Documentos 133. Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil



Documentos relacionados
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE FEIJÃO NO BRASIL DE Paulo Roberto Vieira de ALMEIDA¹; Alcido Elenor WANDER² INTRODUÇÃO

PREVISÃO DO TEMPO PARA O MUNICÍPIO DE RIO DO SUL-SC

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

Comunicado 35 Técnico

COLÉGIO SÃO JOSÉ PROF. JOÃO PAULO PACHECO GEOGRAFIA 1 EM 2011

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO EM ATENDIMENTO AO CONVÊNIO CASAN BACIA DA LAGOA DO PERI

PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO A PARTIR DE MUDAS COM DIFERENTES ORIGENS

CONSELHO PERMANENTE DE AGROMETEOROLOGIA APLICADA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGNÓSTICO DE ESTAÇÃO PARA A PRIMAVERA DE TRIMESTRE Outubro-Novembro-Dezembro.

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

Comunicado Técnico. Introdução. Metodologia. Paulo Emílio Pereira de Albuquerque 1

Análise da Época de Semeadura do Algodoeiro em Mato Grosso com Base na Precipitação Provável

Documentos 241. Projeto de Sistema de Informação para o Laboratório de Microbiologia Agrícola e Ambiental da Embrapa Clima Temperado

O IBGE divulgou a pouco o primeiro prognóstico para a safra de 2011: Em 2011, IBGE prevê safra de grãos 2,8% menor que a de 2010

EXPLORAÇÃO DO CERRADO BRASILEIRO

4. ANÁLISE DA PLUVIOMETRIA

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

Comparação entre Variáveis Meteorológicas das Cidades de Fortaleza (CE) e Patos (PB)

FREQÜÊNCIA DE OCORRÊNCIA DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA PARA A REGIÃO DE MARINGÁ

Os diferentes climas do mundo

MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E OS EFEITOS À AGRICULTURA BRASILEIRA. Ana Maria H. de Avila

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CONCEITOS INICIAIS. Professor: Emerson Galvani

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA AGRICULTURA ANALISE DA CULTURA DO ALGODOEIRO

RESUMO. Vinicius Carmello. Miriam Rodrigues Silvestre. João Lima Sant Anna Neto

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

Climatologia. humanos, visto que diversas de suas atividades

Data: ABN. Cafés especiais do Brasil consolidam novos mercados

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

Pesquisa da EPAMIG garante produção de azeitonas

Guilherme Leite da Silva Dias, FEA/USP

Ordenamento Territorial para Expansão da Cana-de-açúcar no Brasil Zoneamento Agroecológico da Cana-de-açúcar

Milho Período: 11 a 15/05/2015

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

O estado de tempo e o clima Elementos e fatores climáticos

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

RESUMO O trabalho apresenta resultados de um estudo sobre o texto A Geometria do Globo Terrestre

PROGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES PARA O PERÍODO OUTUBRO, NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2011

A N A I S D O E V E N T O. 12 e 13 de Novembro de 2014 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

PROGRAMA DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA PECUÁRIA DE LEITE EM JARU. Prefeitura Municipal de Jaru Embrapa Rondônia

Diagnóstico, Monitoramento de Desastres Naturais com foco na Seca no Semiárido Nordestino

GERÊNCIA EDUCACIONAL DE FORMAÇÃO GERAL E SERVIÇOS CURSO TÉCNICO DE METEOROLOGIA ESTUDO ESTATISTICO DA BRISA ILHA DE SANTA CATARINA

ANÁLISE DA ESPACIALIZAÇÃO DA TEMPERATURA DO AR MÍNIMA PARA O ESTADO DO CEARÁ A PARTIR DE DADOS SRTM

Milho: preços elevados mesmo com super-safra norte-americana

VARIABILIDADE CLIMÁTICA PREJUDICA A PRODUÇÃO DA FRUTEIRA DE CAROÇO NO MUNICÍPIO DE VIDEIRA SC.

