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Transcrição:

B5-594 Curso de especialização em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável em assentamentos: UFRRJ, movimentos sociais e a reforma agraria de base agroecológica Jaime Rodrigo da Silva Miranda 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) email: jrmird@yahoo.com.br Resumo Este trabalho discute a experiência de construção do Curso de Especialização em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável em Assentamentos, da Universidade Federal Rural do Rio Janeiro (UFRRJ), promovido pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), buscando-se evidenciar potencialidades e limites para que seus objetivos sejam alcançados. O curso envolve a parceria entre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e conta com 22 estudantes de várias áreas de conhecimento que desenvolvem projetos de intervenção em assentamentos rurais como parte fundamental do processo. Com 15 meses de andamento, o projeto que busca integrar ensino, pesquisa e extensão já apresenta elementos potencializadores e limitantes frente ao desafio de se qualificar a atuação profissional em áreas de reforma agrária, com ênfase em Agroecologia e fortalecimento da Agricultura Familiar. Palavras-chave: Formação agroecológica; universidade pública; movimento social Descrição da Experiência O Curso de Especialização em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável em Assentamentos - Residência Agrária da UFRRJ é um projeto aprovado via edital CNPq/MDA/INCRA, ano 2012, sob a coordenação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Esta é a segunda ação do PRONERA em caráter nacional envolvendo o Programa Residência Agrária, tendo a primeira experiência ocorrida em 2005, numa articulação entre as regiões sul e sudeste do Brasil envolvendo três universidades federais e uma estadual. O projeto pioneiro foi intitulado Curso de Especialização em Agricultura Familiar e Camponesa e Educação do Campo das regiões Sul de Sudeste e teve como objetivo geral oferecer formação especializada com enfoque agroecológico a profissionais das Ciências Agrárias para exercerem atividades de Asssistência Técnica em áreas de agricultura familiar. Esta primeira experiência que durou dois anos e contou com 18 formandos permitiu que representantes de movimentos sociais, universidades e setores ligados a ministérios do Estado brasileiro aprofundassem o diálogo sobre a necessidade de parcerias institucionais em iniciativas que tragam a educação formal para mais próximo da realidade da agricultura familiar e da reforma agrária. Desta conjuntura, surgiu via PRONERA a iniciativa de 2012 semelhante à primeira, mas envolvendo desta vez todas as cinco regiões do país através de parceria entre instituições públicas de ensino médio e superior e movimentos sociais na realização de cursos com ênfase em agroecologia para desenvolvimento de assentamentos rurais. 1 Professor da área Extensão Rural e Metodologia da Ciência, UFRRJ. 1

Decorrente da avaliação do curso pioneiro, algumas mudanças foram necessárias, dentre elas a interdisciplinaridade na composição das turmas, evitando-se a exclusividade de profissionais das Agrárias para lidarem com a complexidade encontrada no desenvolvimento das comunidades. 2 No estado do Rio de Janeiro, está em execução a experiencia aqui discutida, um curso iniciado em agosto de 2013 e com término previsto para agosto de 2015, numa parceria entre UFRRJ e MST, tendo-se 22 estudantes das seguintes áreas: Licenciatura em Educação do Campo 3, Jornalismo, Agronomia, História, Ciências Biológicas, Fisioterapia, Engenharia Florestal e Zootecnia. A equipe de coordenação é composta por uma coordenadora geral, um coordenador pedagógico 4 (ambos profesores da UFRRJ), três articuladoras de núcleo (ambas representantes do MST) e três monitores estudantes de graduação da UFRRJ. O objetivo deste projeto orçado em R$ 347.000,00 é capacitar profissionais para atuarem no desenvolvimento sustentável de assentamentos rurais com foco nos principio da Agroecologia. São 10 assentamentos abrangidos no estado do Rio de Janeiro e um no estado do Espírito Santo. Os primeiros se localizam nos municipios de São Francisco de Itabapuana, Campos dos Goytacazes, Macaé (estes da região norte do estado), Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Mangaratiba (estes da região da Baixada Fluminense). O assentamento capixaba se localiza na cidade de Nova Venécia-ES. A turma já passou por sete etapas de formação, sendo a última apresentação de monografías exigidas para conclusão de curso latu sensu na UFRRJ. A proposta pedagógica se baseia na Pedagogia da Alternância, havendo períodos denominados Tempo-Escola e outros denominados Tempo-Comunidade (TC). O Tempo- Escola (TE) é um período de 16 dias em que a turma fica no campus da universidade para cursar as disciplinas obrigatórias com professores convidados de outras instituições e também da própria Federal Rural. Nos TEs se desenvolvem aulas teóricas e práticas, seminários, palestras, visitas técnicas e eventos culturais. Foram realizados três TE s que seguiram esta metodología e outros dois TE s mais curtos (5 dias cada) para dedicação à elaboraçáo de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC formato monografia) com apoio dos orientadores e equipe coordenadora. O Tempo-Comunidade é o período em que o estudante vai desenvolver a pequisa para elaboração de sua monografía 5 e desenvolver ações de intervenção junto ao assentamento 2 Dias (2006) discorre sobre novas características que conferem ao campo uma complexa estruturação bastante distinta da clássica visão do mundo agrário ainda presente nas grades curriculares dos cursos agrários brasileiros. 3 Nesta turma existem 11 estudantes residentes em projetos de assentamento que se formaram em Licenciatura em Educação do Campo na primeira turma do curso pela UFRRJ (2010-2013) via edital do PRONERA. Em 2012 foi aprovada a regularização do curso na instituição que já conta com duas turmas atualmente. 4 O autor deste trabalho é o Coordenador Pedagógico do curso. 5 Elaboração de monografia é uma das exigências para formação do estudante de curso de Pós Graduação latu sensu na UFRRJ, determinado pelo Regimento de Cursos de Pós Graduação desta universidade. 2

