Bicicross: Análise postural, dimensões e padrão de lesões BMX: Analyzing posture, dimensions and lesions Marcelo Debrassi Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina Debrassi_fit@yahoo.com.br Aderbal Silva Aguiar Jr. Professor Especialista da Disciplina de Fisioterapia desportiva da Universidade do Sul de Santa Catarina Aderbaljr@hotmail.com Av. José Acácio Moreira, 787 Bairro Dehon Cx Postal 370, CEP 88704-900 Tubarão SC Resumo O presente trabalho teve o objetivo de analisar as lesões e a posturologia dos atletas de Bicicross, tendo como objetivos específicos verificar o comportamento das lesões, identificar o padrão de postura destes atletas, variáveis antropométricas e a relação de algumas dimensões da Bicicleta com o atleta. A pequisa desenvolvida foi a descritiva clássica, onde o pesquisador procurou conhecer e interpretar a realidade dos atletas sem nela interferir e modifica-la. Verificou se portanto que a média de idade ficou com 20,7 anos ± 3,4, massa corporal 75,3 kg ± 7,9 e altura com 1m 80 cm ± 0,1. Foi encontrado um encurtamento muscular significativo de cadeia posterior dos membros inferiores. As lesões acontecem mais em competições, a região do corpo mais afetada são os membros superiores, a articulação mais lesionada é o ombro e o mecanismo de trauma encontrado com maior incidência é o direto, ou seja, contato com outro piloto. Palavras-chave: Lesões, postura, antropometria. Abstract The present work had the objective of analyzing the lesions and the atlhetes posturology of Bicicross, tends as especific objectives to verify the pattern of these athletes posture, variables antropometry and the relationship of some dimensions of the Bicycle with the athletes. The developed research was the descriptive classic, where the researcher tried to know and to interpret the athletes reality without in her to interference and modify-la. It was verified therefore that the average of age was with 20,7 ± 3,4, corporal mass 75,3 ± 7,9 and height with 1m80cm ± 0,1. It was found a significant muscular shortening of subsequent chain of the inferior members. The lesions happen more in competitions, the area of the most affected body is the superior members, the articulation more unfit is the ankle and the mechanism of found trauma is the right, in other words, i contact with other pilot. Word-Key: Lesions, posture, antropometry.
Introdução A fisioterapia como ciência tem por base conhecer o movimento humano para poder prevenir e tratar lesões. A fisioterapia desportiva vem cuidar desta área com mais especificidade traçando paralelos entre lesões e esportes. O movimento humano, por menor que seja, está presente em qualquer esporte. Sendo assim a relação é direta entre fisioterapia, esporte e movimento. Mostra-me como te mexes que te direis quem és, diz o autor Philippe Emmanuel Souchard na sua obra O Stretching Global Ativo. Com isto Souchard quis nos mostrar que cada atleta contém características posturais e cinesiológicas específicas em conseqüência a biomecânica do seu esporte. Por se tratar de uma modalidade esportiva não convencional e que exige movimentos de grande amplitude e força em diversas direções, envolvendo todas as articulações do corpo, o Bicicross predispõe o atleta a uma série de lesões. Além disso a grande massa praticante do Bicicross é amadora ficando na maioria das vezes sem um acompanhamento específico. Por tais motivos vimos à relevância de realizar este trabalho com os atletas. Uma grande virtude do atleta é ultrapassar limites, e para isso muitas vezes sujeita-se a situações de risco para sua saúde, lesão. Portanto, cabe neste trabalho de conclusão de curso analisar a postura dos atletas sua dimensão e conhecer o padrão das lesões. O Bicicross é um esporte ainda pouco conhecido no Brasil e no mundo. Este esporte surgiu nos Estados Unidos no início da década de setenta quando os norte-americanos começaram a imitar os ídolos do motocross, utilizando bicicletas chamadas de Bicycle Motocross Extreme (B.M.X). Logo se difundiu pelo mundo chegando ao Brasil no final dos anos setenta e não demorou para virar mania entre os jovens brasileiros. Empresas como Caloi e Monark trataram de lançar Bicicletas adaptados para práticas do Bicicross, hoje estas já trocadas por importadas. No Brasil existem praticantes de norte ao sul participando de campeonatos nacionais, estaduais e regionais organizados por suas federações sendo elas subordinadas a Confederação Brasileira de Bicicross (CBBX). Como exemplo cito o Circuito Catarinense, paulista e as etapas do campeonato nacional, assim como regionais de Paulínea, Jundiaí e Jacareí em São Paulo. A pesquisa justifica-se pelo acréscimo do conhecimento da posturologia em todos os esportes, não sendo diferente no Bicicross, obtendo assim conhecimento para atuar na Fisioterapia desportiva prevenindo, aprimorando a técnica e tratando lesões segundo seus diversos mecanismos. Sendo assim resolveu-se analisar a postura dos atletas e conhecer o padrão característico das lesões. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar as lesões e a posturologia dos atletas de Bicicross, tendo como objetivos específicos verificar o comportamento das lesões, identificar o padrão de postura destes atletas, verificar variáveis antropométricas e a relação de algumas dimensões da Bicicleta com o atleta. Este trabalho seguirá a metodologia da pesquisa descritiva clássica, onde o pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade, sem nela interferir e modifica-la.