Produção de grãos na Bahia cresce 14,64%, apesar dos severos efeitos da seca no Estado

DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES MÉDIOS ANUAIS DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL, PARA A CIDADE DE PELOTAS/RS

FOLDER PRODUÇÃO INTEGRADA DE ARROZ IRRIGADO. Produção Integrada de Arroz Irrigado

Os principais tipos climáticos mundiais

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

VARIAÇÃO ESTACIONAL DE PREÇOS DA MAMONA NO PARANÁ INTRODUÇÃO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS LCF-1581

Conteúdo: Aula 1: Movimentos da Terra: movimento de Translação e as estações do ano. Aula 2: Solstícios e Equinócios FORTALECENDO SABERES

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL Agosto-Setembro-Outubro de Prognóstico Trimestral (Agosto-Setembro-Outubro de 2003).

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

Distribuição e caraterização do clima e das formações vegetais

DENSIDADE DE SEMEADURA DE CULTIVARES DE MAMONA EM PELOTAS, RS 1

Estudo Para Subsidiar a Proposta de Resolução de Santa Catarina ao CONAMA relativa à Lei / 2006

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural PROJETO FIP-ABC. Produção sustentável em áreas já convertidas para o uso agropecuário (com base no Plano ABC)

GEOGRAFIA - RECUPERAÇÃO

Mamão Hawai uma análise de preços e comercialização no Estado do Ceará.

Os Grandes Biomas Terrestres. PROF Thiago Rocha

MONITORAMENTO AGROCLIMÁTICO DA SAFRA DE VERÃO NO ANO AGRÍCOLA 2008/2009 NO PARANÁ

Viabilidade Econômica da Cultura do Trigo, em Mato Grosso do Sul, na Safra 2012

CONJUNTURA FEIJÃO. João Ruas Gerência de Alimentos Básicos Superintendência de Gestão da Oferta

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

Jurandir Zullo Junior * Hilton Silveira Pinto Ana Maria H. de Ávila. Eduardo Delgado Assad Giampaolo Queiroz Pellegrino Fábio Ricardo Marin

Universidade do Pampa campus Dom Pedrito Seminários Prof. Alicia Ruiz. Soja. Acadêmicos:Quelem Martins, Ricardo Carneiro, Renan Régio

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A ÁREA DE PRODUÇÃO DA VIDEIRA EUROPÉIA (Vitis vinifera L.) NO ESTADO DE SANTA CATARINA

AMÉRICA: ASPECTOS NATURAIS E TERRITORIAIS

REGIÕES PARA TRIGO NO BRASIL: ENSAIOS VCU, ZONEAMENTO AGRÍCOLA E ÉPOCA DE SEMEADURA DISCRIMINAÇÃO INTRARREGIONAL

A importância do continente europeu reside no fato de este ter

DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES GEOGRAFIA DESAFIO DO DIA. Aula 21.1 Conteúdo. Região Sudeste

DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA RADIAÇÃO SOLAR E TEMPERATURA DO AR NO ESTADO DO PIAUÍ

150 ISSN Sete Lagoas, MG Dezembro, 2007

ESTIMATIVA DE HORAS DE FRIO PARA AS REGIÕES DA SERRA DO SUDESTE E DA CAMPANHA NO RIO GRANDE DO SUL

Desempenho Recente e Perspectivas para a Agricultura

COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM 2006 NO ESTADO DE GOIÁS

2.2 - SÃO PAULO, PARANÁ, ESPÍRITO SANTO, BAHIA E RONDÔNIA.

