sul e bacias adjacentes do Paraguai, com a permanente manutenção, avaliação e fiscalização das ações efetuadas nas microbacias. 1
Elaboração de uma legislação que conceda incentivos fiscais aos municípios que estão ambientalmente adequados ou os passivos zerados pelo governo estadual e federal. 2. DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO SUSTENTÁVEL (AGRICULTURA FAMILIAR, AGRICULTURA ORGÂNICA E DIVERSIFICAÇÃO NO MEIO RURAL). a) Ampliação da Rede de Assistência Técnica, tanto nos municípios já contemplados, quanto naqueles que ainda não possuem este trabalho, ficando esta Rede a serviço da Agricultura Familiar e Orgânica, do Turismo Rural e da produção de Plantas Medicinais e de Culturas Alternativas, difundindo o manejo agropecuário com menor uso de agroquímicos e incentivando uma matriz de produção limpa; b) Criação de Programas de divulgação da Agricultura Familiar e Orgânica, das Plantas Medicinais, das Culturas Alternativas e do Turismo Rural nos diferentes meios de comunicação; e c) Formulação de políticas públicas que integrem e incentivem as áreas de Meio Ambiente, Saúde, Agricultura Familiar e Orgânica, Educação, Culturas Alternativas e Turismo Rural, aumentando a participação das prefeituras e demais parceiros públicos e privados, visando principalmente: conquistar linhas de credito específicos para esses setores e acessar o mercado institucional nas esferas municipal, estadual e federal. Apoiar e fortalecer os processos de agrotransformação e de comercialização dando ênfase: à Compra Direta do produtor, ao Comércio Solidário, à organização de Associações de Consumidores e à ampliação dos pontos de venda, envolvendo o Turismo Rural na comercialização dos produtos da agricultura familiar e orgânica. 2
Elaborar Diagnóstico Ambiental e Plano de Controle Ambiental (PCAs) das Propriedades Orgânicas, replanejando-as na perspectiva do sistema agroflorestal, e buscar apoio junto aos centros de pesquisa para a criação de uma Rede de Informações, socializando-as com todos os parceiros. 3. PLANTAS MEDICINAIS NA ATENÇÃO À SAÚDE a) Incentivar e ampliar a capacitação dos profissionais de saúde, com prioridade à Atenção Básica; b) Informar e orientar a população sobre o uso adequado das plantas medicinais; e c) Incentivar a implantação de arranjos produtivos locais da cadeia de plantas medicinais com prioridade ao Sistema de Saúde. Realização de levantamento etnobotânico e etnofarmacológico das plantas medicinais nativas do bioma de mata Atlântica de Interior para fins de registro do conhecimento tradicional associado, bem como criação e certificação de validação de plantas medicinais e fitoterápicos pelas Universidades, obrigatoriamente as públicas, objetivando o registro de medicamentos na ANVISA e de patentes para laboratórios nacionais. Ter até 2030 na rede pública de assistência a saúde, a garantia e a utilização ampla das plantas medicinais e fitoterápicos, oriundos de arranjos produtivos locais, junto à agricultura familiar orgânica. 4. INCLUSÃO SÓCIOAMBIENTAL (CATADORES, JOVEM JARDINEIRO). a) Viabilizar condições que garantam acesso às políticas sociais, equipe técnica para assessoramento e o aumento de produtividade e renda na coleta 3
seletiva, através de infra-estrutura (barracões, equipamentos, uniformes, crachás, lixeiras, sacos para separação e capital de giro para os empreendimentos) e realização de campanha de divulgação (folder, jornais, cartilhas, outdoor, rádio, mídia televisiva, etc); b) Capacitação dos catadores para sistematização da coleta, separação e destinação e em artesanato utilizando recicláveis, além de visitas a barracões/cooperativas de outros Municípios, priorizando a organização dos catadores em seus Municípios, fomentando a organização regional; e c) Buscar parceria com o MDS (Ministério de Desenvolvimento Social) e empresas privadas (para repasse da bolsa auxilio), viabilizando a ampliação do projeto Jovem Jardineiro. Ampliar os Projetos Socioambientais e viabilizar a rede de comercialização, fomentando a instalação de empreendimentos voltados a reciclagem na região (indústrias), com o objetivo de agregar valor aos materiais recicláveis, disponibilizando para tanto todo o assessoramento técnico e jurídico necessário. Autogestão orientada pelos princípios da economia solidária para todos os envolvidos nos projetos, de forma a garantir renda digna. 5. BIODIVERSIDADE TRINACIONAL a) Implementar ações de educação ambiental e de práticas conservacionistas no entorno do Corredor; b) Linha de financiamento para ações vinculadas ao Corredor (MMA, Araucária, Fapesp, Fundação de Amparo a Pesquisa do Mato Grosso do Sul); e c) reunir representantes dos governos para viabilização do marco legal que estabelece o Corredor Trinacional. 4
