Miguel Pupo Correia Professor da Universidade Lusíada de Lisboa Advogado 1
Já tratados nas sessões anteriores Segurança jurídica do Comércio Electrónico documentos e assinaturas electrónicos Formação dos contratos electrónicos Modalidades de contratação electrónica: B2A: Business to Administration B2C: Business to Consumer Aspectos a tratar nesta sessão: B2B: Business to Business - EDI Pagamentos e facturas electrónicas Conflitos de leis e jurisdição 2
Electronic Data Interchange - EDI 3
Intercâmbio de dados informatizados por meios de comunicação electrónica, de modo a concretizar a prática de actos jurídicos, nomeadamente a celebração de contratos É um processo empresarial organizativo e técnico, baseado em tecnologia que permite a transferência electrónica de informação estruturada entre os sistemas de computadores de diferentes organizações, de acordo com normas préestabelecidas As declarações de vontade das partes reconduzem-se a mensagens usando um formato normalizado (p. ex., o EDIFACT, formato estandardizado pela UNCITRAL para facilitar o desenvolvimento do comércio mundial) Os contratos são concluídos mediante conexão entre computadores (p. ex., por protocolos normalizados de transmissão de dados - X400, X435, em redes fechadas: Rede SWIFT, e actualmente via Internet) 4
1. Interchange Agreement : contrato pelo qual as empresas que pretendem estabelecer relações contratuais normalizadas se vinculam a fazê-lo através de EDI: Contrato-tipo, para os aderentes a um operador de um Centro de Compensação EDI : plataforma de contratação EDI Visa uniformizar as regras de conduta essenciais para assegurar a fiabilidade das transmissões de mensagens EDI Aplicável ao intercâmbio de mensagens e dados, e não ao conteúdo dos negócios celebrados a partir da sua aplicação Modelos uniformes de Interchange Agreement: CCI e União Europeia 2. Contrato de prestação de serviços EDI: contrato entre uma empresa prestadora de serviços de comunicações electrónicas nomeadamente gestora de um Centro de Compensação EDI - e os parceiros de relações através de EDI 3. Contratos celebrados via EDI: os que materializam as relações (compras e vendas, prestações de serviços, etc.) entre os parceiros aderentes a um procedimento de EDI 5
«À contratação celebrada exclusivamente por meio de computadores, sem intervenção humana, é aplicável o regime comum, salvo quando este pressupuser uma actuação» (art. 33º LCE) Refere-se aos contratos (mormente de EDI) formados por comunicação electrónica entre computadores, sem que a emissão da proposta e da aceitação ocorram, em cada contrato, mercê da actuação directa de um indivíduo Relevância do problema: a) Erro na formação da vontade, se houver erro de programação; b) Erro na declaração, se houver defeito de funcionamento da máquina; c) Erro na transmissão, se a mensagem chegar deformada ao seu destino. A outra parte não pode opor-se à impugnação por erro sempre que lhe fosse exigível que dele se apercebesse, nomeadamente pelo uso de dispositivos de detecção de erros de introdução. 6
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Transferência electrónica de fundos (EFT): Sentido amplo: abrange cartões (de crédito, de débito, de pré-pagamento, etc.), outros meios ( 3D Secure, MBNet ) Sentido restrito: abrange apenas os meios de transferência originada através de um meio electrónico de processamento de dados computador ou outro para transmitir a uma instituição financeira uma ordem de movimentação de uma conta (excluindo os meios originados por suportes em papel, mesmo que comportem o uso de algum meio electrónico) Utilização de cartões de crédito e débito em pagamentos relativos a contratos à distância: direito (inderrogável) do titular, em caso de utilização fraudulenta do cartão em pagamentos por terceiro, de pedir à entidade emissora a anulação do pagamento e restituição do seu montante (art. 10º do DL 143/2001 LCD) Moeda electrónica: DL nº 42/2002, de 2 de Março 8
A factura como documento probatório indispensável das transacções comerciais, imperativo para prova das obrigações fiscais (IVA, IRC) Factura electrónica: factura formada mediante um processamento electrónico de dados Regime comunitário: Directiva 2001/115/CE, revista e substituída pela Directiva 2006/112/CE Regime nacional: Código do IVA Alterações do Decreto-Lei nº 256/2003, de 21.10 Resol. C.M. nº 137/2005, de 29.7 F.E na Administração Pública Decreto-Lei nº 196/2007, de 15.5 condições técnicas das F.E. Portaria nº 1370/2007, de 19.10 Arquivamento 9
Princípio geral: permissão das FE Não depende de autorização da autoridade fiscal Proibição de os Estados-membros imporem outros requisitos ou formalidades (art. 234º Dir. 2006/112/CE) Transmissão das facturas: Definição: art. 217º da Dir. 2006/112/CE Depende da aceitação dos destinatários (art. 35º, nº 10, do CIVA): contrato de adesão Garantia da autenticidade da origem e integridade do conteúdo - permitidos 2 modos : Assinatura electrónica avançada Intercâmbio electrónico de dados (EDI) Apesar da Directiva o consentir, a lei portuguesa não permite outros meios 10
Armazenamento (arquivamento) das facturas: Obrigações dos sujeitos passivos: Dever de conservação de duplicados das facturas emitidas Permissão de auto-facturação e subcontratação Permissão de escolha do local de armazenamento Dever de conservação de listagens em papel Dever de arquivamento em suporte electrónico Dever de garantir o acesso completo e em linha (online) e de assegurar a autenticidade da origem e integridade do conteúdo durante todo o período do armazenamento 11
Fontes de direito europeu 12
Convenção de Roma de 1980: Liberdade de escolha das partes explícita ou implícita - da lei aplicável (art. 3º) Art. 4º: aplicação supletiva da lei do país com a qual o contrato tiver uma conexão mais próxima Residência habitual ou administração central da parte obrigada a efectuar a prestação característica Estabelecimento principal dessa parte, se o contrato for celebrado no exercício da sua actividade económica A dépeçage : admite-se que as partes possam sujeitar partes separáveis do contrato a leis diferentes Contratos com consumidores (art. 5º): A escolha das partes não pode recair sobre lei que prive o consumidor da protecção conferida pela lei do país da sua residência habitual Nas mesmas hipóteses e na falta de escolha das partes, prevalece a lei da residência habitual do consumidor 13
Regulamento (CE) nº 44/2001, do Conselho, de 22.12.2000: Regra geral: foro do domicílio do demandado (art. 2º Reg. 44/2001) Responsabilidade contratual: foro do local de cumprimento da obrigação (art. 5º, nº 1, Reg. 44/2001) Disposições especiais para protecção do consumidor (arts. 15º, 16º e 17º R. nº 44/2001): O consumidor/demandante pode optar entre o foro do seu domicílio ou o da outra parte; A outra parte/demandante tem que demandar o consumidor no seu domicílio. A ressalva Internet : o critério da direcção da actividade por quaisquer meios Pactos atributivos de jurisdição: Permissão das cláusulas de electio fori (art. 23º Reg. 44/2001) - forma escrita (equiparação da comunicação electrónica) Restrição destas cláusulas nos contratos com consumidores (art. 17º Reg. 44/2001) 14