Regiões potenciais para cultivo da cana-de-açúcar no Paraná, com base na análise do risco de geadas

O CENSO 2010: BREVE APRESENTAÇÃO E RELEVÂNCIA PARA A GEOGRAFIA

Elisa dos Santos Schütz 1 ; Sandra Regina Pires de Moraes 2 RESUMO

Características Climáticas da Primavera

P L A N I F I C A Ç Ã O A M É D I O P R A Z O

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

PLANO DE ESTUDOS DE GEOGRAFIA - 7.º ANO

Documentos 137. Macrozoneamento climático para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) de Corte da Embrapa Milho e Sorgo

TRIGO Período de 02 a 06/11/2015

vegetação massas líquidas latitude altitude maritimidade

Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 5 a 8 de outubro, RESUMOS EXPANDIDOS...132

FORMULÁRIO PADRÃO PARA APRESENTAÇÃO DE PROJETOS ENSINO INOVADOR

PREVISÃO CLIMÁTICA TRIMESTRAL

Cesta básica tem alta moderada na maioria das capitais

PROGRAMA DA DISCIPLINA

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA CIDADE DE SALVADOR (BA): CORRELAÇÃO ESTATÍSTICA DE SETE ESTAÇÕES PARA MODELAGEM DE PREVISÃO

Coordenação geral Kennya Beatriz Siqueira Alziro Vasconcelos Carneiro

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

Transcrição:

ISSN 1806-9193 Dezembro, 2004 Documentos 133 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Marcos Silveira Wrege Flavio Gilberto Herter Arione da Silva Pereira Paulo Henrique Caramori Sergio Luiz Gonçalves Hugo José Braga Cristina Pandolfo Ronaldo Matzenauer Marcelo Bento Paes de Camargo Orivaldo Brunini Silvio Steinmetz Carlos Reisser Junior Jean Samarone de Almeida Ferreira Luiz Marcelo de Aguiar Sans Pelotas, RS 2004

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Clima Temperado Endereço: BR 392 km 78 Caixa Postal 403 - Pelotas, RS Fone: (53) 275 8199 Fax: (53) 275 8219-275 8221 Home page: www.cpact.embrapa.br E-mail: sac@cpact.embrapa.br Comitê de Publicações da Unidade Presidente: Walkyria Bueno Scivittaro Secretária-Executiva: Joseane M. Lopes Garcia Membros: Cláudio Alberto Souza da Silva, Lígia Margareth Cantarelli Pegoraro, Isabel Helena Vernetti Azambuja, Cláudio José da Silva Freire, Luís Antônio Suita de Castro, Sadi Macedo Sapper, Regina das Graças V. dos Santos Suplentes: Daniela Lopes Leite e Luís Eduardo Corrêa Antunes Revisores de texto: Sadi Macedo Sapper/Ana Luiza Barragana Viegas Normalização bibliográfica: Regina das Graças Vasconcelos dos Santos Editoração eletrônica: Oscar Castro Arte da Capa: Miguel Angelo (estagiário) 1ª edição 1ª impressão 2004: 250 exemplares Todos os direitos reservados A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Caracterização climática das regiões produtoras de batata no Brasil / Marcos Silveira Wrege... [et al.]. -- Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. 35 p. -- (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 133). ISSN 1516-8840 Batata - Produção - Fatores climáticos - Brasil. I. Wrege, Marcos Silveira. II. Série. CDD 635.21

Autores Marcos Silveira Wrege Dr., pesquisador da Embrapa Clima Temperado Rodovia BR 392, Km78, Pelotas-RS (53) 275-8271 E-mail: wrege@cpact.embrapa.br Flavio Gilberto Herter Dr., pesquisador Embrapa Clima Temperado Rodovia BR 392, Km78, Pelotas - RS (53) 275-8271 E-mail: herter@cpact.embrapa.br Arione da Silva Pereira Dr., pesquisador Embrapa Clima Temperado Rodovia BR 392, Km78, Pelotas - RS (53) 275-8271 E-mail: arione@cpact.embrapa.br Paulo Henrique Caramori Dr., pesquisador Iapar, Rodovia BR 372, Km 3,5 Londrina-PR (43) 225-2447 E-mail:caramori@iapar.br Sergio Luiz Gonçalves

