Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000 411. Preciso Para Medidas de Suscetibilidade Magnetica



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Transcrição:

Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000 411 Defasador de Amplitude Variavel: um Aparato Simples e Preciso Para Medidas de Suscetibilidade Magnetica V. C. Gelfuso e W. A. Ortiz Grupo de Supercondutividade e Magnetismo, Departamento de Fsica, Universidade Federal de S~ao Carlos 13565-905 S~ao Carlos, SP, Brazil Recebido em 14 de Janeiro, 2000. Aceito em 25 de Agosto, 2000 Apresentamos aqui um aparato simples e barato para a realizac~ao de medidas precisas de suscetibilidade-ac. A montagem experimental baseia-se em um defasador de amplitude variavel, montado exclusivamente com componentes passivos. Conabilidade e eci^encia do metodo foram comprovadas atraves de centenas de experimentos realizados ao longo de mais de uma decada. A precis~ao do aparato, em unidades de momento magnetico, equivale a cerca de 4 10 ;5 emu, comparavel a de um magnet^ometro de amostra vibrante comercial. An inexpensive and simple apparatus for precision AC-susceptibility measurements is presented. The experimental setup is based on a variable-amplitude phase-shifter with no active components. Reliability and eciency of the method have been conrmed by hundreds of experiments, performed during more than a decade. The equivalent moment precision of the setup employed is about 410 ;5 emu, comparable to that of a commercial vibrating-sample magnetometer. I Introduc~ao A determinac~ao das propriedades magneticas dos materiais e uma etapa indispensavel para sua completa caracterizac~ao. Mais ainda, o estudo sistematico da resposta magnetica de uma amostra permite investigar suas caractersticas basicas, sejam elas intrnsecas do material ou decorrentes do processamento fsicoqumico durante as diferentes etapas de sua preparac~ao. Ademais, e de grande utilidade pratica quanticar a resposta magnetica de um material, de modo que se possa avaliar seu potencial para eventuais aplicac~oes. Dentre as propriedades magneticas mensuraveis, destacamse a magnetizac~ao, M, e a suscetibilidade magnetica,. A primeira e, por denic~ao, uma medida do momento magnetico por unidade de volume da amostra. A segunda mede a derivada de M em func~ao do campo magnetico aplicado, H, ouseja, avariac~ao na magnetizac~ao decorrente de uma pequena mudanca em H. E muito comum usar-se um campo senoidal de baixa amplitude como campo de prova, h, gerando-se assim avariac~ao necessaria para a determinac~ao de, caso em que a medida resultante e genericamente chamada de suscetibilidade-ac, que e uma grandeza complexa, AC = 0 +j 00.Vale mencionar que a componente real, 0, esta em fase com h, e mede a resposta dos momentos magneticos excitados por esse campo. A componente imaginaria esta em fase com a derivada temporal da corrente, sendo proporcional as perdas energeticas associadas ao processo din^amico de excitac~ao dos momentos. Neste trabalho apresentamos uma montagem simples, especialmente desenvolvida para a realizac~ao de medidas precisas de AC. Trata-se de um dispositivo fartamente testado em trabalhos cientcos e que, tendo custo extremamente baixo, torna-se muito atraente para uso na caracterizac~ao magnetica de amostras, sejam os experimentos de cunho didatico ou cientco. II Suscetometria-AC Tecnicas de mutua-indut^ancia s~ao amplamente utilizadas em suscetometria-ac. A montagem padr~ao consiste, basicamente, de um transformador cilndrico, no qual a amostra atua como nucleo magnetico. Na con- gurac~ao mais simples, o transformador e composto de um enrolamento primario e apenas um secundario. Neste caso, a tens~ao de sada, V S,e uma combinac~ao de duas parcelas: uma delas e a resposta da amostra Endereco eletr^onico: wortiz@power.ufscar.br

