de Experiência Milho crioulo: tecnologia viável e sustentável 1. Introdução elato



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IRRIGAÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO BAIANO. (ALGODÃO IRRIGADO NO CERRADO BAIANO) (ALGODÃO COM IRRIGAÇÃO COMPLEMENTAR NO CERRADO BAIANO) Pedro Brugnera*

Documento Explicativo

Transcrição:

R elato de Milho crioulo: tecnologia viável e sustentável Meneguetti, Gilmar Antônio* Girardi, Jordano Luís** Reginatto, João Carlos*** 1. Introdução Afirmar que o uso de variedades crioulas ou melhoradas é tecnologia ultrapassada ou que é a solução para os problemas evidencia formas equivocadas e deterministas de análise da situação da agricultura. Ao fazer referência às unidades agrícolas e familiares de produção e consumo, faz-se referência a grupos e categorias sociais heterogêneas. A partir desta concepção, é possível presumir que os sistemas de cultivo, as formas de organização e as tecnologias de produção podem ser diversas dentro dos diversos grupos e categorias sociais. Somente esta diversidade pode explicar por que muitos agricultores mantiveram, ao longo do tempo, sementes crioulas nas propriedades. A construção do conhecimento ao longo da história das famílias e a existência de uma lógica, resultado da história de vida, norteiam as ações das pessoas (Freire, 1983). Desta forma, o trabalho desenvolvido pelos escritórios municipais da EMATER/RS de Vanini, David Canabarro, Ciríaco, Muliterno, São Domingos do Sul e Casca tinha como objetivo propiciar aos agricultores interessados a oportunidade de conhecer ou rever materiais (variedades crioulas ou melhoradas), possibilitando sua difusão. Também visava ao intercâmbio de conhecimentos acumulados entre agricultores e técnicos, por meio de reuniões e dias de campo. Ainda, pretendia avaliar o potencial produtivo e a qualidade dos materiais e seu uso na alimentação animal, utilizando-se da Unidade de Experimentação e Pesquisa (UEP). Por fim, pretendia mostrar o uso das variedades na alimentação humana e as diversas formas de aproveitamento. A propriedade onde está localizada a UEP encontra-se em transição agroecológica. Entretanto, todo o cultivo nos primeiros anos foi convencional, embora tenha-se plena consciência de que não basta usar variedades crioulas, é preciso mudar todo o sistema de produção. 12 * Engenheiro Agrônomo - MSc em Desenvolvimento Rural - Coordenador Microrregional da EMATER/RS de Passo Fundo - RS - gilmar@emater.tche.br ** Téc. Agropecuário - Extensionista Rural do Escritório Municipal da EMATER/RS de Vanini - RS - emvanini@emater.tche.br *** Engenheiro Agrônomo - Extensionista Rural do Escritório Municipal da EMATER/RS de David Canabarro - RS - jcreginato@via-rs.net

