EDUCADORA DE CRECHE: IDENTIDADE E FORMAÇÃO. Este artigo é resultado de uma monografia apresentada ao Curso de Pedagogia. Neste



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Transcrição:

1 EDUCADORA DE CRECHE: IDENTIDADE E FORMAÇÃO MONTEIRO, Ana Maria Gutierrez 1 RONDON, Gislei Amorim de Souza 2 RESUMO Este artigo é resultado de uma monografia apresentada ao Curso de Pedagogia. Neste sentido, o estudo, teve-se como objetivo caracterizar os sentidos que educadoras de uma creche municipal atribuem a sua prática profissional. Para a realização do estudo, optouse por uma abordagem de cunho qualitativo e quantitativo, um estudo de caso. Os resultados demonstraram que a formação das profissionais investigadas ainda não é adequada para atuar na educação infantil e que o saber fazer e os sentidos que as mesmas dão a sua profissão, estão ligados as suas experiências adquiridas no cotidiano da creche. Palavras-chave: Educadores, Identidade, Formação. ABSTRACT This article is the result of a thesis submitted to the Pedagogy Course. In this sense, the study had as objective to characterize the way that municipal daycare center attribute their professional practice. To conduct the study, we chose a qualitative approach and quantitative, a case study. The results showed that the formation of professional investigation is still not suitable for work in early childhood education and the knowhow and the directions that they give to their profession, are connected to their everyday experiences in the nursery. 1 Aluna egressa do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas Matogrossenses de Ciências Sociais e Humanas, Cuiabá, MT. amgmonteiro.anamaria@gmail.com 2 Professora das Faculdades Integradas Matogrossenses de Ciências sociais e Humanas, Cuiabá, MT. gisleirondon@terra.com.br

2 Keywords: Educators, Identity Formation. INTRODUÇÃO A presente pesquisa se constituiu em uma creche da rede pública na cidade de Cuiabá, onde se buscou evidenciar a formação das profissionais e como são construídas suas identidades em relação ao campo de trabalho e principalmente em relação às crianças inseridas neste contexto. Durante muito tempo a educação infantil foi vista como algo nada além do que cuidar, deixando a desejar na questão de profissionais qualificados para atuar no processo de desenvolvimento integral das crianças presentes no ambiente infantil. É certo que a formação do educador aprendiz é inegavelmente necessária para consagrar e valorizar o fazer docente na educação infantil, ou seja, não basta apenas saber cuidar, tem que possuir múltiplas facetas, aprimorar sua experiência e a partir desta, romper barreiras aparentemente impossíveis. Pois o caminho a ser seguido nesta modalidade tem prioridades e somente o educador ciente da vulnerabilidade da criança pequena saberá intervir perante as mudanças e dificuldades que conseqüentemente irão surgir durante esta convivência. IDENTIDADE E FORMAÇÃO: O EDUCADOR PESQUISADOR, OBSERVADOR E INDAGADOR DAS ESPECIFICIDADES DA EDUCAÇÃO INFANTIL. Estudos recentes demonstram que a formação de professores para a educação infantil tem uma história bastante familiar com o reconhecimento desta modalidade de ensino, pois, tanto o educador, quanto a educação infantil, foram e são alvos de inúmeras discussões entre autores reconhecidos e palestrantes em diferentes congressos pelo mundo a fora. Registra-se ainda que grandes transformações aconteceram a partir das conquistas alcançadas pela Constituição de 1988 (que reconheceu a criança como cidadão de direitos) e pela LDB 9394/96 (que reconhece os profissionais da educação infantil como docentes).