MSc., consultor da Agroconsult, Rodovia BR 372 Km 3,5, Londrina-PR (43) 225-2447 E-mail: sergiolg@iapar.br Hugo José Braga Dr., pesquisador Epagri, Florianópolis-SC E-mail: hjb@epagri.rct-sc.br Cristina Pandolfo MSc., consultora Agroconsult, Florianópolis-SC E-mail: cristina@epagri.rct-sc.br Ronaldo Matzenauer MSc., pesquisador Fepagro, Porto Alegre-RS e-mail: ronaldo-matzenauer@fepagro.rs.gov.br Marcelo Bento Paes de Camargo Dr., pesquisador IAC, Campinas-SP E-mail: mbento@cec.iac.br Orivaldo Brunini Dr., pesquisador IAC, Campinas-SP e-mail: brunini@cec.iac.br Silvio Steinmetz Dr., pesquisador Embrapa Clima Temperado

Rodovia BR 392, Km78, Pelotas-RS (53) 275-8271 E-mail: silvio@cpact.embrapa.br Carlos Reisser Junior Dr., pesquisador Embrapa Clima Temperado, Rodovia BR 392, Km78, Pelotas-RS (53) 275-8271 E-mail: reisser@cpact.embrapa.br Jean Samarone de Almeida Ferreira Graduando, estudante de ciência da computação da UCPel, Pelotas-RS (53) 275-5274 E-mail: jean@cpact.embrapa.br Luiz Marcelo de Aguiar Sans Dr., pesquisador Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas-MG E-mail: msans@cnpms.embrapa.br

Apresentação A batata é um alimento muito presente na dieta do brasileiro. Além do seu valor como alimento e importância para a segurança alimentar, tem grande importância sócio-econômica, inclusive para a agricultura familiar. Embora originária da América do Sul, tem grande aceitação em países europeus. Cada vez mais, a batata vem sendo cultivada em áreas de clima tropical, em regiões de altitude elevada, expandindo geograficamente o horizonte de plantio no Brasil. Essa expansão da cultura vem possibilitando sua produção, também, em janelas do mercado nacional, de modo a atender a preferência do consumidor, que é de consumir batata recém colhida. Esse documento apresenta a caracterização climática das principais regiões produtoras de batata no Brasil, na expectativa de servir de auxílio para identificação do potencial de produção. Cabe destacar que as condições climáticas interferem no aumento dos custos de produção, pelo aumento da necessidade do uso de insumos. Ou seja, este trabalho apresenta grande relevância para a sustentabilidade da cultura e daqueles que a praticam. João Carlos Costa Gomes Chefe-Geral Embrapa Clima Temperado

Sumário Introdução... Informações sobre altitude da região produtora de batata no Brasil... Informações das condições climáticas da região produtora de batata no Brasil... Sistemas de produção da batata no Brasil, de acordo com o clima e a altitude... Condições de altitude na região produtora de batata no Brasil... Condições climáticas na região produtora de batata no Brasil... Referências Bibliográficas... Agradecimentos... 11 13 13 16 16 16 34 35

Introdução A batata é uma cultura de grande expressão econômica no Brasil, sendo um dos alimentos básicos da dieta do brasileiro. Originário da região dos Andes, na América do Sul, esse produto agrícola tem como centro de origem o Chile. Embora seja originária da América do Sul, a batata tornou-se presente na Europa, principalmente em países como Inglaterra e Holanda. Espécie extremamente sensível, a batata exige um acompanhamento cuidadoso desde o plantio até a colheita. A primeira, e talvez a mais importante preocupação, é seguramente o clima. Dias quentes, noites frias e abundância de água são vitais para o sucesso da cultura. No Brasil, o clima irregular é um fator de risco constante. A batata tem normalmente de 80 a 90% de líquido em sua composição, o restante são elementos sólidos, daí a necessidade de muita água. Um dos principais componentes sólidos da batata é o amido, produzido a partir da fotossíntese, o que torna necessária a presença de muita luz para atender a necessidade da planta (AGROBYTE, 2004). Nas regiões produtoras de batata no Brasil, é possível fazer duas safras, em períodos livres da ocorrência de geadas e livre da ocorrência de temperaturas elevadas, principalmente à noite (IAC, 2004). O zoneamento agroclimático para o Paraná indica duas épocas de plantio de batata, a Safra das Águas e a Safra da Seca. A Safra das Águas é plantada de 10 de agosto a 20 de outubro na região Sul do Paraná, basicamente nas regiões com altitude acima de 600 metros e

