Associação entre fatores de risco ambientais e organizacionais do trabalho e distúrbios vocais em professores da rede estadual de ensino de alagoas estudo de caso-controle 1. Distúrbios da voz 2. Fatores de risco 3. Condições do trabalho INTRODUÇÃO Os agravos à comunicação humana já foram largamente descritos. Há que evoluir no conhecimento mais detalhado de questões ligadas aos fatores de risco para tais alterações, além da repercussão destes na vida do sujeito (Goulart e Chiari, 2006). No estado de Alagoas, a ausência de estudos sobre a associação entre os distúrbios vocais e os fatores de risco no ambiente de trabalho motivou o presente estudo. Acredita-se que o conhecimento da realidade enfrentada pelo professor no seu ambiente de trabalho proporcionará o desenvolvimento de ações mais eficazes. A realização de tal estudo também se torna necessária principalmente se considerarmos que se pode intervir em alguns fatores predisponentes para distúrbios vocais, mesmo que exista muita polêmica sobre a temática, em virtude do complexo contexto que o professor está inserido. O conhecimento dos fatores associados pode subsidiar atuações profissionais mais direcionadas e efetivas. O objetivo do estudo foi avaliar a associação entre os distúrbios vocais e os fatores ambientais e organizacionais do processo de trabalho dos professores da rede estadual de ensino de Alagoas. MÉTODOS Estudo do tipo descritivo-exploratório, sendo um grupo constituído por professores acometidos pelo distúrbio vocal que solicitaram afastamento de suas atividades docentes entre janeiro e dezembro de 2007 (grupo 1) e um grupo composto por docentes também vinculados à Secretaria do Estado de Educação e Esporte de Alagoas, sem histórico de queixa vocal ou afastamento do trabalho por fatores ligados a distúrbios vocais (grupo 2). Os critérios de inclusão para constituição do grupo 1 foram: diagnóstico de distúrbio vocal, lotação na rede estadual de ensino e afastamento de sala de aula através da Diretoria de Perícias Médicas e Saúde Ocupacional do Estado de Alagoas, no período de janeiro a dezembro de 2007. Para constituir o grupo 2, o professor não poderia apresentar queixas de alterações vocais. Os professores do último grupo foram pareados com o grupo 1 por faixa etária, sexo e escola. Os critérios de exclusão para o grupo 1 foram: déficits sensoriais, distúrbios cognitivos ou neurológicos, além
da falta de desejo de participar do estudo. Já no grupo 2: queixas e históricos de alterações vocais, além da presença de déficits sensoriais, distúrbios cognitivos ou neurológicos. Não foi realizado técnica de amostragem para formação do grupo 1, considerando que o estudo foi realizado com toda a população de professores (57) com diagnóstico de distúrbio vocal da rede estadual de ensino, afastada de sala de aula, no período de janeiro a dezembro de 2007, através da Diretoria de Perícias Médicas e Saúde Ocupacional do Estado de Alagoas. Para o grupo 2 foram utilizados critérios de pareamento por sexo, idade e escola, preenchimento de lista de sintomas (Behlau, Dragone e Nagano, 2004) e avaliação vocal. Os indivíduos elegíveis para pesquisa, de acordo com os critérios de inclusão, foram convidados a participar do estudo pela pesquisadora principal pessoalmente ou por telefone. Mesmo nessa última situação, a pesquisadora aplicou o instrumento da pesquisa pessoalmente, com a intenção de verificar as condições referidas pelo professor do ambiente de trabalho. O questionário auto-aplicado (Ferreira et al., 2003) foi entregue ao professor, em envelope individual e, para obter maior adesão ao estudo, em função das questões abordadas, não foi solicitada a identificação do participante. O instrumento já foi utilizado em outras pesquisas e é composto por 81 questões, dividido em seis blocos: identificação do questionário, identificação do entrevistado, situação funcional, aspectos gerais de saúde, hábitos e aspectos vocais. Os dados foram tabulados e processados pelo aplicativo para microcomputador Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 