3 A respeito disso merece destacar: A Lei de Diretrizes e bases 9.394/96 dá estatuto legal ao estabelecimento sobre a educação infantil na constituição de 1988. A partir da LDB a educação infantil e a formação dos profissionais passam a ser pensadas no âmbito da educação básica. A pressão e a luta dos movimentos sociais e dos educadores colaboraram para que algumas das propostas iniciais fossem contempladas pela nova LDB 9394/96, dentre elas as que tratam dos profissionais da educação infantil como docentes, dando inicio a uma nova fase (BONETTI, 2005, p.147). Entretanto, apesar de tudo, ainda hoje, a identidade 3 e formação do profissional atuante da educação infantil passam por questionamentos a cerca da qualificação e caracterização de um trabalho promissor e participativo no que diz respeito às especificidades da primeira etapa da educação básica. Isto deixa evidente, a relevância que o profissional desta área tem para a futura geração humana. Dessa forma, entende-se por identidade os atributos adquiridos pelo profissional ao longo da sua jornada de trabalho, ou seja, competências e habilidades contempladas com a coletividade em todos os sentidos, tudo aquilo que é vivenciado dia-a-dia com o fazer da sua profissão. Neste sentido, o educador infantil, tem sua identidade construída dia após dia, seja nas leituras teóricas, nas reuniões de professores, na elaboração de um planejamento ou no contato com os pequenos. Tudo que envolve o trabalho docente produz identidade e conseqüentemente fortalece a formação continuada desta categoria. Fulanetto destaca a identidade como fator experimental do sujeito em construção: a percepção da identidade como fixa e contínua cede espaço para uma nova concepção de sujeito com uma identidade inacabada, fragmentada, aberta e contraditória (2007, p.14). Percebe-se na fala da autora que não podemos falar em uma identidade comum e acabada a todos educadores da infância, pois esta depende de vários aspectos como experiências, conhecimentos e percepções construídos ao longo de sua prática. Sendo assim, é inegável que o educador da infância deve demonstrar características diferentes do educador dos anos iniciais (ensino fundamental). Pois, a 3 Segundo o minidicionário Luft (2000) o verbete identidade significa conjunto de caracteres que fazem reconhecer um indivíduo

4 partir do momento em que tem o contato com os primeiros anos da criança, automaticamente ele já se destaca nos princípios de desenvolver as dimensões de um ser particularmente vulnerável ao mundo que se encontra inserido. Assim Bonetti (2005), contribui ao destacar que o desenvolvimento das crianças é entendido como uma das finalidades da Educação Infantil (EI), devendo esta propiciar condições para que as crianças possam realizar construir, criar, recriar suas possibilidades como sujeitos. Além do mais a educação da criança pequena propicia sua especificidade na integração do cuidar e do educar, onde não é válido seguir um parâmetro disciplinar e rigoroso a um corpo em adaptação, necessitado de atenção, compreensão, carinho e dedicação durante o seu desabrochar. Conforme sustenta Kishimoto: O poder constituído dos campos disciplinares tem efeitos catastróficos, por exemplo, na formulação de currículos para a educação infantil. A criança pequena aprende em contato com o amplo ambiente educativo que a cerca, que não pode ser organizado de forma disciplinar. A linguagem é desenvolvida em situações do cotidiano, quando a criança desenha, pinta ou observa uma flor, assiste a um vídeo, brinca de faz-deconta, manipula um brinquedo, explora areia, coleciona pedrinhas, sementes, conversa com amigos ou com seu professor (2008, p.108). A autora destaca a importância da organização de espaços e práticas voltadas para as especificidades das crianças pequenas ao destacar que o ambiente organizado de forma rígida, onde a criança não tem liberdade para expressar-se, brincar, traz conseqüências catastróficas e o mesmo vale para a organização dos currículos que não atendem a necessidade das crianças. Assinala ainda a autora que o educador das crianças pequenas deve ser um facilitador, e, tem que revigorar a sua prática no decorrer da sua experiência com o grupo de crianças que está se comunicando, pois ciente da sua incompletude poderá descobrir caminhos verdadeiramente originais e transformadores de culturas estagnadas em um contexto contemporâneo. Rezende apud Furlanetto (2007, p.22) salienta: O conceito sem experiência é vazio, seriam palavras, palavras e mais palavras, assim como uma experiência não nomeada, não conceitualizada, não possibilita a apropriação. A aprendizagem, por sua vez, está profundamente relacionada ao crescimento, não existe possibilidade de