2. Origem do trabalho A partir dos anos 50, ocorreu uma série de transformações na agricultura, entre as quais as alterações genéticas foram, talvez, as que mais afetaram a vida dos agricultores. Criase um grande aparato agroindustrial (fertilizantes, agrotóxicos, máquinas e equipamentos) para sustentar esta nova base genética, se assim pode ser chamada. Até então, as unidades de produção gozavam de um grau relativamente elevado de autonomia. Produziam suas sementes, faziam a reciclagem de nutrientes para seus cultivos e procuravam garantir a produção de subsistência. A partir destas mudanças, passaram a ter um grau maior de dependência externa. Neste contexto, no setor de produção de sementes, as tradicionais ou crioulas foram substituídas por cultivares híbridas, melhoradas, com um potencial produtivo elevado, mas mais dependentes de insumos externos e tecnologias intensivas. O padrão moderno de produção agrícola incorporou a idéia do uso de sementes melhoradas e fertilizantes de alta solubilidade, homogeneizando, simplificando os sistemas de cultivo. O conhecimento acumulado ao longo do tempo nas unidades familiares de produção teve sua importância reduzida. O retrato desta erosão cultural pode ser sintetizado na expressão: "...eu tinha vergonha de falar para os técnicos que plantava semente crioula...", utilizada recentemente por um agricultor familiar do município de David Canabarro - RS. Contudo a adesão ao processo de modernização deu-se de forma heterogênea nas diferentes regiões do País e dentro das diferentes categorias sociais (Delgado, 1985). O uso de sementes híbridas, adubos formulados e outros insumos modernos foram praticados de forma diferenciada. Muitas propriedades mantiveram, em parte ou no todo, o sistema de produção original. Um dos componentes do sistema original de produção era o uso de sementes crioulas ou próprias. A manutenção de um banco genético e de sistemas de cultivo locais só foi possível pela determinação dos próprios agricultores, bem como pela ação de organizações ecológicas não-governamentais e, posteriormente, de instituições públicas. Os sistemas de produção definidos como modernos deram sinais de insustentabilidade econômica, ambiental e principalmente social, manifestada pela exclusão de agricultores que não conseguiram ou não puderam se adaptar. Isso provocou um debate. As discussões ultrapassaram os âmbitos mais restritos dos grupos e passaram a permear os diversos níveis da sociedade, traduzindo-se em ações públicas concretas através de programas. Nos municípios envolvidos pelo trabalho, existem agricultores históricos (tradicionais) que nunca deixaram de usar sementes e sistemas de cultivos próprios, originais, que realizam trabalho de melhoramento e seleção de cultivares. Estes mesmos agricultores são fonte referencial em termos de tecnologia e banco de fornecimento de sementes para multiplicação e difusão. Entre os motivos que os levaram a manter os sistemas locais de produção estão a preservação da cultura, as características específicas de espécies e cultivares que lhes interessam e a autonomia em relação ao sistema de produção. 3. O trabalho com sementes de milho crioulo A partir da discussão que se estabeleceu nos municípios envolvidos, buscou-se a identificação de materiais existentes na região e no Sul do Brasil, em especial aqueles que, por alguma razão, desapareceram da região. Outra tarefa desenvolvida foi a avaliação quantitativa e qualitativa das variedades, uso na 13

14 alimentação animal e humana e difusão de materiais entre os agricultores. O trabalho inicia em 1999, com a avaliação de algumas variedades crioulas encontradas com os agricultores, destinadas à produção de silagem. No ano seguinte, acontecem viagens de intercâmbio para troca de informações e materiais para União da Vitória - PR, Ipê - RS, Antônio Prado - RS, entre outras. Em 2000, também é instalada uma unidade de experimentação, pesquisa e difusão (UEP), na propriedade do agricultor Dorselide Olivo, em Vanini - RS, com materiais existentes e trazidos de diferentes locais, que permanece até hoje. 3.1. Avaliação de variedades para silagem A tecnologia de produção utilizada na UEP nestes primeiros anos ainda foi a convencional, em termos de adubação. Para a implantação da unidade foram utilizados 200 quilos de adubo 10-20-20, 150 quilos de uréia; o controle de invasoras foi feito através de capina mecânica. A população final foi de 35 mil plantas por hectare, semeadas, em parcelas de 10 por 70 metros. O plantio foi realizado dia 5 de novembro de 1999. A ensilagem foi realizada com grão em ponto de massa mole em 1/3 dos grãos. Foram semeadas cinco variedades crioulas (oito carreiras branco, amarelão, riscado ou sertanejo, vermelho e palha roxa) e avaliada a qualidade da silagem, cujos resultados se encontram na Tabela 1 (pag. 15). A produção de massa verde variou de 42 a 45 toneladas por hectare. As médias das análises realizadas no laboratório Universidade de Passo Fundo (UPF) - CEPA, durante o ano de 2000, foram: proteína bruta (PB), 7,02%, nutrientes digestíveis totais (NDT), 67,6% e valor relativo do alimento (VRA), 98 (UPF - CEPA, 2000). Quando comparamos as médias das análises realizadas pelo laboratório com os resultados obtidos a partir da análise das variedades crioulas, observamos que as qualidades nutricionais da silagem destes materiais ficaram próximas ou superaram a média das realizadas pelo laboratório. Segundo o agricultor em cuja propriedade está instalada a UEP, a silagem de milhos crioulos tem uma melhor aceitação pelos animais, quando comparada com a silagem de milhos híbridos. 3.2. Avaliação da produtividade dos milhos variedade A implantação da lavoura iniciou com a aplicação de três toneladas de calcário por hectare, em superfície. Foi semeada a aveia preta para cobertura verde e 40 dias após foram aplicadas 15 toneladas por hectare de esterco líquido de suínos. No plantio, a adubação de base foi realizada com semeadora de tração mecânica. O plantio foi manual. Após o plantio, foi realizada a dessecação da aveia, utilizando-se 1,5 litros/hectare de produto. A população final da lavoura era de 40 mil plantas/hectare, após o desbaste, realizado aos 60 dias. O controle de plantas indesejadas foi feito através de capina manual. As cultivares foram semeadas em parcelas de cinco linhas por dez metros de comprimento. A Tabela 2 (pág. 16)mostra a produtividade de 33 materiais, variedades crioulas e melhoradas, que variou de 2.162 quilos a 6.386 quilos por hectare. Os dados obtidos evidenciam o potencial produtivo das variedades para a região, respeita-

