Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

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Transcrição:

PNEP: MARGENS DE AUTONOMIA E INOVACAO REGIONAL A CONTRIBUIÇAO DO NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA NACIONAL Fernanda BOTELHO e Luísa SOLLA 1 RESUMO O Programa Nacional de Ensino do Português (PNEP) é um programa de formação para professores do 1º ciclo do EB com uma forte coesão a nível nacional no que se refere ao seu formato programático - conteúdos e metodologia global de execução, mas cujo desenvolvimento regional permite a cada instituição uma "marca" pessoal conforme à identidade profissional e formativa. Deste modo e a partir de uma breve caracterização deste programa de formação, que se perspectiva em duas vertentes formação de formadores e formação contínua de professores, nesta comunicação, evidenciaremos margens de autonomia e inovação no desenvolvimento do PNEP, apresentando o caso do Núcleo Regional de Setúbal. Neste contexto, destacaremos como marcas de identidade a elaboração de portefólios de formação, o uso da plataforma moodle e a realização de sessões regionais. Apresentaremos dois destes três dispositivos de formação, avançando um conjunto de argumentos que os sustentam por si, analisando por que constituem margens de autonomia na consecução do PNEP a nível regional e por que razões consideramos a sua utilização inovadora. Apoiar-nos-emos em exemplos concretos decorrentes do nosso trabalho na coordenação deste núcleo regional. PALAVRAS-CHAVE: portefólio reflexivo; Didáctica do Português; formação de formadores; formação contínua de professores; inovação. 1 INSTITUTO POLITÉCNICO de SETÚBAL- ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO.- Departamento de Línguas ESTEFANILHA, 2900 SETÚBAL PORTUGAL- fernanda.botelho@ese.ips.pt ; luisa. solla@ese.ips.pt 117

INTRODUÇÃO Imaginar, primeiro é ver. Imaginar é conhecer, portanto, agir. (Alexandre O Neill, Poesias Completas, 2000). O Programa Nacional para o Ensino do Português - PNEP- tem como finalidade essencial a melhoria da qualidade de ensino da Língua Portuguesa no Ensino Básico visando, complementarmente, o sucesso em todas as áreas curriculares e, consequentemente, contribuindo para o sucesso educativo e a futura integração social. Este programa foi acolhido com muito entusiasmo a nível nacional pelas instituições de formação que em cada núcleo regional devem concretizá-lo. O Núcleo Regional de Setúbal, de que faz parte a Escola Superior de Educação, não foi excepção. Desde a primeira hora que a ESE de Setúbal respondeu de forma motivada e empenhada a este novo desafio de formação contínua de professores. Desse modo, se têm vindo a cumprir o programa nacional e as orientações da Comissão Nacional de coordenação e acompanhamento do programa, ao mesmo tempo que se defende uma marca pessoal da instituição, por ser esta uma oportunidade única de afirmação de autonomia formativa e de inovação. Esta comunicação pretende relatar, discutir e reflectir sobre uma experiência de formação integrada num programa que apesar de ser nacional permite a ocupação e o uso de margens de autonomia que a sua plasticidade lhe confere. Este caminho entre o nacional e o regional permite ao Núcleo Regional de Setúbal uma 118

intervenção plural com outras instituições congéneres com a mesma missão e uma afirmação singular, visando a autonomia e a inovação da formação. Por essa razão e de forma talvez um pouco arrojada, lhe chamamos margens de autonomia e inovação regional. Escolhemos como marcas de autonomia e inovação a concepção e organização do portefólio e a sessão plenária (conteúdos e estrutura organizacional). Em comum, têm um objectivo muito exigente no que diz respeito à intervenção quer dos formadores residentes, quer dos formandos. Em ambos os casos, pretendemos que os seus autores se assumam como actores principais do seu processo de formação, recorrendo a instrumentos de trabalho hoje indispensáveis no exercício da profissão: a leitura crítica, a escrita criativa e reflexiva e a partilha entre pares do seu trabalho de professores. Cumprindo embora o programa nacional, esta opção permitiu ao Núcleo Regional de Setúbal uma interpretação mais exigente e alargada no que respeita ao desenvolvimento da competência comunicativa dos professores, considerada hoje também uma competência profissional do professor, entendido como sujeito que observa, pensa, fala e age (Alarcão, 1998: 22). Esta tentativa, de dar aos professores envolvidos na formação PNEP oportunidades de desenvolvimento da sua competência comunicativa, permitiu criar situações interessantes e genuínas que contribuíram para o que designamos afirmação regional, no seio do programa nacional. 119

