Camila da Cunha Pereira Sampaio Corrêa. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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Transcrição:

PROJETO DE EXTENSÃO CLASSE HOSPITALAR: ATENDIMENTO PEDAGÓGICO EDUCACIONAL EM AMBIENTE HOSPITALAR ESPAÇO OUTRO DE ATUAÇÃO DOCENTE E SUAS PRÁTICAS E AÇÕES. Camila da Cunha Pereira Sampaio Corrêa Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro E-mail: camila.amora@gmail.com Resumo: O presente artigo apresenta como temática a importância do atendimento pedagógico hospitalar enquanto prática de cidadania e inclusão, através do direito da criança e adolescentes internados ao processo educacional de escolarização. As atividades desenvolvidas no projeto auxiliam as crianças e adolescentes internados em seu desenvolvimento biopsicossocial, servindo como uma ponte, na maioria das vezes, com a realidade anterior a internação vivida por eles e cooperando no sentido de auxiliar no desenvolvimento sócio-afetivo deste aluno/paciente que está impedido de participar de seu meio sociocultural, que inclui a escola. Inicialmente é apresentado um breve relato histórico, através de uma pesquisa de dados sobre a classe hospitalar no Brasil e as leis que vigoram em nosso país a esse respeito. Através de uma narrativa montada com dados de uma pesquisa participante, sobre como o projeto de extensão Classe Hospitalar: Atendimento Pedagógico Educacional em Ambiente Hospitalar atua em prol da inclusão, de modo que este aluno sinta-se menos prejudicado em sua escolarização e no retorno e/ou entrada na escola. Por fim uma reflexão sobre a possibilidade da atuação docente neste espaço que está fora dos muros escolares, porém é também um espaço onde o professor pode e deve problematizar suas práticas e ações com vistas a um trabalho em favor da construção de uma sociedade mais democrática. Objetiva-se enfim, com este artigo, ressaltar a importância de se pensar o hospital como um espaço efetivo à continuidade do processo ensinoaprendizagem dos pacientes internados. Palavras-chave: Classe Hospitalar, Educação Especial, Inclusão, Projeto de Extensão. Introdução O ensino ultrapassa as fronteiras da sala de aula e é através das práticas, entre outras, do projeto de extensão, que podemos observar as contribuições da Universidade para a sociedade, para além da formação dos estudantes. De acordo com Ortiz e Freitas (2001), falar em educação pensando na diversidade nos leva a práticas educativas em espaços considerados não convencionais. Partindo desse princípio podemos falar em escola no hospital. É destacado aqui o projeto de extensão Classe Hospitalar: Atendimento Pedagógico- Educacional em Ambiente Hospitalar, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, desenvolvido no Hospital Universitário Gaffrée Guinle (HUGG) no qual participo como bolsista, onde é proporcionado às crianças e adolescentes internados um atendimento pedagógico.

Segundo definição dada pelo Ministério da Educação o atendimento educacional hospitalar e domiciliar, também denominado Classe Hospitalar, constituiu-se como uma modalidade da Educação Especial de atendimento a alunos que, por motivo de tratamento de saúde, são impedidos de frequentar a sala de aula comum do ensino regular (BRASIL,2002). O projeto nos mostra a importância de se ter no hospital o trabalho do pedagogo em sua atuação como docente e como através de uma formação teórico-prática o profissional de educação têm a oportunidade de experimentar situações que lhe permitem lidar com as diversidades existentes no ambiente hospitalar. Somos um total de quatro estudantes, sendo dois bolsistas (um de BIA e um de extensão) e dois voluntários, e desenvolvemos as atividades com a orientação e coordenação da professora Maria Alice de Moura Ramos. Este estudo elege como tema a Classe Hospitalar, uma modalidade de ensino decorrente da educação especial na perspectiva de inclusão escolar que apesar do amparo legal, ainda enfrenta barreiras para sua implementação. Entretanto o reconhecimento ou mesmo conhecimento sobre esta modalidade de ensino no hospital que se constitui como respeito e direito do cidadão a dar continuidade aos seus estudos, é visto como um projeto de humanização do espaço hospitalar. No Brasil temos leis que defendem e garantem o acesso permanente de crianças e adolescentes ao ambiente escolar tais como A lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA), a própria Carta Magna Brasileira (CF) que, entre outras, de alguma forma abraçam o direito desses educandos de estudarem, de serem formados e preparados para o exercício de cidadania. Dessa maneira, podemos afirmar que foi apoiando-se nessas leis que a Classe Hospitalar encontrou sua base legal, e o atendimento pedagógico hospitalar passou ser exercido. Há registros da classe Hospitalar no Brasil desde 1600 onde o atendimento educacional criado na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo, segundo Caiado (2003 p.73), era destinado ao atendimento escolar de deficientes físicos. Neste mesmo hospital foram localizados relatórios anuais do movimento escolar de alunos deficientes físicos (não sensoriais) que datam de anos a partir de 1931 e em 1982 estavam funcionando, no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, dez classes especiais estaduais. Estas classes funcionam de modo que cada professora tinha uma programação de atendimento individualizado aos 27690 alunos que estavam como pacientes no hospital, contudo os registros se intensificam no Brasil a partir de 1950 quando foi inaugurada a classe hospitalar no Hospital Jesus, localizado no Rio de Janeiro.