Tabela 1 Observação: Os valores de energia, digestibilidade, consumo,valor relativo do alimento e proteína digestível são baseados em equações matemáticas. Relatório de Análise ( NIRS ) Laboratório UPF- CEPA. Silagens de milho planta inteira, coletadas 45 dias após ensilagem. das as limitações do experimento. Se considerarmos a produtividade média do Estado, vemos que um número considerável de variedades supera essa média. É um indicativo de que poderíamos investigar melhor, testando diferentes materiais e diferentes épocas de plantio. Para um número considerável de unidades familiares de produção, esses materiais 15

certamente teriam um espaço nos sistemas de cultivo sem prejuízos à produção. Além da avaliação de produtividade, foram observadas também as características relativas a período de floração, acamamento, altura de relativos planta e inserção de espiga e in- Tabela 2 Resultado de Avaliação de Produtividade de Milhos Crioulos em Vanini/RS - Safra 2000-2001 Nº VARIEDADE DATA PLANTIO PRODUÇÃO BRUTA UMIDADE COLHEITA PRODUTIVIDADE SACOS KG/HA 16 01 Cunha Riscado 09.11.00 17 21,4 56,2 3376 02 Macaco 09.11.00 29 21,4 96,6 5764 03 Maisena 09.11.00 11 22,2 36,0 2162 04 Vermelho Dorselide 09.11.00 26 20,8 86,7 5204 05 Cunha 09.11.00 16,5 21,0 54,9 3294 06 Cinqüenta Dias 09.11.00 21,5 20,2 65,8 3294 07 Asteca Sabugo Grosso 09.11.00 22,5 21,8 76,2 4572 08 Palha Roxa União Vitória 09.11.00 30 21,5 99,2 5952 09 Cunha Sabugo Grosso 09.11.00 23,5 23 76,2 4572 10 Maia 09.11.00 20 26 62,3 3742 Branco Antigo 3 Linhas 09.11.00 11,5 22,7 93,5 5610 11 Amarelão Dorselide 09.11.00 13,5 21,8 74 4440 12 Caiano 09.11.00 26,5 23,2 85,7 5144 13 Asteca Sabugo Grosso 09.11.00 19,5 21,2 64,7 3884 14 Riscado Dorselide 09.11.00 29,5 21 98,1 5890 15 Riscado Sabugo Fino 09.11.00 13,5 22 44,3 2662 16 Amarelão 09.11.00 20 24 64,0 3842 17 Oito Carreiras Branco 09.11.00 19 18,8 65 3900 18 Canga de Boi 09.11.00 18 20,3 60,4 3624 19 Branco Precoce 09.11.00 23 24 73,6 4418 20 Cunha Preto 13.11.00 14 22,8 45,5 2732 21 Oito Carreiras Amarelo 13.11.00 21,5 20,4 72,1 4326 22 Cravinho 13.11.00 13 22,4 42,4 2548 23 Cinquentin Colombiano 13.11.00 11 20 37,0 2224 24 Cunha Sabugo Duplo 13.11.00 14 23 45,4 2724 25 Fundacep 34 13.11.00 18 21,5 59,5 3572 26 Fundacep 35 13.11.00 31,5 19,8 106,4 6386 27 BRS-4150 13.11.00 26,5 21,4 87,7 5266 28 BRS-Sol da Manhã 15.11.00 20,5 20,6 68,5 4114 29 BR-5202 Pampa 15.11.00 16,5 21,6 54,4 3268 30 RS-21 15.11.00 16 24,4 50,9 3058 31 Palha Roxa Castoneli 15.11.00 21,5 22,2 70,4 4228 32 Amarelão 15.11.00 14 24,5 44,5 2670 Fonte: Escritórios Municipais da Ascar/Emater de Vanini, Muliterno, Ciríaco, Casca, São Domingos do Sul e David Canabarro.