5 crescer sem aprender. Para aprender não basta só olhar, mas, ver; não basta só ouvir, mas, escutar. Para que o olhar possa transformar-se em ver e o ouvir em escutar, o intervalo estabelecido entre eles necessita ser preenchido pela nomeação possibilitada pelo pensamento. Conseqüentemente, não basta também só fazer, mas, pensar o que se faz e sobre o que se faz. Quando exercitamos nossa capacidade de pensar, deslocamo-nos do patamar da atuação para o da ação. Segundo o autor a experiência é primordial para a construção de conhecimentos pelo educador, e a sua pratica deve ser reflexiva, ou seja, embasada na ação x reflexão x ação. Logo constatamos que a formação do educador é um fator de grande preocupação no que diz respeito a apresentar grau representativo de conhecimento e preparação para contemplar a aprendizagem das futuras gerações e preencher lacunas que surgirão durante o exercício em sala de aula. O professor aprendiz tem a incumbência de aliar-se fielmente ao seu estado inacabado, tomando atitudes inovadoras para romper barreiras inesperadas e fortalecer a sua bagagem de conceitos, gerando neste segmento o reconhecimento do seu trabalho. Como afirma Alarcão, criar, estruturar e dinamizar situações de aprendizagem e estimular a aprendizagem e a auto-confiança nas capacidades individuais para aprender são competências que o professor de hoje tem de desenvolver (2003, p.30). Desta forma, deve-se pensar no profissional da educação como um apreciador do seu oficio, onde a auto-avaliação esteja em constante sintonia com a sua prática docente, para que possa refletir sobre seus conceitos e decisões no ambiente de trabalho, sendo humilde e perspicaz no momento em que esteja vivenciando situações indagadoras. Para que isso aconteça Furlanetto relata a seguinte posição: refletir não é um exercício linear, envolve além da razão a nossa emoção; articula conteúdos inconscientes, criativos e defensivos que ora nos possibilitam, ora nos dificultam os movimentos de ampliação da consciência (2007, p.23). Pode-se destacar que o sucesso do educador na sua formação e na sua identidade, está atrelado ao seu interior, onde o que se busca é a satisfação permanente do seu eu, pois o ser humano precisa estar recheado de artifícios que o façam brilharem e permanecer vivo para continuar buscando e exercitando a sua mente desafiadora. E é neste sentido que o interlocutor do conhecimento cultivará sua profissão, buscando

6 incessantemente as chaves que abrirão a porta do alvorecer, da realidade, do novo, do exemplo e da dignidade que o seu trabalho lhe permite experimentar. Acredita-se que no contato com a criança pequena, alguns princípios são imprescindíveis para estabelecer uma prática participativa e eficaz no desenvolvimento integral desses sujeitos tão empíricos, famintos de experiência e aventura. Entre estes princípios destacam-se as seguintes facetas: comprometimento, condicionamento, ética, respeito, diálogo, bom senso, humildade, curiosidade e acima de tudo o ato da pesquisa, pois é neste ponto que grandes mudanças ocorrem em relação a certas concepções preestabelecidas pela sociedade. Nesta perspectiva, Freire articula as seguintes palavras: Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (1996, p. 29). A educação dos pequenos e pequenas é um caminho que exige do facilitador deixar transparecer e aflorar seus sentimentos e emoções, pois a criança é completamente sensível aos tratamentos que lhes são oferecidos. Tudo que está voltado para o lado infantil, é simples, cativador, inofensivo e conquistador. Para tanto, sustenta-se a necessidade do educador ter bem claro, que está lidando com seres ativos e protagonistas do seu próprio conhecimento, sendo que nesta viagem de interações e descobertas, as culturas se entrelaçam e se transformam em comunhão gerada entre professor e aluno. Nesta direção, Faria apud Filho escreve que: A criança não só aprende e consome a cultura do seu tempo, como também produz cultura, seja a cultura infantil de sua classe, seja reconstruindo a cultura à qual tem acesso. O fato da criança não falar, ou não escrever, ou não saber fazer as coisas que os adultos fazem transformam-na em produtora de uma cultura infantil, justamente através dessas especificidades. A ausência, a incoerência e a precariedade características da infância, em vez de serem falta, incompletude, são exatamente a infância (2005, p.19). É central nestes conceitos que, os fazeres que articulam está realidade é essencialmente orientador do conjunto de adereços julgados importantes na conquista de