A Classe Hospitalar foi reconhecida definitivamente pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1994, através da publicação da Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994) e, posteriormente normalizado entre os anos de 2001 e 2002 com os documentos, também do MEC, intitulados de: Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001) e Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: orientações e estratégias (BRASIL, 2002). O projeto de extensão Classe Hospitalar: Atendimento Pedagógico-Educacional em Ambiente Hospitalar, teve início em março de 2012 na enfermaria pediátrica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle. A professora Maria Alice de Moura Ramos, do Departamento de Fundamentos da Educação, da área da Educação Especial, em parceria com o Dr. Edson Liberal, diretor da Enfermaria Pediátrica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e o apoio da Pró-Reitoria de Extensão iniciou o atendimento pedagógico educacional às crianças e jovens internados na enfermaria pediátrica do HUGG. Sobre os objetivos da Classe Hospitalar Ramos nos diz: Entre os principais objetivos de uma Classe Hospitalar podemos destacar: dar continuidade aos processos de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos hospitalizados; contribuir para o retorno e a reintegração da criança a seu grupo escolar; facilitar o acesso da criança sem escolaridade à escola regular; e, antes de tudo, levar a criança a entender seu cotidiano hospitalar e não perder o vínculo com sua escola de origem. (RAMOS, 2007, pg.12). No projeto de extensão, não temos o vínculo com a escola do aluno e/ou não encaminhamos para matrícula em escola de ensino básico regular, porém disponibilizamos para os alunos/pacientes atendidos todo o material que foi utilizado e trabalhado com ele e que é autorizado pelo corpo clínico a sair do hospital. Seguimos normas e condutas gerais e específicas, tais quais: Ética: Ser discreto em relação aos diagnósticos dos pacientes; Higiene e Segurança: Seguir as regras determinadas pelo hospital, tais quais entre outras: -não oferecer alimentos aos alunos/pacientes -não se alimentar dentro da enfermaria/leito -utilizar máscara, luvas e capote, quando necessários -não utilizar materiais que possam pôr em risco a saúde da criança Entendemos em nosso projeto que o educador deverá identificar, elaborar, produzir e organizar atividades tendo em vista a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e suas acessibilidades, levando em consideração o interesse do aluno por determinado tema e uma coerência com o que ele

estava trabalhando anteriormente na escola, quando for o caso. Também cabe ao educador organizar as formas de atendimentos aos alunos nos leitos promovendo ao estudante autonomia e participação. O objetivo principal dessas ações: A proposta da Classe Hospitalar é fazer com que a criança compreenda que a escola ali presente faz com que ela consiga continuar agente de sua constituição de conhecimentos e valores. (RAMOS, 2012). Compreendemos como aspectos positivos da atuação docente no espaço hospitalar, uma diminuição do tempo de internação (Ceccim e Fonseca. 1999), diminuição do estresse da criança e/ou adolescente, possibilidade de interação com seus pares no espaço da classe hospitalar, transformação da rotina imposta em algo divertido com situações de aprendizagem e motivação para a continuidade da escolarização, entre outros. Pretendo com este artigo ressaltar a importância de se pensar o hospital como um espaço efetivo à continuidade do processo ensino-aprendizagem dos pacientes internados e refletir sobre a atuação docente neste espaço que está fora dos muros escolares, porém é também um espaço onde o professor pode e deve problematizar suas práticas e ações com vistas a um trabalho em favor da construção de uma sociedade mais democrática. Metodologia O presente trabalho resulta de estudos desenvolvidos ao longo do ano de 2018, na participação no Projeto de Extensão Classe Hospitalar: Atendimento Pedagógico-Educacional em Ambiente Hospitalar da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, que possibilitou a prática pedagógica no Hospital Universitário Gaffrée Guinle (HUGG), trata-se portanto de uma pesquisa participante. Foram realizadas, no total de 48 horas de prática pedagógica, somadas às 96 horas de orientação acadêmica relacionada ao acompanhamento da prática e produção de relatórios e atividades, perfazendo um total de 144h, até então, de prática e estudos voltados ao atendimento pedagógica no ambiente hospitalar. Ao longo da prática no hospital foram realizados registros dos atendimentos em diário de campo e registro fotográfico das situações vivenciadas. Foi realizada também uma breve coleta de dados, através de uma pesquisa documental a respeito da história da classe hospitalar no Brasil. Resultados e Discussão Através do respeito e do estímulo a autonomia do aluno, procuramos entender suas necessidades e adequar nossas práticas e ações de modo que o direito do aluno a educação escolar seja preservado. A importância de manter a