412 V.C. Gelfuso e W.A. Ortiz ao campo excitador h, captada pelo enrolamento secundario, a qual se superp~oe a derivada temporal do uxo gerado pelo proprio primario no secundario. Em amostras com baixo sinal magnetico pode ser necessario detectar sinais da ordem de nanovolts, o que requer a compensac~ao do uxo desenvolvido pelo campo de excitac~ao na bobina sensora. A primeira provid^encia para essa compensac~ao e a simples inclus~ao de uma segunda bobina secundaria, conectada em oposic~ao de fases com a primeira, tambem excitada pelo primario. Para obter eci^encia maxima no processo, o numero de espiras dessa bobina de compensac~ao deve ser cuidadosamente ajustado de modo que seja nula a tens~ao de sada do sistema vazio. A introduc~ao de uma amostra magnetica no secundario de detecc~ao gera ent~ao uma tens~ao de sada, que se deseja medir com precis~ao para determinar a suscetibilidade da amostra. Sob condic~oes usuais de medida, a contribuic~ao da amostra varia com os par^ametros externos do experimento, tais como a temperatura, T, ou o campo magnetico. Assim, e muito importante que se possa dispor de um sinal auxiliar adicional no circuito de compensac~ao, de modo a assegurar ajustes nos e, com isso, versatilidade e precis~ao ao aparato experimental. Hartshorn foi o pioneiro no desenvolvimento de uma ponte de compensac~ao para o ajuste no mencionado e, desde o seu trabalho publicado em 1925[1], uma grande variedade de metodos t^em sido desenvolvidos para esse proposito especco[2]. Entretanto, as montagens para compensac~ao na mais frequentemente usadas s~ao baseadas na Ponte de Hartshorn ou em suas vers~oes modicadas[3]. Como a tens~ao de sada de um transformador tem sempre uma componente em fase com a corrente de excitac~ao e outra em fase com a derivada temporal da mesma, a Ponte de Hartshorn consiste de dois ramos ortogonais entre si, para que se possa compensar de forma independente as duas componentes, uma em fase com a corrente do primario e a outra em quadratura. Embora haja suscet^ometros-ac comerciais bastante precisos e sosticados, s~ao equipamentos de custo elevado e, de maneira geral, os grupos que usam a suscetibilidade magnetica como ferramenta de investigac~ao, projetam e constroem seus proprios suscet^ometros. Assim, o desenvolvimento de vers~oes simples e precisas s~ao sempre bem recebidas pelos usuarios da tecnica. No que se segue, apresentaremos uma alternativamuito simples e eciente para a compensac~ao na para uso em suscetomeria-ac. A montagem e baseada em um Defasador de Amplitude Variavel (DAV ), composto exclusivamente por elementos passivos. O metodo tem sido empregado sistematicamente nas estac~oes experimentais do Grupo de Supercondutividade e Magnetismo (DF/UFSCar) por mais de uma decada, com resultados notaveis. Vale mencionar que o DAV aqui reportado pode ser construdo por um preco inferior a 1% do custo de uma Ponte de Hartshorn. III Suscetometria usando um DAV Em um transformador alimentado por uma corrente de primario i p, a tens~ao de sada na bobina secundaria, V S, e normalmente descrita como a superposic~ao de duas contribuic~oes ortogonais. Uma delas e a componente resistiva V SR, que esta em fase com a corrente. A outra, em fase com a derivada temporal da corrente, e a componente indutiva V SL. Nas montagens que usam aponte de Hartshorn, as duas componentes s~ao determinadas com a ajuda de dois sinais de magnitudes ajustaveis, independentes entre si, sendo um em fase e o outro em quadratura com i p. Usando-se fatores de calibrac~ao apropriados, e as express~oes derivadas