Começaremos por fazer uma breve apresentação do Programa naquilo que é comum a nível nacional, apresentando, de seguida a nossa concepção do Portefólio e da Sessão Regional. O PROGRAMA NACIONAL DE ENSINO DO PORTUGUÊS (PNEP) A decisão política de melhorar a qualidade do ensino da Língua Portuguesa no 1º Ciclo de Ensino Básico, através da criação de um Programa de Formação Contínua de Professores e de Formadores o PNEP, sustenta-se nos resultados obtidos em investigações nacionais e internacionais 2 e no facto de um bom domínio da língua se correlacionar directamente com o sucesso nas diferentes áreas curriculares, com a integração social e, consequentemente, com o exercício de uma cidadania consciente, como referido. Assim, o programa nacional de ensino do português para o 1º ciclo (PNEP) visa a melhoria das práticas pedagógicas e das aprendizagens de molde a favorecer o desenvolvimento, nos alunos, de competências comunicativas essenciais em língua portuguesa. Os princípios que norteiam este programa enunciam-se a seguir: formação centrada nas escolas ou agrupamentos; utilização de metodologias sistemáticas e de estratégias explícitas de ensino da Língua na sala de aula; formação regulada por processos de avaliação das aprendizagens dos alunos (a nível 2 Resultados de todos os projectos internacionais em que Portugal participou - Reading Literacy - IEA, 1992, Pisa, 2000 e 2003 -, nos estudos nacionais - A Literacia em Portugal, 1995 -, nas Provas Nacionais de Aferição (2000-2005) e, mais recentemente, nos Exames Nacionais do 9º ano - 2005 120

individual, da classe e da escola). Deste modo, o PNEP elege como grandes finalidades as seguintes: 1. Melhorar os níveis de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita em todas as escolas do 1º Ciclo, num período de 4 a 8 anos, através da modificação das práticas docentes do ensino da língua; 2. Criar nas escolas do 1º Ciclo uma dinâmica interna de formação continuada no âmbito do ensino da Língua, ancorada em instituições de Ensino Superior; 3. Disponibilizar a nível nacional materiais didácticos, de formação e de avaliação no domínio da aprendizagem da leitura, da expressão escrita e do conhecimento explícito da língua para o 1º Ciclo do Ensino Básico. ACÇÕES DE FORMAÇÃO Contempla 3 acções de formação: Acção A Formação contínua; Acção B Aprofundamento da formação dos formadores residentes (em exercício); Acção C Formação de novos formadores residentes. Ainda que brevemente, caracterizá-lasemos: 121

A Acção A (Formação Contínua) realiza-se nas escolas/agrupamentos na modalidade de Oficina de formação; é dinamizada pelos formadores residentes e supervisionada pelos núcleos regionais de formação. Contempla 71h presenciais. Podem os formandos frequentar um 2º ano de formação, centrada no aprofundamento de algumas temáticas consideradas necessárias pelo grupo de formação e sancionadas pelo núcleo regional respectivo e para a qual estão previstas 30,5h presenciais. Esta acção estrutura-se em torno do continuum - sessão temática, sessões de planificação (individual ou em pequeno grupo), apoio tutorial (em sala de aula) e reflexão sobre a prática. A partir de 2009-2010, esta acção constitui-se como formação privilegiada para os professores do 1º ciclo no âmbito dos Novos Programas de Língua Portuguesa. A Acção B (Aprofundamento da formação dos formadores residentes em exercício) organiza-se na modalidade de Círculo de estudos e consubstancia-se na realização da Acção A, sendo acompanhada de um dispositivo de aprofundamento da formação a nível regional e em regime intensivo, a nível nacional. É da responsabilidade dos Núcleos Regionais de Formação e da Comissão Nacional de Coordenação e Acompanhamento. Contempla 56h presenciais. 122