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 13 na área do Estado com clima temperado, que corresponde às áreas com temperatura noturna inferior a 16ºC (IAPAR, 2004, 2003). Na região de Londrina, no Norte do Paraná, é possível fazer a Safra da Seca, no período de outono/inverno e corresponde a região de clima tropical do Estado, com altitude em torno de 600 metros. Em Santa Catarina também existem duas safras, uma que se inicia em 21 de julho e vai a 31 de outubro e outra de 01 de janeiro a 30 de abril. Mas, nas regiões mais altas da Serra Catarinense, as duas safras se tornam contínuas, ou seja, vão desde 21 de agosto até 20 de fevereiro, em função da temperatura se situar na faixa ideal, entre 15,5ºC e 19,5ºC, mesmo no verão, devido à altitude (EPAGRI, 2004). Embora existam trabalhos isolados identificando o potencial climático de regiões produtoras de batata no Brasil, não há uma caracterização do clima envolvendo todas as regiões produtoras do País. Assim, este trabalho teve o objetivo de caracterizar as mesmas quanto ao clima, a partir de normais climatológicas de temperatura mínima, temperatura máxima e radiação solar, fatores climáticos importantes para identificar o potencial de produção. A partir de séries históricas de dados diários, foram calculadas as médias das temperaturas mínimas e máximas e da radiação solar, importantes para identificar o potencial de produção de cada região. As empresas que colaboraram nessa determinação foram as seguintes:

14 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Informações sobre altitude da região produtora de batata no Brasil Foi elaborado um mosaico do mapa de altitude do United States Geologycal Survey - USGS (1999) para todo o Brasil, a partir da base GTOPO30, do Eros Data Center. Foi feita uma máscara sobre este mapa, apresentando apenas a grade de altitude dos Estados que produzem batata no Brasil. A grade tem um formato regular, contendo um valor a cada 800 ou 900 metros, conforme a região do Brasil. Sobre o mapa de altitude foi sobreposta a malha de divisas estaduais do IBGE (2001), apresentando os Estados do Brasil e, sobre o plano resultante, foram apresentados e georreferenciados os principais municípios que produzem batata, relacionando regiões produtoras com altitude e latitude. Informações das condições climáticas da região produtora de batata no Brasil Foram levantados os dados das condições climáticas das principais regiões que produzem batata no Brasil, desde a Bahia até o Rio Grande do Sul, com as normais mensais de temperatura e de radiação solar. Essas regiões foram georreferenciadas a partir dos dados do IBGE (2001), tomando-se como referência a sede do município produtor, através da latitude, longitude e altitude. Dos dados meteorológicos normais, foi feita a média por trimestres, de modo a determinar o trimestre mais quente e o trimestre mais frio de todas as regiões produtoras e os trimestres intermediários. Essas regiões estariam caracterizadas climaticamente e seria possível mapear as temperaturas máxima e mínima de cada uma dessas estações. Foi feita, então, a média do trimestre dezembro, janeiro e fevereiro, do trimestre março, abril e maio, do trimestre junho, julho e agosto e, finalmente, do trimestre setembro, outubro e novembro. Com os dados das condições climáticas e a localização geográfica da ocorrência dessas condições, foram feitas equações de regressão linear múltipla, para estimar valores para outras regiões, construindo uma grade com valores estimados com um ponto a cada 1Km, aproximadamente, conforme metodologia descrita por Pinto et al.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 15 (1972). Foram feitas isolinhas, unindo os pontos da grade com mesmo valor. As equações usadas, por trimestre, foram as seguintes (Tabela 1): Modelo: g = a + b o x latitude + b 1 x longitude + b 2 x altitude equação (1) Sendo: g: temperatura máxima ou mínima; a: constante da equação de regressão; b o : coeficiente relativo à latitude da equação de regressão; b 1 : coeficiente relativo à longitude da equação de regressão; b 2 : coeficiente relativo à altitude da equação de regressão. Latitude e longitude: para obter valores de temperatura mínima ou máxima, a latitude ou a longitude devem ser substituídas na equação colocando-se valores em graus decimais e negativos. Esses valores adotados são negativos por convenção. Todo o hemisfério Sul tem valores negativos (latitudes) e toda a América tem valores negativos (longitudes). Altitude: a altitude deve ser expressa em metros. Tabela 1. Coeficientes das equações de regressão linear múltipla para temperatura mínima e temperatura máxima médias por trimestres na região produtora de batata no Brasil.