previamente por de Faria et al. [4], pode-se obter a condutividade e as componentes da suscetibilidade complexa, 0 e 00, a partir de V SR e V SL. Como se nota, tratase de um tratamento cartesiano do sinal de sada do suscet^ometro. Alternativamente, pode-se descrever V S em coordenadas polares, caso em que o sinal auxiliar para a compensac~ao na do sinal de sada deve ser uma voltagem senoidal de fase e amplitude controlaveis. Foi justamente para possibilitar esse tipo de abordagem que desenvolvemos um defasador inteiramente baseado em resistores e capacitores, capaz de gerar um sinal com as caractersticas acima descritas. Nesse tratamento polar para V S,ascomponentes 0 e 00 s~ao determinadas ajustando-se a amplitude e a fase do sinal auxiliar gerado pelo defasador, V D.Desse modo, quando o sinal combinado de V S com V D for nulo, V S + V D = 0, a tens~ao de sada do defasador sera simplesmente o oposto da do secundario, ou seja, V S = ;V D. E evidente que as componentes cartesianas podem ser determinadas a partir da amplitude da tens~ao de sada e de sua fase em relac~ao a dei p,de modo que V SR = V D cos e V SL = V D sen: Como nos casos em que se emprega uma Ponte de Hartshorn, tambem aqui podemos realizar medidas de 0 e 00 ajustando-se a fase de um detector \lock-in" para poder discriminar as componentes indutiva e resistiva. Esta separac~ao de fases e feita de forma bastante simples e direta pois, como se v^e na Figura 1, o defasador comp~oe-se deumunico capacitor conectado a diversos resistores, de modo que sua imped^ancia pode se tornar puramente resistiva providenciando-se um curto-circuito temporario no capacitor C. Isto e feito atraves de uma chave montada em paralelo com C

Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000 413 (n~ao mostrada na gura). Nesta situac~ao assegura-se que a tens~ao de sada e puramente resistiva, estando portanto em fase com a corrente de alimentac~ao do primario. Assim, maximizando-se o sinal detectado pelo \lock-in" atraves de seu ajuste de fases, garantimos que a componente medida naquele quadrante do detector e 00. Evidentemente, 0 esta 90 afrente. Figura 1. Diagrama esquematico de um Defasador de Amplitude Variavel. A amostra a ser estudada (n~ao mostrada) e inserida em um dos secundarios. IV Projeto e Performance A Fig. 1 mostra, de forma esquematica, um DAV acoplado a um transformador com dois secundarios, para medidas de AC. O sistema e alimentado por um gerador de tens~ao alternada seguido de um amplicador de pot^encia, com a nalidade de simular uma fonte de corrente alternada que garanta medidas realizadas sob amplitude de excitac~ao constante. Como e muito comum - e mesmo desejavel - que o amplicador \lock-in" tenha um gerador interno para alimentac~ao de todo o sistema, introduzimos no circuito um transformador de entrada, cuja func~ao e simplesmente a de eliminar qualquer possibilidade de estabelecimento de um \terra comum" entre o primario e os secundarios. Este ultimo caso caracteriza o sistema de prova como um auto-transformador, en~ao sera discutido aqui. Note-se que o defasador propriamente dito e um aparato de apenas quatro componentes, dois resistores id^enticos R 2, um potenci^ometro multi-voltas R e um capacitor C. Na Fig. 2 apresentamos um diagrama de fasores para tal circuito, onde se v^e que a tens~ao de entrada V e igual a soma das duas tens~oes V R2. Entretanto, V e simultaneamente igual a soma vetorial dos fasores V C com V R,ques~ao ortogonais entre si. Assim, a medida em que o potenci^ometro R eacionado, o vertice descreve um arco de circunfer^encia, enquanto varia a fase da tens~ao de sada que, por sua vez, tem amplitude xa V = V =2. O estagio anterior, formado