cidência de doenças. Os dados estão disponíveis na EMATER/RS de Vanini. 4. Conclusão A partir do trabalho desenvolvido e analisando o contexto da agricultura familiar no Estado e no Brasil, podemos concluir que o uso de sementes crioulas como um componente técnico isolado, assim como qualquer tecnologia alternativa isolada, dentro de um sistema convencional de produção, não resolve o problema dos agricultores familiares. Apesar de o trabalho ter sido montado sobre UEPs com sistema inicial de cultivo convencional, as novas unidades, como a de Casca, estão dentro de uma perspectiva agroecológica. O trabalho propiciou um reencontro com uma cultura que estava presente apenas na memória dos mais velhos e com os agricultores que nunca deixaram de usar essas sementes. Sob o prisma técnico-econômico e comparando com produtividade média de milho no Rio Grande do Sul - em torno de 2.950 quilos por hectare, média das últimas três safras -, deduz-se que para um número significativo de agricultores, usando a tecnologia e os escassos recursos existentes nas propriedades, o uso de milhos crioulos ou variedades melhoradas é viável técnica e economicamente. Isso não invalida os esforços na busca de melhoria da fertilidade de solo, infra-estrutura e condições para melhorar a produção. Significa dizer que esta tecnologia tem seu lugar no heterogêneo mundo da agricultura, principalmente a familiar e a desenvolvida por comunidades indígenas. Isso mostra que há mais de um caminho técnico, econômico e social possível quando se trata de desenvolvimento e de sistemas de produção. Em relação à qualidade das variedades no consumo animal, especificamente para silagem, fica muito próxima à dos híbridos e, em algumas variedades, os supera quando se trata de proteína e nutrientes digestíveis totais. No que se refere ao consumo humano, as diversas variedades permitem seu aproveitamento dentro de uma diversidade grande de pratos, pelas suas diferentes características. Por último, gostaríamos de destacar o sentido de autonomia e o controle do processo produtivo que as sementes crioulas representam para os agricultores. Eles detêm a genética, realizam a experimentação, fazem a observação e a seleção, repassam a experiência e os conhecimentos acumulados. Todo o processo está sob seu domínio. A 5. Referências Bibliográficas CARVALHO, Horácio Martins de. A geração de tecnologia agrícola socialmente apropriada. Rio de Janeiro, AS-PTA, 1990, 24 p. (Textos para debates; nº 29). COEN, Reijntjes. Agricultura para o futuro: uma introdução à agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. 2. ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1999. p. 1-68. DELGADO, G. C. Capital financeiro e agricultura no Brasil: 1965-1985. São Paulo: Ícone ; Editora da Unicamp, 1985. 239 p. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. HOCDÉ, Henri. A lógica dos agricultoresexperimentadores: o caso da América Central. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1999. 36 p. RELATÓRIO DE ANÁLISE (NIRS)-Laboratório UPF - CEPA, Passo Fundo, 2000. 17