A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

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Transcrição:

A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA Resumo Gelvânia Mailde Flores 1 - UDE Eixo: Alfabetização, leitura e escrita Agência Financiadora: não contou com financiamento O objetivo do presente artigo foi entender a forma como a prática pedagógica no Ensino Fundamental pode auxiliar a língua escrita no processo de alfabetizar letrando. Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória onde os dados foram coletados por meios da técnica bibliográfica, onde traz a concepção de alfabetização, como um processo de contínua reflexão, sobre o ato da leitura e da escrita, através de experiências sociais significativas. Aborda ainda a origem do termo letramento, como complemento a alfabetização de forma a valorizar o cotidiano social do professor no reconhecimento dos saberes prévios dos sujeitos envolvidos, fundamentais para atribuir significado e construir autonomia no processo do ensino e da aprendizagem. Em outro momento pautado nos estudos construtivistas a preocupação era como a criança se apropriava deste sistema e por isso, o ensino visava a imersão da criança no mundo da escrita por meio de textos autênticos. Inicialmente, o ato de alfabetizar era considerado como processo de decodificação, ou seja, que através de mecanismos repetitivos o aluno iria decorar os códigos ou letras para simultaneamente ler e escrever. O processo de alfabetização depende também das experiências prévias de cada alfabetizando, que acontecem antes mesmo da educação escolar, através das atividades não formais que as crianças vivenciam, assim podem criar estratégias para tentar identificar, interpretar o que está no texto codificado por letras. Embora essa nova compreensão do que seja ler e escrever já tenha ganhado vários adeptos no cenário educacional atual, ainda há um embate entre o que seja alfabetização e letramento, visto que a prática de alfabetizar no sentido acima descrito, ainda é muito difundida. Os educadores ainda não se sentem seguros para modificar uma prática há tantos anos utilizada, o que gera práticas pedagógicas descontextualizadas das experiências sociais em que a linguagem será utilizada. Palavras-chave: Aprendizagem. Alfabetização. Letramento. Introdução A alfabetização sempre foi foco de discussão na educação. Em determinado momento discutiam-se os métodos e, com isso o ensino enfatizava o código linguístico. Em outro 1 Mestranda do Curso de Pós-Graduação Strictu Sensu da Faculdad de La Empresa - UDE - Uruguai. gelvania30educadora@gmail.com. ISSN 2176-1396

24232 momento pautado nos estudos construtivistas a preocupação era como a criança se apropriava deste sistema e por isso, o ensino visava a imersão da criança no mundo da escrita por meio de textos autênticos. Estes momentos anteriores foram importantes e necessários na medida em que são processos históricos e sociais, mas fundamentalmente para que pudéssemos perceber que tanto a apropriação do sistema de escrita como o trabalho com os textos autênticos é indispensável nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Vivenciamos um momento de busca pela qualidade na educação, momento este em que se percebe a importância de que o aprendizado do sistema alfabético aconteça apoiado na ideia da língua em uso. Neste sentido, o alfabetizar letrando tem sido discutido por diferentes autores (SOARES, 2004, MACIEL e LÚCIO, 2008, MORAIS, 2010). Inicialmente, o ato de alfabetizar era considerado como processo de decodificação, ou seja, que através de mecanismos repetitivos o aluno iria decorar os códigos, ou letras para simultaneamente ler e escrever. O processo de alfabetização depende também das experiências prévias de cada alfabetizando, que acontecem antes mesmo da educação escolar, por meio das atividades não formais que as crianças vivenciam, assim podem criar estratégias para tentar identificar, interpretar o que está no texto codificado por letras. Verificamos que as crianças quando estão mediante um texto, elaboram hipóteses e têm critérios investigativos para descobrir e desvendar as informações que os jornais, os livros, as revistas, os outdoors, as placas, os rótulos comportam. Utilizam informações prévias como: tipo de tamanho de letra, se é colorida ou discreta, retiram indícios das gravuras que o texto traz e, assim, elaborando uma possível representação da mensagem. Todo esse repertório de investigação está num processo mental reflexivo elaborado desde as primeiras noções que podem construir em torno da leitura, esse conjunto é o que constitui o contexto do universo de letramento numa mútua implicação com a alfabetização. Enfim, o presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, pois a pesquisa constitui-se em elemento fundamental, porque promove a construção de novos conhecimentos, proporcionando a extensão do ensino. Será uma pesquisa básica, porém objetiva que irá gerar conhecimentos úteis para o entendimento de como a prática pedagógica auxilia a língua e escrita, no processo de alfabetizar letrando.