pelos resistores R 1, R A e R 0 A, tem a func~ao de controlar a amplitude de entrada V e, por conseguinte,adesada V : Para garantir a adequada operac~ao de uma montagem experimental baseada em um DAV,certaspre- cauc~oes devem ser tomadas de antem~ao. Primeiramente, o dispositivo auxiliar n~ao pode perturbar o restante do sistema duranteaoperac~ao regular, de modo que i p deve ser insensvel aos ajustes no defasador. Por exemplo, os valores de R e R 0 A ser~ao alterados durante os ajustes de fase e amplitude, mas isto n~ao pode alterar a corrente de alimentac~ao de todo o sistema. Alem disto, e indispensavel que mudancas na fase n~ao alterem a amplitude de sada e vice-versa, de modo que se possadefatoencontrar uma tens~ao igual e oposta a V S atraves do ajuste dos dois potenci^ometros do aparato. Em outras palavras, e preciso garantir que as duas variaveis do sistema sejam de fato independentes. Ademais, a margem de ac~ao do DAV deve ser t~ao ampla quanto possvel. A imped^ancia do DAV tem um papel central em todos esses aspectos, e sera tratada agora. Apos alguma algebra simples e tediosa, e considerando que o cursor do potenci^ometro R 0 A divide sua resist^encia em duas parcelas, R 0 A = R + R,chega-se a seguinte express~ao geral para o DAV esquematizado na Fig. 1: onde Z 1 = Z DAV = R 1(R + Z 1 ) R 1 + R + Z 1 (1) 2R 2(R A + R )(R ' ; j=!c) 2R 2 + R A + R + Z ' ; j=!c (2) Nota-se claramente que a relac~ao ente as componentes real e imaginaria de Z DAV e governada pela relac~ao entre R e1=!c: Assim, a defasagem do sinal de sada do DAV em relac~ao a corrente do primario e maxima quando o potenci^ometro R estiver totalmente aberto. O limite ideal para a defasagem maxima e =, i.e., o sinal de sada estaria invertido em relac~ao ao de entrada, o que seria obtido como limite extremo da desiguladade R >> 1=!C. Pode-se visualizar essa situac~ao na Fig. 2 impondo-se V R >> V C, o que leva overtice para a esquerda, em direc~ao a, e, no limite, = 2 =. Logo, para que o intervalo de variac~ao de seja amplo, e preciso garantir R >> 1=!C. Por outro lado, o modulo da imped^ancia Z DAV varia entre os extremos 1=!C (potenci^ometro fechado) e [R 2 +(1=!C)2 ] R (potenci^ometro totalmente aberto). Portanto, R 2 precisa ser muito menor

414 V.C. Gelfuso e W.A. Ortiz do que 1=!C para que a imped^ancia seja insensvel a R. De modo similar, o resistor R A e inserido no circuito para garantir que Z DAV seja praticamente independente do valor do resistor de controle de amplitude R 0 A. Para completar, e preciso que R 1 seja sucientemente pequeno para que, em ultima analise, tenhamos Z DAV R 1, para que se possa garantir que a amplitude e a fase de i p n~ao sejam afetadas pelos ajustes nos potenci^ometros do DAV. Figura 2. Diagrama de fasores para o Defasador de Amplitude Variavel. V e a tens~ao de alimentac~ao e V = V =2 e a tens~ao de sada do aparato. Finalmente, e preciso levar em conta valores realistas para os par^ametros da bobina de excitac~ao que sera usada. Em nosso caso especco, a imped^ancia e de cerca de 600, praticamente indutiva em condic~oes de operac~ao, i.e., em banho criog^enico de nitrog^enio lquido (T = 77 K) e frequ^encia de 100 Hz (R 80, L 1 H). E facil constatar que um conjunto adequado de par^ametros para este caso e dado por: R 1 =0:68, R 2 =1:0, R A =2:2, R 0 A =10k, R =100k, C =2:2F: Cabe notar que o DAV aqui apresentado e muito tolerante quanto ao dimensionamento dos componentes. Na pratica, desde que sejam satisfeitas as premissas acima discutidas, e perfeitamente possvel trabalhar com toler^ancias de ate 10% dos valores nominais, sem perda de eci^encia. Porem, cuidados especiais devem ser tomados com os resistores R 2 pois, como na pratica