16 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Por exemplo, para o trimestre jun-jul-ago, tem-se a seguinte equação, substituindo os termos da equação 1 para temperatura mínima: Jun-jul-ago = 34,746+0,369xlatitude+0,259xlongitude-0,0036xaltitude Calculando a temperatura mínima para Ponta Grossa-PR, no trimestre mais frio do ano (jun-jul-ago), teremos que entrar com os dados de latitude e longitude, em graus decimais negativos, e altitude, em metros. Coordenadas de Ponta Grossa: 25º13 S = -25,216 50º01 W - -50,016 880 metros de altitude Jun-jul-ago = 34,746+0,369x(-25,216)+0,259x(-50,016)- 0,0036x880 Jun-jul-ago = 34,746-9,305-12,95-3,168 Jun-jul-ago = 9,323ºC A temperatura mínima no trimestre junho, julho e agosto, em Ponta Grossa, é de 9,323ºC, na média. Os principais municípios produtores de batata no Brasil estão listados nas Tabelas 2 a 5, que contêm os dados climáticos e as informações geográficas dos principais municípios que produzem batata. A Figura 1 apresenta o mapa dos Estados produtores de batata e a localização dos principais municípios produtores. A Figura 2 apresenta o mapa de altitude do Brasil (USGS, 1999), com as regiões produtoras de batata e a Figura 3 apresenta o mapa de altitude dos estados que produzem batata. As Figuras 4 a 11 apresentam a caracterização climática para as regiões produtoras de batata no Brasil. A Tabela 4 apresenta a altitude dos principais municípios produtores. De acordo com esta tabela, as regiões que produzem batata estão situadas, com raras exceções, em regiões de altitude elevada.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 17 Sistemas de produção da batata no Brasil, de acordo com o clima e a altitude Existem, praticamente, dois sistemas de produção de batata no Brasil. Um voltado para a região Sul, de clima temperado, produzindo no inverno/primavera. Outro, nas demais regiões, de clima tropical, produzindo no outono/inverno em regiões de altitude. As regiões de altitude são preferidas porque apresentam temperaturas mais baixas e maior amplitude de temperatura entre o dia e a noite, como é o caso da região dos municípios baianos de Mucugê e de Piatã que, embora estejam bem distantes da região de clima temperado, estão situados em região de altitude elevada (Mucugê: 981 metros e Piatã: 1236 metros), o que compensa a latitude (em torno de 13ºS). O clima dessas regiões é classificado como sendo tropical de altitude. Condições de altitude nas regiões produtoras de batata no Brasil Na Tabela 5 são apresentadas as altitudes e as coordenadas geográficas de cada município que produz batata. Pode ser observado que quase todas as zonas possuem altitude acima de 600 metros e a maioria possui altitude superior a 900 metros, exceto no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, estados com predominância de clima temperado, situados entre os paralelos 26ºS e 34ºS, portanto ao Sul do paralelo 24ºS. Mesmo nestes Estados, a preferência de plantio se dá em regiões de maior altitude, acima de 400 metros, com poucas exceções (região dos municípios de Sto. Amaro da Imperatriz e Treze de Maio). Mas, nestes municípios do Rio Grande do Sul com baixa altitude, a produção de batata se dá com baixo nível tecnológico e de produção. Condições climáticas nas regiões produtoras de batata no Brasil O trimestre mais frio nas regiões produtoras de batata é o de junho, julho e agosto, quando as temperaturas mínimas médias de cada mês alcançam entre 5,8ºC a 13,9ºC na região de clima temperado e 11,4ºC e 15ºC na região de clima tropical de altitude. As temperaturas máximas médias de cada mês se situam entre 16ºC e 22,9ºC na região