Acção C (Formação de novos formadores residentes) na modalidade de Oficina de formação, da responsabilidade dos Núcleos Regionais de Formação. Contempla 80h presenciais. CONTEÚDOS Os conteúdos temáticos da formação são os que se apresentam a seguir, organizados em domínios: A. O desenvolvimento da linguagem oral: - Parâmetros de desenvolvimento da linguagem oral: Determinantes de desenvolvimento. - A relação interdependente entre escolarização e linguagem. - A relação entre o oral e o escrito numa perspectiva de desenvolvimento. - A importância do ensino explícito do léxico na compreensão da leitura e na produção textual. B. O conhecimento da língua: - O desenvolvimento da consciência fonológica, linguística e lexical. C. Ensino da leitura: - O ensino da decifração. 123

- A aprendizagem de estratégias de compreensão. - A formação de leitores e a literatura para a infância. - A avaliação da leitura. D. Ensino da expressão escrita: - Dimensões gráfica, ortográfica e textual. - A avaliação da expressão escrita. E. A utilização do computador como recurso de aprendizagem da língua por adultos e crianças 3 : - As implicações das TIC no ensino da língua. Todas as modalidades e domínios de formação referidos implicam a participação na plataforma moodle e a elaboração de um portefólio reflexivo concebido como estratégia de formação e instrumento de avaliação. Antes contudo de referirmos a forma como o concebemos e implementámos, apresentamos alguns dados quantitativos ilustrativos do desenvolvimento do PNEP Acção A nos dois últimos anos no Núcleo Regional de Setúbal: 3 Dispositivos tecnológicos e comunicativos (páginas pedagógicas, blogs, enciclopédias, ). Arquitectura do hipertexto (processos de coerência discursiva) e operações cognitivas. Usos dos suportes e linguagens pelas crianças e aprendizagens colaterais. Exploração dos recursos da rede. Produção de materiais em formato electrónico. 124

PNEP Núcleo Regional de Setúbal 2007/2008 2008/2009 Nº de formadores residentes 8 20 Nº de escolas 20 55 Nº de professores 103 290 Nº de alunos do 1º ciclo 2080 5916 Nº de horas de formação sessões temáticas 280 608 Nº de horas de planificação e reflexão 2554 2945 Nº de horas de acompanhamento em sala de aula 2993 6880 Total de Agrupamentos com formação PNEP no Núcleo Regional de Setúbal: 28 52% do universo de agrupamentos da região. 125

O PORTEFÓLIO NO NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL Apresentaremos então brevemente alguns sentidos de portefólio em Educação e na sua utilização no âmbito da formação no PNEP, enunciando alguns princípios que o sustentam. Equacionaremos os conteúdos a considerar na sua organização e ainda os formatos e suportes em que se pode apresentar. Efectivamente, os portefólios são instrumentos essenciais para o desenvolvimento profissional dos professores porque promovem a prática reflexiva, permitindo-lhes perspectivar-se como aprendizes e como profissionais que procuram dar sentido ao seu trabalho. Como se sabe, constituem uma derivação dos dossiers de estágio e dos diários de bordo, instrumentos retentores e organizadores da informação relativa aos processos levados a cabo pelo formando no decurso das suas práticas pedagógicas e objecto primordial de avaliação no final do processo formação. (Sá Chaves, 2005) Ao contrário de outros instrumentos de formação, que reflectem uma imagem estática das aquisições, o portefólio assemelha-se mais a um filme que relata as aprendizagens e a formação em curso: é dinâmico. Consiste num conjunto de produções que permitem aos formandos perceber a sua evolução tanto dos seus pontos fortes, como daqueles que precisam de melhorar. Neste sentido, centra-se na formação e nas aprendizagens está em permanente evolução. Pode ser apresentado em suporte de papel ou em suporte digital e assumir vários formatos. 126

Esta estratégia/instrumento de formação e supervisão foi sempre entendida pelo Núcleo Regional de Setúbal como PORTEFÓLIO REFLEXIVO 4. Neste sentido, concebemo-lo como um documento coerentemente organizado, reflectido, contextualizado e perspectivado para o desenvolvimento profissional. Deste modo, vai-se construindo em continuum. É aberto e flexível e, por isso, favorece a autoavaliação e a redescoberta de si próprio. Enunciam-se, a seguir, alguns princípios que sustentam o portefólio reflexivo no contexto deste programa no Núcleo Regional de Setúbal: Construção Adopção de um suporte e formato próprio que permita escolhas, a tomada de decisões e possibilidades de desenvolvimento (sugere-se uma estrutura de partida). Reflexão Análise constante da formação, das suas produções, procura de textos e actividades complementares. Auto-avaliação De natureza processual. Valorização História de vida e trajectória profissional pessoal. 4 Foram construídos, discutidos e disponibilizados documentos orientadores da construção dos portefólios nas 3 acções desenvolvidas: A, B e C. 127