7 uma identidade própria do ser criança, sendo esta singular em cada indivíduo que transforma, organiza, reorganiza e da originalidade ao espaço que ocupa na sociedade. Na concepção de Filho A. M., a criança exerce o papel de ator principal da sua aprendizagem, dando um novo olhar ao ambiente caracterizado por outras histórias: Pois se é importante à criança conhecer e integrar valores, normas e condutas da sociedade em que está inserida, é também necessário que se reconheça que esse conhecimento e integração são reconstruídos por ela mesma, ultrapassando as meras dimensões de inculturação e reprodução, que historicamente lhes tem sido atribuídas (2005, p.24). A prática que envolve esse mundo tão peculiar chama a atenção para que a relação professor/aluno ultrapasse o método da passividade, dando lugar ao dinamismo, a parceria e a formação mútua dos personagens. Fica a cargo do interlocutor do saber incrementar essa convivência, incentivando e respeitando em todos os sentidos o vasto repertório de especificidades desmembradas por cada criança. No mesmo momento em que se pensa nas especificidades da educação infantil, como ponto de partida para uma prática consciente das necessidades de cada pequeno aprendiz, também se pensa no profissional com uma identidade exemplar, que não só caracterize seu trabalho, mas principalmente que caracterize o seu eu. Esse eu, pode-se permitir destacar como o modo de pensar e agir deste ser em constante evolução, deixando-se moldar por meio de novas atitudes docentes, que querendo ou não trarão frutos imprescindíveis para uma identidade plural e autêntica. Perante este contexto Libâneo (2009) colabora com pontos altamente significativos para que o educador modifique e incremente sua ação docente de acordo com a realidade contemporânea. O autor destaca que a identidade do professor é algo que necessita de ousadia, pois exige mudança e rompimento. Segundo o autor, na medida em que o mundo se transforma, as pessoas também se transformam, deixando para traz paradigmas que não servem mais para o atual momento, neste sentido o educador tem em mãos duas chaves: a chave do sucesso e a chave do fracasso, podendo assim traçar o seu perfil. Ainda argumenta o autor que de um modo geral, o fator primordial e norteador da prática docente é a busca incansável pelo conhecimento, trazendo este um direcionamento para o exercício desta profissão. Entretanto, o professor tem que estar aberto e demonstrar capacidade de compactuar com o seu aprimoramento, fazendo deste

8 consagrador de atributos como competência, habilidades e saberes geradores de novos caminhos a serem percorridos. Neste sentido Alarcão contextualiza o seguinte ponto de vista: São hoje muitas as competências desejadas que assentam num conjunto de capacidades. Valoriza-se a curiosidade intelectual, a capacidade de utilizar e recriar o conhecimento, de questionar e indagar, de ter um pensamento próprio, de desenvolver mecanismos de auto-aprendizagem. Mas também a capacidade de gerir a sua vida individual e em grupo, de se adaptar sem deixar de ter a sua própria identidade, de se sentir responsável pelo seu desenvolvimento constante, de lidar com situações que fujam à rotina, de decidir e assumir responsabilidades, de resolver problemas, de trabalhar em colaboração, de aceitar os outros (2003, p.24). Assinala ainda que a veracidade da ação docente está nos pequenos atos, onde o recheio está na capacidade de interagir com o mundo e com o emaranhado de situações que ele proporciona. As pessoas que nele habitam têm uma bagagem imensa de sonhos, realidades, fantasias, cada qual em uma fase da vida, seja ela na infância, na juventude ou na vida adulta. Assim, o educador tem que mergulhar no mundo dos seus alunos, onde cada um tem uma história, uma realidade, uma cultura diferente, onde cada um tem seu jeito singular de apreciar as coisas da vida e no momento em que está em processo de aprendizagem não é diferente. Nota-se que o facilitador nada mais é do que um aluno evoluído, na qual tem a profissão de compartilhar o conhecimento adquirido com pessoas pouco desenvolvidas intelectualmente, mas que acima de tudo contribui significativamente para o novo horizonte a ser conquistado. Enfim, para se pensar no profissional com uma identidade e formação voltada para educação infantil, nada mais justo do que pensar na profissionalização deste docente, pois as especificidades que abrangem esta modalidade de ensino estão voltadas não somente para o reconhecimento e respeito à vulnerabilidade de cada criança, mas principalmente pela qualidade das educadoras que estarão em constante contato com este público tão fragilizado. Oliveira-Formosinho define com muita exatidão a profissionalidade docente na educação infantil:

9 O conceito de profissionalidade docente diz respeito à acção profissional integrada que a pessoa da educadora desenvolve junto das crianças e famílias com base nos seus conhecimentos, competências e sentimentos, assumindo a dimensão moral da profissão (2008, p.133). A autora coloca que a identidade profissional está voltada para a categoria de ensino a ser ministrada, no caso em questão a educação infantil. E é neste patamar que o indivíduo toma partido da construção dessa identidade. Dessa forma se percebe que são muitos os fatores que contribuem para uma formação sólida e concreta dessa identidade profissional e, em muitos destes fatores, permite-se destacar o entendimento amplo do que é ser criança, pois é a partir desse conceito que o educador completará sua identidade, fortalecendo sua atividade diária com competência e segurança. A criança é um ser humano repleto de contextos, que merece respeito as suas especificidades, gerando a partir desse respeito o reconhecimento da identidade do ser criança e conseqüentemente da identidade do ser professor. Moss. P, deixa transparecer em suas palavras que o entendimento de criança como um ser ativo em todos os aspectos da vida, desmembra novos conceitos de criança no seu mais puro mundo de múltiplas linguagens: Desse entendimento de criança como co-construtora, cidadã, agente, membro do grupo, advém uma outra série de linguagens. A criança como forte, competente, inteligente, um pedagogo poderoso, capaz de produzir teorias interessantes e desafiadoras, compreensões, perguntas e desde o nascimento, não em uma idade avançada quando já ficaram prontos. Uma criança com uma voz para ser ouvida, mas compreendendo que ouvir é um processo interpretativo e que as crianças podem se fazer ouvir de muitas formas. Em resumo, essa construção da criança produz uma criança rica (2008, p. 242). Este imenso repertório de valores que a criança traz consigo, mostra que o educador tem que estar completamente esclarecido de que a criança não somente habita no lugar em que ela está inserida, mas principalmente participa de tudo a sua volta, demonstrando que independentemente das suas limitações é um ser produtor do seu próprio saber, da sua própria cultura e da sua própria identidade. Oportuno destacar que a identidade do profissional da educação infantil, está visivelmente atrelada ao seu perfil profissional, pois ambos são construídos em conjunto, dando ênfase em questões como a qualidade do ensino e o compromisso para com o próprio desenvolvimento profissional.