onde focalizou a execução de seu projeto 6 Esta metodología de alternância visa, por um lado, a capacitação teórico-prática com ênfase em agroecologia e fortalecimento da agricultura familiar para construção de uma pesquisa sobre temáticas variadas envolvendo as comunidades, resultando nos TCC s; por outro, visa o desenvolvimento de ações que tragam transformações nas localidades conforme os respectivos projetos que se distribuem em temáticas como: acesso de agricultores ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e à Política Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); produção agroecológica com jovens para geração de renda; prática de fitoterapia com mulheres; recuperação de solo com adubação verde; limitações de escoemanto da produção animal; resgate de sementes crioulas e conhecimentos tradicionais; Plano Gestor Agroambiental como ferramenta organizativa e de geração de renda, dentre outras. Estas iniciativas de intervenção envolvem discussões e atividades coletivas realizadas através de reuniões e mobilizações com famílias de agricultores, grupos organizados como grupo de jovens e de mulheres, instituições internas como cooperativas e associações, além de entidades externas como Secretarias Municipais de Agricultura e de Meio Ambiente, Instituto de Terras do Estado (ITERJ), instituições de pesquisa, instituições de Extensão. Conforme Severino (2007), é papel do ensino superior contribuir na construção de consciências críticas, fortalecendo politicamente os estudantes frente à crise de civilidade de nossa sociedade, requerendo-se, para tal, uma indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Neste sentido, a proposta do curso busca concretizar a articulação do tripé, trazendo a universidade para mais próximo da realidade social rural fluminense. Os assentamentos 7 beneficiários se encontram com dificuldades e demandas comuns a áreas de reforma agrária em várias regiões do Brasil tais como precariedade de infraestrutura social básica, problemas ambientais resultantes de áreas extremamente degradadas anteriores à sua regularização, dificuldades de acesso a políticas públicas como serviços de Extensão Rural e programas de aquisição de alimentos, problemas envolvendo órgãos públicos na jurisidição política das áreas, dificuldades físico-climáticos e estruturais para produção e comercialização, problemas de organização política. Neste cenário se configuram os desafios pelos quais o processo de formação envolvendo a parceria entre universidade pública e movimento social visa trazer respostas e soluções. Resultados e Análises Tendo-se todas as etapas TE s e TC s já realizadas e estando o curso em fase de finalização formal, traz-se aqui alguns resultados em termos de processo e de produto, cabendo-se comentar elementos potencializadores e limitantes decorrentes destes resultados. Potencializadores: apoio pedagógico e financeiro no desenvolvimento das atividades dos projetos de cada estudante. Além da presença da equipe coordenadora nos TEs e TCs e do empenho do formando, o curso destina recursos (limitados e condicionado à análise de proposta escrita) para aquisição de insumos e materiais necessários para que as transformações possam ocorrer nas comunidades. Este apoio estrutural na aquisição e gestão de equipamentos 6 Apresentação de um projeto de intervenção no assentamento foi uma das exigências do processo seletivo para composição da turma. 7 Em Miranda (2008) encontra-se uma abordagem descritiva e imagética sobre a realidade de vários assentamentos rurais no Brasil. 3