ligação com a realidade anterior é vivenciada na internação através da figura da escola e do professor. O olhar pedagógico vai além dos estudos escolares, criando uma relação de confiança onde a auto estima da criança e/ou adolescente internado é favorecida, cooperando em favor de sua recuperação e no auxílio ao seu desenvolvimento sócio-afetivo que encontrase prejudicado pois está impedido de participar de seu meio sociocultural. Sobre o desenvolvimento sócio-afetivo e sua importância Rodrigues nos diz: O desenvolvimento sócio-afetivo está relacionado aos sentimentos e as emoções em virtude de uma série de interesses, solidariedade, cooperação, motivação e respeito, visando desenvolver o indivíduo como pessoa, estimulando a formação de uma personalidade estável e equilibrada, desenvolvendo também o aspecto cognitivo, que é o desenvolvimento intelectual e a operação dos processos reflexivos e motor, que trata diretamente do movimento e do desenvolvimento da criança. Esses processos visam garantir a formação integral (sócio, afetivo, cognitivo, motor, espiritual) do aluno. A conduta sócio afetiva, é uma forma da criança desenvolver a sua própria personalidade e aprender a tomar decisões sem necessitar de ajuda. Grande parte do comportamento da criança na escola é da sua interação com os colegas e professores, nessa fase a criança tem seu próprio pensamento e se torna mais independente em função de seu maior desenvolvimento da linguagem, embora a ligação e a influência do convívio com os pais e familiares ainda seja forte. (RODRIGUES, 2003, p.41). A partir da informação coletada com os pais e o próprio aluno sobre seu desenvolvimento e interesses, buscamos ações que determinem continuidade do que estava sendo visto na escola, quando for o caso, mas também procuramos atuar na zona de desenvolvimento proximal (ZDP) com a finalidade de favorecer o aprendizado e autonomia dos alunos pois preferimos olhar para frente e estimular o potencial deste aluno ao invés de apontar-lhe deficiências na aprendizagem. Sobre a ZDP Vygotsky nos diz: A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário. (Vygotsky. 1984, p. 97). O professor da classe hospitalar além de um currículo adaptado deve preocupar-se com as atividades realizadas em relação ao seu tempo e finalização. Faz-se necessário, tendo em vista a possível alta hospitalar do aluno a qualquer momento, que sejam realizadas atividades que tenham início, meio e fim no ato do atendimento para que o aluno não fique com a sensação de algo inacabado. Sobre isso Fonseca nos diz: As atividades no ambiente escolar devem ter início, meio e fim para cada uma das crianças atendidas já que nem todas chegam juntas na aula

assim como, algumas delas não ficam todo o tempo na mesma. O planejamento é ferramenta essencial para o desenvolvimento das atividades e contribuem significativamente para a avaliação e o registro do desempenho do aluno e do trabalho realizado no ambiente escolar hospitalar. (Fonseca, 2015). Em nosso primeiro contato com o aluno e seu(s) responsável(s) informamos e explicamos sobre o projeto e sobre nossas ações. Solicitamos informações e autorizações (para publicações de nomes e imagens) através do preenchimento de fichas de atendimento. Neste primeiro contato utilizamos o tempo para conversar sobre o interesse do aluno para buscar uma atividade que melhor se encaixe naquele momento. Utilizamos de variadas formas os livros de literatura infanto-juvenil, jogos educativos e atividades impressas para realizar o atendimento. Nossos materiais, caderno de registros e algumas ações: Alguns livros de literatura infanto-juvenil. Jogos educativos utilizados no projeto.

Outros jogos educativos utilizados no projeto. Algumas atividades impressas elaboradas pelo grupo Ação realizadas no leito. Atividade de interpretação de texto sobre futebol, tema de inter- se da aluna.