Criatividade Na organização do portefólio e no formato adoptado; o portefólio proporciona a utilização de diversas linguagens (sons, imagens, fotos, filmes, ppt ). Parceria O formando é co-responsável na sua formação e avaliação. Autonomia O formando faz escolhas e trabalha de forma independente, sem seguir um padrão fechado de trabalho. (adaptado de Sales, Márcia ) 5. Em consequência, os documentos orientadores do portefólio reflexivo, seja dos professores em formação contínua, seja dos formadores residentes em formação de aprofundamento, bem como a prática que vimos desenvolvendo neste âmbito, permitiram-nos chegar a uma estrutura como a que apresentamos a seguir e que foi sempre analisada e discutida com os vários actores e instâncias envolvidas e que, ainda assim, se entende como estrutura de partida: 5 in http://marciacsales.googlepages.com/oportefolionaformaodeprofessoresumae.pdf 128

ÍNDICE IDENTIFICAÇÃO DO PROFESSOR-FORMANDO. INTRODUÇÃO: descrição, finalidades e contexto da construção do portefólio. (Descrição geral das condições de trabalho: na formação; na(s) escola(s); o sentido da formação na comunidade educativa em que está inserido; a importância do portefólio na sua formação e auto avaliação.) ACTIVIDADES DE FORMAÇÃO E RESPECTIVOS CONTEÚDOS E REFLEXÕES desenvolvidas durante as sessões de formação e de planificação, sustentadas na leitura de brochuras, de artigos ou livros. (Várias secções organizadas a partir das temáticas abordadas - escolha e fundamentação pessoal das opções: materiais; reflexões; textos de aprofundamento; actividades de aprendizagem, de avaliação ) ACTIVIDADES REALIZADAS COM OS ALUNOS (3) - Planificações, materiais e registos vários dos próprios alunos, fotográficos, vídeos, electrónicos REFLEXÃO CRÍTICA DO FORMANDO APÓS DISCUSSÃO COM O FORMADOR: 129

- Aspectos mais positivos; dificuldades encontradas e superadas; semelhanças e diferenças entre este e outros trabalhos ou outras experiências de formação já desenvolvidos; aprendizagens efectuadas; estratégias de superação numa perspectiva de reflexão sobre a prática ancorada na investigação. CONCLUSÃO - Todo o caminho percorrido: a informação adquirida, a sua evolução, a consciencialização das suas capacidades como professor(a) ou formador(a) e que reflictam a formação; projecção da formação a desenvolver. - Conclusões sobre o seu desenvolvimento profissional. É pois nosso entendimento que o uso dos portefólios reflexivos, assim concebidos, contribui para o desenvolvimento profissional (profissionalidade) dos professores, promovendo a articulação teoria-prática e viabilizando a tomada de consciência sobre as suas práticas pedagógicas e de formação. Assim, os portefólios permitem consolidar o conhecimento profissional e o pensamento individual, reforçando a importância dos destinatários nos processos formativos. São um poderoso instrumento de auto-avaliação, desenvolvendo a reflexividade. A sua elaboração e construção permitem ainda o desenvolvimento de competências de recolha, organização e selecção de informação e sobretudo comunicativas, facilitando, igualmente, práticas colaborativas e a troca de experiências. 130

A SESSÃO PLENÁRIA NO NÚCLEO REGIONAL DE SETÚBAL: Percursos de formação e aprendizagem Na concepção da sessão plenária do ano lectivo 2008-2009 considerou-se fundamental dar aos professores envolvidos na formação PNEP uma visibilidade muito particular do trabalho que realizaram no âmbito da formação. Por essa razão, desde logo se pensou num formato com três espaços diferentes de exposição: uma Mostra de materiais gráficos, uma Mostra de materiais digitais e Sessões Temáticas com apresentação de comunicações. As duas Mostras - gráfica e digital - não serão objecto de análise nesta comunicação. Todavia, constituíram espaços que permitiram mostrar e analisar produtos reveladores do trabalho desenvolvido nos agrupamentos. Pela sua natureza, a Mostra digital de cada agrupamento foi, em regra, muito exaustiva, procurando evidenciar percursos de formação e aprendizagem no continuum que estrutura a formação - sessão temática, sessões de planificação, apoios tutoriais em sala de aula e reflexão. Por nos parecer, contudo, que essa visibilidade não esgotava o que pretendíamos - uma exposição mais autónoma e responsável, acompanhada da presença dos autores dos trabalhos - decidiu-se organizar um espaço de apresentação e discussão de comunicações temáticas. 131