18 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil de clima temperado e 21,8ºC e 28,2ºC na região de clima tropical de altitude. No trimestre mais quente do ano (dezembro, janeiro e fevereiro), as temperaturas mínimas médias alcançam entre 11,9ºC e 18,5ºC na região de clima temperado (sem o Litoral) e 16,9ºC e 19,9ºC na região de clima tropical de altitude. As temperaturas máximas médias chegam a 22,2ºC e 30,1ºC na região de clima temperado e 26,5ºC e 30,2ºC na região de clima tropical de altitude. Essas informações indicam que, na região produtora de batata, a temperatura mínima não difere muito entre as regiões de clima temperado e clima tropical de altitude, apresentando semelhanças de temperatura à noite. A temperatura máxima, no entanto, é diferente. As regiões com clima tropical de altitude, no inverno, possuem temperaturas máximas maiores que as regiões temperadas, indicando que, durante o dia, as temperaturas são mais elevadas. A radiação solar é de 373 a 539 MJ m -2 na região de clima temperado e de 336 a 547,2 MJ m -2 na região de clima tropical de altitude, ou seja, os valores de radiação maiores se apresentam nas regiões de maior altitude, como é o caso da região do município de São Joaquim, em Santa Catarina (região de clima temperado).

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 19 Tabela 2. Dados agrometeorológicos normais de temperatura máxima (ºC) de localidades produtoras de batata no Brasil.

20 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Tabela 3. Dados agrometeorológicos normais de temperatura mínima (ºC) de localidades produtoras de batata no Brasil.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 21 Tabela 4. Dados agrometeorológicos normais de radiação solar (MJ / m 2 ) de localidades produtoras de batata no Brasil.

22 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Tabela 5. Coordenadas geográficas e altitude dos principais municípios produtores de batata.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 23 Em relação à Figura 1, a caracterização climática Cfa e Cfb se refere ao clima predominante na região. Entretanto, o clima Cfb está presente apenas nas áreas de maior altitude da Região Sul do Brasil. Figura 1. Mapa das principais regiões produtoras de batata no Brasil.

24 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Figura 2. Mapa de altitude do Brasil, elaborado a partir do arquivo GTO- PO30 (USGS, 1999) e regiões produtoras de batata.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 25 Figura 3. Mapa de altitude das regiões produtoras de batata no Brasil e os principais municípios produtores de batata.

26 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Figura 4. Mapa representando temperaturas máximas no trimestre mais quente (dez-jan-fev) nas regiões produtoras de batata no Brasil.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 27 Figura 5. Mapa representando temperaturas máximas no trimestre marabr-mai nas regiões produtoras de batata no Brasil.

28 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Figura 6. Mapa representando temperaturas máximas no trimestre mais frio (jun-jul-ago) nas regiões produtoras de batata no Brasil.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 29 Figura 7. Mapa representando temperaturas máximas no trimestre setout-nov nas regiões produtoras de batata no Brasil.