24233 Letramento O Letramento é um tema de estudo recente no Brasil. De acordo com Soares (2006, p. 15), tal palavra só aparece [...] nos discursos dos especialistas da área na metade dos anos 80. Apesar de relativamente novo, o estudo do processo de letramento vem ganhando espaço nas pesquisas mais recentes na busca de novos modos de ensinar, aprender e compreender o processo de aquisição/internalização da linguagem escrita. As práticas de ler e escrever são fundamentais para qualquer pessoa que vive hoje em nossa sociedade. A escrita está por toda parte e tornou-se fundamental para a participação plena na vida cotidiana. Entretanto, a compreensão do que é aprender a ler e escrever se restringiu, durante muito tempo, à simples noção de conhecimento das letras do alfabeto ou da pura decodificação dos grafemas do nosso sistema linguístico. Como consequência, a palavra alfabetização tornou-se sinônimo de codificação e decodificação da linguagem escrita. Este entendimento tem provocado críticas daqueles que se preocupam com uma compreensão mais abrangente do termo que englobe o saber utilizar a leitura e a escrita: de fato, ainda é preciso aprender a ler e escrever, mas a alfabetização, entendida como aquisição de habilidades de mera decodificação e codificação da linguagem escrita e as correspondentes dicotomias analfabetismo x alfabetização e analfabeto x alfabetizado não bastam (...) mais. É preciso, hoje, também saber utilizar a leitura e a escrita de acordo com as contínuas exigências sociais, e esse algo mais são o que se vem designando de letramento (MORTATTI, 2004, p. 34). Embora essa nova compreensão do que seja ler e escrever já tenha ganhado vários adeptos, no cenário educacional atual, ainda há um embate entre o que seja alfabetização e letramento, visto que a prática de alfabetizar no sentido acima descrito, ainda é muito difundida. Os educadores ainda não se sentem seguros para modificar uma prática há tantos anos utilizada, o que gera práticas pedagógicas descontextualizadas das experiências sociais em que a linguagem será utilizada. O que já se estudou sobre o letramento, indica que seus benefícios para a formação de alunos acontecem a partir do momento em que a linguagem passa a ser entendida como parte de uma prática social. Dessa maneira, haverá a formação de alunos capazes de utilizá-la para as mais diversas práticas sociais vividas no dia a dia. Ancorados na perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (1993) e na perspectiva enunciativo-discursiva de Bakhtin (1986) procuraram aprofundar a discussão sobre o processo de letramento.

24234 Tal orientação teórica foi escolhida por enfatizar a existência humana como social, ou seja, por conceber que a formação do indivíduo se dá a partir de suas experiências sociais. Além disso, esse embasamento teórico permite valorizar o processo da aprendizagem, e não o seu resultado final, ou seja, prioriza o entendimento de como esse processo ocorre. Segundo Vygotsky (1993), o indivíduo vai se transformando pelo outro, portanto, é a partir da mediação do outro que a criança significa seu mundo, se constrói como indivíduo em seu meio social, em suas inter-relações. É nesta mediação que ele incorpora a cultura dominante e, principalmente a linguagem. A sala de aula é um espaço onde ocorrem processos educativos que nada mais são do que práticas sociais. Tais práticas podem ser denominadas de sociais, porque nesse espaço se articulam dialeticamente experiências de professores, experiências de alunos, conceitos escolares, construções de significados e inúmeras possibilidades interativas. É também no espaço escolar, nas relações sociais com professores e colegas, que o aluno vai se constituindo o seu eu. O ser humano está dentro das relações sociais e a formação do seu eu só se dá se ele estiver neste meio social. É uma formação pelo outro, com o outro, no meio social. Assim, se o indivíduo se forma a partir da relação com o mundo e com o outro, significa que esta relação é mediada e, entendendo com se dá essa mediação, nessa relação professoraluno, poderemos compreender melhor os acontecimentos que envolvem a prática pedagógica do letramento. De acordo com Freire e Macedo (1990), a alfabetização significa adquirir a língua escrita através de um processo de construção do conhecimento, dentro de um contexto discursivo de interlocuções e interação, com uma visão crítica da realidade. Ferreiro, aborda que aprender a ler e escrever, em uma sociedade letrada, tem o significado de apropriação de poder, de instrumento que permite participar na sociedade como um cidadão pleno, e não como cidadão pela metade (1990, p. 69). Segundo a professora Soares (1998), alfabetizar e letrar são duas ações distintas, não são inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, pois entende-se que alfabetizar é proporcionar à criança a aquisição da escrita e da leitura de forma que ela possa refletir sobre seu mundo. Onde ela tenha consciência da função social das mesmas. Bakhtin (1986) apresenta uma concepção de linguagem em que a interação verbal é o princípio norteador; em que o diálogo é algo que constitui o ser humano, mas não é individual,