eles n~ao ser~ao id^enticos, o fasor V xy da Fig. 2 n~ao sera um raio da semi-circunfer^encia (ja que n~ao estara equidistante de e ). Essa deformac~ao compromete a pretendida independ^encia entre a tens~ao de sada e a fase. Isto pode, entretanto, ser facilmente corrigido, bastando que se escolham os resistores R 2 a partir de um lote grande, de modo que seus valores coincidam dentro de uma toler^ancia pre-estabelecida. A experi^encia demonstra que toler^ancias de 0.5% podem ser facilmente alcancadas com lotes de uma ou duas dezenas de resistores comerciais. Uma vez conhecida a express~ao algebrica para Z DAV e escolhidos os valores para o capacitor e os resistores, e util realizar simulac~oes numericas da depend^encia da tens~ao de sada com as variaveis do problema, para vericar que o intervalo de ac~ao projetado para o aparato sera mesmo coberto na pratica, e com a sensibilidade desejada. Alem disso, queremos saber de antem~ao se sera satisfeita, para os valores propostos, a hipotese de independ^encia das variaveis, bem como vericar se a corrente de excitac~ao n~ao e afetada, tanto em fase quanto em magnitude, pelas variac~oes nos potenci^ometros. De fato, simulac~oes numericas para os par^ametros acima listados mostraram que todos os requisitos estavam satisfeitos, o que nos encorajou a construir o aparato e testa-lo na pratica. Como ja adiantamos, o resultado experimental foi excelente, raz~ao pela qual o sistema - em variadas vers~oes adequadas para experimentos diferentes - tem sido usado ha maisde uma decada com sucesso pleno. Cabe mencionar que a precis~ao tpica do suscet^ometro construdo com base no DAV em unidades de momento magnetico, equivale a cerca de 4 10 ;5 emu, comparavel a deummagnet^ometro de amostra vibrante comercial. V Considerac~oes Finais Uma das principais vantagens do DAV e sua simplicidade. Sem componentes ativos, trata-se de um dispositivo extremamente estavel sob condic~oes de medida. Comprovamos na pratica que o aparato pode substituir com vantagem outros metodos de uso geral. A montagem de um DAV pode ser realizada por um custo inferior a 1% do preco dos componentes e circuitos necessarios para a construc~ao de uma Ponte de Hartshorn. Alem disso, por incluir o tratamento de sinais em coordenadas polares, o DAV tem uma vantagem adicional nada desprezvel: a calibrac~ao das duas componentes da suscetibilidade se faz atraves de um unico fator, que calibra a amplitude das tens~oes, ao contrario das tecnicas de tratamento em componentes cartesianas, para as quais s~ao necessarias calibrac~oes independentes de 0 e 00. Ademais, o DAV mostrou-se igualmente conavel em operac~oes requerendo altas ou baixas sensibilidades, sendo portanto adequado para experimentos com quaisquer classes de materiais magneticos. O desenvolvimento do dispositivo aqui descrito teve suporte nanceiro parcial de FAPESP, FINEP, CAPES e CNPq. Muitos colaboradores operaram o aparato e,

Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000 415 nos estagios iniciais, inuram decisivamente em seu desenvolvimento, atraves de sugest~oes e discuss~oes uteis. Agradecemos especialmente a P. C. de Camargo, O. F. de Lima, F. M. Araujo-Moreira, A. J. A. de Oliveira e C. C. de Faria. Refer^encias [1] L. Hartshorn, J. Sci. Instrum. II, 145 (1925). [2] R. B. Goldfarb and J. V. Minervini, Rev. Sci. Instrum. 55, 761 (1984). [3] Ver, por exemplo: a. F. R. McKim and W. P. Wolf, J. Sci. Instrum. 34, 64 (1957) b. E. Maxwell, Rev. Sci. Instrum. 36, 553 (1965) c. W. A. Ortiz, Dissertac~ao de Mestrado, Universidade de S~ao Paulo, Brasil (1978). [4] C.C.deFaria, A. J. A. de Oliveira, F. M. A. Moreira and W. A. Ortiz, IEEE Transactions on Magnetics 31, 3403 (1995).