Considerou-se assim que o formato de apresentação de comunicações em sessões temáticas, entre colegas da mesma profissão, seria uma boa oportunidade para conjugar aquilo que vimos defendendo desde o início do Programa: os professores devem ocupar, também, um campo de acção que, por direito, lhes é conferido por uma profissionalidade que exige uma competência reflexiva - auto-analítica e metaavaliativa - sobre a própria actividade; a reciprocidade e trocas (de conhecimento e de serviços) entre parceiros de profissão; a pertença a uma comunidade profissional com cultura e identidade próprias. (Roldão 2000: 5). Foi no sentido de dar voz e espaço a esta profissionalidade que propusemos aos formadores residentes que estimulassem, junto dos professores, mais este exercício de escrita: uma narrativa do que foi feito, acompanhada de uma reflexão sobre o como foi feito e os resultados obtidos. Pretendeu-se que as comunicações apresentadas, analisadas e discutidas entre pares, reforçando a pertença a uma comunidade e a adopção de uma cultura profissional, caracterizada pela produção e partilha de saberes e afirmação colectiva do grupo profissional (Roldão, 2000: 12), permitissem um confronto sério e contribuíssem para consolidar o que a formação e a elaboração do portefólio já tinham iniciado e prenunciado: a realização de actividades em que o professor se assume como sujeito das suas escolhas, das suas leituras, da sua escrita, em suma da sua formação. 132

Os resultados foram muito animadores e mostram o grau de adesão dos professores a esta ideia e como foram longe na sua concretização. Confirmaram as nossas expectativas e legitimaram outros futuros para a profissão. Podemos imaginar, (outra vez este verbo mágico e perigoso!) o que se passou em muitos locais de trabalho mais ou menos solitários. Novamente, recorremos a um poeta, desta feita, a António Gedeão (1985): Dobrados sobre os textos deslizam devagar o dedo indicador nas brancas entrelinhas. A ruga entre os sobrolhos denuncia o concentrado esforço. ( )." Pensando nos formandos quando escreviam as suas comunicações podíamos fazer um interessante exercício a partir deste extracto do poema de Gedeão: Inclinados sobre o teclado do computador. De realçar, também, o grande envolvimento dos formadores residentes na participação na organização e dinamização da sessão plenária regional. O formato adoptado para esta sessão, este ano lectivo, implicou-os directamente não só na organização das mostras de materiais gráficos e digitais, como na moderação das mesas onde decorreram as comunicações. 133

Como não podia deixar de ser, apresentamos uma síntese da opinião dos participantes sobre a sessão plenária regional, feita a partir da análise de conteúdo dos dados das fichas de avaliação. Actividades e materiais: - Diversidade (gráficos e digitais) e contextualização; - Divulgação e partilha de recursos desenvolvidos por outros agrupamentos; - Utilização das TIC no desenvolvimento de temáticas da Língua Portuguesa. Desenvolvimento pessoal e comunicação - Facilidade e entusiasmo na exposição das suas actividades face ao grupo. Visibilidade e reflexos do PNEP: - Nas propostas de trabalho de sala de aula em todos os anos de escolaridade; - Na participação empenhada dos alunos e encarregados de educação, por exemplo nos blogs; - Na realização de trabalho em pares e de grupo. 134