24235 é sempre coletivo e está sempre na comunidade linguística, então a concepção de sujeito não pode estar focada no indivíduo em si mesmo e para si mesmo. Segundo Bakhtin (1986, p. 124), a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes. O referido autor nos mostra, portanto, que os sujeitos são subordinados à lógica da língua e do meio social, inconscientemente a língua molda o sujeito, pois ele não adquire a língua, ele vivencia situações de enunciação, de fala. Estes sujeitos são, portanto, sociais. Sua subjetividade se constitui depois da sua intersubjetividade, já que o interlocutor com quem o sujeito interage marca o que ele vai dizer: o centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é interior, mas exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo. (...) A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala imediato ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística. (BAKHTIN, 1986, p. 121). Segundo Richard Bamberguer (1986), se conseguimos fazer com que as crianças tenham sistematicamente um experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo seu desenvolvimento como ser humano. A discussão sobre as práticas pedagógicas que vem ocorrendo na escola, relacionadas ao letramento e alfabetização, é importante para a transformação e reflexão sobre as mesmas. O mundo do letramento Vivemos no mundo letrado de rabiscos, símbolos, livros, siglas, palavras as quais transmitem muitas informações, as crianças que vivem em ambientes ricos em experiências de leitura e escrita se motivam para ler e escrever. Por meio da oralidade as crianças participam de diferentes situações de interação social e aprende sobre elas próprias, sobre a natureza e sobre a sociedade. (MORAES E ALBUQUERQUE, 2004, p. 168). Ao adotar uma perspectiva global e conhecimento se aprofunda, quando observando aos adultos pegando caneta, folheando livros, assinando cheques, lendo correspondências, a criança passa a se interessar pelo mundo letrado, dessa forma: atenta partindo da aprendizagem de palavras próximas, como os próprios nomes, as crianças são capazes de incrementar seu universo de palavras e sons conhecidos. Ao mesmo tempo em que se vão desenvolvendo nesse processo são capazes de gerar

24236 outras palavras jogando com as outra letras, as sílabas os sons e dotando-se de sentido com os demais a cada nova gerada (TEBEROSKY E GALLART, 2004, p. 46). A criança passa a compreender que a língua escrita tem uma função social, serve para comunicar-se. Portanto, a criança deve escrever sempre, mesmo quando a escrita parece apenas um rabisco, pois assim ela cria um comportamento escritor. A criança primeiro aprende o sistema da escrita e só depois faz o uso social dela, mesmo a criança que ainda não aprendeu a ler e escrever mas já ingressou no mundo do letramento, já é, de forma letrado. Como preconiza Soares (1998), que entende-se que alfabetizar é proporcionar a criança a aquisição da escrita e da leitura de forma que ela possa refletir sobre seu mundo, onde ela tenha consciência da função social das mesmas. Se a criança na fase de alfabetização necessita descobrir a verdadeira função da escrita e da leitura, o professor alfabetizador deverá encontrar meios que levem a criança a esta descoberta. Assim, ele terá na literatura infantil um aliado neste processo, pois a mesma é um canal de acesso ao mundo escrito, levando a criança de maneira lúdica a adquirir novos conhecimentos, enriquecendo seu mundo. Segundo Richard Bamberguer (1986, p. 51), se conseguimos fazer com que a criança tenha sistematicamente uma experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo se desenvolvimento como ser humano. Considerações finais Pensar letramento e alfabetização, como processos simultâneos e interdependentes, é avançar em nossas reflexões. Alfabetização e letramento são palavras conectadas, palavras chaves, porque é pela alfabetização e o letramento que as crianças começam a participar diretamente do mundo, exercitando suas funções sociais, como cidadão consciente, dominando a escrita e a leitura convencional nas suas práticas sociais. Um estudo mais aprofundado sobre letramento nos proporciona uma nova visão sobre leitura e escrita, já que no mundo da educação, este é uma das questões mais relevantes, pois a partir do domínio desses dois aspectos os estudantes podem se apropriar e ampliar seu conhecimento. O indivíduo que é capaz de fazer o uso da leitura e da escrita de diversas maneiras nas suas relações sociais se apropria delas, o que modifica sua condição social, cultural, cognitiva, entre outros, já que consegue responder as demandas sociais da leitura e da escrita, podendo dessa maneira participar, interferir e intermediar todas essas relações:

24237 [...] ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é torna a escrita própria, ou seja, é assumi-la como sua propriedade (SOARES, 2006, p. 39). Dessa forma, fica claro que é preciso sim alfabetizar, mas de maneira que os alfabetizados fiquem em contato com ambientes de letramento, em que a leitura e a escrita tenham uma função social e não sejam utilizadas somente para a codificação e decodificação de símbolos gráficos. O ideal seria [...] alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado. (SOARES, 2006, p. 47). Identificou-se nesse estudo, a necessidade de maior discussão dessas práticas com os professores, para que as atividades propostas possam ser mais bem aproveitadas e assim, possam garantir aos alunos o acesso amplo ao mundo da escrita, porque grande parte dos professores considera que alfabetizar pura e simplesmente é suficiente, porém é necessário que além que se decifrar os códigos, as crianças compreendam o que leem e escrevem e possam interferir no mundo social que vivem. O desafio que se coloca para os primeiros anos da Educação Fundamental é o de conciliar esses dois processos, assegurando aos alunos a apropriação do sistema alfabético ortográfico e condições possibilitadoras do uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita. Esses dois conceitos, alfabetização e letramento, são comumente confundidos, mas se analisarmos os conceitos percebemos que é a diferença e a semelhança entre os dois, que os torna relevantes, dessa forma é importante também aproximá-los. A diferenciação se faz necessária porque na área da educação, o conceito de letramento tem se confundido a especificidade do processo de alfabetização; porque o processo de alfabetização, embora seja distinto do letramento, ele reconfigura-se no conceito de letramento, assim como um depende do outro para que a criança possa compreender o mundo em que vive. Nesta perspectiva surge o termo multiletramentos, no qual o ato de ler envolve articular a diferentes modalidades de linguagem além da escrita. Percebe-se que o multiletramento está presente no cotidiano dos alunos, que utilizam aparelhos tecnológicos, são curiosos com o assuntos que despertam seus interesses e desejam conhecer mais. Porém, a realidade em que estão inseridos não abre possibilidades para que desenvolvam de maneira plena o conhecimento que possuem, que utilizam no seu cotidiano, pois são descartados pela escola e isso acaba tornando-se uma barreira para o desenvolvimento escolar.

24238 O papel da escola e do professor, consiste em instigar para a reflexão para o fazer e o avaliar no plano da crítica e do estabelecimento das relações. Os multiletramentos desafiamnos a ler e conhecer mais sobre diferentes aspectos e a responsabilidade de ofertar um ensino dinâmico e coadunado com as necessidades de leituras múltiplas do contexto em que vivemos, não é apenas do professor, mas de todos os atores educacionais. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986. BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito da leitura. São Paulo: Ática, 1986. FERREIRO, E. Os Filhos do Analfabetismo: propostas para a alfabetização escolar na América Latina. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. FREIRE, P.; MACEDO, R. Alfabetização: leituras do mundo, leituras da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. MACIEL, F. I. P. LÚCIO, I. S. Os conceitos de alfabetização e letramento e os desafios das articulações entre teoria e prática. Belo Horizonte: Autêntica Editora: Ceale, 2008. MORTATTI, M. R. L. Educação e Letramento. São Paulo: UNESP, 2004. MORAIS, A. ALBUQUERQUE. E. LEAL, T. Alfabetização: apropriação do sistema de escrita alfabética. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2004. MORAIS, A. G. Alfabetização e letramento: Belo Horizonte: Autêntica, 2010. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 26º Reunião Anual da Anped, 2004.. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. TEBEROSKY, A.; GALLART, M. S. Contexto de alfabetização inicial. Trad. Francisco Setteneri. Porto Alegre, Artmed, 2004. VYGOTSKI, L. S. Pensamento e Linguagem. Martins Fontes: São Paulo, 1993.