para beneficiamento da produção agrícola, por exemplo, se traduz em benefício para as comunidades mesmo com o fim do projeto que se aproxima. participação dos estudantes na condução metodológica do curso, através de processos avaliatórios e criação de comissões e núcleos de representação da turma em cada etapa, podendo-se tirar encaminhamentos para avanço do projeto nas etapas seguintes; aprendizado teórico-prático possibilitado pelas disciplinas, seminários, visitas técnicas e palestras que vem possibilitando o aprofundamento do conhecimento do profissional sobre aspectos históricos, políticos, ambientais, socio-políticos, técnico-produtivos e culturais inerentes ao ambiente de sua atuação, favorecendo assim maior esclarecimento sobre princípios e práticas agroecológicos a serem identificados e aplicados conforme a realidade em questão; evidente potencial se vislumbra quando, a partir da viabilidade dos projetos nas áreas de atuação do curso da UFRRJ junto a outras experiências nos demais estados brasileiros, as universidades e os movimentos sociais podem pleitear a continuação do Programa Residência Agrária, tornando mais visíveis os beneficios socio-ambientais e económicos oriúndos dos assentamentos rurais, considerando-se que o tema Reforma Agrária é rasamente abordado nas agendas políticas do Estado e na opinião pública. a inserção da universidade pública no processo de transformação da realidade social do meio rural brasileiro, devido ao caráter extensionista da proposta; aprofundamento do conhecimento sobre agroecología e maior esclarecimento sobre os desafíos à sua implementação prática. Limitantes: necessidade de aprofundamento da equipe coordenadora sobre Pedagogia da Alternânia, de forma a garantir um acompanhamento dos estudantes que eficazmente concretize a indissociabilidade entre Tempo-Escola e Tempo-Comunidade. Tal indissociabilidade não foi plenamente alcançada por varios motivos, dentre eles a falta de melhor preparo teórico e prático da coordenação para establecer uma metodología que garanta integração adequada entre os TE s e os TC s. A relação entre orientador(a) e orientado(a) por vezes revela-se problemática, havendo dificuldades de comunicação entre ambos, divergencias e até, em alguns casos, necessidade de mudança na orientação, subtituindo-se o (a) professor(a). Um acompanhamento mais eficaz destas relações por parte da coordenação se torna desafio relevante. a implementação dos projetos nas áreas esbarram em aspectos políticos que podem se constituir sérios entraves. Tendências políticas distintas entre pessoas ou grupos internos, relações entre o estudante e determinadas lideranças dentro do assentamento e divergências entre membros da comunidade quanto ao projeto de intervenção proposto podem trazer dificuldades para que as transformações ocorram. acesso ao conhecimento de práticas agroecológicas possíveis de serem adotadas conforme o contexto físico-geográfico, socio-econômico e político de algunas comunidades envolvidas. Mesmo havendo conteúdos programáticos de disciplinas que tratam específicamente deste assunto, percebe-se llimitações para que tal conhecimento possa ser traduzido em ações agroecológicas na realidade social. Agroecologia é um campo de conhecimento em constante construção e, para adoção de seus principios na prática enfatiza-se aqui dentre várias outras dimensões, a prática de produção de alimentos, por exemplo - faz-se necessário maior contato com experiências implementadas bem sucedidas. Isto nem sempre é possível diante da dinámica de organização de projetos com prazos e recursos limitados. dificuldades inerentes à e limitações estruturais da Universidade Rural para apoiar a execução do curso nos períodos Tempo-Escola, como obtenção de alojamentos, 4

alimentação e transporte. Pôde-se contar com este apoio da UFRRJ, mas somente em duas etpas TE; falta de experiencia em conduzir projetos desta natureza por parte de alguns representantes da coordenação; dificuldade de varios estudantes redigirem o Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) no formato monografia. Percebe-se tal dificuldade por razões variadas, sendo a falta de aprofundamento sobre a prática da linguagem acadêmica na graduação a causa mais comum entre a turma. Mesmo tendo-se disciplinas que trataram do tema ao longo do curso, a deficiencia não pôde ser plenamente corrigida e a escrita no padrão científico se tornou sério desafio para varios pós-graduandos..diante dos elementos discutidos, este trabalho aponta para a relevância de experiências como esta que traz a união entre setores populares e universidades na execução de projetos com forte potencial transformador em áreas de maior vulnerabilidade social, ao mesmo tempo que, a partir de suas limitações, permite-se identificar aspectos que podem ser trabalhados para que tais transformações possam ocorrer, fortalecendo o papel sóciopolítico das instituições públicas de ensino superior. Referências bibliográficas DIAS M. M. (2006) Agricultura familiar, desenvolvimento e os desafios ao ensino agrícola no Brasil. Brasília: Educação Agrícola Superior, v. 21, n. 1, p. 23-28. MIRANDA, J. R. S. A assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES): a Copserviços no sudeste do Pará. Viçosa: UFV, 2008 SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2007. 5