Materiais e métodos Pesquisa Descritiva o pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade, sem nela interferir e modificá-la (RÚDIO, 2000, p. 69). Tem como objetivo primordial a descrição de características de determinados fenômenos ou o estabelecimento de relação entre as variáveis (GIL, 1994, p. 45). Após estudo piloto realizado em 08/09/2002, na cidade de São José, onde estava sendo realizada etapa do Campeonato Catarinense de Bicicross, deu-se início a coleta de dados. Primeiramente foi aplicado um questionário (Apêndice A) aos atletas para obtenção de dados segundo os objetivos específicos da pesquisa, este preenchido pelo próprio atleta na presença do pesquisador para esclarecimento de dúvidas. Dados antropométricos como peso e altura foram colhidos dos atletas verbalmente, assim como idade e dominância. Todos os dados colocados na ficha de registro (Apêndice B). Continuando a avaliação foi retirada uma foto na visão frontal, perfil e perfil com inclinação anterior de tronco com uma tela de fundo preto de tecido contendo a medida de 2 m 2, sendo marcados pontos de referência na: espinha ilíaca ântero superior, trocanter maior, linha articular do joelho, maléolo lateral e cabeça do 5º metatarsiano. Os pontos citados acima formarão três ângulos que serão analisados: - Ângulo do quadril: dado pelo vértice do trocanter maior e tendo como lados EIAS e o ponto na linha articular do joelho. - Ângulo do joelho: dado pelo vértice marcado na linha articular do joelho e tendo como lados o trocanter maior e maléolo lateral - Ângulo do tornozelo: que é dado pelo vértice do maléolo lateral e tendo como lados a cabeça do quinto metatarsiano e a linha articular do joelho. Medidas da altura do guidão da bicicleta e do tamanho do tubo superior também foram coletados e colocados na ficha de registro. A altura do guidão será retirada com a fita métrica colocada em uma extremidade do guidão até o chão anulando assim diferenças de tamanho de garfo e roda que deverá ser de 20 polegadas de diâmetro (Aro 20). O tubo superior também será medido com a fita métrica mantendo como pontos de referência os pontos extremos do tubo superior até a liga metálica ali existente. Os dados foram analisados com softwares como Corel Draw 10 e Excel 2000. Os ângulos foram analisados no Corel Draw 10, dados antropométricos e questionário no Excel. Retirados os dados do Corel Draw 10 estes foram tratados pelo Excel 2000 e analisados segundo cálculos estatísticos descritivos como médias, desvio padrão, correlação linear de Pearson e testet para médias pareadas com nível de significância de 5%. Também foi realizado uma análise clínica postural das alterações posturais mais evidentes encontradas nas fotos de incidência frontal, perfil e perfil inclinado a frente. Resultados e discussões Segundo análise estatística antropométrica os dados encontrados foram, a média de idade dos atletas pesquisados foi de 20 anos e sete meses ± 3,4. A Massa Corporal ficou com a média de 75,3 Kg ± 7,9. Altura com 1m 80cm de média com ± 0,1. A dominância foi de 100% destro em membros inferiores, foi considerado aqui a perna que o piloto coloca a frente e imprime sua força de largada inicial no pedal. Obteve-se uma média de altura de Guidon 89,2 ± 1,2, e a média do tubo superior foi de 51,9 ± 1,7. A altura do Guidon e o ângulo do quadril tiveram uma correlação negativa de 0,32, ou seja, enquanto a altura do guidon aumentava o ângulo do quadril fechava. A altura do atleta e tubo tiveram correlação positiva de 0,62, ou seja, enquanto o tamanho do tubo aumentava