10 Por conseguinte, cada atitude que o mediador tomar em partido da sua identidade, faz dele uma pessoa questionadora sobre a sua atual qualificação, pois é nesta que o seu trabalho estará alicerçado, podendo ser reconstruído à medida que for se descaracterizando. E para o mestre da educação infantil, isso é mais do que um dever, no qual ele estará lidando com pessoas que apesar do pequeno tamanho, são grandes na sua competência de descobrir o mundo e aprender por si mesmas. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa iniciou-se com uma breve visita de quatro dias em uma creche municipal, da cidade de Cuiabá,MT, no mês de setembro de 2010. As alternativas metodológicas escolhidas para conduzir este trabalho foram às seguintes: pesquisa de Campo (estudo de caso descritivo), pesquisa bibliográfica, observação não participante, registro no caderno de campo, registro fotográfico e aplicação de questionários, numa linha de pesquisa qualitativa e quantitativa. Com a pesquisa de campo focou-se em todos os detalhes relacionados ao ambiente pesquisado, utilizando-se também como complementação o registro fotográfico e o registro de campo onde houve maior exploração do contexto educativo da unidade de ensino. Para dar suporte à informação adquirida durante a pesquisa de campo teve-se a necessidade da utilização da pesquisa bibliográfica, sendo este fator importantíssimo na consagração de um repertório lingüístico rico e verdadeiramente conciso na produção das discussões das análises decorrentes da pesquisa. Partindo de uma linha de pesquisa tão envolvente nas questões do cotidiano a ser desmembrado por diferentes olhares, observou-se indiretamente todas as pistas encontradas no dia-a-dia da creche, destacando que em nenhum momento palpitou-se em relação às atividades desenvolvidas pelas educadoras, pelo contrário, se utilizou desta experiência para incrementar ainda mais o conhecimento a cerca dos profissionais que atuam na educação infantil. Em relação ao questionário teve-se a incumbência de aplicação de dezessete questionários contendo vinte e quatro perguntas intercaladas em perguntas abertas e fechadas para as educadoras da instituição, onde se enfatizou perguntas que caracterizasse a formação e a identidade daquelas profissionais.

11 Decorrente deste instrumento de pesquisa baseou-se nas análises qualitativas e quantitativas dos sete questionários devolvidos, onde se discutiu cada questão abordada com o intuito de apresentar dados significativos para o público que posteriormente fará a leitura ou releitura do contexto apresentado neste trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa foi efetivada com uma amostra de sete educadoras na faixa etária de 24 à 49 anos de idade, dos quais, 42% estão entre 30 a 39 anos, 29% entre 24 a 29 anos e 29% com igual ou mais de 40 anos. A maior parte dessas profissionais é solteira totalizando 57%, 29% das educadoras são casadas e apenas 14%, viúvas. Em relação à formação das educadoras constatou-se que, 57%,possui apenas o diploma de ensino médio voltado para áreas distintas como magistério, auxiliar de escritório e técnico em desenvolvimento infantil, deixando transparecer neste sentido que o conhecimento básico ainda prevalece dentro das instituições de educação infantil, deixando a desejar no contexto educativo propiciado as crianças pequenas. Cerca de, 29% dessas profissionais concluíram o Curso de Pedagogia, é de se verificar, que a formação em pedagogia é essencial para ampliar o conhecimento específico em relação às teorias que explicitam não só as fases de desenvolvimento das crianças, como também as leis que envolvem esta modalidade de ensino. Pois para atuar na educação infantil não basta apenas ter experiências adquiridas no dia-a-dia, mas sim uma integração de saberes onde a teoria e a prática estejam em comunhão no desenrolar de cada atitude tomada dentro do ambiente educacional. Vale destacar que desses 29% de profissionais que concluíram o curso de pedagogia 50% possui também o diploma universitário na área de matemática. Apenas 14% das educadoras infantis disseram ter cursos em outra área do conhecimento, sendo este específico na área de administração de empresas. Quando questionadas se tiveram dificuldades para adaptar-se ao trabalho, a maioria das educadoras (57%), responderam não ter tido nenhuma dificuldade, sinalizando que a educação infantil apesar das várias exigências, é um ambiente de fácil adaptação, principalmente para aqueles profissionais que querem aprender e conquistar o seu espaço.