Buscar o comprometimento efetivo das administrações públicas dos três países nos estabelecimentos de políticas voltados à consolidação do Corredor Trinacional. Implantar o maior número possível de conexões necessárias ao funcionamento do Corredor Trinacional. 6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SUSTENTABILIDADE NA BACIA HIDROGRÁFICA PARANÁ III Propostas curto prazo a) Implementação da Agenda 21 do Pedaço nas escolas municipais, estaduais, particulares e nas comunidades, garantindo a participação nas decisões e encaminhamentos do seu pedaço; b) Continuidade e fortalecimento no Processo de Formação/FEA, Linha Ecológica, ampliando os segmentos de atuação/formação (gestores municipais, comunicadores, ministério público e órgãos ambientais), promovendo o envolvimento e o comprometimento de toda comunidade; e c) Implementação de ações do Programa de EA na zona urbana, dando continuidade às atividades na/da zona rural. Proposta médio prazo: Criação/formação/potencialização dos Conselhos e Secretarias Municipais de Meio Ambiente, com periodicidade de encontros para avaliação e divulgação dos resultados obtidos. Proposta longo prazo: Os municípios integrantes da BPIII envolvidos e comprometidos com a EA atuando de forma sustentável, visando à qualidade de vida dos seus habitantes. 5
7. PRODUÇÃO DE PEIXES EM NOSSAS ÁGUAS a) Tornar os pescadores agentes ambientais, notadamente em épocas de defeso, através de ajudas de custo, melhoria da infra-estrutura (pontos de pesca e vilas de pescadores) e viabilizar bolsas de estudo aos filhos de pescadores; b) Aumentar o incentivo à aqüicultura através de subsídios para aquisição de insumos, apoio à pesquisa, extensão e capacitação, industrialização do peixe e sub-produtos, marketing do peixe, venda direta à merenda escolar e programas de combate a fome; e c) Promover ações conjuntas entre os governos do Brasil, Paraguai e Argentina, com contribuições técnicas e financeiras, para manutenção dos recursos pesqueiros, através da construção de canais de migração, prioritariamente na Usina Hidrelétrica de Yacyretá, fiscalização rigorosa e efetiva aliada à conscientização para o combate ao pescador predador e ações de manejo pesqueiro estabelecendo o período de defeso, também para espécies exóticas, de outubro a janeiro no lago de ITAIPU. Alteração da legislação para possibilitar a pesquisa e cultivo com espécies exóticas, como a Tilápia que está estabelecida na BP III, incluindo esta espécie nos formulários de estatística pesqueira, bem como desenvolver programas de melhoramento genético com espécies nativas. Estoques pesqueiros bem manejados e preservados, aqüicultura consolidada de forma associativa com atendimento aos princípios técnicos, legais e ambientais, pescadores valorizados e bem instalados, com estudo e renda digna garantida. 6
8. PROGRAMA DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA COM BIOGÁS E SANEAMENTO AMBIENTAL. a) Levar ao Congresso Nacional proposta de Projeto de Lei para incentivar através de recursos, programas de utilização de biomassa residual, como fonte de energia, a ser incorporado no Programa Nacional de Energia, sustentado no Decreto Federal 5.163 de 2004 e na Instrução Normativa da ANEEL 193 de 2005; e b) Relacionar os Programas Governamentais, Federais, Estaduais e Municipais para possibilitar maior divulgação de programas de Geração Distribuída. Incorporar os Programas de Geração Distribuída aos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, para obtenção de créditos de carbono, como preconiza o Protocolo de Kyoto. Viabilizar e difundir o Veículo Elétrico para uso urbano e rural, utilizando energia elétrica obtida da Geração Distribuída com base em Biogás, visando economia de escala e redução de poluentes. 9. COMUNIDADE AVÁ-GUARANÍ a) Viabilizar a aquisição e a regularização fundiária de novas terras destinadas ao Povo Indígena Guarani na área de influência da Itaipu Binacional, com a formação de um Comitê Bi-Nacional (Brasil Paraguai); b) Implantar os subcomites para discutir nas comunidades os assuntos encaminhados ao Comitê Gestor. Com a oficialização da indicação de um representante do Comitê Gestor e das Comunidades Indígenas para participação nas reuniões do GT Saúde; e c) Desenvolvimento de programas e projetos na área de Educação Indígena, fortalecendo auto gestão e auto determinação das comunidades indígenas. 7
Incentivar a criação de uma política destinada a defender a solução dos problemas fundiários indígenas Guaranis no Oeste do Paraná. Que as aldeias indígenas sejam sustentáveis na tríplice fronteira e autônomas na busca do equilíbrio etnobiodiverso. CONCLUSÃO Diante das propostas apresentadas declaramos: É fundamental que façamos a nossa parte para assegurar a qualidade do meio ambiente e a qualidade de vida das populações, em especial o cuidado com a água, como condição de vida presente e das futuras gerações do nosso planeta. Essas propostas estão em sintonia com a Agenda 21 Global, Brasileira e do Paraná, sendo assim, assumimos o compromisso dos princípios da Agenda 21 Instância Regional da Bacia do Paraná III. Foz do Iguaçu, 1º de Dezembro de 2006 8