a altura do atleta também. Então é observado que as medidas da Bicicleta são escolhidas segundo padrões pré determinados de altura do atleta fato este que não está completamente correto devendo-se também levar em conta as deficiências de flexibilidade e assimetrias posturais do piloto. Os resultados estatísticos encontrados dos ângulos de quadril, joelho e tornozelo avaliados em uma incidência frontal, sagital e sagital inclinado foram o seguinte: Vista Frontal Direito Esquerdo Quadril 141,3 graus ± 4,6 139,6 graus ± 10,4 Joelho 177,9 graus ± 1,6 175,8 graus ± 8,7 Tornozelo 159,5 graus ± 10,7 150,3 graus ± 8,1 Vista Sagital Ortostática Esquerdo Quadril 150,3 graus ± 9,1 Joelho 176,1 graus ± 2,3 Tornozelo 115,4 graus ± 3,2 Vista Sagital inclinado Esquerdo Quadril 107,2 graus ± 16,7 Joelho 171,9 graus ± 3,8 Tornozelo 131,2 graus ± 11,6 As médias angulares encontradas de quadril, joelho e tornozelo na incidência frontal foram estatisticamente diferentes entre os hemicorpos denotando uma assimetria postural que pode estar sendo gerada por encurtamentos miotendinosos. Na avaliação postural os dados obtidos segundo análise estatística dos ângulos e avaliação subjetiva foram o seguinte: 40% ausente e 60% presente.
Foi aqui considerado anteversão todos os pilotos que apresentavam uma hiperlordose, ou seja, uma acentuação da curvatura lombar, dados obtidos em clínica postural. A análise subjetiva de tórax inspiratório foi feita subjetivamente onde 53% apresentaram tórax na posição inspiratória e 47% não apresentaram tal alteração postural. A média estatística dos ângulos tíbio társico encontrados foi de 115,4 graus ± 3,2, sendo considerado como ângulo tíbio társico aberto segundo Marques (2000, p. 100-101) aberto todos os pilotos que apresentavam este ângulo com abertura superior a 90 graus. O Bicicross por ser um esporte de explosão exigindo muita concentricidade de isquiotibiais e tríceps sural como também suas características práticas de postura sempre com os membros inferiores em flexão ou semi flexão é fator predisponente ao encurtamento segundo Marques (2000, p. 4) onde relata que já está devidamente comprovado na literatura científica que as fibras musculares esqueléticas apresentam plasticidade, ou seja, capacidade de adaptação a determinados estímulos, como exercício físico, imobilização, alterações das condições hormonais, condições de nutrição, inervação, eletroestimulação etc. Goldspink, 1968; Williams e Goldspink, 1971 (apud MARQUES, 2000, p. 5) trabalhos experimentais realizados nas décadas de 60 e 70 identificaram que o músculo aumentava seu comprimento por meio da adição de sarcômeros ao longo das fibras musculares. Também em estatística o ângulo coxofemoral apresentou 150,3 graus ± 9,1, sendo considerado para Marques (2000, p. 100-101) como ângulo coxofemural aberto todos os pilotos que apresentavam este ângulo com abertura superior ou igual a 90 graus, demonstrando mais uma vez o encurtamento de cadeia posterior. O Bicicross requer uma flexão de quadril constante em sua prática, sendo também explicado pelo comentário feito no gráfico 3. Segundo questões aplicadas em questionário, foi obtido que 82% realizam aquecimento e alongamento específicos para o Bicicross contra 18% que não realizam, portanto conclui-se aqui segundo dados da avaliação postural que não é eficiente o modo como os pilotos estão lidando com os alongamentos em treinos e pré competição. Não cabe neste trabalho avaliar o tempo, qualidade e modo como os pilotos realizam suas séries de alongamentos. Quanto a segunda questão o resultado foi que 53% se machucam mais em competições, 47% mais em treinos e nenhum outro atleta relatou se machucar em outro tipo de treinamento ou forma. Foi perguntado também sobre articulações que estariam lesionadas naquele momento e foi observado o seguinte: 26% ombro, 20% lombar, 7% joelho e punho empatados os demais 26% restantes relataram que nenhuma articulação estava machucada naquele momento. As lesões com maior incidência nos ombros da-se pelo fato de que o atleta para sua defesa leva primeiramente os braços