Ações realizadas no leito a partir do interesse informado pela aluna em Portugûes e neces- sidade de trabalhos com fonemas detectada no ato de preenchimento da ficha. Trabalho realizado com uma aluna de 11 anos de idade, matriculada no 5 ano do ensino Fundamental que informou gostar de Português, principalmente interpretação de texto. Na ficha preenchida no ato de apresentação do projeto foi entendido a partir de informações colhidas que a aluna tinha alguma dificuldade com gêneros textuais, pois era o conteúdo que estava sendo aplicado na escola no momento em que se ausentou por motivos de saúde. Foi solicitado que escolhesse figuras aleatórias dentre as disponíveis e fosse criada uma história com início, meio e fim, coerente e ilustrada. Trabalhamos pontuação e o gênero narrativo.

Nosso caderno de registros utilizado também para acompanhamento de todo o grupo. Realizamos atividades de segunda a quinta, sendo 02 pessoas por dia e através dos registros realizados podemos acompanhar o planejamento individual de cada aluno e dar prosseguimento aos que permanecem por mais tempo internados. Conclusão É dever das universidades dialogar com as necessidades da comunidade na busca por novas práticas, fruto das exigências do mundo atual e sempre pautado no compromisso ético. Quando um projeto de extensão universitária é colocado em prática vários são os objetivos a serem buscados, já que estes podem trazer não só a experiência para os alunos, que por meio das atividades desenvolvidas, têm a oportunidade de vivenciar uma docência que seria vista apenas na literatura, como também a melhoria da qualidade do atendimento prestado às crianças e adolescentes que se encontram em tratamento de saúde. Na relação teórico-prática que o projeto de extensão supracitado me possibilita vivenciar, percebo que o professor no ambiente hospitalar (re)cria e (re)significa suas ações e práticas o tempo todo devido ao trânsito de alunos que chegam e saem a cada dia ou semana. Não nos limitamos no projeto, enquanto professores, somente aos saberes escolares mas também em saberes e conhecimentos que possibilitem a reflexão sobre a vida e seu papel como cidadãos, bem como ao auxílio no desenvolvimento sócio afetivo pois entendemos enquanto grupo que nossas atividades cooperam e atuam em prol do bem estar do aluno tanto quanto do seu desenvolvimento cognitivo e de seus saberes escolares. Por fim compreendo que atuando de forma a estimular o potencial e a autonomia do aluno dentro do hospital, diante das adversidades do momento e focando sua atividade no propósito de minimizar as os traumas e sentimentos de

inferioridade deste aluno em relação ao seu andamento escolar o professor auxilia na formação de sujeitos mais confiantes em continuar os estudos e consequentemente a vida. Trabalhando em prol de garantir o direito do aluno a educação estamos atuando em favor de uma sociedade democrática. Referências Bibliográficas BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988. BRASIL. Lei n.8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1990. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Livro 1.Brasília: MEC/SEESP, 1994. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes da Educação Nacional, Brasília, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC ; SEESP, 2002. CAIADO, Kátia R.M. O trabalho pedagógico no ambiente hospitalar: um espaço em construção. In: RIBEIRO, Maria Luisa Sprovieri; BAUMEL, Roseli Cecília Rocha de 27696 Carvalho (Orgs). Educação Especial: do querer ao fazer. São Paulo Ed.. Avercamp, 2003. p. 71-78. CECCIM, R. B.; FONSECA, E. S. Classe hospitalar: buscando padrões referenciais de atendimento pedagógico-educacional à criança e ao adolescente hospitalizado. Revista Integração, ano 9, n. 21, p. 31-39. 1999. FONSECA, Eneida Simões da. Classe hospitalar e atendimento escolar domiciliar: direito de crianças e adolescentes doentes. Revista Educação e Políticas em Debate, Uberlãncia, v. 4, n.1 jan./jul. 2015 - ISSN 2238-8346. ORTIZ, L.C.M.; FREITAS, S.N. Classe hospitalar: um olhar sobre sua práxis educativa. R. Bras. Est. Pedag. Brasília, v. 82, n. 200/201/202, p. 70-77. jan./dez. 2001 Ramos, Maria Alice de Moura, A História da Classe Hospitalar Jesus. 2007. 105f. Dissertação de Mestrado Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. RODRIGUES, Maria. Manual teórico e prático de Educação Física infantil. 8ª ed. São Paulo: Ícone, 2003. RAMOS, Maria Alice de Moura. Classe Hospitalar, 2012. Disponível em http://revistapontocom.org.br/artigos/classe-hospitalar, Acesso em 02 JUN.2018. VYGOTSKY, L. S. (1984). A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes (1997)