16.0. Para a descrição dos dados, fez-se uso da apresentação tabular e gráfica das médias. A normalidade das amostras foi observada através dos testes de Shapiro-Wilk. Após os dados obtidos serem caracterizados com a utilização de técnicas de estatística descritiva, aplicou-se o teste de Mann-Withney para análise dos fatores organizacionais e ambientais e dos hábitos vocais entre os grupos. Os valores foram considerados significativos para p menor ou igual que 0,05 (p 0,05). O valor do erro beta admitido foi de 0,1. RESULTADOS A amostra foi composta por 114 indivíduos, distribuídos em dois grupos (grupo 1 e grupo 2), pareados por idade, gênero e escola. Dentre os entrevistados, 102
(89,5%) professores eram do gênero feminino, a média de idade foi de 45,9 anos (dp± 5,37). As características da amostra referentes ao estado civil, escolaridade, tipo de ensino e carga horária semanal de trabalho podem ser visualizados na tabela 1. Tabela 1 Distribuição percentual de professores, por grupo, segundo estado civil, escolaridade, tipo de ensino e carga horária semanal Estado civil Variáveis Grupo 1 (casos) N (%) Grupo 2 (controles) N (%) Solteiro Casado Separado 3(5,3%) 12(21,1%) 49(86,0%) 29(50,9%) 5(8,8%) 16(28,1%) Escolaridade Superior Completo 41(71,9%) 24(42,1%) Superior em andamento 7(12,3%) 22(38,6%) Superior incompleto 0(0%) 11(19,3%) Médio completo 4(7%) 0(0%) Outros 5(8,8%) 0(0%) Tipo de ensino Fundamental + médio 35(61,4%) 16(28,1%) Infantil + fundamental 3(5,3%) 3(5,3%) Médio 0(0%) 13(22,8%) Fundamental 8(14%) 14(24,6%) Infantil 11(19,3%) 11(19,3%) Carga horário semanal de trabalho 10 a 20 horas 5(8,8%) 13(22,8%) 20 a 30 horas 11(19,3%) 28(49,1%) 30 a 40 horas 13(22,8%) 16(28,1%) > 40 horas 15(26,3%) 0(0%) Não atua 13(22,8%) 0(0%)
Na comparação dos fatores organizacionais, de forma geral, o nível de significância foi igual a 0,01. Pode-se, portanto, constatar diferenças destes fatores entre os dois grupos (tabela 2). Tabela 2 - Distribuição dos valores de p (Teste de Mann-Withney) para a comparação entre os grupos 1 e 2 das variáveis relacionadas ao fator organizacional. Fatores organizacionais Nível de significância (valor p) Tipo de ensino 0,01* Carga horária semanal < 0,01* Intervalos de descanso 0,35 Tempo de docência < 0,01* Quantidade de escolas na carreira <0,01* Quantidade de escolas atual < 0,01* Tempo da escola atual < 0,01* *estatisticamente significante (p 0,05) Quanto aos fatores ambientais, apenas as variáveis escola ruidosa, fonte de ruído e poeira apresentaram-se diferentes entre os grupos, com valores de p iguais a 0,01 (tabela 3). Tabela 3 Distribuição dos valores de p (Teste de Mann-Withney) para a comparação entre os grupos das variáveis relacionadas ao fator ambiental. Fatores ambientais Nível de significância (valor p) Ambiente de trabalho calmo 0,56 Escola ruidosa 0,01* Fonte de ruído 0,01* Poeira 0,01* Fumaça 0,79 Temperatura agradável 0,13
Tamanho adequado da sala 0,68 *estatisticamente significante (p 0,05) CONCLUSÕES O estudo identificou associação entre os distúrbios vocais em professores da rede estadual de ensino de Alagoas e fatores passíveis de intervenção ou modificação. Novos estudos são necessários para compreender melhor a presença das patologias vocais em docentes, em suas múltiplas manifestações e estágios. Tal conhecimento é fundamental para orientar propostas de melhorias nas condições ambientais e organizacionais de trabalho que minimizem a sobrecarga da voz no trabalho docente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Goulart BNG, Chiari BM. Construção e aplicação de indicadores de saúde na perspectiva fonoaudiológica contribuição para reflexão. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2006;11(3):194-204. 2. Behlau M, Dragone MLS, Nagano L. A voz que ensina: o professor e a comunicação oral em sala de aula. Rio de Janeiro: Revinter; 2004. 3. Ferreira LF, Giannini SPP, Figueira S, Silva EE, Karmann DF, Souza TMT. Condições de produção vocal de professores da prefeitura do município de São Paulo. Dist Comum. 2003;14:275-307.