ao chão. Devemos nos atentar também para as lesões de coluna lombar que podem ter como causa o encurtamento muscular de cadeia posterior gerando um despreparo para a demanda exigida da musculatura lombar ou lesão por esforço repetitivo da musculatura e articulação da coluna lombar que são movimentos característico do esporte. A questão número quatro tratou de observar as lesões quanto ao mecanismo de trauma e foi obtido que 53% das lesões acontecem devido contato com outro piloto, 40% sem contato e com queda, 7% sem contato e sem queda. Pode-se afirmar que o Bicicross é realmente um esporte de contato físico, afirmação esta devido também ao fato de que os atletas se lesionam mais em competições, também deve-se estar atento aos 40% de lesão sem contato e com queda que pode ter como causa um desequilíbrio muscular gerando o erro de automatismo. As regiões do corpo mais afetadas nas quedas foram os braços com 60%, e em segundo lugar empatados com 20% pernas e tronco. Mais uma vez confirmando a grande
incidência de lesão em membros superiores. Comprovando que o atleta leva primeiramente ao chão os braços como defesa. Quanto aos tipos de lesão foram encontradas com mais freqüência entorses com 40%, luxações e lesões por esforços repetitivos com 20%, problemas musculares 13% e fraturas com 7%. Conclusões Observações sugerem que o Bicicross realmente é um esporte de contato físico, devido as lesões acontecerem mais em competições, as articulações acometidas por lesão diferem sendo ombro e tornozelo as mais acometidas, mas não sendo significantes o suficiente para tratar como articulações características de lesão no Bicicross; o local mais acometido são os membros superiores e o tipo de lesão mais encontradas foram os entorses. Foi encontrado encurtamento característico de cadeia muscular posterior dos membros inferiores, onde o alongamento praticado pelos atletas em treinos ou competições é ineficiente obtendo relação do padrão postural clínico e cinesiológico, encontrado dos atletas. Deve-se levar em conta a altura do piloto assim como o nível de flexibilidade de tronco e membros inferiores (cadeia posterior e anterior) na escolha do tamanho e ângulos de quadro da Bicicleta e guidon a serem escolhidos, facilitando assim a técnica e o desempenho do piloto e ajudando na prevenção de lesões, como por exemplo dores lombares. Sugere-se que outros estudos sejam feitos com um maior número de atletas para esclarecer melhor a incidência de lesões. É importante lembrar que tanto a prevenção como o tratamento deve ser específico para o esporte por ser uma atividade de características individuais. Salientando, assim, a necessidade de se conhecer a atividade para uma boa elaboração do tratamento e treinamento para melhora do desempenho, técnica e prevenção das lesões. Referências Bibliográficas BRICOT, Bernard. Posturologia. 2. ed. São Paulo: Icone, 2001. CARR, Gerry. Biomecânica dos esportes. São Paulo: Manole, 1998. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BICICROSS. Histórico do bicicross. Disponível em: <http://www.cbbx.com.br>. Acesso em: 20 maio 2002. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 28. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 144 p. HAMIL, Joseph; KNUTZEN, Kathleen M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. KENDALL, Florence Peterson. Músculos: provas e funções. 4. ed. São Paulo: Manole, 1995. MARQUES, Amélia Pasqual. Cadeias Musculares. São Paulo: Manole, 2000. MAY, James G. Biomecânica das técnicas desportivas. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981. RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 26. ed. Petrópolis : Vozes. 1991. SOUCHARD, Philippe Emmanuel. O strecting global ativo: a reeducação postural global a serviço do esporte. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996.