12 Em analise as respostas, é importante salientar que o primeiro contato com qualquer ambiente de trabalho é constrangedor, gera medo e insegurança, mas o funcionário não pode se deixar abater por suas limitações tem que encarar com firmeza e demonstrar que é capaz de estar na profissão escolhida. Ademais o caminho da docência é cheio de incertezas, de desafios, principalmente quando se trata da criança pequena, mas este caminho é um caminho que precisa de pessoas que mereçam estar nele, e mergulhem nas surpresas que ele proporcionar, onde o ato de ensinar e aprender são mútuos e nada dá mais prazer do que experimentar o sabor de cada conquista. Inclusive, em muitos momentos na vida precisamos nos adaptar, seja na escola, numa casa nova, no emprego novo, no casamento, na cidade desconhecida, enfim, em várias novas experiências, mas tudo se aprende e se acostuma, quando a pessoa tem sede de superação. Quando questionadas, a respeito de ter freqüentado cursos de atualização nos últimos cinco anos, a grande maioria das educadoras, com exceção de uma que não respondeu, afirmaram ter se qualificado em cursos de atualização, demonstrando que não ficaram paradas no tempo, pois na sociedade em que vivemos não podemos ser ingênuos de pensar que o conhecimento não necessita ser aprimorado. O educador da contemporaneidade é aquele que pensa no futuro dos seus alunos, que corre atrás de novas fontes de aprendizagem ou de novas teorias para compreender alguma deficiência ou distúrbio que seu aluno possa ter e demonstrar no dia-a-dia em sala de aula. Hoje, o patamar da educação é a inclusão em todos os aspectos, principalmente quando se trata das creches e pré-escolas, onde o facilitador tem que estar preparado para lidar com múltiplas situações e isso exige que o profissional esteja aberto a novos horizontes, no qual ele terá que investigar e pesquisar novos mecanismos para satisfazer se não completamente mais parcialmente às necessidades dos seus alunados, contribuindo significativamente na qualidade de vida desses seres tão vulneráveis. Cerca de 57% das educadoras, afirmaram estar satisfeitas com o atual trabalho, em geral, isso nos mostra que apesar da complexidade que é trabalhar com a educação infantil, elas estão felizes em fazer parte desse mundo cheio de aventuras. Pois quando o docente está satisfeito com a sua prática é porque ela está lhe proporcionando

13 alegrias, prazeres, conquistas, pois a satisfação em um ambiente de trabalho não se baseia somente no salário, no cargo mais cobiçado, mas sim nas recompensas adquiridas com as experiências do seu cotidiano. Soma-se a esse fato a educação infantil é um espaço destinado a profissionais que querem e gostam de ensinar, de aprender, de contribuir, de zelar, de participar e socializar o conhecimento. Ou seja, é um espaço destinado a pessoas com prazer de acolher, de dar a mão, de buscar aquilo que favoreça os pequenos e as pequenas em processo de descoberta, pois o educador tem que ter em mente que todos (adultos e crianças) estão ali para fortalecer, construir e reconstruir suas histórias, suas especificidades, suas identidades, sem que haja nesta relação um poder de autoridade, de egoísmo, de insatisfação. Larrosa apud Furlanetto contribui com as seguintes palavras: A criança não se pode antecipar, nem se projetar, nem se idealizar, nem se determinar, nem se antecipar. A criança não cumpre nada, não realiza nada, não culmina nada. É um limite, uma fronteira, um salto, um intervalo, um mistério... A criança abre um devir que não é senão o espaço de uma liberdade sem garantias, de uma liberdade que não se sustenta mais sobre nada, de uma liberdade trágica, de uma liberdade que não pertence à história, mas que inaugura um novo começo, de uma liberdade libertada. Sob o signo da criança, a liberdade não é outra coisa senão a abertura de um porvir que não está determinado nem por nosso saber, nem por nosso poder, nem por nossa vontade, que não depende de nós mesmos. Que não está determinado pelo que somos, mas que se indetermina no que vemos a ser. A liberdade é a experiência da novidade, transgressão, do ir além do que somos, da invenção de novas possibilidades de vida (2007, p.74). Compreende-se que a satisfação vem do coração, como fonte de transformação, de equilíbrio, de amor a vida, pois a vida sem o sabor das incertezas, não é vivida com entusiasmo, sendo assim, que os futuros educadores da educação básica, escolham a modalidade que satisfaça a sua vida profissional, para que possa olhar para trás e sentir orgulho do caminho percorrido. Em relação às fontes principais para aprender a exercer o seu trabalho atual, foram escolhidas entre várias alternativas as três mais votadas pelas educadoras para serem discutidas no corpo do trabalho, sendo estas colocadas por ordem de importância. Como primeira principal fonte quatro (4) das sete (7) investigadas escolheram a experiência e a prática profissional, sendo estas defendidas como forma de aprendizagem significativa por quase todas as educadoras que atuam nesta categoria,