Foi pois evidente a coerência e a pertinência das actividades seleccionadas para a apresentação, notando-se a adequação ao grupo turma e a sua contextualização. Todas as comunicações foram claras e ilustradas com materiais dos alunos, havendo uma mostra dos percursos desenvolvidos. De realçar, também, a cooperação entre os oradores no decurso da realização das sessões. Alguns aspectos a melhorar na realização destas sessões incidiram sobre a gestão do tempo e a necessidade de um resumo das comunicações para informação prévia. A tarefa de moderação destas sessões deverá implicar, para além da apresentação da temática, uma sistematização do seu desenvolvimento. Para terminar, seleccionámos cinco opiniões sobre as comunicações temáticas a que pretendemos dar algum destaque: Partilha entre colegas; experiência enriquecedora; PNEP contribui para mudar o empenhamento das pessoas; troca de experiências; práticas mais produtivas do que só leituras teóricas. Contextualização teórica da actividade, articulando-a com a prática desenvolvida; reflexão ancorada na formação. Foi feito um balanço do que tem sido a formação como sendo uma mais-valia para a prática pedagógica. 135

Esta foi a melhor parte do encontro regional, pela partilha e interacção entre colegas de agrupamentos diferentes. Tecemos uma teia de conhecimentos. PARA CONCLUIR Algumas mudanças foram visíveis nas práticas pedagógicas dos formandos, com consequências evidentes nas aprendizagens dos alunos. De acordo com a análise realizada pela equipa de coordenação e supervisão do Núcleo Regional de Setúbal, o balanço é francamente positivo. Podemos afirmar que os professores em formação consideram a partilha, enquanto necessidade de conhecer e dar a conhecer outras práticas, como um dos grandes benefícios da formação até agora desenvolvida. A criação de blogs sobre a escrita em muitas turmas e escolas da região, bem com a criação de turmas PNEP na plataforma moodle em vários agrupamentos, alimentadas também pela plataforma do núcleo regional, são reflexos evidentes dos benefícios da formação que ora se implementa. Efectivamente, o dispositivo de formação concebido e implementado neste núcleo regional permitiu um acompanhamento mais próximo e sistemático da formação ao nível científico e de supervisão, o que contribuiu para uma maior qualidade e rigor na abordagem dos conteúdos e trabalho no terreno, em geral. 136

Podemos terminar com outro poeta, também ele professor: Sebastião da Gama, pois julgamos poder afirmar que no Núcleo Regional de Setúbal Pelo Sonho é que vamos, Comovidos e mudos Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, Pelo Sonho é que vamos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALARCÃO, Isabel. O outro lado da competência comunicativa: a do professor. In, FAZENDA, Ivani (org.) (1998). Didática e Interdisciplinaridade. São Paulo: Papirus Editora GAMA, Sebastião da (2004). Pelo Sonho é que vamos. Mem Martins (Sintra): Edições Arrábida. GEDEÃO, António (1985). Poema dos Textos in, Colóquio Letras, nº 88. O NEILL, A. (2000). Poesias Completas. Lisboa: Assírio e Alvim. ROLDÃO, Maria do Céu (2000). Os desafios da profissionalidade e o currículo. Aveiro: Universidade de Aveiro. SÁ CHAVES (Org) (2005). Os Portefolios reflexivos (também) trazem gente dentro. Reflexões sobre o seu uso na humanização dos processos educativos. Porto: Porto Editora Sites: http://marciacsales.googlepages.com/oportefolionaformaodeprofessoresumae.pdf http://marciacsales.googlepages.com/portfolio.pps 137

http://coloquio.gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issuecontentdisplay?n=88&p=8&o=p) BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALARCÃO, Isabel e TAVARES, José (2003). Supervisão da Prática Pedagógica. Uma perspectiva de Desenvolvimento e Aprendizagem. Coimbra: Livraria Almedina. LE BOTERF, Guy (2005). Construir as competências individuais e colectivas. Resposta a 80 questões. Porto: Edições ASA. PINTO, Jorge e SANTOS, Leonor (2006). Modelos de avaliação das aprendizagens, Lisboa: Universidade Aberta, Temas universitários, nº 6. PNEP - Documento de Avaliação: O portefólio, 2007. PNEP - Documento de Avaliação: Avaliação Portefólio reflexivo, Novembro de 2007, Setembro 2008 - Núcleo Regional de Setúbal Projecto Comenius Digifolio (2006): Digital portfolio as a strategy for Teachers professional development. Sintra: Associação de Professores de Sintra. SÁ CHAVES (2000) Portefólios reflexivos - estratégia de formação e supervisão. Cadrnos didácticos, série Supervisão nº 1, Universidade de Aveiro 138