30 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Figura 8. Mapa representando temperaturas mínimas no trimestre mais quente (dez-jan-fev) nas regiões produtoras de batata no Brasil.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 31 Figura 9. Mapa representando temperaturas mínimas no trimestre marabr-mai nas regiões produtoras de batata no Brasil.

32 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Figura 10. Mapa representando temperaturas mínimas no trimestre mais frio (jun-jul-ago) nas regiões produtoras de batata no Brasil.

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 33 Figura 11. Mapa representando temperaturas mínimas no trimestre setout-nov nas regiões produtoras de batata no Brasil.

34 Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil Em resumo, a batata é cultivada no Brasil, predominantemente, nas regiões de clima temperado. A cultura está se expandindo para áreas com clima tropical de altitude, com vistas a suprir o mercado interno no período de entressafra. Nas áreas com clima tropical de altitude, a batata está sendo cultivada, preferencialmente, no outono/inverno. Nas áreas com clima temperado, a batata é cultivada, normalmente, na primavera/verão, em regiões de altitude. Nas zonas com clima tropical (ao Norte do paralelo 24ºS), a batata vem sendo cultivada sempre em regiões acima de 600 metros de altitude (próximo ao paralelo 24ºS) e, normalmente, acima de 900 metros (entre os paralelos 13ºS e 23ºS). Nas áreas com clima temperado (ao Sul do paralelo 24ºS), a batata vem sendo cultivada, preferencialmente, em regiões com altitude superior a 400 metros, com algumas exceções (ao Sul do paralelo 28ºS). Nas regiões com clima tropical de altitude, as temperaturas máximas (que ocorrem durante o dia) são mais elevadas que nas regiões com clima temperado, mas as temperaturas mínimas (que ocorrem à noite) são semelhantes, no trimestre mais frio do ano (época de produção de batata nas regiões de clima tropical de altitude). A instalação de estações automáticas em municípios que produzem batata, tornaria possível a análise do desenvolvimento fenológico das plantas, relacionando-o com o clima, para formar um banco de dados sobre o desenvolvimento da cultura em várias condições climáticas, que posteriormente poderia ser usado para elaboração de um modelo de desenvolvimento dessa espécie nas diferentes condições climáticas do Brasil. Referências Bibliográficas AGROBYTE: Batata. Disponível em: <http://www.agrobyte.com.br/

Caracterização Climática das Regiões Produtoras de Batata no Brasil 35 batata centro.htm+batata+clima&hl=pt-br>. Acesso em: 14 set. 2004. U.S. GEOLOGICAL SURVEY - SURVEY NATIONAL MAPPING DIVISION. Global 30 Arc Second Elevation Data. 1999. Disponível em: <http:// edcwww.cr.usgs.gov/landdaac/gtopo30/gtopo30.html>. Acesso em: 10 jul. 1999. EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA. Zoneamento agrícola considerando os riscos climáticos para a cultura da batata. Disponível em: <http://www. epagri.rct-sc.br/frame-zone.html>. Acesso em: 14 set. 2004. INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS. Zoneamento agrícola para batata. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/ Ciiagro/ zoneamento/batata.htm>. Acesso em: 14 set. 2004. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Malha municipal digital do Brasil: situação em 2001. Brasília, 2001, v.1. 1 CD-ROM. INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. Zoneamento agrícola do Estado do Paraná. Londrina, 2003. 76p. INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. Zoneamento climático da batata das águas. Disponível em: <http://www.iapar.br/zonpr/ Batata. htm>. Acesso em: 14 set. 2004. PINTO, H.S.; ORTOLANI, A.A.; ALFONSI, R.R. Estimativa das temperaturas médias mensais no estado de São Paulo, em função da altitude e latitude. São Paulo: USP - Instituto de Geografia, 1972. 20p. (Caderno Ciências da Terra, 23). Agradecimentos Os autores agradecem ao IAC, IAPAR, EPAGRI, FEPAGRO, EMBRAPA e ao INMET (8ºDISME) pelos dados climáticos.