14 onde se permite observar que ainda prevalece a concepção de que para aprender fazer algo desconhecido, o importante é praticar, pois, sem a prática fica difícil adquirir habilidades. Como segunda fonte mais importante três (3) das sete (7) investigadas escolheram a formação escolar de base, deixando a interpretar que as educadoras não valorizam nem a formação científica, nem a formação continuada, contradizendo as respostas expostas anteriormente, ou seja, só a formação de base não qualifica nenhum profissional, ainda mais neste caso específico que é a educação infantil. Como terceira fonte mais importante três (3) das sete (7) entrevistadas escolheu a experiência pessoal e familiar, indicando que as profissionais dão um grau significativo para aprender fazer em conjunto com suas próprias experiências de vida tanto individual, quanto familiar, isso nos permite diagnosticar que por mais que estas duas experiências sejam válidas na questão do fazer docente, não é suficiente para preparar os pequenos seres humanos para uma vida cheia de surpresas no futuro a ser seguido. Analisando as respostas dadas a questão: defina sua própria competência na área na qual atua, por meio de uma auto-análise, tanto de conhecimento quanto de experiência., pode-se constatar que grandes partes das educadoras conseguiram descrever sua competência, fazendo uma auto-análise, tanto de conhecimento quanto de experiência, na qual nenhumas das respostas foram compatíveis umas com as outras. Cada uma delas expressou um ponto de grande importância na sua prática, sendo estes: aprimoramento do saber, amor pela profissão, competência e experiência profissional. Todos esses fatores destacados pelas educadoras têm sua parcela de contribuição para com a formação docente e para o fortalecimento da identidade das profissionais de educação infantil. Quando se fala em formação e identidade, se fala em questionamento, inquietação, transformação e amadurecimento deste profissional, pois, a sua valorização e o seu reconhecimento depende exclusivamente da sua capacidade de querer progredir, de querer ir além daquilo que ele já conquistou. Por conseguinte, os profissionais da criança pequena são conhecedores de que para reconstruírem suas histórias e definir suas fronteiras é necessário que se comprometam com o seu campo de atuação, correndo atrás de uma formação melhor,

15 que garanta lutar pelos seus direitos, pois nada adianta demonstrar sua insatisfação, se nada faz para ampliar seu crescimento profissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS A identidade e a formação das educadoras de creche ainda permanecem a passos lentos, principalmente pelo fato de que poucas delas possuem formação adequada para estarem desenvolvendo um trabalho diferenciado e inovador para com as crianças da rede pública. Assim, propõe-se que os atuantes e os futuros profissionais que desejam um reconhecimento a altura das suas responsabilidades, sejam protagonistas assíduos do seu crescimento profissional e pessoal, pois só assim terão subsídios para lutar com segurança e credibilidade, demonstrando que vale a pena serem recompensados com valorização e respeito. Que a formação docente esteja em primeiro lugar nas suas atitudes como formador de seres em processo de evolução e que seja utilizado da curiosidade para adquirir novas formas de contemplar a aprendizagem em todos os sentidos. Para tanto se espera que a presente pesquisa colabore para reflexões e indagações à muitos profissionais da área da educação infantil e que para além de questionamentos, possa ser alvo de muitas outras pesquisas que nos levem a conhecer novas realidades e que positivamente nos apontem outras problemáticas a serem discutidas e resolvidas na sociedade das constantes mudanças. Para finalizar, é interessante destacar que o prazer de ser professor está justamente na sua posição constante do ser aprendiz e esse estado não termina no ensino médio, na faculdade ou em qualquer outro curso de atualização, ele tem uma continuidade infinita que garante as características necessárias para o profissional de qualquer área da educação básica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003. BONETTI. N. Leis de diretrizes e bases e suas implicações na formação de professores de educação infantil. In: FILHO, A. J. M. (org.). Criança pede respeito: temas em educação infantil. Porto Alegre: Mediação, 2005. FILHO, A. J. M. (org.). Criança pede respeito: temas em educação infantil. Porto Alegre: Mediação, 2005.

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